Nima Gholam Ali Pour é membro do Conselho de Educação na
cidade sueca de Malmö e participa de diversos institutos interdisciplinares de
estudos relacionados com o Oriente Médio. Gholam Ali Pour também é editor do
Website social conservador Situation Malmö.
Publicado no site do The Gatestone Institute.
Tradução: Joseph Skilnik
Uma turba de árabes em Malmö arremessa garrafas, ovos e
bombas de fumaça contra uma manifestação pacífica de judeus, em janeiro de
2009. A polícia ordenou aos judeus, que tinham permissão para a realização do
comício, que se dirigissem para uma viela.
Uma manifestação contra o racismo estava marcada para o dia
9 de novembro na cidade de Umeå, Suécia, para lembrar a Noite dos Cristais (a
noite de 1938 em que 400 judeus foram assassinados na Alemanha e 30.000 judeus
do sexo masculino foram enviados a campos de concentração). Só que havia um
pequeno detalhe: os judeus da Umeå não foram convidados para a manifestação. A
razão disto, de acordo com Jan Hägglund, um dos organizadores do evento, é que
a manifestação poderia causar "mal estar ou provocar uma situação de
insegurança para eles".
O caminho para este cenário surrealista, em que uma
manifestação contra o racismo na Suécia para lembrar a Noite dos Cristais
poderia ser entendida pelos judeus como uma ameaça, vem tomando forma há muito
tempo. A manifestação tinha certa importância. As pessoas por trás dela não
eram extremistas. Quatro dos oito partidos do parlamento sueco participaram da
organização do evento.
Essa manifestação anti-racista e os estranhos incidentes que
ocorreram em volta dela são frutos de um processo que, lamentavelmente, estão
se avolumando há muito tempo na Suécia. Um novo tipo de antissemitismo sueco
está ganhando força e a cidade de Malmö é o carro-chefe.
Em janeiro de 2009, uma demonstração pró-Israel em Malmö foi
atacada por árabes que gritavam "f****-se judeus". Os policiais não foram
capazes de proteger os manifestantes pró-Israel dos ovos e garrafas
arremessados contra eles. O evento teve que ser temporariamente interrompido
quando os árabes começaram a lançar fogos de artifício contra os manifestantes
pró-Israel.
Em 2010, foi a primeira vez, mas não a última, que a
sinagoga de Malmö foi atacada. Naquele mesmo ano o Centro Simon Wiesenthal
alertava os judeus a não visitarem a cidade de Malmö, "devido a
hostilidade contra os cidadãos judeus.
Hoje Malmö é uma cidade conhecida pelo seu antissemitismo e
caracterizada por ele. Os judeus de Malmö não podem mostrar publicamente que
são judeus sem que sejam molestados. Muitas famílias que lá residiam há
séculos, abandonaram a cidade. Em outubro de 2015 dois membros do parlamento
sueco participaram de uma manifestação pró-palestina em Malmö, onde as pessoas
gritavam palavras de ordem antissemitas e enalteciam os ataques com facas
perpetrados pelos palestinos contra judeus israelenses.
A razão pela qual um país como a Suécia ter, de repente,
sido assolada por um antissemitismo extremo é em grande parte graças à
imigração do Oriente Médio. O mundo árabe e muçulmano e, desde 1979 também a
República Islâmica do Irã, que vem ameaçando repetidamente os judeus com
genocídio, continua a demonizá-los na mídia estatal. O mundo árabe e muçulmano
querem provavelmente, em parte, justificar seu conflito com Israel. E também em
parte porque muitos membros do establishment e cidadãos desses países
provavelmente acreditam nessas teorias da conspiração antissemitas, calunias
repetidas todo santo dia na mídia e nas mesquitas.
Muitos dos recém-chegados continuam mantendo seu background
do Oriente Médio mesmo depois de terem estabelecido residência na Suécia.
Muitos, principalmente aqueles que se estabeleceram em regiões
predominantemente de imigrantes como Rosengård em Malmö, assistem com
frequência a mídia árabe, que transmite ininterruptamente mensagens
antissemitas.
Ao mesmo tempo, membros dessa população são convidados a
votarem nas eleições suecas, de modo que os partidos suecos dão atenção ao voto
árabe. Essa mesura é meramente uma questão de logística. Há menos de 20.000
judeus na Suécia, mais de 20.000 sírios receberam o status de asilados somente
em 2014.
Fora isso, não é nem necessário ser cidadão sueco para votar
nas importantes eleições municipais da Suécia. É por conta dessa peculiaridade
que tão poucos suecos se aventuram a falar sobre antissemitismo árabe, apesar
das diversas denúncias e documentários que mostram que o crescimento do
antissemitismo foi, em grande medida, importado do Oriente Médio.
É também por essa razão que a maioria das organizações
antiracistas na Suécia prefere falar de "islamofobia". Praticamente
todas as organizações antiracistas da Suécia são financiadas pelos
contribuintes ou de alguma forma ligadas a partidos políticos, indicando que há
um "entendimento" de compadrio entre partidos políticos e
organizações antirracistas. A maioria dos partidos políticos não veem exatamente
com bons olhos organizações antirracistas que falam de antissemitismo árabe.
Essas organizações terão problemas em angariar fundos ou perderão financiamento
ou então verão membros do conselho administrativo renunciarem.
Apesar de mais muçulmanos estarem ingressando e mais judeus
estarem saindo da Suécia, ou justamente por esta razão, a maioria dos ativistas
antiracismo na Suécia considera a "islamofobia" o problema mais
sério. A influente organização anti-racismo Expo confeccionou uma série de
mapeamentos da "islamofobia", mas apesar do preconceito, não fez um
único mapeamento do antissemitismo.
Se for confeccionado um mapeamento do antissemitismo na
Suécia, então também será necessário falar sobre a imigração do Oriente Médio.
Não há muitas pessoas na Suécia dispostas a falar sobre isso: aqueles que falam
sobre o antissemitismo árabe são chamados de racistas.
Em vez de falar sobre o novo antissemitismo sueco, o que se
vê são artigos que entorpecem a mente com a mensagem de que as pessoas deviam
falar menos sobre o Holocausto nas escolas suecas, para não ofenderem os
adolescentes árabes. Ao desaprovar uma proposta do governo para combater o
antissemitismo aprofundando a educação sobre o Holocausto, Helena Mechlaoui,
uma professora de história, religião e filosofia do ensino médio assinalou:
"Se falamos sobre estudantes do Oriente Médio, pode ser
que falamos porque muitos deles passaram por experiências traumáticas
relacionadas com as políticas de Israel ou dos Estados Unidos. Não é raro ver
os dois países como um só, o que não está totalmente errado. Eles podem ter
perdido um ou mais irmãos, primos, pais ou colegas em um bombardeio israelense
ou americano. Uma grande proporção deles está aqui na Suécia porque foi
obrigada a deixar seus lares por causa da ocupação, guerra ou miséria em algum
campo de refugiados. Seus pais podem estar feridos e não terem como enfrentar a
vida, eles ainda podem ter familiares nas áreas de conflito. É bem provável que
eles tenham encontrado hostilidade na Suécia. Nesse contexto talvez seja melhor
não falar sobre o Holocausto".
A imigração dos países árabes afetou profundamente a maneira
pela qual a maioria dos suecos vê o antissemitismo. O antissemitismo não é mais
algo que a sociedade sueca condena. Várias celebridades suecas fizeram declarações
antissemitas sem que isso afetasse negativamente um tiquinho sequer da carreira
deles. Dani M, artista sueco do rapdissemina teorias da conspiração
antissemitas tanto nas redes sociais quanto em suas músicas. Depois que
diversos veículos de mídia suecos, no final de 2014 e início de 2015,
descreveram detalhadamente como Dani M dissemina teorias da conspiração
antissemitas, ele apareceu em um reality show em setembro, em um dos maiores e
mais consagrados canais de TV da Suécia, a TV4. Quando a TV4 foi criticada, o
produtor executivo do programa Christer Andersson respondeu o seguinte:
"Os valores fundamentais da TV4 são Zero Racismo e
sempre foi assim, desde que eu me entendo por gente, mas não podemos tolher as
pessoas que não pensam assim. A TV4 é um portal onde se apresentam pessoas com
as mais variadas opiniões e nós temos que ter uma ampla gama de
aceitação".
Aqui temos um dos veículos de mídia mais importantes da
Suécia descrevendo o antissemitismo simplesmente como uma "diferença de
opinião". Nessa mesma época, uma funcionária da TV4 fez uso da
"palavra N" em um clip do YouTube e foi demitida dois meses depois.
Quer dizer, antissemitismo é aceitável, mas racismo contra afro-suecos não.
Em um outro exemplo, a celebridade da TV sueca Gina Dirawi
de origem palestina, publicou em seu blog em 2010 que as ações de Israel podem
ser comparadas às ações de Hitler. Depois em 2012 ela aconselhou as pessoas,
novamente em seu blog, a lerem um livro que questionava a existência do
Holocausto. A mensagem do livro era a de que quando os nazistas perseguiam os
judeus eles agiam em legítima defesa. Estas foram apenas duas das muitas
declarações antissemitas feitas por ela em seu blog. Hoje Gina Dirawi apresenta
vários programas na SVT, a emissora pública de rádio e televisão da Suécia,
inclusive ela apresentou o programa de Natal da SVT em 2015. Isso causou certa
surpresa considerando-se que Dirawi é muçulmana. Ela também irá apresentar o
concurso de música sueco Melodifestivalen de 2016, um dos mais consagrados eventos
musicais da Suécia.
Infelizmente não deixa nenhuma margem de dúvida o fato de
que na Suécia o antissemitismo não é algo que vá prejudicar a carreira de
alguém. A mídia sueca, assim como o governo sueco, também não estão tão
interessados em relação aos problemas da Suécia com o antissemitismo. Quando o
instituto interdisciplinar de estudos Perspektiv På Israel apresentou
evidências em maio de 2015 que o diretor do Islamic Relief na Suécia estava
disseminando posts antissemitas no Facebook, ninguém se interessou em escrever
sobre esse assunto, não obstante o fato do Islamic Relief receber apoio da
Sida, a agência governamental sueca responsável pela ajuda oficial da Suécia
aos países em desenvolvimento.
A mídia sueca nem ao menos permitiu que um editorial do
Perspektiv På Israel sobre o assunto fosse publicado. Nyheter24, um dos
veículos de mídia sueca que não publicou a matéria do Perspektiv På Israel
sobre esse escândalo, enviou um email para o Perspektiv På Israel dizendo que
seus "leitores não estão interessados nesse assunto em particular, isso
para dizer o mínimo".
Como colunista do jornal Samtiden, eu mencionei as
declarações racistas do Islamic Relief em um artigo opinativo e as informações
também foram publicadas no The Jewish Press. A mídia sueca não demonstrou
nenhum interesse, muito embora houvesse evidências que uma organização que
recebia fundos pagos com impostos suecos estivesse publicando matérias
antissemitas nas redes sociais.
É importante salientar que todos esses incidentes ocorreram
em um país onde o uso do termo "imigração em massa" normalmente é
censurado simplesmente por soar racista. Somente o antissemitismo não é
criticado na Suécia. Todas as outras formas de racismo, até mesmo aquelas que
alguns dizem poderiam ser consideradas racistas, são criticadas e de maneira
implacável.
Muito embora o novo antissemitismo na Suécia tenha suas
origens no antissemitismo árabe ou muçulmano, acreditar que o antissemitismo de
hoje na Suécia é puramente oriundo do Oriente Médio é ser simplista demais. O
antissemitismo na Suécia virou um smorgasbord composto por uma série de fatores
que se reforçam mutuamente. Alguns desses fatores são os seguintes:
imigração em larga escala de países onde o antissemitismo
faz parte do cotidiano.
engajamento fortemente pró-palestino entre os políticos
suecos que teve como consequência um debate totalmente surrealista em relação à
questão israelense-palestina, na qual Israel é injustamente demonizado.
o desejo dos partidos políticos suecos de conquistarem os
votos dos imigrantes.
o multiculturalismo sueco é tão sem reservas em relação às
culturas estrangeiras que não é capaz de diferenciar cultura de racismo.
medo de parecer contrário à imigração.
importantes instituições suecas, como a Igreja da Suécia que
legitima o antissemitismo ao endossar o documento Kairos da Palestina.
A conjunção desses fatores cria um ambiente no qual o
antissemitismo tem condições de crescer sem encontrar nenhuma resistência ou
crítica. O que vem a seguir aconteceu em Komvux, em um programa educacional
para adultos na Suécia, na cidade de Helsingborg: um professor substituto
estava sustentando fatos sobre o Holocausto durante uma aula depois que um
estudante perguntou se o Holocausto realmente aconteceu. A administração da
escola desaprovou a conduta do professor substituto com os seguintes
argumentos: "o que é história para nós não é a história de outros. ...
Quando temos outros estudantes que estudaram em outros livros de história, não
há razão para discutirmos fatos contra fatos".
Isso aconteceu em fevereiro de 2015, em uma importante
cidade sueca. Isso poderia ter acontecido em qualquer cidade sueca onde o novo
antissemitismo sueco está avançando. Uma escola sueca já não sabe mais se o
fato do Holocausto ter realmente ocorrido é um fato que vale a pena defender. O
smorgasbord antissemita torna aceitável o antissemitismo na Suécia.
Quando foi noticiado em meados de novembro que a Ministra
das Relações Exteriores da Suécia Margot Wallström, disse: "os judeus
estão fazendo uma campanha contra mim", isso não se tornou uma notícia
importante na Suécia. Esta não foi a primeira vez que uma figura política de
destaque na Suécia fez declarações antissemitas e não deu em nada e também não
será a última.
Voltemos então ao dia 9 de novembro de 2015 em Umeå e à
manifestação contra o racismo para lembrar a Noite dos Cristais para a qual os
judeus não foram convidados, e para a apresentadora muçulmana do Natal deste
ano que diversas vezes expressou pontos de vista antissemitas, e para as
escolas que não têm certeza se devem ou não dizer que o Holocausto realmente
aconteceu, e para um país onde passou a fazer parte da rotina do dia-a-dia não
convidar judeus.
A mídia não faz reportagens sobre isso. Os políticos não dão
a mínima. E todo mundo sabe que na Suécia os antissemitas se safam de tudo.