terça-feira, 11 de agosto de 2015

Rodrigo Constantino: Um caso que dá referência circular e um nó górdio na cabeça dos esquerdistas

A esquerda “progressista” defende sempre as “minorias”, certo? Também inclui nesse grupo, por algum motivo obscuro, os bandidos, especialmente os jovens, vistos como “vítimas da sociedade”. Mas essas bandeiras podem gerar uma tremenda confusão na cabeça de um esquerdista típico, pois são muitas vezes contraditórias.

A feminista, por exemplo, deve elogiar os homens brancos ocidentais, que tratam as mulheres com respeito, ou os muçulmanos, outra “minoria” que não tem muito apreço pelo feminismo? Os homossexuais devem defender os países capitalistas liberais, onde gozam de ampla liberdade, ou as “minorias” africanas, que costumam vetar por lei o homossexualismo?

E como esses podemos pensar em vários outros casos. Mas um episódio ocorrido na Inglaterra é particularmente cruel com os “progressistas”. Ele, sozinho, é capaz de expor toda a hipocrisia da esquerda. Um adolescente esfaqueou uma pessoa. Até aqui, os “progressistas” estão na linha do “vítima da sociedade” e pregando que o ECA seja adotado na Inglaterra, para os ingleses aprenderem como se trata uma pobre criança de 14 anos que meteu a faca na vítima por falta de escola e oportunidade.

Mas aí começam os problemas. O garoto era aluno e a vítima foi seu professor. Já cai por terra a primeira grande ladainha da esquerda. Mas tem mais: o professor era negro, e o aluno teria cometido o crime por motivos racistas. E agora, José? Professor, da “elite opressora”, negro, e marginal, o “pobre sem oportunidades”, um estudante racista. Ainda querem aplicar o bondoso ECA?

Outro problema para os “progressistas”, claro, é a arma do crime: uma faca de cozinha. Esqueça o desarmamento, a desculpa de que “armas matam”, em vez de pessoas. O moleque usou uma faca de cozinha para ferir com risco de morte seu professor. A esquerda nada tem a dizer sobre isso, a menos que queira defender o desarmamento das facas…

Mas calma, leitor, que a confusão mental da esquerda continua: o professor, negro, também é cristão, e decidiu perdoar o delinquente racista. Direito dele, como cristão, algo que a esquerda “tolerante” não aceita, pois no fundo só quer perdoar bandidos das “minorias”, não os que atacam as “minorias”: esses merecem a morte, de preferência pela guilhotina em praça pública que é para dar o exemplo.

Só que, para fechar com chave de ouro, o professor, negro e cristão, reconheceu que seu perdão pessoal era uma coisa, mas a lei era outra, bem diferente, e que era importante o cumprimento da lei para passar a outros jovens de perfis similares “uma forte mensagem” que a violência é inaceitável. Ou seja, o homem pede a punição da lei para não incentivar novos crimes.

E agora, Maria? O que tirar disso tudo? O professor é da “elite golpista opressora” ou membro das “minorias oprimidas”? O estudante adolescente racista é “vítima da sociedade” ou um “marginal doente que merece a forca”? Já vejo a cabecinha oca de muito esquerdista dando aquela mensagem das planilhas de Excel: “referência circular”. Como desatar esse nó górdio, meus caros “progressistas”?


PS: O adolescente passará seis anos em regime fechado em um centro de recuperação de menores e os outros cinco sob vigilância em regime aberto. Lembrando que a vítima sequer foi fatal. Alguém ainda fica espantado com a criminalidade no Brasil, praticada de forma escancarada e ousada, pela certeza da impunidade? Será que os “progressistas” brasileiros acham que temos muito a ensinar aos “otários” ingleses sobre como tratar marginais?