quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Rodrigo Constantino: Carta aberta a José Serra

Prezado José Serra,

Não sou tucano, e tenho feito várias críticas ao seu partido. Sinto-me sob uma hegemonia da esquerda na política nacional, e creio que o senhor concordaria comigo. A “acusação” que os petistas lhe fazem, de “neoliberal” ou “direitista”, são totalmente injustas. O senhor é e sempre foi de esquerda. Sabemos disso. E eu, como liberal, tenho várias divergências, portanto, em relação ao modelo de governo, seu e do próprio PSDB.

Dito isso, meu lado pragmático reconhece que as alternativas são bem limitadas em 2014. Lá está ela, a hegemonia de esquerda. De um lado, a ideia assustadora de permanência do PT no poder, com esse aparelhamento absurdo da máquina estatal, esse nacional-desenvolvimentismo ultrapassado, essa gestão econômica incompetente, essa política externa ideológica e nefasta.

E quem está do “outro” lado, desafiando o atual governo? Temos Marina Silva, que foi PT até “ontem”, e pelos últimos 30 anos, inclusive ministra do governo Lula. Sua Rede carrega nas cores ambientalistas de forma romântica e, assim, perigosa. Sua noção de economia é limitada, e seu governo seria um grande ponto de interrogação. Ninguém sabe o que esperar.

Eduardo Campos tem encantado alguns empresários, mas vamos lá: é a “oposição” mais governista que conheço! Ainda é do governo, até hoje! No mais, seu PSB tem até socialista no nome, e temos visto o que seus governadores têm feito com os recursos públicos. Neto de Miguel Arraes, não dá para acreditar que teria uma gestão muito amigável com o mercado. Pode ser menos pior do que Dilma, mas isso, convenhamos, é fácil demais, e muito pouco.

Resta a alternativa do PSDB. Como já disse, não sou grande fã do partido. Social-democrata nos moldes europeus, ainda prega um estado intervencionista demais para o meu gosto. Mas tenho de admitir que há possibilidade de diálogo, que existem bons economistas ligados ao partido, que importantes privatizações foram feitas no passado (ainda que mais por necessidade de caixa do que convicção ideológica), assim como reformas relevantes (Lei de Responsabilidade Fiscal, câmbio flutuante e meta de inflação, tudo ameaçado hoje pelo PT).

O retorno do PSDB ao poder federal, portanto, é visto por mim como a única alternativa em 2014 que daria sobrevida às esperanças no Brasil. Haverá uma herança maldita para o próximo governo, sem dúvida. Esqueletos foram escondidos pelo atual governo, e a conta vai chegar. Mas que seja com uma equipe melhor, com bons economistas no leme, em vez de gente medíocre que nada entende, e pensa o contrário. A ignorância, quando alimentada pela arrogância, é um grande perigo.

E é aqui que gostaria de lhe pedir um grande favor. O momento é bastante delicado. Chegamos em uma encruzilhada, e o Brasil corre o risco de virar uma grande Argentina. Não é desprezível. Mais quatro anos de PT é um preço que o país não pode pagar. Será alto demais. A democracia estará ameaçada, as instituições poderão se esgarçar mais ainda, e novos ataques à imprensa são esperados.

É hora de patriotismo de todos aqueles comprometidos com o futuro do Brasil. O momento demanda atitudes nobres e corajosas, deixando-se a vaidade de lado, os interesses particulares para depois. O PSDB deve estar unido para esse combate, que já começou, com o próprio ex-presidente Lula dando a largada para a campanha antes do tempo.

O senhor teve sua chance. Por duas vezes. Não venceu. O nível de rejeição atingiu patamares elevados. Como eu disse, os mais liberais, como eu, enxergam o senhor muito à esquerda do que gostariam, e os esquerdistas preferem o PT mesmo, já que é para ter um estado intervencionista ao extremo. Eu mesmo confesso que votei no senhor, mas como escrevi em um artigo que circulou bastante à época, foi uma “escolha de Sofia”.

Até brinquei que precisei do auxílio de um Engov (sem ofensas). Não leve para o lado pessoal. É questão ideológica mesmo. Respeito o senhor como figura pública, sei que realmente deseja o melhor para o país. Apenas discordamos quanto aos meios. E agora, pelo visto, uma vez mais.

Gostaria de ser capaz de tocar-lhe o coração com essa mensagem. O Brasil precisa urgentemente se livrar do “bolivarianismo” dos petistas. Já foi longe demais. Nossa República está em xeque, e o mensalão é prova disso. Precisamos pegar o que resta de nossa “oposição” e turbiná-la, com unidade e determinação. E Aécio Neves é o nome, atualmente, capaz disso. É hora de lhe dar uma chance.

Um gesto seu de desistir do sonho da presidência, permanecer no partido, e endossar a candidatura do colega mineiro seria de enorme valia e humildade. Seria um ato patriótico. Sei que em 2010 o próprio Aécio não entrou pesado em campo para lhe ajudar na campanha. Mas espero que seja superior a isso, e mostre o poder do perdão. Picuinhas só vão prejudicar o PSDB e, por tabela, ajudar o PT.

Isso seria um duro golpe em milhões de brasileiros que clamam por mudança. Ajude esses brasileiros todos. O projeto de qualquer um que deseja construir um Brasil melhor, mais próspero e mais livre, começa com um primeiro passo fundamental: retirar o PT do poder, eliminar o risco autoritário do “bolivarianismo”, desmontar o aparelhamento do estado feito pelos “companheiros”. Contamos com o senhor nessa árdua missão.

Atenciosamente,


Rodrigo Constantino. 

domingo, 25 de agosto de 2013

Sader e os pingos nos “is” de Lobão: “Escriba de aluguel é o caralho.”

 Emir Sader: Escribas de aluguel

Somente depois do fim da ditadura passou a surgir no Brasil o fenômeno de artistas e intelectuais que, até ali, estavam nas filas da oposição democrática, passando a buscar abrigo nos espaços das elites conservadoras. A própria forma que assumiu a transição favoreceu essa conversão.

Seu caráter conciliador entre o velho e o novo, chancelado pela aliança promíscua no Colégio Eleitoral entre o PMDB e o então PFL, no bojo do qual os que não ficavam com a candidatura de Paulo Maluf, recebiam o epíteto de “democratas” ou de “liberais”, como o próprio nome do partido originário da ditadura mencionava. Antonio Carlos Magalhães, Marco Maciel, José Sarney – entre outros – embarcaram nessa canoa e foram recebidos de braços abertos pelos que organizaram a transição conservadora da ditadura à democracia.

O processo de conversão de gente de esquerda para a direita tem uma longa história. O principal mecanismo para essa transição é a critica de erros – reais ou supostos – da esquerda, como justificativa para distanciar-se desta e caminhar – de forma célere ou lenta – para a adesão à direita. Passar da critica à demonização da URSS foi a forma clássica dessa transição. Se o projeto que encarnava o socialismo de Marx, Lenin, Trotski, tinha se degenerado tão brutalmente, haveria que jogar no lixo não apenas aquela primeira forma de existência de um projeto socialista, mas o socialismo e seus teóricos e dirigentes.

Faziam essa expurgação e eram acolhidos ou na social democracia ou – passando às vezes por aí como transição – diretamente para a direita. A teoria do totalitarismo teve o papel de tentar centrar o debate não na polarização capitalismo/socialismo, buscando identificar a URSS com o nazismo, Stalin com Hitler, todos na mesma canoa do totalitarismo.

Claro que não era apenas um processo de reconversão intelectual. Era um processo de reconversão de classe social. Quem fazia esse trajeto era acolhido e bem recompensado pela direita – com edição de livros de denúncia do comunismo ou da esquerda –, com amplas entrevistas na mídia conservadora, afora outras recompensas materiais.

Nada muito diferente do que acontece no mundo nas ultimas décadas. Os pretextos podem ser o fim da URSS – confundido com o fim do socialismo –, críticas levantadas pela direita sobre corrupção em partidos de esquerda, políticas que não respeitariam o meio ambiente, etc., etc. O objetivo é encontrar álibis para deixar de ser de esquerda.

As formas que essa conversão assume são, via de regra, marcadas pelos generosos espaços que a mídia de direita reserva carinhosamente aos que se dispõem a criticar sistematicamente a esquerda, com a suposta autoridade de quem foi de esquerda ou diz que foi. Contanto que não dirijam os fuzis que a direita lhes concede contra a própria direita.

Jornais como O Globo, O Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo, a Veja, entre outros, estão cheios de esquerdistas “arrependidos”, que poupam seus patrões – que, todos, apoiaram o golpe de 1964 –, para concentrar seu fogo na esquerda – no PT, nos governos do Lula e da Dilma, na CUT, no MST, etc., etc.

São escritores e músicos em fim de carreira, que já não produzem nada que valha a pena há décadas, que vivem do seu passado e do serviço que prestam à direita. Ganham seu dinheirinho, têm seu espaço numa imprensa cada vez menos lida, ou na TV como clowns da burguesia.

Escribas de aluguel terminam suas carreiras – que às vezes tiveram algum brilho no passado – comendo da mão da direita oligárquica, fazendo ainda pose de artistas ou de intelectuais, odiando o Brasil que se transforma, se democratiza, apesar de e contra eles.


Lobão: Réplica ao texto do Sr. Emir Sader

Sr. Emir Sader,

Tomo a liberdade de interpretar como diretas as suas indiretas à minha pessoa pelo singelo fato de ter escolhido o meu rosto para emoldurar o seu artigo, e mesmo que o senhor não tenha tido a hombridade de mencionar o meu nome, sinto-me na obrigação de lhe enviar a minha réplica. Sendo assim, vamos começar por partes:

1) Se existe essa transição de esquerda para a direita, me parece muito claro que o inverso é absolutamente verificável. O próprio Paulo Maluf, o José Sarney, o Fernando Collor, o Severino Cavalcanti, o Renan Calheiros entre tantos outros fazem parte integrante e fundamental da base aliada do PT. Todos com calorosa acolhida e, por que não dizer, com ardorosa defesa por parte de nossos grandes pensadores da esquerda (consulte sua colega, Marilena Chauí e pergunte o que ela acha atualmente do Paulo Maluf. É comovente perceber o amor, o carinho e admiração que ela nutre por ele nos dias de hoje). Portanto, sua tese começa a se desmoronar logo no segundo parágrafo do seu artigo.

2) O processo de conversão ao que o senhor se refere é algo mais simples e direto. Basta ter o mínimo de bom senso e uma inteligência mediana para se constatar a canoa furada que é a esquerda e seu lamentável histórico. É um mimo da sua parte achar que a URSS é o único repositório de quaisquer críticas tecidas à esquerda. Não, meu nobre companheiro. Não há na história da humanidade um só caso de que possamos nos jactar de alguma pálida forma que seja, da esquerda tendo um papel bem sucedido como modelo político. Todos foram um retumbante fracasso. Na URSS, na China, no Vietnã, Camboja, em Cuba, agora, na Venezuela, na Europa Oriental, na Albânia, na Coréia do Norte, Angola e por aí vai… Todos regidos por tiranetes caricatos. E não temos apenas a disseminação da miséria nesses povos, temos verdadeiros massacres, os maiores genocídios da história se concentram justamente nas administrações comunistas. Isso é fato irrefutável, portanto, o Stálin ser comparado a Hitler acaba sendo, por incrível que pareça, um eufemismo. Não me parece muito consistente o senhor querer fazer crer a qualquer criatura com mais de dois neurônios que Cuba é uma democracia plena, onde se respeita os direitos fundamentais do cidadão. Isso é um fato também. Não há o que discutir, lhe restando apenas o direito um tanto suspeito de ser um tiete de um regime deplorável. No entanto, o Brasil trava relações diplomáticas intensas com os irmãos Castro, auxiliando  sua administração com polpudas quantias do NOSSO dinheiro para aquela bela e tão maltratada ilha. E isso na maior cara de pau!

3) No quinto parágrafo do seu artigo o senhor faz uma alusão de casos de pessoas que são “recompensadas pela direita”. Mas que direita? Praticamente TODOS os órgãos estão comprados pelo governo! A maioria esmagadora dos intelectuais e artistas desse país está se lambuzando toda com gordas verbas federais e deformando sua funções primordiais para se transformarem em militantes cínicos (eu mesmo fui laureado com uma polpuda verba pela lei Rouanet, verba essa que recusei peremptoriamente).

E daí a inversão dos fatos: vocês são os chapas-brancas! Vocês são os militantes e patrulheiros ideológicos de plantão! Vocês se locupletam com verbas públicas! Vocês são a força de engenharia social de um governo corrupto e incompetente e isso é muito feio, pra não entrar muito fundo na questão. O rebelde aqui sou eu,  companheiro. O espaço que recebo dessa tal mídia de direita a qual você se refere é cada vez mais exíguo. Só consegui fazer um programa de televisão em TV aberta e todos aqueles que costumava frequentar por tantos anos me fecharam suas portas até o presente momento, embora, malgrado todas as tentativas (inclusive a sua) de detratar e inviabilizar o meu livro, ele continua entre os mais vendidos por mais de 20 semanas. Sorry…

Quando sai alguma matéria sobre o Manifesto do Nada na Terra do Nunca é sempre no intuito de denegrir de forma capciosa o seu conteúdo e, não raro, também a minha pessoa e minha conduta, da mesma forma que o senhor comete neste artigo.

Estou cansado de ler resenhas e crônicas me esculhambando, afirmando coisas absurdas como ser eu a favor da ditadura, da tortura, do regime militar. Eu jamais tomei esse tipo de posição!

Eu simplesmente não acredito em quem pegou em armas nos anos 60 pra “defender a democracia” porque isso não aconteceu! Eles (o senhor estava nessa também, não?) lutavam por uma outra ditadura! E esse é um cacoete mórbido que virou tabu investigar e isso é péssimo para todos nós.

Não acredito em pessoas como o senhor, que não passa de um filósofo de meia tigela, jogando pra sua galera, achando que vai se criar cagando goma pra cima de mim. Não vai!

Não admito ninguém ficar questionando a validade da minha qualidade artística, principalmente em se tratando de alguém que nada mais fez do que mostrar ser um analfabeto musical de amplo espectro. De outra forma não se arvoraria em tecer tão estúpido comentário em detrimento de uma porca e covarde estratégia pretendendo me despotencializar por uma suposta e inexistente decadência musical. Isto é, antes de mais nada, patético para a sua já tão combalida reputação.

Para concluir, quero deixar bem claro ao senhor e aos seu leitores uma coisa: se informe mais a respeito de quem está falando, nutra-se de mais prudência, vai por mim… Tente enxergar o próprio rabo e pare de projetar a sua mediocridade, sua obtusidade e sua venalidade em outros, principalmente quando pode ter a infelicidade de se deparar com pessoas assim como… eu.


Portanto, um dever de casa para o companheiro Emir Sader: escreva cem vezes no seu caderninho: “Escriba de aluguel é o caralho.”

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

CoroneLeaks: Nosso país deixará de ser uma democracia no exato momento em que os médicos cubanos colocarem o pé em solo brasileiro para trabalhar em condições análogas à escravidão.

Do CoroneLeaks

Não pensem em correntes. Em algemas. Em porões fétidos. Em gente suja e maltrapilha. Estes são os escravos normalmente libertos das pequenas confecções das grandes cidades, vindos de países miseráveis.

Agora pense em pessoas vestidas de branco. Com diplomas universitários. Que exibem sorrisos simpáticos e uma grande alegria em servir o próximo, como se estivessem em uma missão humanitária. Estes são os médicos escravos cubanos que o Brasil vai traficar, cometendo toda a sorte de crimes hediondos contra os direitos humanos, que só republiquetas totalitárias, a exemplo da Venezuela, ousaram cometer.

E vamos aqui deixar ideologias de lado. E até mesmo as discutíveis competências profissionais. Vamos ser civilizados e falar apenas de pessoas, de seres humanos, de gente.

O Brasil democrático é signatário de uma dezena de tratados internacionais que protegem os trabalhadores. No entanto, o Governo do PT está firmando um convênio com Cuba, um país que está traficando pessoas para fins econômicos. Cuba esta vendendo médicos. Cuba utiliza de coerção, que é crime, para que estes escravos de branco sejam enviados, sem escolha, para onde o governo decidir. Isto é crime internacional. Hediondo. Que nivela o Brasil com as piores ditaduras.

E não venham colocar a Organização Pan Americana de Saúde como escudo protetor destes crimes contra a Humanidade. É uma entidade sabidamente aparelhada por socialistas, mas que, ao que parece, pela primeira vez assume o papel de "gato", o operador, o intermediário, aquele que aproxima as partes, que fecha o negócio, que "lava" as mãos dos criminosos que agem nas duas pontas. Não há como esconder que o Governo do PT está pagando a Ditadura de Cuba para receber mão de obra em condições análogas à escravidão, como veremos neste post.

O trabalhador estrangeiro tem, no Brasil, os mesmos direitos de um trabalhador brasileiro. Tem os mesmos ônus e os mesmos bônus. Não é o que acontece neste convênio que configura um verdadeiro tráfico em massa de pessoas de um país para outro. Os escravos cubanos não pagarão Imposto de Renda e INSS. Sobre um salário de R$ 10 mil, deveriam reter mais de R$ 2.700. Pagariam em torno de R$ 400 de INSS. Mas também teriam direito ao FGTS, ao aviso prévio, às férias, ao décimo terceiro salário. Não é o que acontece. O escravo cubano não recebe o seu salário. Ele é remetido para um governo de país. É como se este país tivesse vendido laranjas. Charutos. Rum. Ou qualquer commodity. A única coisa que o trabalhador recebe é uma ajuda de custo para tão somente sobreviver no país pois, em condição análoga à escravidão, este médico cubano receberá alojamento e comida das prefeituras municipais. Trabalhará, basicamente, por cama, comida e sem nenhum direito trabalhista.

Outro crime do qual o Governo do PT é mentor, é idealizador, é fomentador, é financiador, é concordar com as práticas de coerção exercida por Cuba quando vende os seus médicos escravos. O passaporte é retido pela Embaixada de Cuba no Brasil. A família fica em Cuba, sem poder sair do país. O escravo cubano não pode mudar de emprego, pois se o fizer a sua família sofre perseguição. Existe ameaça. Existe abuso de autoridade. Existe abuso de poder econômico. Existe retenção de documento para impedir a livre locomoção. Existe lesão ao Fisco. Sonegação. E, por conseguinte, sendo dinheiro originário de crimes, remessa ilegal de divisas do Governo do PT para a Ditadura de Cuba.

Este convênio que o Governo do PT está fazendo com Cuba não resiste a uma fiscalização do Ministério do Trabalho e a uma auditoria do Ministério Público. São tantos os crimes cometidos contra a Humanidade e contra os Direitos Humanos que envergonham a todos os brasileiros. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, candidato ao governo de São Paulo, deveria ir a ferros junto com os bandidos mensaleiros do seu partido. A ministra dos Direitos Humanos, Maria o Rosário, está em silêncio obsequioso.

A partir do momento em que 4.000 cubanos botarem o pé no solo brasileiro, nosso país terá se transformando num campo de concentração e numa imensa prisão para escravos políticos. A nossa Constituição será rasgada, pois:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

III – ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

Da mesma forma, o Governo do PT está jogando no lixo  o Decreto nº 5.948, de 26 de Outubro de 2006, que trata da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, que tem  definições fundamentais sobre o tema:

Art. 2°. § 4o A intermediação, promoção ou facilitação do recrutamento, do transporte, da transferência, do alojamento ou do acolhimento de pessoas para fins de exploração também configura tráfico de pessoas.

Art. 2°. § 5° O tráfico interno de pessoas é aquele realizado dentro de um mesmo Estado-membro da Federação, ou de um Estado-membro para outro, dentro do território nacional.

Art. 2o. § 6° O tráfico internacional de pessoas é aquele realizado entre Estados distintos.

Art. 2° § 7o O consentimento dado pela vítima é irrelevante para a configuração do tráfico de pessoas.

Ou seja: o que determina se existe a escravidão não é o depoimento do escravo, pressionado por dívidas, sem documentos ou tendo a integridade da sua família ameaçada, mas sim o que a sua situação configura, mediante fiscalização.

Com a importação em massa dos médicos escravos cubanos. os acordos internacionais firmados pelo Brasil contra a escravidão serão derrogados. Não seremos mais uma democracia. Se alguém tem alguma dúvida sobre isso, leia o MANUAL DE COMBATE AO TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS ÀS DE ESCRAVO, publicado pelo Ministério do Trabalho.

E sinta vergonha, talvez um pouco de medo, de ser brasileiro.

Eu desafio o Governo do PT a exigir que o médico cubano tenha em mãos o seu passaporte.

Eu desafio o Governo do PT a exigir que o médico cubano tenha uma Carteira de Trabalho.

Eu desafio o Governo do PT a depositar o salário do médico cubano em uma conta pessoal, que lhe garanta livre movimentação.

Eu desafio o Governo do PT a garantir todos os direitos trabalhistas ao médico cubano.


Eu desafio o Governo do PT a cumprir a Lei, a Constituição e os Tratados Internacionais.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Cento e trinta Generais se manifestam contra a Presidente Dilma. A imprensa permanece até hoje calada em relação ao assunto.

   CENTO E TRINTA (130) GENERAIS se manifestaram publicamente contra a presidente DILMA. A mobilização ocorreu ha pouco mais de um ano, e o documento permanece ecoando na internet, mostrando que ha gente disposta a lutar pela verdadeira democracia. Os oficiais de alta patente dizem que o governo agiu de forma REVANCHISTA e INCONSEQUENTE, e que governa somente para parcelas diferenciadas da sociedade brasileira. A mídia, com muito medo de que a questão, que já é grave, alcance proporções estratosféricas, depois de vários meses ainda se mantém calada sobre o assunto.

   Os oficiais signatários implicitamente avisam que têm influência sobre a tropa, deixando bem claro que são os responsáveis pelos pilares que fundamentam as forças armadas da atualidade. Avisam que as associações não se intimidarão frente aos acontecimentos e que o atual Ministro da Defesa não tem autoridade para censurar atos de entidades como clubes militares.

“O Clube Militar não se intimida e continuará atento e vigilante, propugnando comportamento ético para nossos homens públicos, envolvidos em chocantes escândalos em série, defendendo a dignidade dos militares, hoje ferida e constrangida com salários aviltados e cortes orçamentários, estes últimos impedindo que tenhamos Forças Armadas ...”

Entre os signatários destacam-se oficiais que ocuparam altíssimos cargos na hierarquia militar, como Zenildo de Lucena e Valdésio Guilherme de Figueiredo, destaca-se também o General Rui Leal Campello, herói da Força Expedicionária - Monte Castello. Em qualquer país sério essa movimentação seria manchete em todos os jornais e motivo de preocupação extrema. Afinal, se a nata das forças armadas está insatisfeita e se predispõe a colocar seu nome em um documento público, alguma coisa realmente importante está acontecendo. São homens sérios, que não "jogam conversa fora", e que têm muita informação e conhecimento sobre o Brasil, além de formação em altos estudos militares, política, estratégia e gestão. O mínimo que se poderia fazer seria ouvi-los oficialmente.

“Este é um alerta à Nação brasileira, assinado por homens cuja existência foi marcada por servir à Pátria, tendo como guia o seu juramento de por ela, se preciso for, dar a própria vida. São homens que representam o Exército das gerações passadas e são os responsáveis pelos fundamentos em que se alicerça o Exército do presente.”

   Desde meados de 2012 o manifesto dos militares vem sendo divulgado em vários sites e blogs, principalmente os considerados de direita. Apesar da importância que têm seus signatários, parece que o documento ainda não conseguiu vencer as barreiras que separam o virtual do real. O manifesto tramita pela internet, e de site em site vai crescendo. A grande mídia parece que evita o assunto. Ha algum tempo o governo se ressentiu, e falou-se de ameaças de punições disciplinares contra os signatários, por parte do Ministério da defesa. Mas a verdade é que o manifesto continuou ganhando força.

Há de se considerar que se tão grande número de generais se opõe às ações da presidência da república isso pode significar que há realmente algo a corrigir. Se é que existe realmente uma situação conflituosa entre Governo e Forças armadas isso tem que ser reparado com urgência. Além dos 130 generais que assinaram o documento ha ainda centenas de outros oficiais, juizes, civis e políticos que opoiaram o manifesto.


http://sociedademilitar.com.br

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

J. R. Guzzo: Com um braço só

Um dos aspectos menos atraentes da personalidade humana é a tendência de muitas pessoas de só condenar os vícios que não praticam, ou pelos quais não se sentem atraídas. Um caloteiro que não fuma, não bebe e não joga, por exemplo, é frequentemente a voz que mais grita contra o cigarro, a bebida e os cassinos. Mas fecha a boca, os ouvidos e os olhos, como os três prudentes macaquinhos orientais, quando o assunto é honestidade no pagamento de dívidas pessoais. É a velha história: o mal está sempre na alma dos outros. Pode até ser verdade, infelizmente, quando se trata de política brasileira, em que continua valendo, mais do que nunca, a máxima popular do “pega um, pega geral”.

Mas a última flor nascida no orquidário nacional de escândalos, e que já recebeu o nome genérico de cartel Siemens ─ uma maciça conspiração para fraudar licitações públicas, sobretudo em São Paulo e na área ferroviária ─, passou de muito a mera prática da hipocrisia. No caso, quem está na gerência do orquidário é o PSDB, o único grupo político brasileiro ao qual se pode chamar de partido da oposição, e que há anos critica a corrupção frenética praticada nos governos do PT. Só que, em vez de ficar acusando o adversário por delinquências que parecem não tentá-lo, o PSDB foi pego numa demonstração de que pode ser atraído, e muito, por elas ─ ou seja, ficou dando ao Brasil lições de moral sobre os vícios do PT, em público, e praticando precisamente esses mesmos vícios, em particular.
Os delitos, que começaram a acontecer há pelo menos quinze anos, em 1998, encontram-se de repente na conhecidíssima categoria dos fatos que serão “rigorosamente apurados” (no Brasil, como se sabe, há dois tipos de apuração oficial, as “rigorosas” e as outras, que ninguém consegue explicar direito o que são: têm em comum, entre si, o fato de sempre darem mais ou menos na mesma). O que há de certo é que durante dez anos seguidos, entre 1998 e 2008, pelo menos quinze empresas se juntaram, a portas fechadas, para combinar previamente o resultado de licitações no valor de 1,2 bilhão de reais para a venda de trens, metrôs e equipamento ferroviário ao governo. É indiscutível, também, que entre os anos de 2000 e 2007 duas linhas do metrô de São Paulo, outras duas de trens metropolitanos, também em São Paulo, e o metrô de Brasília foram contaminados por ladroagem grosseira ─ só aí, calcula-se, o prejuízo para o contribuinte pode ter ficado na casa dos 450 milhões de reais.
Quem veio com as denúncias não foi o PT; foi uma das próprias cabeças desse bicho que se nutre de concorrências fraudadas, a Siemens, que houve por bem denunciar-se a si mesma para obter penas menores num eventual processo, que até hoje não veio. Não há nenhuma dúvida, enfim, de que durante esse período todo quem esteve com a chave do cofre pagador foi o PSDB de São Paulo. O que se tem, ao fim e ao cabo, é mais ou menos o seguinte: uma roubalheira iniciada há quinze anos, e denunciada por um dos próprios participantes, não havia merecido até agora, quando o caso enfim explodiu em público, o menor esforço de investigação séria por parte das autoridades paulistas. Se o governador Geraldo Alckmin e o ex-governador José Serra, para ficar nos nomes mais eminentes dessa história, acham mesmo que São Paulo foi apenas uma vítima, e que nenhuma autoridade estadual tem coisa alguma a ver com isso tudo, por que os fatos nunca foram expostos em plena luz do sol, entre 1998 e hoje?
O PSDB deu uma resposta da pior qualidade às acusações — o mesmo tipo de resposta viciada que acusa o PT de dar a cada denúncia de corrupção que recebe. Acusou os acusadores; fez as cansadíssimas perguntas a respeito de “quem estaria por trás”, ou “quem se beneficia” disso tudo. Estão por trás e se beneficiaram, é óbvio, os que ganharam com os delitos praticados — e é positivamente certo que, desta vez, o PT não teve nada a ver com a história. As reações de Brasília não foram melhores. Estaríamos, na política brasileira de hoje. reduzidos a um concurso de auditório do tipo “Quem quer roubar?”. Um diz: “Eu roubo, mas você também”. O outro responde: “Eu roubo, mas você rouba mais”.
Nesse caso, é melhor chamar como árbitro o general Álvaro Obregón, chefe militar e político no México dos anos 10 e 20 do século passado. Obregón, entre outras proezas, perdeu o braço direito numa batalha contra Pancho Villae, segundo o anedotário mexicano, candidatou-se depois à Presidência da República com o seguinte lema: “Votem em mim, que tenho um braço só. Vou roubar a metade do que os outros”.

sábado, 17 de agosto de 2013

Fernando Gabeira: Mídia Ninja e o futuro desfocado

As manifestações de junho revelaram ao País a Mídia Ninja, grupo de jovens que usa smartphones para divulgar ao vivo os protestos de rua e eventuais confrontos com a polícia. Tive a oportunidade de entrevistar um deles, Bruno Torturra, e na ocasião tentei quebrar um pouco a rígida dicotomia entre imprensa profissional e jovens amadores com uma visão excludente do processo.


Creio que grande parte dos temas agitados nas ruas do Brasil foi divulgada pela imprensa profissional. O que as redes sociais fizeram foi metabolizar os escândalos e deslizes amplamente registrados nos grandes veículos de comunicação. É inegável que existe mão dupla. A grande imprensa é muito atenta às redes sociais e procura pescar todos os temas que lhe parecem dignos de publicação. É assim que ela trabalha – ou deveria –, com antenas sempre ligadas no que acontece em qualquer lugar, o mundo virtual incluído.

Na cobertura das manifestações a Mídia Ninja conseguiu ficar bem próxima dos jovens que protestavam e dos policiais que, eventualmente, os reprimiam. Isso era melhor que as tomadas de helicóptero, embora a visão de cima dê também boa ideia da magnitude do protesto e de como evolui espacialmente. Mas, como dizia Robert Capa, se a imagem não é tão boa, é porque não chegamos perto o bastante do objetivo. É a visão de um fotógrafo de guerra que se pode estender a outros campos.

Em nova entrevista de TV, os jovens da Mídia Ninja deram a entender que há uma crise na imprensa clássica e eles representam uma verdadeira alternativa a ela, no futuro. Isso se choca com meio século de experiência no ofício e o exame de outras tentativas, mundo afora, de achar um caminho para as limitações da imprensa, sobretudo as que se revelaram com o impacto da revolução digital.

A Mídia Ninja dá a entender que pretende financiar seu trabalho com o apoio dos próprios leitores. É o que tentam fazer algumas agências de fotógrafos, via crowdfunding. Na verdade, a iniciativa é uma extensão de algo que já deu certo no mundo musical, projetando inúmeros grupos independentes. Mas as experiências de financiamento entre os fotógrafos partem de um portfólio mostrando a capacidade específica do profissional e do detalhamento do projeto a ser financiado. É uma tentativa de reinserir no fluxo de informações um material de alta qualidade que as circunstâncias econômicas das revistas já não permitem financiar. Impossível buscar informação em vários cantos do País e do mundo sem recursos para passagens, hotel e aluguel de carro, para ficar só nas despesas mais rotineiras.

A primeira condição de crowdfunding, em jornalismo, é a alta qualidade do material produzido, o que a Mídia Ninja não pode oferecer, pelas circunstâncias da cobertura e pelo precário domínio técnico. Viver disso significa preocupar-se com detalhes: ângulo, luminosidade, enquadramento, composição – enfim, as técnicas que permitem transmitir a informação com nitidez. Se tudo isso é considerado secundário, o que é o principal? Estar presente e tomar o partido dos oprimidos, ainda que a mensagem seja um lixo técnico.

Isso me remete às discussões que tive com Glauber Rocha pelas ruas de Havana e me valeram um mal-entendido. O sonho de Glauber era associar-se aos grupos de guerrilha e ser o cineasta de suas ações armadas contra as ditaduras militares do continente. Disse-lhe francamente que achava a ideia problemática. Glauber teria de morrer como um grande cineasta e se tornaria um documentarista precário dos fatos, sempre escravizado pela segurança da ação e pela obediência ao comando da guerrilha. Ele entendeu que estava propondo seu suicídio e por muitos anos não falou comigo.

O problema que discutíamos em Havana ainda é válido hoje. É impossível expressar o talento pessoal, amplamente, tendo de se submeter aos interesses de um grupo, que decide o que e como publicar. Os jovens da Mídia Ninja acham que a grande imprensa é parcial. E, em vez de defender a imparcialidade, tomam partido e afirmam que a verdade surgirá do intercâmbio de múltiplas parcialidades. Essa discussão é uma das mais antigas e, diria, entediantes, depois de tantas madrugadas nos bares de Ipanema. Apontar a câmera para um lado, e não para o outro, já significa uma escolha pessoal. Imagens, verbos, adjetivos, tudo isso expressa uma tomada de posição. Em certos fatos jornalísticos, que envolvem também a concepção democrática de cada um, fica visível onde está e o que quer o narrador.

Mas existem certos princípios na informação de qualidade. Um é a importância de ouvir os dois lados. Outro é a humildade do repórter, que mesmo tendo uma posição sobre determinado tema não tenta conformar a realidade à sua tese. É preciso estar aberto para o que realmente está acontecendo e jogar para o alto as ideias que não correspondam aos fatos.

Quando alguém da Mídia Ninja é preso, a grande imprensa relata em detalhes e busca explicações da polícia. Quando carros das emissoras de TV são queimados por manifestantes, é de esperar que a Mídia Ninja também combata esse tipo de violência e todas as outras formas de agressão. Se o nome do jogo é informação, a liberdade de imprensa é um bem comum. Quem vai sobreviver ao tsunami da revolução digital, quem vai naufragar, tudo é uma questão de talento e capacidade de adaptação aos tempos revoltos. Não creio em profissionais especializados em manifestações, muito menos sustentados por grupos em fusão, que se desfazem e recompõem indefinidamente.


Ao ver na TV a história de coletivos com casas próprias e líderes que combinam picaretagem política com certo tom religioso, pressinto os descaminhos que se impõem, com dinheiro oficial, à cultura brasileira. Descaminhos que, no fundo, desprezam a cultura e a substituem pelo militante fanático. Quem não se lembra da Revolução Cultural chinesa? Foi um dos momentos mais indignos da História humana. É preciso ler um pouco sobre isso para evitar algumas novidades que, no fundo, são apenas o retorno da barbárie.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Estadão: PT torra mais de R$ 16 bilhões com propaganda em 10 anos.

PT torra mais de R$ 16 bilhões com propaganda em 10 anos.

Os gastos com propaganda do governo federal nos dois primeiros anos da gestão de Dilma Rousseff, incluindo estatais, é 23% maior, na média, do que nos oito anos de mandato de seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente também vem gastando mais - cerca de 15% -, na média, na comparação com o segundo mandato de Lula. Ao todo, em dez anos de governo petista foram desembolsados, incluindo todos os órgãos da administração, cerca de R$ 16 bilhões, em valores corrigidos pela inflação, segundo levantamento inédito do Estado.

A quantia é quase igual aos R$ 15,8 bilhões que o governo pretende investir no programa Mais Médicos até 2014. Com o valor também seria possível fazer quase duas obras de transposição do Rio São Francisco, atualmente orçada em R$ 8,2 bilhões.
Em mobilidade urbana, seria possível construir entre 25 km e 30 km de metrô em São Paulo - um terço da atual malha - ou então colocar de pé, na capital paulista, cinco monotrilhos iguais ao que ligará o Jabaquara ao Morumbi, na zona sul, passando pelo aeroporto de Congonhas. O dinheiro gasto pelo governo com publicidade poderia também manter congelada em R$ 3 a tarifa de ônibus na cidade de São Paulo durante 50 anos.

Ainda para efeito de comparação, o valor é duas vezes superior aos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que Dilma anunciou para a capital paulista há dez dias, e que servirá para construir 127 km de corredores de ônibus, recuperar os mananciais das represas Billings e Guarapiranga, drenar vários córregos da capital e construir moradias para 20 mil famílias.
Os dados sobre os gastos com publicidade foram solicitados, via Lei de Acesso à Informação, a cada um dos órgãos que a Secretaria de Comunicação Social (Secom) informou ter assinado algum contrato publicitário desde 2003. Os dados foram computados com base na resposta fornecida por eles - o governo federal afirmou que não dispõe dessas informações de maneira centralizada.

Ao comentar os resultados do levantamento, o governo ressaltou que as despesas da administração direta - ministérios e Presidência - têm o objetivo de "levar à população, em todo o território nacional, informações de utilidade pública para assegurar seu acesso aos serviços a que tem direito e prestar contas sobre a utilização dos recursos orçamentários". No caso dos gastos da administração indireta, como as estatais, o governo argumentou que se trata de empresas que, apesar de públicas, concorrem no mercado, portanto precisam ter a imagem bem trabalhada.

Atualmente Dilma enfrenta problemas de popularidade, que já bateu recordes, mas, depois das manifestações de junho, enfrentou uma forte queda. No fim de semana, o Datafolha divulgou nova pesquisa que mostra uma pequena recuperação da aprovação do governo.

Médias comparadas. Nos dois primeiros anos de mandato da presidente Dilma, o governo federal gastou R$ 3,56 bilhões, média de R$ 1,78 bilhão por ano. Nos oito anos de Lula, o governo desembolsou R$ 11,52 bilhões, média de R$ 1,44 bilhão. No primeiro mandato, a média foi de R$ 1,32 bilhão. No segundo, de R$ 1,55 bilhão - sempre lembrando que se trata de valores atualizados pela inflação. O dado global de gastos com propaganda, de R$ 16 bilhões, pode ser, na verdade, ainda bem maior. Isso porque o Banco do Brasil se recusou a informar os seus gastos com publicidade entre 2003 e 2009.

Só há dados disponíveis de 2010 a 2012. Por essa razão, a fim de evitar distorções, os dados referentes ao banco só foram incluídos no valor global, ou seja, nos R$ 16 bilhões, mas descartados na comparação entre os anos. Apenas para se ter uma ideia, entre 2010 e 2012, o Banco do Brasil gastou, também em valores corrigidos pela inflação, R$ 962,3 milhões com publicidade, média anual de R$ 320,7 milhões. É, no período, o segundo órgão que mais gastou, atrás da Caixa Econômica Federal.

Banco do Brasil à parte, a Caixa Econômica, a Petrobrás e os Correios, somados, representam 51,12% de tudo o que o governo destinou a ações publicitárias nos dez anos de gestão petista. Por causa do peso dessas três gigantes, a administração indireta - que engloba autarquias, fundações, sociedades de economia mista, empresas públicas e agências reguladoras - concentrou 69,4% dos gastos do governo com publicidade.

Três companhias energéticas que integram a administração indireta - Alagoas, Piauí e Rondônia - não responderam ao questionamento do Estado. Na administração direta, apenas o Ministério do Trabalho e Emprego não enviou seus dados de despesas com publicidade.

A Secom, que formula a estratégia de comunicação da Presidência, é o órgão mais gastador da administração direta, tendo sido responsável pelo desembolso de R$ 1,68 bilhão no período de dez anos. Ela é seguida pelos ministérios da Saúde, das Cidades e da Educação.


Tanto no caso da administração direta quanto da indireta, houve aumento dos gastos publicitários de 2003 para 2012. No primeiro caso, saltou de R$ 255 milhões para R$ 626 milhões, aumento de 146%. No segundo, de R$ 775 milhões para R$ 1,15 bilhão, crescimento de 48%. Também nos dois casos, o pico de gastos ocorreu em 2009. A Secom e os ministérios gastaram R$ 752 milhões, e a administração indireta, R$ 1,22 bilhão. Era o terceiro ano do segundo ano de mandato de Lula. 

Editorial do Estadão: Críticas contra Joaquim Barbosa

Além do patrulhamento político que vem sofrendo por parte dos envolvidos no escândalo do mensalão, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, passou a ser tratado de forma desabrida por entidades de juízes e até por parlamentares, por causa de sua oposição à instalação de quatro novos Tribunais Regionais Federais (TRFs).

A criação das quatro cortes foi autorizada pela Emenda Constitucional (EC) n.º 73, mas o ministro alegou que elas são desnecessárias e, acolhendo um recurso da Associação Nacional de Procuradores Federais, concedeu liminar suspendendo a instalação de todas elas.

A associação de procuradores questionou a constitucionalidade da EC 73, alegando que, pela Carta Magna, mudanças na estrutura administrativa do Poder Judiciário só podem ser propostas pela cúpula da instituição e não pelo Legislativo, como foi o caso do projeto que resultou na EC 73. A criação de quatro TRFs também tem a oposição do Executivo, que teme os gastos perdulários da Justiça Federal com a construção de sedes suntuosas e contratação indiscriminada de servidores.

Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou levantamento que mostra que existem alternativas mais baratas e eficientes para a expansão da segunda instância da Justiça Federal e demonstra, com números, que os desembargadores de um dos TRFs ficarão sem ter o que fazer, por falta de demanda.

Desde que concedeu a liminar, o presidente do Supremo vem sendo duramente criticado pelo vice-presidente da Câmara dos Deputados, deputado André Vargas (PT-PR). Um dos principais defensores da EC 73, uma vez que ela cria um TRF em seu Estado, Vargas disse que Joaquim Barbosa não sabe travar “diálogos inteligentes”, por ter “problemas psicológicos”.

Segundo o parlamentar, “interpretar a opinião do ministro é um problema mais psicológico do que político ou operacional”.

Mais descorteses ainda foram as associações de juízes que defendem a EC 73. Elas alegaram que, por ter criticado a aprovação da EC 73, o presidente do Supremo não teria isenção para conceder a liminar pedida pela Associação Nacional dos Procuradores Federais. E, numa tentativa de constranger o ministro Joaquim Barbosa, as associações de juízes decidiram consultar o Conselho Nacional de Justiça, por ele presidido, se magistrados podem ser diretores ou proprietários de empresas no exterior e usá-las para adquirir imóvel em outros países.

O motivo dessa iniciativa é uma informação divulgada pela imprensa de que Joaquim Barbosa teria, no ano passado, constituído uma empresa na Flórida para adquirir um apartamento de 73 metros quadrados em Miami, gozando dos benefícios fiscais que o governo local concede a pessoas jurídicas.

O imóvel teria sido adquirido por um valor entre R$ 600 mil e R$ 1 milhão e o ministro teria utilizado o dinheiro que recebeu a título de pagamentos e vantagens funcionais extraordinárias pagas aos ministros dos tribunais superiores. Joaquim Barbosa alegou que adquiriu o apartamento “em conformidade com a legislação americana” e afirmou que a constituição da empresa – uma prática comum nos Estados Unidos – foi recomendada por seu advogado.

A publicação dessa notícia às vésperas da retomada do caso do mensalão não foi gratuita. “Acredito que um magistrado não pode ser diretor de empresa e um ministro do Supremo é magistrado”, diz o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Nino Toldo.

Apesar da conhecida incontinência verbal do ministro Joaquim Barbosa, que muitas vezes faz críticas desnecessariamente rudes a jornalistas, políticos e magistrados, não há nada que o desabone em sua conduta pública.


O que causa estranheza são os expedientes das associações de juízes, que parecem ter perdido a compostura na defesa de interesses políticos e corporativos.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Beatriz Seigner: Fora do Fora do Eixo - O que é Pablo Capilé?

Conheci um representante da rede Fora do Eixo durante um trajeto de ônibus do Festival de Cinema de Gramado de 2011, onde eu havia sido convidada para exibir meu filme “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano” e ele havia sido convidado a participar de um debate sobre formas alternativas de distribuição de filmes no Brasil.

Meu filme havia sido lançado naquele mesmo ano no circuito comercial de cinemas, em mais de 19 cidades brasileiras, distribuído pela Espaço Filmes, e o rapaz me contava de como o Fora do Eixo estava articulando pela internet os cerca de 1000 cineclubes do programa do governo Cine Mais Cultura, assim como outros cineclubes de pontos de cultura, escolas, universidades, coletivos e pontos de exibição alternativos, que estavam conectados à internet nas cidades mais longínquas do Brasil, para fazerem exibição simultânea de filmes com debate tanto presencialmente, quanto ao vivo, por skype. Eu achei a idéia o máximo. Me disponibilizei, a mim e ao meu filme para participar destas exibições, pois realmente acredito na necessidade de democratizar o acesso aos bens culturais no país, e sei como é angustiante, nestas cidades distantes, viver sem acesso à cultura alternativa e mais diversas artes.

Foi então organizado o lançamento do meu filme nos cineclubes associados à rede Fora do Eixo durante o Grito Rock 2012, no qual eu também me disponibilizei a participar de uma tournée de debates no interior de São Paulo, na cidade do Rio de Janeiro, e por skype com outros cineclubes que aderissem à “campanha de exibição”, como eles chamam.

Com relação à remuneração eles me explicaram que aquele ainda era um projeto embrionário, sem recursos próprios, mas que podiam pagá-lo com “Cubo Card”, a moeda solidária deles, que poderia ser trocada por serviços de design, de construção de sites, entre outras coisas. Já adianto aqui que nunca vi nem sequer nenhum centavo deste cubo card, ou a plataforma com ‘menu de serviços’ onde esta moeda é trocada.

E fiquei sabendo que algumas destas exibições com debate presencial no interior de SP seriam patrocinadas pelo SESC – pois o SESC pede a assinatura do artista que vai fazer a performance ou exibir seu filme nos seus contratos, independente do intermediário. E só por eles pedirem isso é que fiquei sabendo que algumas destas exibições tinham sim, patrocinador. Fui descobrir outros patrocinadores nos posters e banners do Grito Rock de cada cidade. Destes eu não recebi um centavo.

No entanto, foi realmente muito animador ver a quantidade de pessoas sedentas por cultura alternativa em todas as cidades de pequeno e médio porte pelas quais passei. Foi também incrível conversar com cinéfilos por skype de cidadezinhas do Acre, Manaus, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Paraíba, Mato Grosso, Goiania, Santa Catarina, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, entre outras cidades. Pelo que eu via, tinha entre 50 a 150 pessoas em cada sessão. Eu perdi a conta de quantos debates e exibições foram feitas, mas o Fora do Eixo havia me prometido como contra-partida uma foto de cada exibição onde fosse visível o número de público destas, e uma tabela com as cidades e quantidades de exibições que foram feitas. Coisa que também nunca recebi.

De qualquer maneira, empolgada com esta quantidade de pessoas que não querem consumir cultura de massa, em todas estas cidades, entrei em contato com colegas cineastas e distribuidores para que também disponibilizassem seus filmes, pois via o potencial de fortalecimento destes pontos de exibição em todos estes lugares, de crescimento do número de cinéfilos, e de pessoas que têm o desejo de desfrutar coletivamente de um filme, ou de outra obra de arte, de discuti-la, pesquisá-la, e se possível debatê-la com seus realizadores. Estava realmente impressionada com a quantidade de pessoas em todas estas cidades sedentas por arte. Se eu tivesse nascido em uma delas, via que seguramente seria uma delas, e mal conseguia imaginar como deve ser insuportável viver em uma cidade onde não há teatro, cinema alternativo, e muitas vezes nem sequer bibliotecas.

A idéia seria então de fazer um projeto para captar recursos para viabilizar estas exibições. Pensamos em algo como cada cineclube ou ponto de exibição que exibisse um filme receberia 100 reais para organizar e divulgar a sessão, e cada cineasta receberia o mesmo valor pelos diretos de exibição de seu filme naquele lugar. E caso houvesse debate presencial receberia mais cerca de mil reais de cachê pelo debate, e por skype ao vivo cerca de 500 reais pelo debate de até 3 horas.

Pensando em rede, se mil cineclubes exibissem um filme, o cineasta poderia receber, no mínimo, 100 mil reais por estas exibições. Eu ainda acho que é um projeto que deve ser realizado. E que esta ligação entre os cineclubes deveria ser feita por uma plataforma pública online do governo, onde ficaria o armazenamento destes filmes para download com senha e crédito paypal para estes pontos de exibição (sejam eles cineclubes, escolas, universidades, pontos de cultura etc).

Assim como também acho que os “Céus das Artes” que estão sendo construídos no país todo deveriam ter salas de cinema separadas dos teatros, com programação diária, constante, aumentando em 15% o parque exibidor brasileiro, e capacitando o governo de fazer políticas de exibição de filmes gratuitas ou com preços populares, em lugares onde simplesmente não há cinemas, muito menos, de arte.

Mas isso já é outra história. Voltemos ao Fora do Eixo.

E quando foi que o projeto degringolou? ou quando foi que me assustei com o Fora do Eixo?

Meu primeiro susto foi quando perguntaram se podiam colocar a logomarca deles no meu filme – para ser uma ‘realização Fora do Eixo’, em seu catálogo. Eu disse que o filme havia sido feito sem nenhum recurso público e que a cota mínima para um patrocinador ter sua logomarca nele era de 50 mil reais. Eles desistiram.

O segundo susto veio justamente na exibição com debate em um SESC do interior de SP, quando recebi o contrato do SESC, e vi que o Fora do Eixo estava recebendo por aquela sessão, em meu nome, e não haviam me consultado sobre aquilo. Assinei o contrato minutos antes da exibição e cobrei do Fora do Eixo aquele valor descrito ali como sendo de meu cachê, coisa que eles me repassaram mais de 9 meses depois, porque os cobrei, publicamente.

O terceiro susto veio quando me levaram para jantar na casa da diretora de marketing da Vale do Rio Doce, no Rio de Janeiro, onde falavam dos números fabulosos (e sempre superfaturados) da quantidade de pessoas que estavam comparecendo às sessões dos filmes, aos festivais de música, e do poder do Fora do Eixo em articular todas aquelas pessoas em todas estas cidades. Falavam do público que compareciam a estas exibições e espetáculos como sendo filiados à eles. Ou como se eles tivessem qualquer poder sobre este público.

Foi aí que conheci pela primeira vez o Pablo Capilé, fundador da marca/rede Fora do Eixo, um pouco antes deste jantar. Até então haviam me dito que a rede era descentralizada, e eu havia acreditado, mas imediatamente quando vi a reverência com que todos o escutam, o obedecem, não o contradizem ou criticam, percebi que ele é o líder daqueles jovens, e que ao redor dele orbitavam aqueles que eles chamam de “cúpula” ou “primeiro escalão” do FdE.

O susto veio, não apenas por conta de perceber esta centralidade de liderança, mas porque o Pablo Capilé dizia que não deveria haver curadoria dos filmes a serem exibidos neste circuito de cineclubes, que se a Xuxa liberasse os filmes dela, eles seguramente fariam campanha para estes filmes serem consumidos pois dariam mais visibilidade ao Fora do Eixo, e trariam mais pessoas para ‘curtir’ as fotos e a rede deles – pessoas estas que ele contabilizaria, para seus patrocinadores tanto no âmbito público, quanto privado. “Olha só quantas pessoas fizemos sair de suas casas”. E que ele era contra pagar cachês aos artistas, pois se pagasse valorizaria a atividade dos mesmos e incentivaria a pessoa ‘lá na ponta’ da rede, como eles dizem, a serem artistas e não ‘DUTO’ como ele precisava. Eu perguntei o que ele queria dizer com “duto”, ele falou sem a menor cerimônia: “duto, os canos por onde passam o esgoto”.

Eu fiquei chocada. Não apenas pela total falta de respeito por aqueles que dedicam a maior quantidades de horas de sua vida para o desenvolvimento da produção artística (e quando eu argumentava isso ele tirava sarro dizendo ‘todo mundo é artista’ ao que eu respondia ‘todo mundo é esportista também – mas quantos têm a vocação e prazer de ficar mais de 8 horas diárias treinando e se aprofundando em determinada forma de expressão? quantas pessoas que jogam uma pelada no fim de semana querem e têm o talento para serem jogadores profissionais?” “mas se pudesse escolher todo mundo seria artista” “não necessariamente, leia as biografias de todos os grandes compositores, escritores, cineastas, coreógrafos, músicos, dançarinos – quero ver quem gostaria de ter aquelas infâncias violentadas, viver na miséria econômicas, passar horas de dedicando-se a coisas consideradas inúteis por outros - vai ver se quem é artista, se pudesse escolher outra forma de vocação se não escolheria ter vontade de ser feliz sendo médico, advogado, empresário, cientista social.”).

Enfim, o fato é que eu acreditava e continuo acreditando que se a pessoa na ponta da rede, seja no Acre ou onde quer que seja, se esta pessoa tiver vontade de passar a maior quantidade de tempo possível praticando qualquer forma de expressão artística, seja encarando páginas em branco, lapidando textos, lapidando filmes, treinando danças, coreografias, teatro, seja praticando um instrumento musical (e quem toca instrumentos musicais sabe a quantidade de horas de prática para se chegar à liberdade de domínio do instrumento e de seu próprio corpo, os tais 99% de suor para 1% de inspiração), quem quer que seja que encontre felicidade nestas horas e horas de prática cotidiana artística deve produzir tais obras e não ser DUTO de coisa alguma.

Pois existem pessoas no mundo que não têm este prazer de produção artística, mas têm prazer em exibir, promover, e compartilhar estas obras. E tá tudo certo. Temos diversos exemplos de pessoas assim: vejam a paixão com que o Leon Cakof e a Renata de Almeida produziam e produzem a Mostra de São Paulo. O pessoal da Mostra de Tiradentes. E de tantas outras. Existe paixão pra tudo. E não, exibidores, programadores, curadores, professores, críticos de cinema ou de arte não são artistas frustrados – mas pessoas cuja a paixão deles é esta: analisar, comentar, debater, ensinar, deflagrar e ampliar o pensamento e a reflexão sobre as diversos âmbitos de atuação humanos. Que bom que tem gente com estas paixões tão complementares!

E o meu choque ao discutir com o Pablo Capilé foi ver que ele não tem paixão alguma pela produção cultural ou artística, que ele diz que ver filmes é “perda de tempo”, que livros, mesmo os clássicos, (que continuam sendo lidos e necessários há séculos), são “tecnologias ultrapassadas”, e que ele simplesmente não cultiva nada daquilo que ele quer representar. Nem ele nem os outros moradores das casas Fora do Eixo (já explico melhor sobre isso).

Ou seja, ele quer fazer shows, exibir filmes, peças de teatro, dança, simplesmente porque estas ações culturais/artísticas juntam muita gente em qualquer lugar, que vão sair nas fotos que eles tiram e mostram aos seus patrocinadores dizendo que mobilizam “tantas mil pessoas” junto ao poder público e privado, e que por tanto, querem mais dinheiro, ou privilégios políticos.

Vejam que esperto: se Pablo Capilé dizer que vai falar num palanque, não iria aparecer nem meia dúzia de pessoas para ouvi-lo, mas se disserem que o Criolo vai dar um show, aparecem milhares. Ou seja, quem mobiliza é o Criolo, e não ele. Mas depois ele tira as fotos do show do Criolo, e vai na Secretaria da Cultura dizendo que foi ele e sua rede que mobilizou aquelas pessoas. E assim, consequentemente, com todos os artistas que fazem participação em qualquer evento ligado à rede FdE. Acredito que, como eu, a maioria destes artistas não saibam o quanto Pablo Capilé capitaliza em cima deles, e de seus públicos.

Mesmo porque ele diz que as planilhas do orçamento do Fora do Eixo são transparentes e abertas na internet, sendo isso outra grande mentira lavada – tais planilhas não encontram-se na internet, nem sequer os próprios moradores das casas Fora do Eixo as viram, ou sabem onde estão. Em recente entrevista no Roda Viva, Capilé disse que arrecadam entre 3 e 5 milhões de reais por ano. Quanto disso é redistribuído para os artistas que se apresentam na rede?

O último dado que tive é que o Criolo recebia cerca de 20 mil reais para um show com eles, enquanto outra banda desconhecida não recebe nem 250 reais, na casa FdE São Paulo.

Mas seria extremamente importante que os patrocinadores destes milhões exigissem o contrato assinado com cada um destes artistas, baseado pelo menos no mínimo sindical de cada uma das áreas, para ter certeza que tais recursos estão sendo repassados, como faz o SESC.

Depois deste choque com o discurso do Pablo Capilé, ainda acompanhei a dinâmica da rede por mais alguns meses (foi cerca de 1 ano que tive contato constante com eles), pois queria ver se este ódio que ele carrega contra as artes e os artistas era algo particular dele, ou se estendia à toda a rede. Para a minha surpresa, me deparei com algo ainda mais assustador: as pessoas que moram e trabalham nas casas do Fora do Eixo simplesmente não têm tempo para desfrutar os filmes, peças de teatro, dança, livros, shows, pois estão 24 horas por dia, 7 dias por semana, trabalhando na campanha de marketing das ações do FdE no facebook, twitter e demais redes sociais.

E como elas vivem e trabalham coletivamente no mesmo espaço, gera-se um frenesi coletivo por produtividade, que, aliado ao fato de todos ali não terem horário de trabalho definido, acreditarem no mantra ‘trabalho é vida’, e não receberem salário, e portanto se sentirem constantemente devedores ao caixa coletivo, da verba que vem da produção de ações que acontecem “na ponta”, em outros coletivos aliados à rede, faz com que simplesmente, na casa Fora do Eixo em São Paulo, não se encontre nenhum indivíduo lendo um livro, vendo uma peça, assistindo a um filme, fazendo qualquer curso, fora da rede. Quem já cruzou com eles em festivais nos quais eles entraram como parceiros sabem do que estou falando: eles não entram para assistir a nenhum filme, nem assistem/participam de nenhum debate que não seja o deles. O que faz com que, depois de um tempo, eles não consigam falar de outra coisa que não sejam eles mesmos.

Sim, soa como seita religiosa.

Eu comecei a questionar esta prática: como vocês querem promover a cultura, se não a cultivam? Ao que me responderam “enquanto o povo brasileiro todo não puder assistir a um filme no cinema, nós também não vamos”. Eu perguntei se eles sabiam que havia mostras gratuitas de filmes, peças de teatro, dança, bibliotecas públicas, universidades públicas onde pode-se assistir a qualquer aula/curso – ao que me responderam que eles não têm tempo para perder com estas coisas.

Pode parecer algo muito minimalista, mas eu acho chocante eles se denominarem o “movimento social da cultura”, e não cultivar nem a produção nem o desfrute das atividades artísticas da cidade onde estão, considerando-se mártires por isso, orgulhando-se de serem chamados de “precariado cognitivo” (sem perceber o tamanho desta ofensa – podemos nos conformar em viver no precariado material, mas cultivar e querer espalhar o precariado de pensamentos, de massa crítica, de sensibilidade cognitiva, é algo muito grave para o desenvolvimento de seres humanos, e consequentemente da humanidade).

Concomitantemente a isso, reparei que aquela massa de pessoas que trabalham 24 horas por dia naquelas campanhas de publicidade das ações da rede FdE, não assinam nenhuma de suas criações: sejam textos, fotos, vídeos, pôsters, sites, ações, produções. Pois assinar aquilo que se diz, aquilo que se mostra, que se faz, ou que se cria, é considerado “egóico” para eles. Toda a produção que fazem é assinada simplesmente com a logomarca do Fora do Eixo, o que faz com que não saibamos quem são aquele exercito de criadores, mas sabemos que estão sob o teto e comando de Pablo Capilé, o fundador da marca.

E que não, a marca do fora do Eixo não está ligada a um CNPJ, nem de ONG, nem de Associação, nem de Cooperativa, nem de nada – pois se estivesse, ele seguramente já estaria sendo processado por trabalho escravo e estelionato de suas criações, por dezenas de pessoas que passaram um período de suas vidas nas casas Fora do Eixo, e saem das mesmas, ao se deparar com estas mesmas questões que exponho aqui, e outras ainda mais obscuras e complexas.

Me explico melhor: existem muitos dissidentes que se aproximam da rede pois vêem nela a possibilidade de viver da criação e circulação artística, de modificar suas cidades e fortalecer o impacto social da arte na população das mesmas, que depois de um tempo trabalhando para eles percebem, tal qual eu percebi, as incongruências do movimento Fora do Eixo. Que aquilo que falam, ou divulgam, não é aquilo que praticam. É a pura cultura da publicidade vazia enraizada nos hábitos diários daquelas pessoas.

E além disso, o que talvez seja mais grave: quem mora nas casas Fora do Eixo, abdicam de salários por meses e anos, e portanto não têm um centavo ou fundo de garantia para sair da rede. Também não adquirem portfólio de produção, uma vez que não assinaram nada do que fizeram lá dentro – nem fotos, nem cartazes, nem sites, nem textos, nem vídeos. E, portanto, acabam se submetendo àquela situação de escravidão (pós)moderna, simplesmente pois não vêem como sobreviver da produção e circulação artística, fora da rede. Muitas destas pessoas são incentivadas pelo próprio Pablo Capilé a abandonar suas faculdades para se dedicarem integralmente ao Fora do Eixo. Quanto menos autonomia intelectual e financeira estas pessoas tiverem, melhor para ele.

E quando algumas destas pessoas conseguem sair, pois têm meios financeiros independentes da rede FdE para isso, ficam com medo de retaliação, pois vêem o poder de intermediação que o Capilé conseguiu junto ao Estado e aos patrocinadores de cultura no país, e temem serem “queimados” com estes. Ou mesmo sofrer agressões físicas. Já três pessoas me contaram ouvir de um dos membros do FdE, ao se desligarem da rede, ameaças tais quais “você está falando de mais, se estivéssemos na década de 70 ou na faixa de gaza você já estaria morto/a.” Como alguns me contaram, “eles funcionam como uma seita religiosa-política, tem gente ali capaz de tudo” na tal ânsia de disputa por cada vez mais hegemonia de pensamento, por popularidade e poder político, capital simbólico e material, de adeptos. Por isso se calam.

Fiquei sabendo de uma menina que produziu o Grito Rock 2012 em Braga, em Portugal, no qual exibiram meu filme. Ela me contou que estava de intercâmbio da universidade lá, e uma amiga dela que havia sido “abduzida pelo Fora do Eixo” entrou em contato perguntando se ela e um amigo não queriam exibir o filme em Braga, produzir o show de uma banda na universidade, fazer a divulgação destas ações nas redes sociais. Ela achou boa a idéia e qual não foi sua surpresa quando viu que em todos os materiais de divulgação do evento que lhe enviaram estava escrito “realização Fora do Eixo”. “Eu nunca fui do Fora do Eixo, não tenho nada a ver com eles, como assim meu nome não saiu em nada? Não vou poder usar estas produções no meu currículo? E pior, eles agora falam que o Fora do Eixo está até em Portugal, e em sei lá quantos países. Isso é simplesmente mentira. Eu não sou, nem nunca fui do Fora do Eixo.”

O que leva a outro ponto grave das falácias do Fora do Eixo: sua falta de precisão numérica. Pablo Capilé, quando vai intermediar recursos junto ao poder público ou privado, para capitalizar a rede FdE, fala números completamente aleatórios “somos mais de 2 mil pessoas em mais de 200 cidades na America Latina”. Cadê a assinatura destas pessoas dizendo que são realmente filiadas à rede? Qualquer associação, cooperativa, partido político, fundação, ONG, ou movimento social tem estes dados. Reais, e não imaginários.

Quando visitei algumas das casas Fora do Eixo, estas pessoas morando e trabalhando lá não chegavam a 10% daquilo que ele diz a rede conter. E estas pessoas são treinadas com a estratégia de marketing da rede, de “englobar” no facebook e twitter alguém que eles consideram estrategicamente importante para o Fora do Eixo, seja um vereador, um intelectual, um artista, um secretário da cultura, e replicam simultaneamente as fotos e textos dos eventos do qual produzem, divulgam, ou simplesmente se aproximam (já vou falar dos outros movimentos sociais que expulsam o Fora do Eixo de suas manifestações – pois eles tiram fotos de si no meio destas ações dos outros e depois vão ao poder público dizer que as representam), ao redor daquelas pessoas estratégicas, política e economicamente para eles, que as adicionaram ao mesmo tempo, criando uma realidade virtual paralela que eles manipulam ao redor desta pessoa. Pois, se esta pessoa ‘englobada’ apertar ‘ocultar’ nas cerca de150 pessoas que trabalham nas casas Fora do Eixo, verá que muito raramente estas informações chegam por outras vias. Ou seja, eles simulam um impacto midiático muito maior de suas ações, apara aqueles que lhes interessam, do que o impacto real das mesmas nas populações e localizações onde aconteceram.

E com isso vão construindo esta realidade falsa, paralela. Controlada por eles, sob liderança do Pablo Capilé.

Dos movimentos sociais que começaram a expulsar os Fora do Eixo de suas manifestações e ações, pois estes, como os melhores mandrakes, ao tentar dominar a comunicação destas, iam depois ao poder público dizer representá-las, estão o movimento do Hip Hop em São Paulo, as Mãe de Maio (que encabeçam o movimento pela desmilitarização da PM aqui), o Cordão da Mentira (que une diversos coletivos e movimentos sociais para a passeata de 1º de Abril, dia do golpe Militar no Brasil, escrachando os lugares e instituições que contribuíram para o mesmo), a Associação de Moradores da Favela do Moinho, o coletivo Zagaia, o Passa-Palavra, o Ocupa Mídia, O Ocupa Sampa, o Ocupa Rio, Ocupa Funarte, entre outros. Até membros do Movimento Passe Livre tem discutido publicamente o assunto dizendo que o Fora do Eixo não os representam, e não podem falar em seu nome.

Sobre a transmissão de protestos e ocupações, são milhares de pessoas em diversos países que transmitem as manifestações no mundo todo, em tempo real, e acredito que os inventores que fizeram os primeiros smartphones conectando vídeo com internet, são realmente tão importantes para a comunicação na atualidade quanto os inventores do telégrafo foram em outra época.

Já o Fora do Eixo, agora denominados de Mídia Ninja, (antes era Mídia Fora do Eixo, mas como são muito expulsos de manifestações resolveram mudar de nome) utilizar os vídeos feitos por centenas de pessoas não ligadas ao Fora do Eixo, editá-los, subí-los no canal sob seu selo, e querer capitalizar em cima disso – sem repassar os recursos para as pessoas que realmente filmaram estes vídeos/fizeram estas fotos e textos – inclusive do PM infiltrado mudando de roupa e atirando o molotov - eu já acho bastante discutível eticamente.

Sobre a questão do anonimato nos textos e fotos, acredito que esta prática acaba fazendo com que eles façam exatamente aquilo que criticam na grande mídia: espalham boatos anônimos, sem o menor comprometimento com a verdade, com a pesquisa, com a acuidade dos dados e fatos.

Mas enfim, acho que a discussão é muito mais profunda do que a Midía Ninja em si, apesar deles também se beneficiarem do trabalho escravo daqueles que vivem nas casas Fora do Eixo.

Acredito com este relato estar dando minha contribuição pública à discussão de o que é o Fora do Eixo, como se financiam e sustentam a rede, quais seus lados bons e seus lados perversos, onde é que enganam as pessoas, dizendo-se transparentes, impunemente.

Contribuição esta que acredito ser meu dever público, uma vez que, ao me encantar com a rede, e haver vislumbrado a possibilidade de interagir com cinéfilos do rincões mais distantes do país, que não têm acesso aos bens culturais produzidos ou circulados por aqui, incentivei outros colegas cineastas a fazerem o mesmo. Já conversei pessoalmente com todos aqueles que pude, explicando tudo aquilo que exponho aqui também. Dos cineastas que soube que também liberaram seus filmes para serem exibidos pela rede, nenhum recebeu qualquer feedback destas exibições, sejam em fotos com o número de pessoas no públicos, seja com a tabela de cidades em que passaram, seja de eventuais patrocínio que os exibidores receberam. E como talvez tenha alguém mais com quem eu não tenha conseguido falar pessoalmente, fica aqui registrado o testemunho público sobre minha experiência com a rede Fora do Eixo, para que outras pessoas possam tomar a decisão de forma mais consciente caso queiram ou não colaborar com ela.

Espero que os patrocinadores da rede tomem também conhecimento de todas estas falácias, e cobrem do Fora do Eixo o número exato de participantes, com assinatura dos mesmos, os contratos e recibo de repasse das verbas que recebem aos autores das obras e espetáculos que eles dizem promover. E que jornalistas que investigam o trabalho escravo moderno se debrucem também sobre estas casas: pois acredito que as pessoas que estão lá e querem sair precisam de condições financeiras e psicológicas para isso.

Espero também que mais pessoas tomem coragem para publicar seus relatos (e sei que tem muita gente que poderia fazer o mesmo, mas que tem medo pelos motivos que expliquei a cima), e assim teremos uma polifonia importante para quebrar a máscara de consenso ao redor do Fora do Eixo.


E que, mesmo vivendo em plena era da cultura da publicidade, exijamos “mais integridade, por favor”, entre aquilo que dizem e aquilo que fazem aqueles que querem trabalhar, circular, exibir, criar, representar, pensar ou lutar pelo direito fundamental do Homem de produção e desfrute da diversidade artística e cultural de todas as épocas, em nosso tempo.