Veja como os radicais de esquerda infiltrados nas
universidades impedem o avanço educacional brasileiro
Rodrigo Constantino: Recebi a mensagem abaixo de Lucas G.,
um estudante da UFRJ, que resolveu encarar a votação da permanência ou não da
greve em curso, que completará cem dias. Ele relata o verdadeiro calvário que
foi enfrentar os obstáculos criados deliberadamente pelos radicais de esquerda,
sempre organizados para impedir uma verdadeira democracia. O que se segue é o
retrato da falência de nosso sistema educacional, dominado por essa minoria
barulhenta e extremamente ideológica. Afinal, o que esperar quando o próprio
reitor da universidade veste literalmente o boné do MST? Vejam:
Lucas G.: Greve in Rio
A longa marcha da vaca para o brejo deu passos largos na
Assembleia Estudantil da UFRJ de ontem.
Cheguei à Assembleia em um horário próximo do que estava
previsto em seu evento do Facebook, mas ela contou com nada menos que 1h30 de
atraso. Com todas as óbvias ressalvas, os momentos iniciais do episódio de
ontem tinha certo quê Rock in Rio. Eu arriscaria um “Greve in Rio” como
apelido.
Da mesma maneira que o popular festival de rock, os
entusiastas mais apaixonados, os grevistas no caso, chegaram logo na frente
para “pegar a tal da grade” e acompanhar os acontecimentos mais de perto. Os
simpáticos vendedores de água e cerveja, sempre atentos ao início de grandes
aglomerações, já marcaram presença na entrada do prédio da Reitoria.
Iniciada a cerimônia, dedicaram os primeiros trinta minutos
da mesma a um histórico das ações promovidas pelos alunos nesse período de três
meses de paralisação. Ocupações, marchas, petições e invasão ao MEC foram
citadas. O formato ideal de resistência grevista, que deveria ser seguido pelas
demais universidades, era o da tal UFBA, a Universidade de Brasília, segundo um
dos falantes que se dedicaram à exposição desse histórico.
Logo em seguida, a mesa iniciou uma discussão a respeito da
metodologia da Assembleia. Já vendo que o negócio iria demorar muito, fiz o
mesmo que muitos e encostei-me sentado a uma das pilastras do térreo. Eu e uns
amigos que tinham ido comigo, talvez imbuídos de um espírito de “estudante
farofeiro”, levamos umas bolachas (ou biscoitos) de casa para sobreviver até o
final da votação.
Quantas falas teria o tal debate, afinal? Vi que muita gente
queria pular direto para o momento em que votaríamos, mas me dei conta de que a
peleja seria inevitável. Propuseram inicialmente cerca de 20 ou 25 falas de 2
minutos cada. Já outra garota sugeriu aumentar o número para 35.
Sim! Ouvimos às 19h30 a brilhante ideia de conceder 35 falas
de 2 a 3 minutos para os presentes. A essa altura eu já estava me arrependendo
de não ter uma barraca de camping para situações desse tipo. Eis que vejo um
ser iluminado se levantar e propor um número mais reduzido 15 falas, visto que
todo mundo já estava ciente da situação da faculdade, do Brasil, do
capitalismo, do imperialismo norte-americano e do que quer que fossem falar
futuramente. O bom senso prevaleceu nesse ponto e optamos por essa última
proposta.
Entre o intervalo de tempo anterior ao início do debate e o
fim do mesmo, muita gente aproveitou para ir ao restaurante universitário.
Percebendo que as discussões não teriam muito futuro, aproveitei para matar a
fome também, só retornando na metade do debate. Infelizmente perdi a parte em
que falaram coisas como a “escravação (sic) dos funcionários terceirizados” e
que deveríamos derrotar o “Aécio e a direita”.
Finalmente o debate se aproximava de seu fim, havendo
destinado mais de uma hora para ouvir pessoas carregadas do velho vocabulário
revolucionário e ouvir também aqueles que pediam pelo fim da greve estudantil
ao mesmo tempo em que fosse assegurado o direito de defesa das reivindicações
dos alunos..
Conseguíamos identificar facilmente que a maioria, senão a
totalidade, da mesa de ontem era composta por membros favoráveis à manutenção
de tal greve. Cabia a eles, segundo a metodologia elaborada pela própria mesa,
definir os encaminhamentos (que foram identificadas pelos próprios) a serem
votados em seguida.
“Voici monsieur!” O relógio já estava quase marcando 9 da
noite quando surgiu uma lista com 12 encaminhamentos a serem votados em ordem.
Preciso perguntar qual seria o último dos itens da lista a ser votado? Isso
mesmo! O fim da greve estudantil da UFRJ.
A maioria dos encaminhamentos era perfeitamente viável sem a
aprovação por parte da Assembleia. Exigiam, por exemplo, a criação de um Dia Nacional
da Luta e a organização de uma passeata contra o Ajuste Fiscal. Ótimo! Somos
livres para fazê-los independentemente do consenso dos amigos da universidade.
Também somos livres para nos posicionar contra a ocupação da Cisjordânia,
defender o fim da Guerra da Síria e apoiar o movimento de libertação do Tibete.
Se deixar por conta dos alunos, a greve estudantil só acaba quando tudo isso
for atendido.
Ademais, alguns grevistas levantaram a possibilidade de
adiar a votação sobre a manutenção da greve para a semana seguinte. Foi aí que
indignação com o sistema da Assembleia eclodiu de vez. Os gritos em uníssono
clamavam por uma votação o mais rápido possível. Muitos compareceram apenas
para votar pelo fim da greve, mas a estratégia dos grevistas da esquerda era
manter a votação para o mais tarde possível. Alunos que queriam votar pelo fim
da paralisação estudantil e moravam na Baixada Fluminense ou em regiões mais
distantes ficariam sem ônibus. Vários destes foram embora, enquanto outros
seguiam protestando.
Contados os votos, venceu a parte que defendia a manutenção
da greve. Muitos dos que moravam longe e eram contrários à mesma tiveram de
sair antes da votação, que se encerrou depois do incrível horário de 22h30.
Assim, continuamos um semestre maculado com uma greve que já dura três meses. O
próprio reitor afirmou que as aulas retornarão apenas quando funcionários,
alunos e docentes finalizarem suas respectivas greves.
Enquanto o radicalismo ideológico permanecer como a força
motriz da política educacional brasileira, seguiremos tomando de goleada nos
rankings internacionais de excelência acadêmica. Há reivindicações legítimas no
meio disso tudo. Não há como negar. Mas dada a atual conjuntura econômica
brasileira, é necessário deixar a ideologia de lado, retomar o semestre letivo
e partir para um pragmatismo responsável, tendo consciência do que é viável de
ser feito agora e o que não é.