domingo, 28 de setembro de 2014

Guilherme Fiuza: Petrolão para todos

Se o esquema irrigou tantos companheiros nos últimos 12 anos, imagine no pré-sal. Ninguém mais vai precisar trabalhar

Dilma sobe nas pesquisas, a bolsa despenca, e lá vêm os gigolôs da bondade denunciar a trama capitalista contra o governo do povo. Mas o que dizer então da bolsa eleitoral? Quanto mais apodrece o escândalo da Petrobras, mais Dilma se recupera nas pesquisas. Será que o eleitor está querendo virar sócio do petrolão?

Só pode ser. O espetáculo da orgia na maior empresa brasileira chegou ao auge com a delação premiada do ex-diretor Paulo Roberto Costa. Em ação raríssima entre os oprimidos profissionais, o réu decidiu abrir o bico. Talvez tenha aprendido com a maldição de Valério — que demorou a soltar a língua, e de repente a quadrilha (desculpe, ministro Barroso) já estava em cana. E seu silêncio não valia mais nada. Diferentemente do operador do mensalão, o despachante do petrolão não quer mofar. E saiu entregando os comparsas.

Apontou duas outras diretorias da Petrobras como centrais da tramoia, dando os nomes dos seus titulares — indicados, que surpresa, pela cúpula do PT. Isso em plena corrida presidencial. Então a candidata petista está ferida de morte, concluiria um marciano recém-chegado à Terra. Não, senhor marciano: após o vazamento da delação, a candidata do PT subiu nas pesquisas.

Ora, não resta outra conclusão possível: o eleitor quer entrar na farra do petrolão. Está vendo quantos aliados de Dilma encheram os bolsos com o duto aberto na Petrobras, e deve estar achando que alguma hora vai sobrar um qualquer para ele. É compreensível. Se o esquema irrigou tantos companheiros nos últimos 12 anos, imagine quando a prospecção chegar ao pré-sal. Ninguém mais vai precisar trabalhar (a não ser os reacionários que não cultivarem as relações certas).

É o show da brasilidade. O operador do petrolão é colocado no cargo no segundo ano do governo Lula, indicado por um amigo do rei já lambuzado pelo mensalão. No tal cargo — a Diretoria de Abastecimento da Petrobras —, ele centraliza um esquema bilionário de corrupção, que floresce viçoso à sombra de três mandatos petistas. A exemplo do mensalão, já se sabe que o petrolão contemplava a base aliada do governo popular. E quase 40% dos brasileiros estão dizendo que votarão exatamente na candidata desse governo lambuzado de petróleo roubado.

Mas os progressistas continuam sentenciando, triunfais: o Brasil jamais será o mesmo depois das manifestações de junho de 2013. Nesse Brasil revolucionário, cheio de cidadãos incendiados de bravura cívica, a CPI da Petrobras, coitada, agoniza em praça pública. Sobrevive a cada semana, a duras penas, com mais um par de manchetes da imprensa burguesa e golpista, que insiste em sabotar o programa do PT (Petrolão para Todos). Tudo em vão. Com uma opinião pública dessas, talvez os companheiros possam até desistir do seu plano chavista de controle da imprensa: o assalto à Petrobras não faz nem cócegas no cenário eleitoral. Contando, ninguém acredita.

O marciano está tonto. Pergunta, angustiado, que fim levou o escândalo da Wikipédia. Tinham dito a ele que dois jornalistas influentes — da teimosa parcela dos que não se venderam ao governo popular — tiveram seus perfis adulterados com graves difamações, e que isso fora feito de dentro do Palácio do Planalto. Agora informam-no que o selvagem da Wikipédia, outra surpresa, é filiado ao PT. E funcionário do Ministério das Relações Institucionais de Dilma. O inocente ser de Marte pergunta, já com falta de ar, o que a presidente da República está fazendo para provar que o espião não está seguindo diretrizes da cúpula do governo.

A resposta faz o marciano desmaiar: nada. Dilma Rousseff não precisou fazer absolutamente nada para provar que o criminoso palaciano não seguiu ordens superiores. Apesar da folha corrida do PT na arte de montar dossiês e traficar informações sobre adversários, o Brasil deixou por isso mesmo. Como também tinha deixado a combinação de perguntas e respostas na CPI da Petrobras, com participação do mesmo Ministério das Relações Institucionais. Nem uma passeata, nem uma ruazinha fechada, nem um cartaz, nem uma queixa no Twitter. Os brasileiros abençoaram a guerra suja do PT para ficar no poder.

O Brasil está louco para virar Argentina. Assistiu chupando dedo à tentativa de golpe no IBGE, com a tentativa de interrupção da pesquisa de emprego. Agora o mesmo IBGE, de forma inédita, apresenta seus indicadores anuais e desmente os dados no dia seguinte. Como até o marciano sabe, a companheira Kirchner adestrou o IBGE de lá, que passou a fazer música para os ouvidos do governo. O PT segue firme nessa escola, com sua já famosa maquiagem contábil, que acaba de raspar o Fundo Soberano para ajudar a fechar a conta da farra.


O eleitor está certo: vamos reeleger Dilma. Assim chegará o dia em que não apenas a elite vermelha, mas todo brasileiro terá direito à propina própria. Chega de desigualdade.

Ferreira Gullar: A mentira como método

Eles sabem que estão mentindo e, sem qualquer respeito próprio, repetem a mentira por décadas

Tenho com frequência criticado o governo do PT, particularmente o que Lula fez, faz e o que afirma, bem como o desempenho da presidente Dilma, seja como governante, seja agora como candidata à reeleição.

Esclareço que não o faço movido por impulso emocional e, sim, na medida do possível, a partir de uma avaliação objetiva.

Por isso mesmo, não posso evitar de comentar a maneira como conduzem a campanha eleitoral à Presidência da República. Se é verdade que os candidatos petistas nunca se caracterizaram por um comportamento aceitável nas campanhas eleitorais, tenho de admitir que, na campanha atual, a falta de escrúpulos ultrapassou os limites.

Lembro-me, como tanta gente lembrará também, da falta de compromisso com a verdade que tem caracterizado as campanhas eleitorais do PT, particularmente para a Presidência da República.

Nesse particular, a Petrobras tem sido o trunfo de que o PT lança mão para apresentar-se como defensor dos interesses nacionais e seus adversários como traidores desses interesses. Como conseguir que esse truque dê resultado?

Mentindo, claro, inventando que o candidato adversário tem por objetivo privatizar a Petrobras. Por exemplo, Fernando Henrique, candidato em 1994, foi objeto dessa calúnia, sem que nunca tenha dito nada que justificasse tal acusação.

Em 2006, quem disputou com Lula foi Geraldo Alckmin e a mesma mentira foi usada contra ele. Na eleição seguinte, quando a candidata era Dilma Rousseff, essa farsa se repetiu: ela, se eleita, defenderia a Petrobras, enquanto José Serra, se ganhasse a eleição, acabaria com a empresa.

É realmente inacreditável. Eles sabem que estão mentindo e, sem qualquer respeito próprio, repetem a mesma mentira. Mas não só os dirigentes e o candidato sabem que estão caluniando o adversário, muitos eleitores também o sabem, mas se deixam enganar. Por isso, tendo a crer que a mentira é uma qualidade inerente ao lulopetismo.

Quando foi introduzido, pelo governo do PSDB, o remédio genérico - vendido por menos da metade do preço do mercado - o PT espalhou a mentira de que aquilo não era remédio de verdade. E os eleitores petistas acreditaram: preferiram pagar o triplo pelo mesmo remédio para seguir fielmente a mentira petista.

Pois é, na atual campanha, não apenas a mesma falta de escrúpulo orienta a propaganda de Dilma, como, por incrível que pareça, conseguem superar a desfaçatez das campanhas anteriores.

Mas essa exacerbação da mentira tem uma explicação: é que, desta vez, a derrota do lulopetismo é uma possibilidade tangível.

Faltando pouco para o dia da votação, Marina tem menos rejeição que Dilma e está empatada com ela no segundo turno - e o segundo turno, ao que tudo indica, é inevitável.

Assim foi que, quando Aécio parecia ameaçar a vitória da Dilma, era ele quem ia privatizar a Petrobras e acabar com o Bolsa Família.

Agora, como quem a ameaça é Marina, esta passou a ser acusada da mesma coisa: quer privatizar a Petrobras, abandonar a exploração do pré-sal e acabar com os programas assistenciais. Logo Marina, que passou fome na infância.

E não é que o Lula veio para o Rio e aqui montou uma manifestação em defesa da Petrobras e do pré-sal? Não dá para acreditar: o cara inventa a mentira e promove uma manifestação contra a mentira que ele mesmo inventou! Mas desta vez ele exagerou na farsa e a tal manifestação pifou.

Confesso que não sei qual a farsa maior, se essa, do Lula, ou a de Dilma quando afirmou que, se ela perder a eleição, a corrupção voltará ao governo. Parece piada, não parece? De mensalão em mensalão os governos petistas tornaram-se exemplo de corrupção, a tal ponto que altos dirigentes do partido foram parar na cadeia, condenados por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Agora são os escândalos da Petrobras, saqueada por eles e por seus sócios na falcatrua: a compra da refinaria de Pasadena por valor absurdo, a fortuna despendida na refinaria de Pernambuco, as propinas divididas entre o PT e os partidos aliados, conforme a denúncia feita por Paulo Roberto Costa, à Justiça do Paraná.


Foi o Lula que declarou que não se deve dizer o que pensa, mas o que o eleitor quer ouvir. Ou seja, o certo é mentir.

Fernando Gabeira: Papel de centroavante não é o de fazer gols

Dilma Rousseff não para de nos surpreender. Agora disse que o papel da imprensa não é o de investigar, mas, sim, divulgar as informações que produzem os órgãos do governo.

Minha surpresa é maior ainda. Dilma apresentou a Lei de Acesso à Informação, depois de longo trabalho da Associação Brasileira do Jornalismo Investigativo. A lei foi impulsionada pelo trabalho do jornalista Fernando Rodrigues, que sugeriu a criação de uma frente parlamentar, monitorou todas as reuniões da comissão da Câmara que analisou o projeto, organizou seminários e trouxe gente de vários países para falar sobre o tema. Por que tanto empenho dos repórteres na aprovação de uma lei de acesso? O próprio nome de sua entidade é uma pista que Dilma não poderia desprezar: jornalismo investigativo.

Dizer que a imprensa não deve investigar é o mesmo que dizer que um centroavante não deve fazer gols. É uma frase absurda até para quem não conhece bem o futebol. E absurda para quem conhece o papel histórico da imprensa. A geração de Dilma acompanhou o escândalo do Watergate, que encerrou a carreira de Richard Nixon. Ela sabe disso e usou o tema para dizer que sua frase foi interpretada erroneamente. Com um pedacinho de papel na mão, ela tentou consertar o desastre.

Poderia passar o dia citando casos de importantes investigações da imprensa. Prefiro mencionar os casos de governos que pensam que esse não é o papel dos jornalistas. Vladimir Putin, por exemplo, também acha que o papel da imprensa não é investigar. A jornalista Anna Politkovskaia resolveu investigar o trabalho das tropas russas na Chechênia e foi assassinada. Sua morte chamou a atenção do mundo para a repressão contra a imprensa na Rússia.

A China expulsa correspondentes estrangeiros com frequência, ora por tentarem entrar em áreas proibidas no Tibete, ora por mencionarem a fabulosa riqueza pessoal dos burocratas que dirigem o país. E o jornal cubano Granma jamais vai investigar de forma independente um desmando do governo porque o castigo é desemprego, prisão e até pena de morte.

O jornalistas brasileiro Vladimir Herzog foi morto sob tortura durante o regime militar não tanto porque investigou, mas talvez porque só desconfiasse ativamente das notas oficiais da ditadura. No governo do PT não se persegue ou mata jornalista, dirão seus defensores. Mas não deixa de ser inquietante suspeitar que isso não se faça agora só porque a correlação de forças não permite. Um dirigente petista chamado Alberto Cantalice fez uma lista de nove jornalistas que considera inimigos, preocupando as entidades do setor aqui e fora do Brasil.

A frase de Dilma pode ser considerada um ato falho. Os intelectuais que se mantêm fiéis ao esquema, apesar das evidências de sua podridão, sempre vão encontrar uma forma de atenuar essa barbaridade. E os marqueteiros, um pequeno texto para convencer de que ouvimos mal o que Dilma disse. Os ato falhos, tanto em campanha como fora dela, são extremamente didáticos. No caso, a frase de Dilma revela com toda a clareza o pensamento autoritário da presidente: cabe ao governo produzir as informações e à imprensa divulgá-las ou até criticá-las, o que os jornalistas não podem é buscar os dados por conta própria.

Numa célebre intervenção sobre a espionagem americana, Dilma contou ter dito a Barack Obama: "Quando a pasta de dente sai do dentifrício, não pode mais voltar". Certas frases, quando escapam, têm o mesmo destino do creme dental: não podem voltar para o tubo, que é o artefato que Dilma queria mencionar ao dizer dentifrício. Espero que Obama a tenha entendido, com a mediação dos intérpretes. Creio que a entendo muito bem quando diz que o papel da imprensa não é investigar.

O governo petista pôs o Congresso de joelhos e alterou substancialmente a correlação de forças no Supremo Tribunal. Ele considera que a ocupação de todos os espaços vai garantir-lhe não só governar como quiser, mas o tempo que quiser. Porém a imprensa e as redes sociais ainda escapam ao seu controle. E creio que escaparão sempre, pois o País está dividido. O que mantém tudo funcionando é a existência de gente curiosa, que lê, troca informações e gosta de ser informada por órgãos independentes do governo. Mesmo se Dilma for reeleita, com sua truculência mental, uma considerável parte do Brasil que rejeita os métodos e o discurso do PT continua por aí, cada vez mais forte e mais crítica.

Apesar da alternância democrática, certos governos podem durar muitos anos. Mas creio ser impossível se perpetuarem quando têm a oposição das pessoas que prezam a liberdade.

Liberdade de quê?, perguntariam. Consumir mais, melhorar a renda não ampliam a liberdade? Ao se impor na Franca, o socialismo de Jean Jaurès e, mais tarde, de Léon Blum dizia que a justiça política tinha de se acompanhar da justiça econômica. Blum era um fervoroso e racional defensor da República. O PT inventou que seus opositores não gostam de pobre em aviões ou em shopping centers, que a oposição ao seu governo é fruto de intolerância classista.

Exceto um ou outro idiota, ninguém é contra a presença de pobres em aeroportos ou shoppings. O PT deturpou a ideia de República. Em nome de melhorias econômicas, armou o maior esquema de corrupção da História e agora flerta abertamente com a supressão da liberdade de imprensa. Ele usa uma aspiração republicana para sufocar as outras e seu líder máximo, amarfanhado, se veste de laranja para defender de inimigos imaginários a Petrobrás, que o próprio governo assaltou. Suas farsas estão mais grotescas e os atos falhos, mais inquietantes.

Sou do tempo do mimeógrafo. Ainda que consigam devastar a imprensa e proibir a internet, publicações clandestinas seguirão contando a história. Não faremos comissões futuras para investigar a verdade. Vamos conquistá-la aqui e agora, porque, como diz Dilma, a pasta saiu do dentifrício, ou o dentifrício saiu da pasta. Só não vê quem não quer ou é pago para confundir.


Estranho, mas não tenho nenhum medo de governos autoritários. Apenas uma sensação de tristeza e preguiça por ter de voltar a esses temas na segunda década do século 21.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Percival Puggina: O comunismo, esse insepulto

Um leitor recomendou-me comentar o artigo de Leonardo Boff publicado no JB de 25 de agosto com o título de “O socialismo não foi ao limbo”. É o que faço aqui.

 O artigo de Boff, resenhado, fica assim:
1) caiu o Muro de Berlim, muro do socialismo existente, que se reconhece violador de direitos humanos, autoritário, etc; 2) caiu, também, o muro de Wall Street e se deslegitimaram o neoliberalismo e o capitalismo; 3) o capitalismo centralizaria uma riqueza imensa em 737 grupos econômico-financeiros enquanto 85 pessoas acumulariam recursos equivalentes aos ganhos de 3,5 bilhões de pobres; 4) é necessário recuperar a experiência das reduções jesuítas e o comunismo da república comunista cristã dos guaranis; 5) o socialismo é tudo de bom; 6) o capitalismo é tudo de ruim e seus efeitos na sociedade são terríveis; 7) a única saída é acabar com a propriedade privada e instituir a propriedade social dos meios de produção, acautelando-se para que os indivíduos adiram a esse projeto de modo consciente e queiram viver as novas relações.

                                                                                            ***
Quero ater-me, aqui, às acusações que Leonardo Boff faz às economias livres. É como se do exílio do povo hebreu no Egito às investidas do Estado Islâmico, raros fossem os males da humanidade não derivados do neoliberalismo e do capitalismo. Ora, se a história andasse como ele a descreve, viveríamos sob inimaginável convulsão social, na guerra de todos contra todos (o armagedon que ele prenuncia), com uma queda de Bastilha por semana.
Diferentemente do que acontece com os socialismos e com o comunismo, as liberdades econômicas não tiveram um fundador, não tiveram um Marx na potência -1 para concebê-las. Ninguém apareceu na humanidade para excitar, na mente da plebe, legítimos anseios de realização pessoal por meios próprios. Ninguém preconizou: “Monta tua empresa, cria teu negócio, põe tua criatividade em ação, persegue teus ideais!”. Tais bens da civilização foram conquistas dos indivíduos, no mundo dos fatos, na ordem da natureza, e têm sido o cada vez mais eficiente motor do progresso econômico e social.

O leitor desatento de “O socialismo não foi ao limbo” ficará com a ilusória impressão de que, se a miséria de tantos é produto ou subproduto da economia de empresa, os miseráveis da África e da Ásia eram seres humanos que viviam na abundância, na mesa farta e na prodigalidade dos frutos da natureza até que o famigerado capitalismo aparecesse para desgraçar suas vidas. O fato de que nas regiões do mundo onde se perenizam as situações que Boff descreve não exista uma economia livre, não haja empresas, nem empregos, parece passar ao largo das considerações do ex-frei. Vale o mesmo para a inoperância, nessas regiões, do braço do Estado, que o comunismo apresenta como sempre benevolente.

Cinco realidades vazam para a valeta lateral da pista por onde ele anda com sua análise dos sistemas econômicos. São fatos esféricos: 1) a fome era endêmica na Europa até meados do século passado e foi a economia de mercado que criou, ali, a prosperidade; 2) sempre que os meios de produção viraram propriedade do Estado a fome grassou mesmo entre os que plantavam; 3) enquanto as experiências coletivistas conseguiram, como obra máxima, nivelar a todos na miséria, a China, com o capitalismo mais rude de que se tem notícia, em poucas décadas, resgatou da pobreza extrema mais de 500 milhões de seres humanos (Word Bank, China Overview, apr/2014); 4) não é diferente a situação no Leste da Ásia, inclusive no Vietnã reunificado e comunista, no Camboja do Khmer-Vermelho, no Laos e na Tailândia; 5) quem viaja pelo Leste Europeu sabe quanto as coisas melhoraram por lá desde que as economias daqueles países, infelicitados pelo dogmatismo comunista, se libertaram do tacão soviético.


A história mostra, enfim, que o comunismo é imbatível quando se trata de gerar escassez, miséria e aviltamento da dignidade humana.  Nossa Ibero-América, onde as prescrições políticas e econômicas do Foro de São Paulo ditam regras para muitos países, parece nada aprender das constatações acima. Consequentemente, as coisas andam mal e é preciso botar a culpa em qualquer um que não nos vendedores de ilusões, nas utopias que se requebram como odaliscas, nos delírios do neocomunismo, nos corruptos e nos corruptores. Decreta-se, então, para todos os males, a responsabilidade da economia de empresa, do capitalismo e, sim, claro, dos Estados Unidos.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Folha: 61,3 milhões de brasileiros de 14 anos ou mais não trabalha nem procura ocupação - e, portanto, não entra nas estatísticas do desemprego

Artigo de 18/01/2014

Um contingente de 61,3 milhões de brasileiros de 14 anos ou mais não trabalha nem procura ocupação - e, portanto, não entra nas estatísticas do desemprego.

Trata-se de 38,5% da população considerada em idade de trabalhar pelo IBGE, ou o equivalente à soma do total de habitantes dos Estados de São Paulo e do Rio.

Nos EUA, ainda se recuperando da crise, a taxa é similar, 37,4% -as metodologias, porém, não são as mesmas.

Referente ao segundo trimestre de 2013, o dado brasileiro ajuda a ilustrar como, apesar das taxas historicamente baixas de desemprego, o mercado de trabalho mostra sinais de precariedade.

Mesmo tirando da conta os menores de 18 e os maiores de 60 anos, são 29,8 milhões de pessoas fora da força de trabalho, seja porque desistiram de procurar emprego, seja porque nem tentaram, seja porque são amparados por benefícios sociais.

Esse número supera o quádruplo dos 7,3 milhões de brasileiros oficialmente tidos como desempregados nas tabelas do IBGE -o que dá uma ideia de quanto o desemprego poderia crescer se mais pessoas decidissem ingressar no mercado e disputar vagas.

Os dados sugerem que grande parte dos que estão fora da força de trabalho é dona de casa: 40,9 milhões são mulheres. Entre os desempregados, a proporção de mulheres é bem menor, de pouco mais da metade.

O grau de instrução da maioria dos que não trabalham nem procuram emprego, previsivelmente, é baixo: 55,4% não chegaram a concluir o ensino fundamental.

Mas uma parcela considerável, de quase um quarto do total, inclui os que contam com ensino médio completo ou mais escolaridade.

Considerando toda a população em idade de trabalhar, de 159,1 milhões, as proporções dos grupos menos e mais escolarizados são semelhantes, na casa dos 40%.


MELHORA
A nova pesquisa ainda não permite análise da evolução dos dados nos últimos anos, mas outros trabalhos apontam melhoras na participação feminina e na escolaridade do mercado de trabalho.

Estudo de 2012 do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apontou que mais da metade das mulheres participa atualmente da força de trabalho, ante menos de um terço no início da década de 1980.

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, disse que a pasta ainda está avaliando os resultados da nova pesquisa. Ele ressaltou que não é possível dizer que houve alta do desemprego, já que se trata de nova metodologia.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

“Nossa cidade não tem guetos pobres nem áreas nobres”, diz urbanista que revolucionou Cingapura

Em 25 anos, o programa de construção de casas populares do governo de Cingapura tirou 1,3 milhão de pessoas de terras invadidas, favelas e colônias de assentamento. Hoje, 82% da população da cidade-estado vivem em imóveis construídos pelo governo em um conceito de cidades compactas, onde emprego, serviços públicos, lazer e moradia estão a poucos quilômetros.

Um dos responsáveis por essa transformação, ocorrida após o fim do período de colonização britânica, a partir dos anos 1960, foi o arquiteto e urbanista malaio Liu Thai Ker, que esteve à frente da Autoridade de Desenvolvimento Urbano de Cingapura por 20 anos. Presidente da consultoria Center for Liveable Cities (Centro de Cidades Habitáveis), Liu está envolvido em projetos de planejamento urbano em 12 países.

Em sua primeira visita ao Brasil, onde participará hoje do fórum internacional de arquitetura e urbanismo ArqFuturo, Liu pretende mostrar como a experiência de Cingapura pode ajudar a resolver problemas de moradia do Brasil. Segundo ele, uma das chaves para a questão é planejar as cidades na menor unidade possível, bairros de 100 mil a 200 mil pessoas, para, a partir daí, criar metrópoles onde se possa viver melhor.

Em entrevista ao GLOBO, o urbanista afirma que a experiência de Cingapura ao construir casas populares em larga escala poderia ser perfeitamente aplicada no Brasil e que, com planejamento, o tamanho do país e a falta de dinheiro “não são desculpas”.

O que o senhor pretende mostrar a respeito do programa de casas populares de Cingapura?
Quando os britânicos saíram de Cingapura, tínhamos 1,9 milhões de habitantes. Desses, 1,3 milhões de pessoas viviam como invasores ou em favelas. Foram 25 anos, de 1960 a 1985, para colocar todas essas pessoas em casas populares. Em 1985 não tínhamos mais invasores.

Como foi possível eliminar os sem-teto?
No começo, tínhamos que construir casas para os pobres. Mas não para os mais pobres, e sim para aqueles que poderiam pagar aluguel. Do contrário, teríamos falido. Com isso, a indústria da construção se tornou mais forte. Depois, começamos a fazer casas para aquelas famílias que poderiam pagar pela compra do imóvel. E fomos aumentando a faixa dos beneficiários do programa aos poucos. Com esse dinheiro, pudemos construir casas para aqueles que não tinham como pagar nem pelo aluguel. Hoje, qualquer família que ganha menos de US$ 10 mil por mês pode concorrer a uma casa popular. Imóveis são tão caros em Cingapura que, mesmo que você ganhe esse valor, não consegue comprar. Além disso, 82% da população lá vivem em casas populares. E desses, 91% são proprietários. Mesmo aqueles que, no início, pagavam aluguel tiveram a opção de comprar. Você não vai achar isso em nenhum outro país.

Como os bairros foram projetados?
Em cada um desses novos bairros temos pessoas que eram invasoras, pessoas que eram muito pobres, profissionais liberais, jovens empresários. Então, nossa cidade não tem guetos de pobres nem áreas nobres. Quando construímos um novo empreendimento, deixamos áreas para casas próprias, para aqueles que ganham bem. Então, os ricos não querem ficar em condomínios afastados: você tem um espectro da sociedade. Não construímos só uma cidade-dormitório, mas sim uma comunidade.

Os serviços públicos foram planejados junto?
Numa região onde moram 100 mil, 200 mil pessoas, 44% da terra são para casas. O resto é usado para vias, hospitais, escolas, parques, indústrias. Fizemos uma grande análise de dados. Sabemos que, para esse tanto de população, precisamos de uma escola primária ou secundária. Esse tipo de coisas a população não tem como saber. Fizemos o plano, desenhamos todos os prédios, fizemos os contratos com as construtoras e fizemos a gerência dos empreendimentos, o que é muito importante. A maior parte das pessoas pode viver lá, trabalhar lá. Isso dá qualidade de vida para as pessoas. Você não perde tempo viajando. E isso reduz o número de congestionamentos.

O senhor acha que o trabalho foi mais fácil por envolver apenas uma esfera de governo? No Brasil, temos a União, os estados e os municípios.
Certamente, por só ter um governo, que é nacional e municipal, o processo de tomada de decisões em Cingapura é muito mais rápido. Hoje, a cidade tem 5,4 milhões de pessoas. Por outro lado, não importa o tamanho do país. Quando você quer construir casas, você tem que quebrar o país em províncias; as províncias, em cidades; as cidades, em bairros. O problema de planejamento urbano não tem a ver com o tamanho do país, mas com o tamanho da região que você vai transformar. Tenho falado no conceito de cidades-constelação. Você tem que dividir essa cidade em cidades menores, separadas por cinturões verdes. Depois, separa em distritos, novos bairros. Pessoalmente, acho que a experiência de Cingapura é aplicável em qualquer país, de qualquer tamanho, desde que você esteja pensando em cidades, não no país inteiro.

Os governos costumam dizer que não têm dinheiro para dar escala a programas de habitação popular. Como Cingapura lidou com isso?
A despeito de termos subsidiado a construção de casas para 81% da população, acho que o governo está ganhando dinheiro no fim. Primeiro, tem-se que desapropriar a terra para fazer a casa. O valor é dividido de acordo com o uso que essa terra tem hoje. Se o proprietário não a está usando, o valor é mais baixo. Além disso, o que não é moradia não é subsidiado. Se você quer construir uma loja ou uma fábrica naquele bairro que está sendo reurbanizado, tem que pagar ao governo. Estacionamento é outra coisa. Se você quer usar um carro, tem que pagar pelo uso das ruas e pelo lugar onde vai deixá-lo. Além disso, depois de ter as casas, as pessoas conseguem emprego e pagam impostos. A taxa de desemprego hoje é de 1,6%. Então você cria um círculo virtuoso.

Estamos enfrentando em São Paulo um problema grave de falta d’água. O que Cingapura pode dar de exemplo?
Compramos água da Malásia, mas o país disse que quer cortar o abastecimento. O governo deve sempre pensar muito à frente. Hoje estamos a ponto de ser totalmente autossuficientes em água. Continuamos com a água da Malásia, mas hoje temos um sistema que reserva 60% de toda a água da chuva e esperamos aumentar isso para 90%. Além disso, temos um dos maiores parques de dessalinização de água do mundo.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Ivar Hartmann: Autoestima brasileira

Para um brasileiro medianamente letrado, causa horror o julgamento que os estrangeiros fazem de nós. Os governantes dos países civilizados do Hemisfério Norte compreenderam que nossos governos são delirantes e inconsequentes, como piás que ainda sabem pouco sobre a vida. Julgam-se heróis quando são visto como cômicos produtos da ignorância. Sobre isso lembrem Collor e Lula. Os empresários internacionais sabem que o Brasil é a terra da comissão. Preocupam-se menos com a qualidade das obras que pretendem executar do que com os valores a pagar aos técnicos e diretores das empresas nacionais. Estão aí as notícias sobre obras de túneis, metrôs, estradas e pontes todas elas com valores acima do correto, ágio a ser pagos por empresários-delinquentes, nacionais e estrangeiros, para os canalhas dos nossos executivos. Os turistas sexuais, principalmente italianos e nórdicos, sabem que os hábitos aqui são mais do que permissivos e sua lascívia – desde que paga em euros – não só é aceita, como comemorada. Os demais amam nossa geografia e estão dispostos a sofrer em aeroportos péssimos, estradas ruins e mão de obra razoável para chegar ao Cristo, Pantanal, Amazônia e as Cataratas. O que ainda nos sobra de bom é nossa geografia. Por isso nossa autoestima lá em baixo. Porque estamos presos por pesadas correntes a hábitos ruins, justiça precária e facilidade de agir contra as leis que regem a nação.

Quando dezenas de milhares de gaúchos de todo o país, no dia 20 de setembro passado, desfilaram a cavalo pelas ruas de nossas cidades, aplaudidos por plateias entusiasmadas e assistidos por milhões através da TVE Brasil e RBSTV, a palavra chave de todos os grupamentos era TRADIÇÃO. Tradição de que? Dos valores perdidos pelos brasileiros.  Honra, coragem, amor à terra. Aonde se esconde a honradez, envergonhada com os governantes? Onde está à coragem dos legislativos – de todos os níveis – que tudo aprovam em silêncio solidário e delituoso? Então temos que gritar nosso amor à terra. Os gaúchos dizem: sou gaúcho e me basta. Não basta. Amor à terra, só o que nos resta de um passado lembrado com amor, obriga-nos a pensar: esta é a nação que queremos? Com estradas, portos, aeroportos, segurança, saúde e educação de países indigentes? Com políticos que são a estátua viva da devassidão?


Temos mais valor que isso, mas, escravos, temos de aceitar.

domingo, 21 de setembro de 2014

Fabio Blanco: A incoerência dos novos eleitores de Marina

Minhas críticas aqueles que têm declarado seu voto à Marina Silva não é por sua escolha eleitoral, especificamente. O que mais me incomoda é que essa escolha tem se mostrado absolutamente irracional, unicamente baseada nas impressões que a figura de Marina transmite.

Sem nenhum problema, eu poderia respeitar o voto baseado na ideologia da candidata do PSB. Consideraria absolutamente normal, mesmo não concordando, que alguém votasse nela, por causa de seu ódio ao agronegócio, sua visão socialista radical e até por sua ideia de democracia participativa.

Mas o que está ocorrendo é que as pessoas estão pretendendo votar nela por razões exatamente contrárias à própria ideologia e histórico político da candidata. Estão confiando em uma imagem de conciliadora que ela pretende transmitir; acreditando que Marina Silva é uma opção menos radical do que os caminhos traçados pelo PT até agora; crendo que ela representa uma forma alternativa de fazer política.

No entanto, nada disso se encaixa no perfil da política acreana. Marina Silva sempre foi radical, transitando nas alas mais extremas da esquerda brasileira. Nunca foi uma conciliadora, pelo contrário, demonstrou uma dificuldade terrível de se compor mesmo com seus aliados. E ela não representa, de maneira alguma, uma política alternativa, ou será que alguém acredita que uma pessoa que galgou os maiores postos dentro da velha política brasileira fez isso estando do lado de fora dessa mesma política?

O pior é ver pessoas que vinham criticando o PT de maneira ferrenha, simplesmente caírem no canto da sereia marinista, aceitando a ideia que ela é uma alternativa viável para estar à frente da direção do país.

Eu até posso aceitar que alguém vote em Marina Silva por razões ideológicas. Isso seria bem mais coerente. O que não dá é ter que ouvir de pretensos anti-petistas o discurso de que é preciso, de qualquer maneira, quebrar a hegemonia do atual governo, colocando alguém que, de maneira alguma, é diferente do que está aí.


Quando a candidata verde apresentar sua verdadeira face para o grande público, quando de sua rede brotarem os radicais ambientalistas e ongueiros, prontos para dominar a nação, quando ficar claro que Marina não é uma alternativa, mas um aprofundamento das políticas que vêm sendo implementadas há anos no país, será tarde demais e restará para aqueles que confiaram seus votos nela o arrependimento por tamanha estupidez.

domingo, 14 de setembro de 2014

Um país de analfabetos científicos

Uma pesquisa nacional mostra que 79% dos brasileiros não conseguem entender um manual de instrução para usar aparelhos domésticos
CAMILA GUIMARÃES
A maioria da população brasileira não domina a linguagem científica necessária para lidar com situações cotidianas, tais como ler resultados de exames de sangue, calcular se o tanque tem gasolina suficiente para uma viagem, relacionar e entender o impacto de ações no meio ambiente ou entender a cobrança da conta de luz.
Essa é a conclusão da primeira pesquisa nacional que mede o índice de letramento científico (ILC) do brasileiro, feita pelo Instituto Abramundo, em parceria com o Instituto Paulo Montenegro, do Grupo IBOPE, e a ONG Ação Educativa.
Quase 65% da população metropolitana entre 14 e 50 anos, com mais de quatro anos de estudos, têm um ILC, no máximo, rudimentar. Pouco menos de um terço (31%) consegue entender textos com um grau um pouco maior de dificuldade, como interpretar a tabela de nutrientes em rótulos de produtos e especificações técnicas de produtos eletroeletrônicos. A maioria absoluta, 79%, além de não conseguir entender os termos científicos que lê, é incapaz de aplicar isso em situações cotidianas, como ler um manual de instrução para usar um aparelho doméstico. 
O Brasil que não sabe ler e fazer ciência
A pesquisa do ILC convidou os entrevistados a resolverem situações do cotidiano. Ele avalia o domínio da linguagem científica, como o conhecimento científico é colocado em prática no cotidiano e como tais conhecimentos pautam a visão de mundo dessas pessoas.
Escala de proficiência
Habilidades
% da população metropolitana de 14 a 50 anos, com 4 anos ou mais de estudo:
Nível 1 – Letramento Não-Científico
Consegue localizar informações explícitas em textos simples (tabelas ou gráficos, textos curtos) envolvendo temas do cotidiano: consumo de energia em conta de luz, dosagem em bula de remédio, identificação de riscos imediatos à saúde. Sem a exigência de domínio de conhecimentos científicos.
16%
Nível 2 – Letramento Científico Rudimentar
Resolvem problemas cotidianos que exigem o domínio de linguagem científica básica. Interpretam e comparam informações apresentadas de diferentes formas (gráficos, rótulos, textos jornalísticos, textos científicos, legislação). Compreendem fenômenos naturais e impactos ambientais.
48%
Nível 3 – Letramento Científico Básico
Elaboram propostas para resolver problemas em diferentes contextos (doméstico ou científico), a partir de evidências científicas em manuais de produtos, infográficos mais elaborados, ou conjunto de tabelas e gráficos com maior número de variáveis. Os temas abordados incluem a leitura de nutrientes em rótulos de produtos, especificações técnicas de produtos eletroeletrônicos, efeitos e riscos de fenômenos atmosféricos e climáticos e a evolução de população de bactérias.
31%
Nível 4 – Letramento Científico Proficiente
Elaboram respostas com argumentos científicos. Para justificar essas respostas, são capazes de incluir informações extras às apresentadas no problema. Usam uma linguagem que está relacionada a uma visão científica do mundo. Argumentam, por exemplo, sobre potência do chuveiro, temperatura global, biodiversidade, astronomia e genética.
5%
"Nós já esperávamos um resultado ruim, mas o que veio foi péssimo”, afirma Ricardo Uzal, presidente do Abramundo. “Nós sabemos o quanto a ausência do domínio científico impede o exercício da cidadania. Quem tem esse domínio se coloca de forma diferente diante de problemas do dia a dia, ele sabe questionar, propor soluções, testar alternativas”. Uzal diz ainda que a pesquisa mostra que faltam políticas públicas adequadas para melhorar o ensino de ciências nas escolas. Os resultados da pesquisa da Abramundo evidenciam ainda a falta de habilidade matemática aplicada no dia a dia. “A matemática serve como base para todas as outras ciências”, afirma Uzal.
Entre os que fazem ou fizeram curso superior, apenas 11% podem ser considerados proficientes. Há uma parcela significativa, de 37%, que não passa do nível rudimentar. Entre os que estudaram até o ensino médio, a situação é ainda mais crítica: apenas 1% é proficiente e mais da metade (52%), tem domínio rudimentar.
Na mais prestigiada avaliação internacional de alunos, o PISA, feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ciências é a disciplina em que os alunos brasileiros estão mais defasados.
Na última prova, de 2013, o Brasil ficou 59º lugar, entre 65 países. Não houve avanço em relação ao desempenho de 2009. Para os organizadores da pesquisa do ILC, o resultado mostra a urgência de se criar políticas públicas de educação, para melhorar a eficiência do ensino da disciplina no ensino fundamental e médio. Em uma outra prova, o Pisa avaliou a capacidade dos alunos de resolver problemas de lógica. O Brasil se deu mal novamente, ficou em 38º lugar, entre 44 países. 
Educação sem ciência
Mesmo entre os que fazem ou fizeram um curso superior, o domínio da linguagem e de conceitos científicos, bem como as habilidades de aplicar isso no dia a dia, é baixo.

Nível 1
Nível 2
Nível 3
Nível 4
Ensino fundamental
29%
50%
20%
1%
Ensino Médio
14%
52%
29%
4%
Ensino Superior
4%
37%
48%
11%
Mesmo entre as pessoas mais proficientes, são poucos os que se sentem à vontade na hora de realizar pequenas tarefas ou ações que envolvem conhecimento científico. Combater um pequeno incêndio seguindo as instruções escritas nos equipamentos contra fogo, por exemplo. 27%   da turma mais proficiente, a do Nível 4, declarou que teria dificuldade ou não seriam capazes de fazer isso. A mesma proporção apareceu entre os de Nível 3. Ler manuais para instalar aparelhos domésticos é outro desafio para 18% dos mais proficientes, 20% dos de nível básico e 27% para os de letramento rudimentar.
Pequenos desafios cotidianos
Mesmo entre os mais proficientes, algumas atividades que envolvem conhecer e aplicar conceitos científicos são complicadas. (Proporção de pessoas que declararam que teriam dificuldades ou não seriam capazes de fazer determinadas atividades, por nível de proficiência)

Nível 1
Nível 2
Nível 3
Nível 4
Compreender as contraindicações de um remédio, lendo a bula
37%
26%
16%
11%
Conferir a conta de luz
40%
28%
18%
8%
Ler manuais de instalação de aparelhos domésticos
39%
27%
20%
18%
Combater um pequeno incêndio seguindo instruções escritas no equipamento contra fogo
45%
40%
27%
27%
Consultar dados sobre saúde e remédios na internet
58%
41%
24%
16%
Leia abaixo uma questão para cada um dos níveis e confira em qual deles você se enquadraria (as respostas estão mais abaixo):
Nível 1
Melco Aspirina 500
Indicações: Dor de cabeça, dores musculares, dor reumática, , dor de dente, dor de ouvido. Alivia os sintomas da gripe comum.
Dose oral: 1 a 2 comprimidos de 6 em 6 horas, de preferência após as refeições, durante 7 dias no máximo.
Precauções: Não use para gastrite ou úlcera p´ptica. Não use se estiver tomando medicamentos anticoagulantes, ou se tiver sangramentos frequentes.
Ingredientes: Cada comprimedo contém: 500 mg de ácido acetilsalicílico. Excipiente: C.B.P 1 comprimido.

Questão: Por quanto tempo, no máximo, você pode tomar esse remédio?

Nível 2
Leia o texto abaixo:
CHUVA, MENOR ATRITO DOS PNEUS
Ao dirigir na chuva, tenha em mente: os freios param as rodas, mas são os pneus que param o carro. A mesma advertência vale para o caso de dirigir na lama, sobre a areia, com óleo na pista ou em outras circunstâncias que alterem as condições de atrito.
Pneus desgastados, sem estrias, na chuva, aumentam a probabilidade  de perda de aderência e consequente controle do veículo, pois a água não escoará e o pneu deslizará sobre ela.

Questão: O que faz com que o pneu com estrias aumente a segurança quando a pista está molhada?
 

Nível 3
Os gráficos a seguir mostram a evolução de populações de bactérias ao longo do tempo em duas pessoas infectadas com a mesma bactéria. Nos dois casos, os doentes tomaram antibióticos.


Questão: Formule hipóteses sobre o que pode ter ocorrido para justificar a diferença nos gráficos dos dois casos. 
Nível 4
A Organização das Nações Unidas (ONU) produz estudos que permitem fazer projeções sobre a concentração de dióxido de carbono na atmosfera e o aumento da temperatura global. É com base nesses estudos que foi produzido o gráfico a seguir:


Questão: Por que o gráfico apresenta dois traçados, um para o "cenário otimista" e outro para o "cenário pessimista".

Exemplos de respostas corretas
Nível 1
Por, no máximo, 7 dias.

Nível 2
O pneu com estrias facilita o escoamento da água, diminuindo a perda de atrito, a perda de aderência.

Nível 3
O segundo paciente (caso B) pode ter interrompido o tratamento, quando os sintomas diminuíram, fazendo voltar assim a infecção. Ou as bactérias desenvolveram resistência/mutação/evolução. Ou o remédio não matou todas as bactérias. Não tomou o remédio conforme indicava a bula ou o médico.

Nível 4
Deve mencionar termos que tenham o sentido de “depende”, “probabilidade” ou “possibilidade” / São duas possibilidades diferentes, conforme o comportamento humano e da atmosfera / Depende das emissões de carbono. / Não se sabe exatamente o acontecerá, os gráficos lidam com probabilidades/projeções/estimativa.




sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Percival Puggina: Política na CNBB e nos templos evangélicos

O Estadão do último domingo publica entrevista com D. Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB. A matéria leva o título “Igreja Católica não tem curral eleitoral” e destaca a frase “Igreja não é palanque”, mostrando o secretário-geral interessado em despegar a Igreja do debate eleitoral em curso, tratando da política num sentido amplo. Suas falas apontam para um contraste entre a orientação católica e o modo partidarizado e personalizado que marca o procedimento usual em muitos templos evangélicos nesses períodos.

De longa data, as igrejas evangélicas mantêm transparente e militante atuação em favor de seus candidatos. Distribuem materiais de campanha e proclamam que votar neles é uma forma de “servir a Jesus”. É certo que, em muitos casos, Jesus se sente desconfortável com tais vinculações, mas o fato é que eleitoralmente a tática funciona.

A CNBB age de outro modo, mas não com a isenção que fez crer o secretário-geral em sua entrevista. A entidade não indica nomes. Desaconselha o uso das igrejas como locais para propaganda de candidaturas. Mas presta serviço inestimável a um específico partido através de pastorais sociais e organismos vinculados, bem como nos seus documentos, cartilhas e análises de conjuntura. E eu tenho certeza de que não preciso escrever aqui as letrinhas para que todos, sem exceção, saibam a qual das 32 legendas existentes estou me referindo. Repito: é certo que, em muitos casos, Deus se sente desconfortável com tal vinculação, mas o fato é que eleitoralmente também tem funcionado.

Quem acessou dia 7 de setembro o site da CNBB deparou-se com uma convocação da 20ª edição do “Grito dos Excluídos”, chamando para “ocupar as praças por liberdades e direitos”. Não pense que esse grito vai contra o governo da União. Não, o grito sempre vai contra a economia de mercado, as privatizações, os meios de comunicação, o neoliberalismo, o agronegócio, o direito de propriedade, o “grande capital”. Aliás, senhores bispos, ser contra o grande capital significa ser contra todo capital porque pequeno capital só é capital se quiser crescer, caso contrário é dinheiro na mão. E vira vendaval.

Quem acessar a última Análise de Conjuntura, lerá, por exemplo: “Nestes dez últimos anos, houve tentativas para corrigir as desigualdades, pelo aumento do salário mínimo acima da inflação e pelo programa Bolsa-Família, aumentando assim os chamados gastos sociais. (...) Essas políticas não tocaram nas estruturas sociais e culturais, mas as elites econômicas e financeiras as criticaram como sendo políticas “intervencionistas” do governo, por serem responsáveis do suposto descontrole do tripé que regula a economia: controle da inflação, do câmbio e fiscal, e por desrespeitar a doutrina liberal. (...) A sensação de um clima inflacionário espalhado pela mídia, baseando-se sobre os gastos ditos excessivos, sobretudo sociais, visa difundir um temor da volta da inflação, temor que é responsável por uma difusão da inflação.” Arre, português ruim de IDEB!

A seguir, o documento parece escrito pelo ministro Guido Mantega: “Entretanto, a taxa de inflação de agosto pode ficar mais baixa ou próxima daquela de julho (0.01%), contrariamente às previsões dos analistas do mercado financeiro. A aproximação das eleições acirra a disputa econômico-financeira entre governo e especuladores. A imprensa não está contribuindo para o debate político-econômico, substituindo a informação pela ideologia da crise permanente. A mídia, porta-voz das elites financeiras, informa que o Brasil está indo à falência. As manchetes dos jornais (impresso e TV) não param de denunciar erros na política governamental que teriam provocado ondas de desconfiança.” Duvida? Vá no site e leia.

Agora, imagine trinta anos disso, com Pastoral da Terra, CIMI, Pastoral da Juventude, Campanhas da Fraternidade e seus documentos, Teologia da Libertação, Comunidades Eclesiais de Base, apoio a ridículos “plebiscitos”, como o do não pagamento da dívida externa, o da limitação da extensão das propriedades rurais e, agora, o da constituinte exclusiva para reforma política.

Às diferenças entre a política da CNBB e a dos templos evangélicos, acresça-se o fato de que, enquanto estes não param de crescer, a minha Igreja Católica não para de minguar.