sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Lucas Berlanza: A opinião de um ator: de Kevin Spacey para Wagner Moura

O hollywoodiano Kevin Spacey, ao dizer que a opinião de um ator sobre política é absolutamente irrelevante, foi mordaz e cutucou, ainda que essa possa não ter sido sua exata intenção, um problema importante. No Brasil, esse ataque seria ainda mais doloroso, escandalizando os ânimos de muitas figuras que se consideram notáveis intérpretes do Estado e da economia brasileira porque fazem sucesso nas artes cênicas, como se uma coisa estivesse ligada à outra. Em verdade, a problemática se torna maior, com músicos sendo considerados “intelectuais” porque fizeram canções de protesto (contra governos que não estão no poder há tempos), e continuam sendo paparicados pelos vultosos recursos públicos via Lei Rouanet.

Spacey expressou, no entanto, uma meia verdade. Natural que assim seja; poucas vezes uma única frase solta, sobretudo quando dita em tom de desabafo, tem o condão de sintetizar algo perfeitamente. Trata-se de uma meia verdade porque, abstração feita da qualidade de ator, alguém pode ter uma percepção interessante da realidade social, como pode ter a respeito de qualquer outro assunto. Discutir a importância de uma opinião não é tarefa simples, e a conclusão estará repleta de subjetividades. A ela, bom dizer, todos têm direito, inclusive o de expressá-la. Meia verdade, também, porque o impacto que uma figura pública – e um ator normalmente se enquadra nessa categoria – consegue ao proferir e disseminar distorções indefensáveis é coisa muito séria e, por isso mesmo, nada irrelevante. Uma opinião estúpida não é e não pode ser considerada, por isso apenas, um crime; é inegociável o direito de externá-la. No entanto, é imperioso que as vozes sensatas não percam a oportunidade de denunciá-la como sendo o que é, cientes da existência dos militantes e dos “pseudo-intelectuais” vendidos que de pronto a divulgarão como propaganda de seus ideais autoritários e intolerantes.

O ator global Wagner Moura, campeão de socialismo entre as estrelas da televisão e do cinema nacionais, em entrevista ao Jornal O Globo, em fevereiro de 2014, soltou uma dessas pérolas imperdoáveis que não podemos deixar de tornar desnudas em sua imbecilidade abjeta. Não satisfeito, resolveu republicar exatamente esse trecho infeliz em seu perfil na rede social Facebook, como um “presente” indigesto de fim de ano, em 27 de dezembro passado. Disse ele:

“É uma pena que muitos comediantes, e não só comediantes, mas muitos artistas jovens brasileiros sejam de direita. Sejam garotos fascistas. Eles fazem um trabalho que a gente ensina nossos filhos a não fazer. Apontam para os outros e dizem: “hahaha, você é preto, você é viado, você é aleijado”. Eu sou politicamente correto. O politicamente correto é uma ferramenta civilizatória que inventamos para que uma criança negra não veja um negro sendo humilhado na TV. Mas todo garotão que é artista gosta de dizer que o maneiro é ser politicamente incorreto. Isso não é engraçado, não é humor.” (MOURA, WAGNER)

Vamos examinar o terrível problema. O judicioso cientista social Wagner Moura acredita que os valores e bons princípios, reduzidos sistematicamente a nada por teóricos de esquerda como Trotsky, vêm sendo prejudicados no Brasil, isto sim, pelo surgimento de uma “direita” que, ocupando um grande espaço nas artes, vem “doutrinando” os jovens para o descaminho. Gostaria de saber em que país – ou antes, em que PLANETA ele vive. Brasil, América do Sul, Terra, certamente não é. De memória, me recordo, por exemplo, do cantor Lobão, que vem defendendo ideias mais à direita e tem participado de manifestações públicas contra o governo, e o humorista e apresentador de TV Danilo Gentilli, que vem dando louvável espaço a figuras que contrastam com o mainstream de esquerda. Talvez haja mais; talvez haja aqueles que nada falam, embora pensem assim, por receio de prejuízos na carreira. De qualquer forma, o que desponta são notórias EXCEÇÕES. Já paranoicos como Wagner Moura, que enxergam um monstruoso “direitismo” tomando de assalto o poder no Brasil do PT, esses existem aos montes.

Seduzidos pelo “politicamente correto”, que Moura desfralda como ferramenta civilizatória, esses os há mais ainda. Na “ditadura do mimimi”, as insistências panfletárias das esquerdas vão tornando a mera verbalização da verdade um crime imperdoável, exigindo-se que ela seja mascarada por uma série de camadas de etiquetas, adornos e esquisitices. Em ponto extremo, já chegamos a ter pessoas deixando de grafar palavras masculinas que, pela convenção da língua, designam os dois gêneros sexuais, substituindo letras e adulterando idiomas, supostamente para não ferir suscetibilidades. Com base nessa busca por privilégios, que abarca a reivindicação irracional por cotas em cada vez mais setores, a cultura da liberdade vai sendo desprestigiada, e a consagração pelo mérito, sendo desestimulada. Quem se cansa disso, por ter bom senso, é um “fascista”, que aprecia debochar dos outros por serem negros, homossexuais ou deficientes físicos, de acordo com Moura. São “a direita”.  Irônico que Wagner Moura tenha relembrado essa excrescência na mesma semana em que o ditador da Coreia do Norte taxou o presidente dos EUA, Barack Obama, de “macaco”. Kim Jong-un,  por certo, é de “direita”, assim como Stálin, Mao, Pol Pot…

A “direita”, ou as tradições liberais e conservadoras, constituem correntes políticas admissíveis e importantíssimas em qualquer regime democrático, com livre circulação de ideias. Assim deve ser. No entanto, o aparecimento de “direitistas”, para o senhor Wagner Moura, é um escândalo. O horror que os nossos esquerdistas sentem pelo diferente e pelo contraditório é prova cabal de como não têm a mínima legitimidade para se proclamarem os defensores únicos e impecáveis da tolerância e da pluralidade.

Possivelmente, Wagner Moura se considera uma voz de contestação muito necessária. Não é; assim como o partido nanico e barulhento cujos candidatos ele tem o hábito de apoiar, o brasileiro se situa na “pseudo-oposição” que colabora para “criminalizar” moralmente a verdadeira. Marionete fanfarrona de um jogo em que não dá as cartas, ele, em que pese sua competência como ator – que eu reconheço , está, sem nenhuma dúvida, entre os que com mais afinco procuram dar razão ao seu colega de ofício americano.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Rodrigo Constantino: A “pedalada” no balanço da Petrobras: prejuízo de R$ 60 bilhões vira lucro de R$ 3 bilhões

A Petrobras decidiu divulgar o balanço contábil do terceiro trimestre de 2014 sem revisão pelos auditores independentes, em nome da “transparência”. A estatal compreende que será necessário realizar ajustes contábeis nos ativos imobilizados, por conta da Operação Lava-Jato, mas, “em face da impraticabilidade de quantificar de forma correta” essas perdas, preferiu usar uma metodologia mais gradual até se chegar ao valor justo desses ativos no balanço.

Reconheceu, portanto, uma perda de “apenas” R$ 2,7 bilhões com as refinarias Premium I e Premium II, em razão da descontinuação desses projetos. Mas, em carta assinada pela presidente Graça Foster (alguém a viu por aí recentemente?), a empresa reconhece que o tamanho provável do rombo é muito maior.

Praticamente um terço dos ativos da estatal foram avaliados por firmas independentes, mas a presidente julga que “o amadurecimento adquirido no desenvolvimento do trabalho tornou evidente que essa metodologia não se apresentou como uma substituta ‘proxy’ adequada para mensuração dos potenciais pagamentos indevidos”.

Ainda assim, ela prossegue: “O resultado das avaliações indicou que os ativos com valor justo abaixo do imobilizado totalizaram R$ 88,6 bilhões de diferença a menor. Os ativos com valor justo superior totalizaram R$ 27,2 bilhões de diferença a maior frente ao imobilizado”. Apesar disso, a empresa decidiu não utilizar a metodologia do valor justo para ajustar os ativos no balanço.

Trocando em miúdos, aquilo que seria um prejuízo de mais de R$ 60 bilhões por perdas contábeis se transformou num lucro de R$ 3 bilhões no trimestre (que, ainda assim, representa uma queda de quase 40% em relação ao trimestre anterior). O EBITDA ajustado, uma proxy da geração bruta de caixa da empresa, ficou em R$ 11,7 bilhões no trimestre, uma queda de 28% em relação ao segundo trimestre.

A Petrobras terminou o trimestre com um endividamento líquido de R$ 261,4 bilhões, um aumento de 18% (ou R$ 40 bilhões) em relação ao fechamento de 2013. A empresa investiu R$ 62 bilhões até o terceiro trimestre em 2014. Ou seja, a geração própria de caixa da empresa não consegue financiar seus projetos, e ela precisou buscar dois terços do total investido com terceiros.

Além do elevadíssimo endividamento, grande parte dele é em moeda estrangeira, principalmente dólar (70% do total). Se o real sofrer uma desvalorização acentuada, o impacto no resultado da Petrobras será enorme. A empresa deve muito, e deve em moeda estrangeira. Teoricamente ela teria um “hedge”, pois vende uma commodity cujo preço é dolarizado. Mas sabemos que isso é só na teoria, pois a empresa não repassa o aumento do petróleo para os preços, por pressão do governo para combater a inflação.


Em resumo, o balanço da Petrobras, não auditado, sem reconhecer os rombos por conta dos “malfeitos”, e com um endividamento desta magnitude, em dólar, é mesmo um show de horror. Ninguém fica surpreso ao ver as ações da empresa valendo cada vez menos. A destruição da maior empresa do país pela incompetência e corrupção do PT segue seu curso, ainda que a “pedalada” tenha transformado um prejuízo de R$ 60 bilhões em um lucro de R$ 3 bilhões no trimestre…

sábado, 17 de janeiro de 2015

Guilherme Fiuza: Je suis ‘demagogô’

Marqueteiro do Papa deve ter feito o cálculo certeiro: nada mais progressista do que um líder católico defendendo o Islamismo

Depois que Dilma Rousseff tomou posse defendendo a Petrobras, qualquer piada está liberada — inclusive as que envolvem Maomé. Os facínoras do Estado Islâmico e da al-Qaeda não têm ideia do nível de escárnio a que os brasileiros estão submetidos cotidianamente. O PT monta o maior sistema de pilhagem já visto na República e a presidente conclama o país a um pacto contra a corrupção. Entenderam o que é achincalhe, queridos sanguinários de Alá?

A sorte dos picaretas do Ocidente e do Oriente é que a opinião pública continua dormindo seu sono das mil e uma noites. Para se ter uma ideia, o mundo culto está discutindo há mais de uma semana a legitimidade de um massacre. Isto é em si uma piada — mas não ria, porque vão te acusar de sacrilégio. O pensamento morreu. Você não vale mais o quanto pensa, vale a bandeira que levanta. Então, não perca tempo: repita também, como um brado no Ipiranga, que o Islã é legal e matar os outros não é legal. Pronto, você está no altar do jardim de infância global.

Daqui para frente, o mundo terá que ser legendado, para facilitar a compreensão. Chico Caruso já deu a senha no GLOBO: uma charge de Maomé com as inscrições “este não é Maomé” e “isto é um desenho de humor”. Perde um pouco a graça, porque os heroicos defensores de Charlie, do Islamismo, do humanismo e do bom-mocismo ficam sem bateria para esgrimir seu óbvio fulgurante. Mas reduz a ameaça — dos terroristas e, principalmente, dos pernósticos.

Talvez uma das figuras mais representativas deste momento esquisito seja o Papa Francisco. Sua Santidade tem provavelmente uma espécie de João Santana ao pé do ouvido, para soprar-lhe as últimas tendências do mercado. Foi assim que o líder máximo da Igreja Católica mergulhou na causa gay. Vamos tentar legendar. A defesa dos direitos dos gays não é só importante, é urgente. Trata-se de derrubar um muro de hipocrisia que faz muita gente sofrer à toa. Mas e o Papa com isso?

Bem, Francisco também pode achar que é uma causa urgente. Só que ele lidera uma Igreja cuja doutrina não aceita o homossexualismo. Não aceita nem a camisinha! No Catolicismo, o sexo tem que ter fins reprodutivos. Quando a Igreja Católica aceitará uma família gay, com dois pais ou duas mães? Talvez semana que vem — desde que ela destrua alguns de seus pilares e erga outros em seus lugares, ou seja, que refunde a si mesma. Só que, em geral, isso não é uma questão de dias, mas de séculos. Ou seja, o Papa bonzinho está jogando para a arquibancada.

Mas a plateia ama. Lembra até um pouco Lula, o Papa brasileiro, quando assumiu o governo mantendo as diretrizes econômicas do antecessor (porque não é bobo) e gritando contra os juros altos. Inaugurou o primeiro governo de oposição da História, e não saiu mais de lá.

Depois do atentado em Paris, a reunião no departamento de marketing do Vaticano deve ter fervido. Francisco tinha ali várias causas bondosas para escolher. Demorou um pouco, mas saiu a decisão: o Papa defendeu o Islã contra as ofensas dos chargistas franceses — uma posição candidamente desastrosa. O marqueteiro de Francisco deve ter feito o cálculo certeiro: nada mais surpreendente, exótico e progressista do que um líder católico defendendo o Islamismo. E ainda soltou a pérola: “Liberdade de expressão tem limite”.

Não, Francisco. Não tem. Seria como declarar que democracia tem limite. O que deve ser limitado — e já é, pela lei — é a expressão criminosa ou lesiva, não a liberdade. Está vendo como é dura a vida do populista? Esse negócio de ficar levantando bandeiras não é fácil, a gente acaba se atrapalhando mesmo.

Nesse aspecto, o PT é muito mais profissional. Eles não inventam. São os heróis da resistência contra a ditadura e a direita, e fim de papo. Essa tecla única já lhes rendeu 12 anos de paraíso parasitário. Depois de avançar no Banco do Brasil e compor a obra-prima do mensalão (que, incrivelmente, não os tirou do poder), depenaram a Petrobras sem perder o rebolado: a culpa é da oposição neoliberal que quer privatizar o que é nosso. Contando, ninguém acredita. Nem com legenda.

A indústria da demagogia não para de crescer. Acenda um cigarro na praia e aguarde a reprovação do vizinho. Ele aprendeu que o tabagismo é contra a cidadania. E a sua fumaça a céu aberto pode ensejar um brado civilizatório, dependendo da direção do vento. A Lei Seca é outro fenômeno. Seria bem mais eficiente se fosse móvel e caçasse as condutas suspeitas (dos que a evitam facilmente pelo Twitter). Mas fica ali naquela blitz teatral, travando a cidade e constrangendo uma maioria de não-alcoolizados — detidos e investigados como num Estado policial. É um abuso, mas o cidadão resolveu achar que é a sua única chance de sobrevivência.


O mais curioso é identificar, na turma do “Je suis Charlie”, várias das vozes que simpatizaram com a boçalidade dos black blocs. Violência é violência — mas o véu da demagogia a tudo abençoa. Os plantonistas da bondade bem que podiam sair do armário e bradar: “Je suis demagogô”.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Reinaldo Azevedo: Joaquim Levy alimenta delírios confiscatórios e quer tungar a classe média que já paga a conta! Eis um dito “neoliberal” fazendo o que nem o esquerdista Mantega teve coragem! É a geleia geral brasileira onde prospera o atraso. À luta, oposições!

O Brasil é mesmo um país sui generis, com particularidades bem extravagantes. Uma delas deu certo: a jabuticaba. Só prospera por aqui e é uma delícia. O resto, como não se cansa de dizer por aí, é besteira e fabrica o nosso atraso. Em nenhum outro país do mundo, liberais empedernidos servem a governos de esquerda, nominalmente ao menos. Em tese, teríamos essa particularidade. Todos sabemos que Joaquim Levy, novo ministro da Fazenda, chegou para, digamos, refazer as pazes entre o governo Dilma e o mercado.

Levy participou nesta terça de um café da manhã com a imprensa. Deixou claro que é mesmo diferente do esquerdista Guido Mantega, seu antecessor. Chamou o mandato em curso de Dilma de “segundo tempo”, afirmou que houve um “empate em zero a zero” no primeiro — não especificou quem era o adversário — e disse ser chegada a hora de marcar gol. Para quem está à caça de frases de efeito, declarou com pompa: é a iniciativa privada que toca o país. Beleza! Tudo no lugar!

Sob Levy, está claro, mudanças importantes serão operadas na economista, também no quesito despesas. As barbeiragens cometidas no setor elétrico no primeiro mandato de Dilma tendem a ser corrigidas agora. Cessará o subsídio ao setor, e o consumidor tenderá a pagar pela energia algo mais parecido com o que ela custa. É ruim? Para quem paga, é. Mas é necessário. Um país começa a se danar quando os preços entram em parafuso.

O governo decidiu também dar uma paulada na bagunça do seguro-desemprego,  como se pode ler posts abaixo. Ninguém ignora que o benefício se transformou numa forma de captação de recursos públicos, a um custo bilionário. E poderíamos dizer, então: “Eis aí o liberal Levy! Ele serve a um governo que se diz de esquerda, mas está fazendo a coisa certa”.

Pois é.  Ocorre que o “liberal” — ou “neoliberal”, como querem alguns — Levy também está preocupado com a arrecadação, não é? Sim, eu acho isso justo. Aliás, se o Brasil voltar a crescer, se gastar menos na administração da própria máquina, se desperdiçar menos dinheiro, se puser fim à corrupção, é certo que arrecadará mais. Ocorre que o homem anda com outras ideias.

Ele está de olho no bolso dos prestadores de serviço e disse que vai analisar a situação das “pessoas que têm renda através de pequena empresa, que pagam 4%, 5% de imposto em vez de 27,5%”. Ou seja: o senhor Joaquim Levy está empenhado agora em tirar salário — porque é disto que se trata — de uma fatia da classe média. A classe média, leitores, é aquela gente que sempre paga a conta no Brasil.

Espera-se que o senhor Joaquim Levy se lembre de que os ditos “prestadores de serviço”, que atuam como pessoas jurídicas, não gozam de benefícios que oneram tanto o estado como as empresas com as quais mantêm contrato. Elevar o imposto pago por esses profissionais vai, sim, lhes roubar renda, sem que voltem a ter nenhum dos benefícios dos quais abriram mão. Mais: o governo pode estar dando um tiro no pé, estimulando a informalidade.

Em nenhum país do mundo, um liberal proporia tomar dinheiro da sociedade — especialmente da camada que impõe maior dinamismo na economia — em favor de um estado perdulário — todos são; o brasileiro é mais. Com que discurso Levy vai bater a carteira da classe média? Também ele vai brincar de luta de classes, a exemplo de seus neocompanheiros do PT?

Aliás, para onde vai um governo que decide ampliar o “Supersimples” e que, ao mesmo tempo, demonstra a disposição de tungar seus eventuais beneficiários — o que, convenham, nem o esquerdista Guido Mantega decidiu fazer?


Que país sui generis! O comunista do Brasil, Flávio Dino, novo governador do Maranhão, diz que seu Estado precisa de um choque de capitalismo. E o liberal Joaquim Levy alimenta delírios confiscatórios. Isso tudo poderia parecer engraçado. Mas isso tudo é só parte do nosso atraso e na nossa miséria, também intelectual e política. Espero que as oposições não se deixem encantar pelo dito conservadorismo do sr. Levy e se organizem para impedir um novo assalto a uma fatia da sociedade que já paga a conta.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Reynaldo Rocha: Eu sou livre!

Do blog do Augusto Nunes

Quando sectários impostores abriram fogo contra os jornalistas do Charlie Hebdo, não tinham noção da intensidade do ato. As 12 vítimas sempre souberam. Os bárbaros atingiram o coração da LIBERDADE. Que desconhecem, mas sonham exterminar. No mundo civilizado, bilhões de corações e mentes enxergaram para além dos homicídios. Sentiram a necessidade da luta pela sobrevivência. Da discordância. Do avanço civilizatório. Da liberdade de expressão. E a resposta extrapolou a França da Igualdade, Fraternidade e Liberdade.

Não sou um terrorista de teclado. Mas o que houve em Paris tem parentesco com a tentativa de invasão do prédio da Editora Abril por fanáticos que rejeitam os fatos publicados por VEJA. Ou com a lei imposta pelo governo argentino para liquidar o grupo Clarín na Argentina e com a “cota oficial” de papel concebida para cercear a oposição.

Em fevereiro de 2014, 55 jornalistas foram agredidos nas manifestações de rua contra o governo venezuelano. Havia uma lista de jornalistas a serem assassinados na Europa. Por enquanto, aqui existe uma lista de profissionais que incomodam o PODER APODRECIDO que por ousarem fazer apenas jornalismo. A diferença é da intensidade. Somente e por enquanto. A prática já está em uso.

O mundo deu um BASTA! Que repercute em cada homem que preze a própria liberdade e do direito de conviver também com opostos.

O que importa - para além da dor causada pela brutalidade praticada, o assassinato sem sentido – é a raiz da intolerância. Para cada jornalista morto, há milhões de leitores privados da liberdade. Para cada matéria censurada (ou “controlada”), existem milhões de atos idênticos praticados às escondidas.

Nós, leitores, só podemos agradecer a cada jornalista independente. Em nome da cidadania. E do ser honesto, que era de regra e hoje é exceção.

Blogueiros de aluguel, pagos para escrever o que os donos ordenam, jamais seriam jornalistas de um Charlie Hebdo. Seriam charges de capa. Seus rótulos rasteiros não nos atingem. Sabemos dar valor à LIBERDADE.

Eu sou Charlie. Eu sou cristão. Eu sou agnóstico. Eu sou budista. Eu sou muçulmano. Eu sou de direita. Eu sou de esquerda. Pouco importa o que eu seja.


EU SOU LIVRE!

Demétrio Magnoli: Raqqa, aqui

Enquanto, na França, dezenas de milhares saíam às ruas para dizer “Eu sou Charlie”, professores universitários brasileiros saíam de suas tocas para celebrar o terror. Não começou agora: é uma reedição das sentenças asquerosas pronunciadas na esteira do 11 de setembro de 2001. São sinais notáveis da contaminação tóxica de nossa vida intelectual e, especificamente, da célere conversão de departamentos universitários em latas de lixo do pensamento.

A mensagem dos franceses foi um tributo à vida e à civilização. “Eu sou Charlie” não significa que concordo com qualquer uma das sátiras do Charlie Hebdo.

Significa que concordo com a premissa nuclear das sociedades abertas: a liberdade de expressão é, sempre, a liberdade daquele com quem não concordo.

Isso, porém, nunca entrará na cabeça de nossos mensageiros da morte.


Seu discurso padrão começa com uma condenação ritual do ato terrorista: “É claro que não estou defendendo os ataques”, esclareceu de antemão uma dessas tristes figuras, antes de entregar-se à defesa, na forma previsível da condenação das vítimas “justiçadas”.

“Não se deve fazer humor com o outro”, sentenciou pateticamente Arlene Clemesha, que ostenta o título de professora de História Árabe na USP, para concluir com uma adesão irrestrita à lógica do terror jihadista. É preciso, disse, “tentar entender” o significado do ataque: “um atentado contra um jornal que publicou charges retratando o profeta Maomé, coisa que é considerada muito ofensiva para qualquer muçulmano”.

Clemesha é só uma, numa pequena multidão acadêmica consagrada à delinquência intelectual. No mesmo dia trágico, Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais na Uerj, esqueceu-se do cínico aceno prévio para expor logo sua aguda visão sobre o “controle social da mídia” e, de passagem, candidatar-se a porta-voz oficial do Estado Islâmico: “Quem faz uma provocação dessas”, explicou, referindo-se aos cartunistas assassinados, “não poderia esperar coisa muito diferente”.

O curioso, nas Clemeshas e nos Gonçalves, é que eles rezam pela mesma cartilha que Marine Le Pen, apenas com sinal invertido. O nome dessa cartilha é “choque de civilizações”.

Na onda de islamofobia que varre a França, surfam dois lançamentos recentes. O livro “Le suicide français”, do jornalista ultraconservador Éric Zemmour, alerta contra a destruição da cultura francesa por vagas sucessivas de imigração muçulmana.

O romance “Soumission”, de Michel Houellebecq, imagina a França governada por um partido islâmico no ano agourento de 2022. Segundo a gramática do “choque de civilizações”, o Islã não cabe na França: um muçulmano só pode ser um francês se, antes, renunciar à sua fé.

Os nossos Gonçalves e Clemeshas estão de acordo com isso –mas preferem que, para acolher os muçulmanos, a França renuncie a suas leis e a seus valores, entre os quais a laicidade do Estado. E, no entanto, apesar de Zemmour, Houellebecq, Clemesha, Gonçalves e Le Pen, milhares de muçulmanos franceses exibiram nas ruas os cartazes com a inscrição “Eu sou Charlie”…

Karl Marx escreveu cartas elogiosas a Abraham Lincoln. Leon Trostsky contou com a colaboração inestimável do filósofo liberal John Dewey para demolir as falsificações dos Processos de Moscou. Entre um evento e outro, o socialista August Bebel qualificou o antissemitismo como “o socialismo dos idiotas”.

Em outros lugares e outros tempos, o pensamento de esquerda confundiu-se com o cosmopolitismo e produziu as mais comoventes defesas das liberdades civis. No Brasil de hoje, com honoráveis exceções, reduziu-se a um pátio fétido habitado por “black blocs” iletrados, mas fanaticamente antiamericanos e antissemitas.


“Não se deve fazer humor com o outro”, está escrito na lápide definitiva que cobre o túmulo do humor. Raqqa, a sede do califado, é aqui. “Eu sou Charlie”.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Globo: Número de homicídios no mundo cai, mas cresce no Brasil, diz ONU

GENEBRA - O número de homicídios está em queda no mundo. Apesar disso, o Brasil está na contramão da tendência. Em números absolutos, é o país com o maior índice de assasinatos no mundo: 64,357, o que equivale a 32.4 mortes para cada 100 mil pessoas, revela relatório global para prevenção de violência preparado por agências das Nações Unidas divulgado nesta quarta-feira.

O Brasil ultrapassa até a Índia (52 mil) – o segundo país mais populoso do planeta. E tem mais do dobro de homicídios que o México (26 mil), Colômbia (20 mil), Rússia e África do Sul (18 mil), Venezuela e Estados Unidos (17 mil). A esmagadora maioria das vítimas brasileiras são homens. A estimativa é da Organização Mundial de Saúde, uma das três agências que participaram do estudo.

Numa avaliação dos homicídios per capita, no entanto, o Brasil não é o país mais violento do mundo. Embora o país tenha quase 5 vezes mais do a média de homicídios no mundo (6 para cada 100 mil pessoas), quem lidera o ranking nas estimativas da OMS é Honduras, com 103.9 assassinatos para cada 100 mil habitantes, seguido da Venezuela, com 57 casos para cada 100 mil e 45 no caso da Jamaica. O Brasil fica entre os 10 mais violentos.

Os números da OMS são bem maiores do que os dados oficiais fornecidos pela polícia brasileira e que também constam do relatório : 47,136 mil ou 24.3 para cada 100 mil pessoas. Nos dois casos, no entanto, os dados mostram uma curva ascendente no número de homicídios brasileiros desde 2007, depois de uma queda nos registros no período entre 2003 e 2007.

Em 2012, foram registrados 475 mil assassinatos no planeta, que registrou queda de 16% em relação aos números de 2000. Os dados do país foram fornecidos pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP.

Desigualdade social e cultura de aceitação da violência, conjugados à convivência com armas e à ampla cobertura da mídia sobre o tema são algumas das explicações apontadas para o elevado nível de homicídios no continente americano.

Mas representantes das agências que prepararam o relatório não conseguiram explicar porque a curva de homicídios se reverteu no Brasil depois de estar em queda. Para Etienne Krug, diretor do departamento de Prevenção de Violências, Lesões e Incapacitações da Organização Mundial de Saúde (OMS), parte da explicação pode ser creditada à melhor coleta de dados fornecidos pelo governo.

- Eu sei que houve vários esforços no Brasil (para combater a violência) – disse ele.

Sara Sekkenes, do Programa da ONU para o Desenvolvimento (Pnud), admitiu que há limitações na análise dos dados:

- Há limites (na análise), porque o relatório não leva em consideração, por exemplo, o impacto da crise financeira e do desemprego. Mas é algo que ajuda a começar a olhar para os problemas da violência.

O relatório, que analisou dados de 133 países, avaliou também a legislação do Brasil no combate e prevenção da violência. Segundo o documento, o país destaca-se positivamente por possuir leis abrangentes contra os maus tratos de crianças e de idosos, mas precisa melhorar suas formas de inibir a violência sexual. Questões como a do estupro no casamento e a remoção de marido violento não são contempladas em sua plenitude. A ONU também não considera suficiente a legislação para impedir o porte de armas nas escolas.

O texto deixa claro que a criação de mais leis contra a violência não impede que atos violentos sejam cometidos em grande escala. Nos 133 países que fizeram parte do estudo, a ONU detectou que uma a cada quatro crianças já sofreu abuso, enquanto que uma a cada três mulheres já foi vítima de violência física ou sexual cometido pelo parceiro e que um a cada 17 idosos sofreu algum tipo de agressão no último mês.

Apesar de Krug afirmar ser boa a notícia da diminuição do número de homicídios no mundo, avaliou que os países têm dificuldade na aplicação das leis. Em média, 80% deles adotaram regras para prevenção e combate da violência, mas apenas metade as puseram em prática.

- Existem leis, mas muitos países informaram que elas não são aplicadas – disse Krug.

Sobre restrição ao uso de armas, o documento compara o Brasil a outros países, e chama atenção que o porte de uma família violenta não é retirado, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, na Suécia ou na Colômbia. Além disso, o país não limita a compra de munição, ao contrário do que ocorre no México e na África do Sul. O ponto do controle do porte de armas foi considerado importante pela ONU.


Forte controle de porte de armas é importante, segundo a ONU, porque aumenta a propabilidade de violência: um a cada dois homicídios é cometido com armas.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Entrevista - Marta Suplicy critica Dilma, ataca colegas e afirma: 'Ou o PT muda ou acaba'

Marta critica Dilma, ataca colegas e afirma: 'Ou o PT muda ou acaba'
Eliane Cantanhêde do Estadão

Para a senadora Marta Suplicy (SP), que foi deputada, prefeita e duas vezes ministra pelo PT, o partido chegou a uma encruzilhada: “Ou o PT muda, ou acaba”. Em entrevista ao Estado, Marta não assumiu explicitamente, mas deixou evidente que está a um passo de sair do PT: “Cada vez que abro um jornal, mais fico estarrecida com os desmandos. É esse o partido que ajudei a criar?”.

Articuladora assumida do “Volta, Lula” em 2014, ela também deixou suficientemente claro que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em alguns momentos, autorizou os movimentos nesse sentido. Quanto ao governo Dilma: “Os desafios são gigantescos. Se ela não respeitar a independência da equipe econômica, vai ser desastroso para o Brasil”.

A declaração mais irada foi contra o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que ela julga “inimigo do Lula” e “candidatíssimo” a presidente em 2018, mas “vai ter contra si a arrogância e o autoritarismo”. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Por que a senhora articulou o movimento “Volta, Lula”?
Em meados de 2013, os desmandos aconteciam e a economia ia de mal a pior. Foi aí que disse ao Lula: ‘Presidente, está acontecendo uma coisa muito séria. O que o senhor acha que está acontecendo?’ Conversamos a primeira, a segunda, a terceira, a quarta vez... E ele dizia: ‘É verdade, estou conversando com ela, mas não adianta, ela não ouve’. A coisa foi piorando e, um dia, ele disse: ‘Os empresários estão se desgarrando...’. E perguntou se eu podia ajudar e organizei um jantar na minha casa, já no início de 2014, com os 30 PIBs paulistas. Foi do Lázaro Brandão a quem você quiser imaginar. Eles fizeram muitas críticas à política econômica e ao jeito da presidente. E ele não se fez de rogado, entrou nas críticas, disse que era isso mesmo. Naquele jeito do Lula, né? Quando o jantar acabou, todos estavam satisfeitíssimos com ele.

E falaram nele como candidato?
Ninguém falou claramente, mas todo mundo saiu dali com a convicção de que ele era, sim, o candidato.

Ele admitia que queria ser?
Nunca admitiu, mas decepava (sic) ela: ‘Não ouve, não adianta falar.’

Ele estava incomodado com Dilma?
Extremamente incomodado. E isso é que foi levando ele a achar que tinha de ser o candidato e fui percebendo que a ação dele foi mudando. A verdade é que ele nunca disse, mas sempre quis ser candidato e achou que ia ser.

Por isso a senhora trabalhou pela candidatura do Lula?
Sim, providenciando os encontros para ele poder se colocar. Foi quando convidei políticos, artistas para um grande encontro político. Convidei a Dilma, o Mercadante e todos os ministros de São Paulo, avisando que o Lula estaria presente. Todos confirmaram, mas, na véspera, todos cancelaram. E ela, Dilma, também não foi. Nessa época, ainda estava confuso quem seria o candidato. Tinha uma disputa. E, depois, quando ela virou candidatésima, ele não falava mais com ela.

O Lula deixava uma porta aberta?
Quando o Lula escolheu o Fernando Haddad para disputar a Prefeitura, eu avisei a ele que eu ia sair do ministério, porque discordava da política econômica, da condução do País, e ia voltar para o Senado. ‘E vou dizer que o candidato é o senhor. A única que tem coragem de dizer isso publicamente sou eu e vou dizer’. E ele: ‘Não vai, não, de jeito nenhum’. Eu: ‘Por quê?’ Ele: ‘Porque não é hora’. Veja bem, ele não negou, ele disse que não era hora.

Depois, como evoluiu?
Um dia, eu fui direta: ‘Lula, tem de ir pro pau, tem de ter clareza nisso’. E listei pessoas com quem poderia conversar para dizer que ele tinha interesse, que estava disposto. Aí ele disse que não, que não era para falar com ninguém. O que eu ia fazer? Concordei. Só que, quando eu já estava saindo, perto da porta, ele disse: ‘Pode falar com o Rui (Falcão, presidente do PT)’. Dois dias depois, sentei duas horas e meia com o Rui e disse a ele: ‘A situação está muito difícil eleitoralmente para o PT, mas muito difícil para o País. Porque vai ser muito difícil a Dilma conduzir o País de outro jeito, você já conhece o jeito dela’. Mas ele disse que íamos ganhar e que eu estava falando de coisas que eu não entendia.

Acredita que o Lula queria ser (candidato em 2014)?
Ele é um grande estadista, mas não quis enfrentar a Dilma. Pode ser da personalidade dele não ir para um enfrentamento direto, ou porque achou que geraria uma tal disputa que os dois iriam perder.

E quando o próprio Lula encerrou de vez o assunto?
Foi quando ele disse: ‘Marta, acabou. Vamos trabalhar para a Dilma e pronto. Você vai enfiar a camisa e trabalhar de novo’.

E a senhora, nunca pensou em ser candidata?
A quê?

A presidente...
Pensei sim. Quando era neófita, tinha clareza de que poderia ser presidente. Depois, isso caiu por terra, até que um dia o Lula, no avião dele, quando era presidente, me disse: ‘Minha sucessora vai ser uma mulher’. E pensei que ou seria eu, ou Marina (Silva) ou Dilma. Logo vi aquela história de ‘mãe do PAC’ e que era a Dilma. Pensei: ‘O que faço?’ Bom, ou ficava contra e não fazia coisa nenhuma, ou ajudava. Mais uma vez, decidi ajudar. Sempre achei que ia acabar ficando meio de fora das coisas, talvez pela origem, talvez por ser loura de olho azul, não sei.

Como vê o governo Dilma?
Os desafios agora são gigantescos, porque não se engendraram as ações necessárias quando se percebeu o fracasso da política econômica liderada por ela. Em 2013, esse fracasso era mais do que evidente. Era preciso mudar a equipe econômica e o rumo da economia, e sabe por que ela não mudou? Porque isso fortaleceria a candidatura do Lula, o ‘Volta, Lula’.

E a nova equipe econômica?
É experiente, qualificada. Vai depender de a Dilma respeitar a independência da equipe. Se não respeitar, vai ser desastroso. Agora, é preciso ter humildade e a forma de reconhecer os erros a esta altura é deixar a equipe trabalhar. Mas ela não reconheceu na campanha, não reconheceu no discurso de posse. Como que ela pode fazer agora?

Se Dilma não deixar a equipe econômica trabalhar, os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) podem correr para o Lula, pedindo apoio?
Você não está entendendo. O Lula está fora, está totalmente fora.

Tudo isso criou uma cisão indelével no PT, entre lulistas e dilmistas, como ficou claro na posse, quando o Lula foi frio com o Mercadante?
O Mercadante é inimigo, o Rui traiu o partido e o projeto do PT, e o partido se acovardou ao recusar um debate sobre quem era melhor para o País, mesmo sabendo as limitações da Dilma. Já no primeiro dia, vimos um ministério cujo critério foi a exclusão de todos que eram próximos do Lula. O Gilberto Carvalho é o mais óbvio.

Qual o efeito disso em 2018?
Mercadante mente quando diz que Lula será o candidato. Ele é candidatíssimo e está operando nessa direção desde a campanha, quando houve um complô dele com Rui e João Santana (marqueteiro de Dilma) para barrar Lula.

Quais as chances de vitória do PT com o Mercadante?
Ele vai ter contra si sua arrogância, seu autoritarismo, sua capacidade de promover trapalhadas. Mas ele já era o homem forte do governo. Logo, todas as trapalhadas que ocorreram antes ocorrem agora e ocorrerão depois terão a digital dele.

Afinal, quais são os desmandos da gestão do Juca Ferreira na Cultura?
Foi uma gestão muito ruim. Enviei para a CGU (Controladoria-Geral da União) tudo sobre desmandos e irregularidades da gestão dele.

O que aconteceu com a Petrobrás?
Para mim, todo o conselho e diretoria deveriam ter sido trocados. Respeito a Graça (Foster), até gosto dela. Não questiono sua seriedade e honradez. Mas, no momento, o mais importante é salvar a Petrobrás.

O PT foi criado com a aura de partido ético. Imaginava que pudesse chegar a esse ponto?
Cada vez que abro um jornal, fico mais estarrecida com os desmandos do que no dia anterior. É esse o partido que ajudei a criar e fundar? Hoje, é um partido que sinto que não tenho mais nada a ver com suas estruturas. É um partido cada vez mais isolado, que luta pela manutenção no poder. E, se for analisar friamente, é um partido no qual estou há muito tempo alijada e cerceada, impossibilitada de disputar e exercer cargos para os quais estou habilitada.

Então, a senhora vai sair do PT.
A decisão não está tomada ainda, mas passei um mês e meio, dois meses, chorando, com uma tristeza profunda, uma decepção enorme, me sentindo uma idiota. Não tomei a decisão nem de sair, nem para qual partido, mas tenho portas abertas e convites de praticamente todos, exceto do PSDB e do DEM.

Para concorrer à Prefeitura?
Não será uma decisão em função de uma possível disputa à Prefeitura, por isso é tão dura. É uma decisão duríssima de quem acreditou tanto, de quem engoliu tanto.

Tem uma gota d’água?
Não, mas na campanha da Dilma e do (Alexandre) Padilha em São Paulo, fui totalmente alijada. Quando Padilha me ligou pedindo para eu gravar, disse: ‘Ô Padilha, entenda. Eu não sou mais objeto utilitário, acabou essa minha função no PT’.

Por que Dilma e Padilha foram tão mal em São Paulo?
Não foi um voto pró-Aécio (Neves), foi um voto anti-PT, pelos desmandos que o PT tem perpetrado nesses anos todos.

O que vai ocorrer com o PT?

Ou o PT muda ou acaba.