segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Reinaldo Azevedo demole Emir Sader

A indicação do alfabeticamente prejudicado Emir Sader para a Casa de Rui Barbosa também é uma agressão aos direitos humanos. Eu provo!

A brutal ignorância de Emir Sader sobre quase tudo, as reiteradas provas que dá de alfabetização deficiente, as espantosas tolices que diz, tudo isso nos leva, muitas vezes, a tratá-lo na base da pilhéria. De fato, como levá-lo a sério? Ocorre que a presidente Dilma Rpousseff está prestes a nomeá-lo presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, o que é um acinte à inteligência e, por que não?, aos direitos humanos.
Sader recorreu ao Twitter hoje para tentar negar que tenha endossado fuzilamentos em Cuba — ou “fusilamentos”, como ele escreve em sua apreensão muito pessoal da ortografia. É mesmo, é?
Em 2003, o tirano Fidel Castro fuzilou com “z” três dissidentes, sem direito a julgamento. Àquela ação, seguiu-se uma onda repressiva, conhecida como “Primavera Negra”, que encarcerou intelectuais, jornalistas e dissidentes do regime — alguns deles foram libertados recentemente, depois da intermediação da Igreja Católica e do governo da Espanha. O Apedeuta, como vocês sabem, comparou presos de consciência a bandidos comuns.
Muito bem! O que fez Emir Sader naquele 2003? Protestou contra os fuzilamentos? Não! Ele resolveu fazer um manifesto em defesa do governo cubano e de Fidel Castro. Entre outros absurdo, lia-se:
“Nós somente possuímos nossa autoridade moral, com a qual apelamos à consciência mundial para evitar uma nova violação dos princípios que guiam a comunidade global das nações. Neste momento, está em marcha uma intensa campanha de desestabilização contra uma nação da América Latina. O acosso contra Cuba pode servir de pretexto para uma invasão. Por isso, exortamos todos os cidadãos e todos os políticos a apoiar os princípios universais de soberania nacional, respeito à integridade territorial e à autodeterminação, essenciais para uma coexistência pacífica e justa entre as nações”
Entenderam? Cuba matava três dissidentes sem julgamento e trancafiava pessoas por crime de opinião, e Emir Sader liderava manifesto em defesa da ditadura. Indagado sobre os fuzilamentos, sabem o que ele respondeu à época?
“Bush também permitiu que dezenas de condenados fossem executados quando era governador do Texas”.
Sou contra a pena de morte. Em qualquer caso. Não sei quantas pessoas morreram nessas condições no Texas entre 1995 e 2000, quando Bush foi governador. O fato é que a punição é adotada por 38 estados. E, obviamente, nada tem a ver com questão política. Também Emir confunde crime comum com crime de consciência.
Assim, não venha este senhor agora dizer que não apoiou os fuzilamentos! Na prática, apoiou, sim! Sua indicação para presidir a Fundação Casa de Rui Barbosa não é uma ofensa apenas à inteligência, muito especialmente à língua portuguesa.  Ela ofende também os direitos humanos, a civilização!
Por Reinaldo Azevedo

“Prezos e çoltos”

Esses leitores…
Perguntei aqui a Emir Sader se quem “fusila” com “s” vai “prezo” com “z”. Resolveram responder em lugar do gigante. “Depende, Reinaldo. Se for petista, fica ‘çolto’”.

Uma pergunta ao “mestre” Emir Sader

Quem “fusila” com “s” é “prezo” com “z”?

Dá emprego pra ele, Dilma! Blog do Emir publica texto que explica por que os judeus foram os culpados pelo nazismo e como Hitler foi vítima desse povo perverso

Já que Dilma Rousseff deve nomear Emir Sader para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, não custa lembrar algumas contribuições do mestre à civilização.
Sader escreve num troço chamado Agência Carta Maior. Comoventes mesmo são alguns comentários de seus leitores, que ele aprovou.
Leiam este, por exemplo, que pede a expropriação dos bens dos judeus no Brasil. Luis José Ariosto Pereira Silva diz:
04/01/2009
Prof Emir, todos sabemos que o Estado Nazista Judeu eh financiado pelos judeus no mundo todo, ok, então o governo do presidente Lula pode tomar medidas contra a agressao de Israel aos palestinos pacificos, as mesmas sendo expropriar as empresas e aplicacoes dos judeus residentes no Brasil, ok, para que o dinheiro nao financie mais o terror, pode ser criado um fundo para auxiliar a Palestina livre com esse dinheiro, ok, basta o governo ser apoiado pela populacao amante da paz do Brasil, a mesma repudia essa postura de agressao do Estado Judeu, ok, e os cúmplices devem ser punidos também, ok!!!!

Alguém que se identifica como Pe. Alberto escreve este mimo (segue no formato original), em que Hitler aparece como vítima dos judeus (sem contar as mentiras grotescas sobre a família do facínora):
ANTÔNIO ALBERTO (Pe.Alberto) MENDES FERREIRA diz: 02/01/2009
Prof. EMIR, PARABÉNS !!!
ALGUNS NÃO TÊM CONSCIÊNCIA CRÍTICA, MAS … NEUTRALIDADE NÃO EXISTE. > ” OS MORNOS SERÃO CUSPIDOS FORA ” - diz a Bíblia -. OS LÍDERES DEVEM CONDENAR ESSE COMPORTAMENTO DESUMANO DO ESTADO DE ISRAEL E DE QUEM O APOIA.
RELIGIÃO À PARTE … OS JUDEUS, APESAR DE TEREM PROVOCADO DIVERSAS TRAGÉDIAS NA HUMANIDADE, PARECE QUE AINDA NÃO APRENDERAM. AO SEREM RETIRADOS DO EXÍLIO, A CAMINHO DA TERRA PROMETIDA, YAHWEH ” TRANSMITIU” OS DEZ MANDAMENTOS - Constituição / Regras do bem viver - A MOISÉS. ANTES, PORÉM, FEZ ESTA INTRODUÇÃO : “LEMBRA-TE , Ó ISRAEL, QUE FOSTES ESCRAVO NO EXÍLIO, CUIDA-TE PARA NÃO OPRIMIRES, TU TAMBÉM, O TEU IRMÃO”
PORÉM, ISRAEL TEM DEMONSTRADO TER A CERVIZ ENDURECIDA, SENÃO- dando alguns saltos na História -, VEJAMOS :
1 - Na diáspora, provocou a destruição de Jerusalém e se tornaram escravos na Babilônia ;
2 - Há dois mil e nove anos, por questões econômicas, fanatismo religioso e legalismo, assassinaram, através de um processo viciado e arbitrário, a JOSHUA, O NAZERENO, porque o ELE disse que os homens eram mais importantes que a Lei e que não deveriam ser submetidos a juros/dízimos egoísticos, escrunchantes. > Deu no que deu… todos nós sabemos. Logo depois, espalharam-se pelo Mundo.
3 - Espalhados pelo mundo, continuaram explorando a humanidade, tanto é que, na Alemanha/Áustria, lá pelos idos de 1900 exploram tanto, através de juros escrunchantes, a um pequeno empreendedor que o levaram à falência e à miséria, inclusive à fome. As filhas daquela casa foram para a prostituição afim de sustentar a família . Seu filho, ainda criança, a tudo isso assistiu, com dor e ódio no coração. Quando esse menino assumiu o Poder, na Alemanha, achando que aqueles cruéis agiotas eram desumanos e, por isso, de raça impura, mandou eliminá-los para purificar a humanidade.

DIANTE DISSO, PODEMOS PERGUNTAR ;
O QUÊ MAIS QUEREM OS JUDEUS ? UMA NOVA TRAGÉDIA ???
Voltei
Seriam os leitores dos Emirados Sáderes apenas um tanto destemperados? Não exatamente. Sentem-se estimulados por coisas assim, escritas por seu mestre:


“Para a imprensa, houve apenas a morte de um dirigente do Hamas. Mas se trata da longa lista de vítimas do novo holocausto, que agora tem a Israel como verdugo, como agente de crimes contra a humanidade.”
Como bem observou um leitor, caso se substituísse, acima, a palavra “judeu” por “negro”, Sader e seus leitores cairiam nas malhas do Ministério Público e seriam, com razão, processados por racismo. O site seria impedido de funcionar, e iria todo mundo em cana. Lembro que o crime é inafiançável e imprescritível.
Encerro
O post acima é de 7 de janeiro de 2009. É só para que fique claro sobre quem e o quê estamos falando. O “Blog do Emir” continua no Carta Maior, que se intitula um “portal de esquerda”. Quando as barbaridades acima foram publicadas, o “portal” era financiado pelo então governo petista do Pará — da tal Ana Júlia Carepa, lembram-se?
Pois bem: essas coisas continuam no ar — não adianta tirar que já fiz PDF. E, agora, quem financia a página é a Petrobras!

Emir abriu a janela através da qual Dilma pode defenestrá-lo se não quiser coonestar um crime contra a cultura

Se Dilma Rousseff tiver juízo, aproveita a agressão gratuita de Emir Sader contra a ministra da Cultura, Ana de Hollanda — de quem será subordinado se for mesmo nomeado presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa — e o defenestra antes de oficializado no cargo. Numa entrevista concedida à Folha, ele chamou Ana de “autista” (ver post abaixo). A barbaridade que disse sobre a origem de Gilberto Gil — o “nego baiano” surpreendentemente, segundo ele, melhor do que o branco Caetano — é outra evidência de inaptidão para o cargo, não fossem os problemas de alfabetização que ele herdou do tempo em que ainda estava no Massinha I…
Mais: Emir está anunciando a intenção de destruir o que ele admite não conhecer — o trabalho da fundação — em nome de uma ação puramente partidária. Se Emir for confirmado no cargo, Dilma estará endossando suas palavras e seus propósitos. Ele abriu a janela através da qual a presidente pode defenestrá-lo. Se ele fica, ela se rebaixa.

Nos Emirados Sáderes, será preciso ajoelhar e rezar…

Os pesquisadores da Casa de Rui Barbosa, nos corredores, ironizam a indicação de Emir Sader para presidir a fundação. A Folha de ontem informa que alguns dizem que será preciso cantar de manhã o hino da Internacional Comunista. Outros afirmam que o jardim onde Rui fazia a sesta será transformado num canavial. No pior cenário, todos teriam de ir cortar cana em Cuba…
Ainda não se chegou ao extremo. No país mental chamado Emirados Sáderes, é possível que os pesquisadores da Casa tenham de se ajoelhar algumas vezes por dia e rezar com o rosto voltado para São Bernardo…

Sader tem de ser demitido antes de ser nomeado; Dilma já fez isso antes

Lembram-se de Pedro Abramovay? Ele tinha sido escolhido pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para presidir a Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Quando Cardozo o indicou, todos sabiam que Abramovay era contra a prisão dos chamados “pequenos traficantes” — seja lá o que isso signifique. Em 2009, ele participara de um grupo no Ministério da Justiça, cujo titular era Tarso Genro (do mesmo grupo de Cardozo no PT), que elaborou uma proposta nesse sentido.
Pois é… Prestes a ser nomeado para o Senad, Abramovay voltou com a tese da não-prisão dos pequenos traficantes numa entrevista ao Globo. Cardozo disse que essa não era a opinião do governo, e Dilma se zangou: mandou demitir o rapaz antes mesmo de nomeá-lo. É bem verdade que Abramovay era aquele que, quando na Secretaria Nacional de Justiça, afirmou não agüentar mais as pressões de Gilberto Carvalho e da então ministra Dilma, pré-candidata à Presidência, para produzir dossiês contra adversários do PT… O nome dele foi parar no caderninho!
De todo modo, o motivo oficial da demissão do não-nomeado foi o fato de ele defender uma proposta contrária, afirmou-se, à política oficial do governo. E Emir Sader? A ele será permitido chamar a ministra a que está subordinado de “autista”? A ele será permitido anunciar o aparelhamento de um órgão do estado, cujo trabalho confessa ignorar?

Emir e o fuzilamento de pessoas e da língua portuguesa

Foram tantas as barbaridades ditas por Emir Sader que algumas acabam escapando. Na conversa com os jornalistas da Folha, ele falou sobre a importância de discutir direitos humanos, anistia, Comissão da Verdade etc. Os repórteres quiseram saber se isso também valia para Cuba. Sabem o que ele respondeu?
“É diferente a polarização cubana. É tão ‘Guerra Fria’ ainda, contra e a favor, que quem sai vai de tal maneira para a direita… Se é que não acaba em Miami”.
Entenderam? Os “direitistas” de Cuba não têm direito aos… direitos humanos!!!
Em 2003, Emir Sader defendeu o fuzilamento sumário de três dissidentes cubanos. Considerou uma prova da soberania do país. Até o arquicomunista José Saramago, então, criticou o tirano: “Até aqui fui com Fidel, mas agora não dá mais…” Depois fez as pazes. É bem verdade que o “até aqui” de Saramago já somava cem mil mortos.
Emir foi mais prático: três mortes a mais, três a menos não fazem diferença.
Analfabetismo continuado
No Twitter, Emir não perdoou e resolveu fuzilar a língua portuguesa mais uma vez:
Na linha de Goebbels da Velha Midia, repetem que eu teria apoiado fusilamentos em Cuba.Provem. Eles acobertaram os fusilamentos da ditadura.
Ele escreveu “fusilamentos” com “s”, duas vezes! E vai presidir a Fundação Casa de Rui Barbosa. Seu lugar é uma sala de alfabetização do antigo Mobral.

O petista Emir Sader, o racismo e a estupidez. Ou: Futuro presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa chama sua chefe de “autista” e diz seguir orientação de Dilma

O caderno “Ilustríssima”, da Folha, trouxe neste domingo um excelente texto de Marcelo Bortoloti e Paulo Werneck sobre a Fundação Casa de Rui Barbosa, que vai ser presidida pelo petista Emir Sader, acusado por alguns de sociólogo e intelectual. Há alguns anos considero este senhor um país mental, a que dei o nome de “Emirados Sáderes”. O texto da Folha, intitulado “Um emirado para Emir”, seguiu ao menos um pedaço dessa trilha. Já escrevi três posts sobre a indicação do bruto para a fundação: dois no dia 18 — “Abaixo o preconceito! Tiririca para a Casa de Rui Barbosa!” e  ”Sader, o novo presidente da Casa de Rui Barbosa, se diz um especialista acadêmico em “Lula”!!! É mole?” — e um no dia 24: “Um país mental chamado Emirados Sáderes. Ou: A Madraçal do Emir“. Se era para escolher um quase analfabeto para a instituição, por que não o palhaço que é campeão de votos?
O “professor” já havia barbarizado numa entrevista ao jornal O Globo ao anunciar a pretensão de transformar Slavoj Zizek, Eduardo Galeano e Marilena Chaui em referências da reflexão na Casa. A grande ousadia de Zizek é justificar o terrorismo como uma moderna forma de luta política. Lixo moral! Marilena e Galeano são dois dinossauros daquela esquerda que alguns chamam “carnívora”, mas que, estou certo, é “herbívora”, já que pensa com os pés no chão — os quatro… Falarei um pouco mais da instituição abaixo. Quero me fixar um tantinho em Emir. Na conversa com a Folha, ele exagerou na delinqüência intelectual e, é o caso de avaliar, pode ter cometido um crime que dá cadeia, cuja pena é inafiançável e imprescritível: racismo. E nem é necessário que alguém o acuse disso. Se quiser, o próprio Ministério Público tem a prerrogativa de denunciá-lo. Por que escrevo isso?
Caetano Veloso, em sua coluna no jornal O Globo, criticou a entrevista que Emir dera ao jornal, inclusive a intenção de levar aqueles intelectuais para a fundação. À Folha, Emir comentou a opinião do compositor nestes termos:
“O Caetano ziguezagueia, fala qualquer coisa. O Gil foi ministro tem que ter mais coerência, tem que fazer política. Quem diria que aquele nego baiano tem muito mais articulação do que o Caetano?”
Epa!!!
Alguém aí tem alguma interpretação alternativa para o que disse Emir Sader? Ele até emenda depois: “O Caetano é um cara conservador, tradicional, e o Gil é um cara inovador, com o qual eu me identifico”. Pode até ser. Mas as palavras têm sentido. Quando este gigante do pensamento considera um paradoxo, e ele considera, um “nego baiano” ter “mais articulação” do que Caetano, está afirmando, evidentemente, que o normal é que “negos baianos” não sejam tão articulados quanto brancos baianos. O seu “quem diria?” expressa o que ele considera ser uma contradição. A frase me parece inequivocamente racista, além de revelar uma das muitas ignorâncias de Emir. O pai do “nego baiano” era um médico bem-sucedido, e ele próprio era formado em administração de empresas quando se lançou na vida artística. Não é alguém que endosse o folclore do “nego baiano” saído do Pelourinho para o estrelato. Na seqüência, quando elogia o “inovador” Gil, ainda parece fazê-lo à esteira daquele suposto paradoxo. Dessem duas cachaças ao valente, haveria o risco de dizer: “Eu, embora branco, me identifico mais com Gil…”
Instituição respeitável
Essa foi uma das barbaridades ditas por Emir na conversa com os jornalistas da Folha. É espantoso que este senhor esteja para dirigir uma instituição federal respeitável, que tem passado e tem presente. Lembra o texto da Folha:
É vasta a lista de trabalhos relevantes lá realizados. Para citar apenas alguns exemplos, foi ali que Antonio Houaiss escreveu um monumento sobre edição de livros no país: “Elementos de Bibliologia” (1967). Também foram realizados trabalhos relevantes na área de filologia, como o “Vocabulário do Português Medieval”, de Antônio Geraldo da Cunha, e o levantamento de manuscritos de autores como Álvares de Azevedo, José de Alencar e Cruz e Souza.
Mais recentemente, foi feito o preparo de uma edição crítica dos primeiros livros de poesia de Carlos Drummond de Andrade, por Júlio Castañon Guimarães, que também assina o estabelecimento de texto do volume de “Crônicas Inéditas” de Manuel Bandeira (Cosac Naify). A produção de Drummond para os jornais ainda inédita em livro foi levantada pela pesquisadora Isabel Travancas.
Emir quer mudar tudo! Para ele, a Fundação Casa de Rui Barbosa tem de ser um centro de reflexão sobre o… lulismo! Não se trata de uma brincadeira nem de um resumo apressado. E sabem em quem ele se escora para justificar essa escolha? Na presidente Dilma Rousseff. Numa entrevista que a então candidata concedeu ao próprio Emir e a Marco Aurélio Garcia — sim, o Top, Top —, que virou livro, ela teria dito:
“Vocês têm que teorizar esse troço, nós estamos fazendo. Nós não temos tempo de pensar os limites, as contradições, os potenciais”.
O “vocês” são os “intelectuais” da estirpe de Emir; “esse troço” é o lulo-petismo. Indicado para presidir a Fundação, este iluminado acha que uma instituição dedicada à preservação de acervos literários e pesquisas históricas deve se converter num centro de louvação da herança lulista.
Confissão de ignorância
Os Emirados Sáderes ainda não invadiram a Fundação Casa de Rui Barbosa. A nomeação está para a acontecer. Embora ele queira mudar tudo por lá, confessa ignorar o trabalho que se faz na instituição que vai dirigir. Leiam isto:
O que Emir Sader destaca na produção da Casa Rui? “Eu vou fazer injustiças… A [historiadora] Isabel Lustosa faz um trabalho legal, a [crítica literária] Flora Süssekind… Mas aí é dizer mais ou menos o óbvio, né. A Lia Calabre, na parte de políticas culturais… Eu não conheço direito, não conheço por ignorância minha, mas não conheço por intranscendência da Casa. Você olha aquilo lá e não sabe em que momento do país aquilo foi produzido. Eu também não me informei muito. As coisas da casa não chegaram a mim. E lá de dentro não saiu essa transcendência, de colocar temas importantes”.
Eu vivo gozando da ignorância de Emir. Ele pensa mal, escreve mal, cita mal — já participei de um debate com ele em que atribuiu a Adam Smith o que este nunca dissera; um dos presentes insistiu para Emir revelar a fonte da citação; não existia; foi muito constrangedor! Noto, ao ler o trecho acima, que ele ignora o significado da palavra “transcendência” em todas as suas acepções. O que quer dizer, meu Deus!, “sair transcendência lá de dentro?” Imaginem, então, o que vem a ser a “intranscendência”, uma surpresa até para os dicionários…
E, obviamente, destaco a vigarice intelectual de quem confessa ignorar o trabalho que se faz na instituição que vai presidir, embora tenha demonstrado a intenção de mudar o rumo do trabalho. É o fim da linha!
De como Emir não foi ministro
Emir Sader queria ser ministro. Ele se mobilizou para isso. Ele puxou o saco para isso. Ele organizou um manifesto de intelectuais e artistas em favor de Dilma para isso. Mas cometeu um erro fatal. Convidou Chico Buarque para ser a grande estrela do movimento, e a ministra, como sabem, é Ana de Hollanda, irmã do colecionador de Jabutis em cima da árvores. O homem está frustrado. A Fundação Casa de Rui Barbosa é subordinada ao Ministério da Cultura. Assim que for nomeado, Ana passa a ser a chefe de Emir. Ele não contém seu ressentimento. Na entrevista à Folha, referiu-se ao corte do Orçamento nestes termos:
“Tem o corte, o orçamento é menor, e tem dívidas. Desde março, não se repassou nada aos Pontos de Cultura. Teve uma manifestação em Brasília. Está estourando na mão da [ministra] Ana [de Hollanda] porque ela fica quieta, é meio autista.”
É isto: Emir Sader acha que sua futura chefe é meio “autista”.
Este notável intelectual será nomeado para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa na cota pessoal do Babalorixá de Banânia. Não escamoteia sua ignorância nem seus propósitos. A idéia é mesmo transformar a instituição numa divisão do PT. Repetindo aquelas que seriam palavras da própria presidente, não poupa nem mesmo a ministra da Cultura, petista como ele. Imaginem o que fará com a linha de pesquisa que não endossa seus preconceitos ideológicos.
Até outro dia, os adversários do PT se encarregavam de acusar o partido de aparelhar órgãos do estado. Eles negavam. Agora, há uma advertência, um aviso prévio: “Vamos aparelhar, sim!”  Emir diz que transformará a entidade numa divisão do partido e deixa claro que não se subordinará nem àquela que será sua chefe.
Com a palavra, a presidente Dilma Rousseff, cuja diretriz ele diz estar obedecendo.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Estadão: Dezoito presidentes de Assembleias Legislativas têm mais de R$ 1 milhão

Alfredo Junqueira

Dados dos parlamentares declarados no Tribunal Superior Eleitoral revelam que, em quatro anos, os deputados que presidiram os Legislativos estaduais tiveram crescimento patrimonial de 52,6%; o mais rico deles, de Goiás, tem hoje R$3,7 milhões

Dos 27 deputados estaduais que comandam atualmente as Assembleias Legislativas de seus Estados, 13 apresentaram expressiva evolução patrimonial nos últimos quatro anos. Onze tiveram crescimento acima de 100%. Outros dois declararam patrimônio zerado em 2006 e entregaram certidões com valores acima de R$ 100 mil no ano passado.

Levantamento feito pelo Estado na base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra ainda que 18 presidentes de Legislativos estaduais declararam ter patrimônio pessoal acima de R$ 1 milhão.

A riqueza desses 27 deputados soma R$ 37,7 milhões. Há quatro anos, esses mesmos parlamentares totalizavam um patrimônio de R$ 24,7 milhões em imóveis, veículos, aplicações financeiras, dinheiro guardado em casa, entre outros. Em um mandato, o patrimônio deles cresceu 52,6%.

Entre os que apresentaram maior crescimento patrimonial, o líder é o deputado Cabo Patrício (PT), que comanda a Câmara do Distrito Federal.

O parlamentar passou de R$ 6 mil para R$ 137,4 mil em quatro anos - crescimento de 2.190%. Em seguida, aparece o novo presidente da Assembleia do Espírito Santo, Rodrigo Chamoun (PSB), que passou de R$ 63,3 mil para R$ 290 mil - ou 358,13%.

Élson Santiago (PP), que comanda o Legislativo do Acre, Gelson Merisio (DEM), chefe da Assembleia catarinense, e Marcelo Nilo (PDT), presidente da Assembleia da Bahia, completam o ranking dos que tiveram maior evolução patrimonial.

Os bens de Santiago saltaram de R$ 505,6 mil para R$ 1,47 milhão, crescimento de 190,72%. O patrimônio de Merisio foi de R$ 434,2 mil para R$ 1,23 milhão, uma evolução de 185%. Já Nilo declarou bens que somavam R$ 895,2 mil em 2006 e R$ 2,28 milhões no ano passado - aumento de 155,46%.

Na lista dos presidentes de Assembleias que tiveram crescimento patrimonial acima de 100% ainda constam: Angélica Guimarães (PSC), de Sergipe, com 144,13%; Jerson Domingos (PMDB), de Mato Grosso do Sul, 126,73%; Paulo Melo (PMDB), do Rio de Janeiro, 116,72%; Guilherme Uchoa (PDT), de Pernambuco, 116,67%; Fernando Toledo (PSDB), de Alagoas, 102,58%; e Valter Araujo (PTB), de Rondônia, com 100,19%.

Ainda em termos de evolução no valor declarado de bens, também chama atenção o caso de Ricardo Marcelo(PSDB), presidente da Assembleia da Paraíba. Em 2006, a certidão entregue pelo parlamentar à Justiça Eleitoral não atribuía valores aos seus bens. No ano passado, o parlamentar paraibano informou ter R$ 1,05 milhão em veículos, embarcações, terrenos e quotas de capital de empresas.

O chefe da Assembleia do Amapá, Moisés Souza (PSC), declarou não ter bens em 2006. Mas, no ano passado, apresentou certidão em que consta a propriedade de uma casa e participações acionárias em duas empresas, totalizando R$ 110 mil.

Milionários. O presidente de Assembleia mais rico é Jardel Sebba (PSDB), de Goiás. Seu patrimônio declarado é de R$ 3,69 milhões. Figuram ainda no ranking dos chefes de Legislativo mais abastados os já citados Jerson Domingos, com R$ 3,45 milhões, e Paulo Melo, com R$ 3,40 milhões. O que tem menos posses, de acordo com o TSE, é Ricardo Nicolau (PRP), presidente da Assembleia do Amazonas. O parlamentar informou à Justiça Eleitoral não ter bem algum.

Entre os 27 atuais presidentes de Assembleias, 20 informaram ter a política como sua principal ocupação. Nas fichas entregues à Justiça Eleitoral, esses parlamentares registraram a palavra "deputado" como profissão.

Profissões. Além de políticos profissionais, os parlamentos estaduais são comandados por um advogado, José Antonio Barros Munhoz (PSDB), atual presidente da Assembleia de São Paulo - único parlamento estadual do País que dá posse aos deputados e elege a nova Mesa Diretora apenas em março -; um empresário, Ricardo Mota (PMN-RN); um economista, Fernando Toledo (PSDB-AL); um pecuarista, Jerson Domingos; e um servidor público federal, Raimundo Moreira (PSDB-TO).

Paulo Melo (PMDB-RJ) e Guilherme Uchoa (PDT-PE) informaram "outros" no espaço reservado para descrever suas respectivas ocupações.

Campanhas. Os 27 presidentes de Assembleias Legislativas do País gastaram R$ 16,45 milhões em suas campanhas - o que equivale a uma média de R$ 609,5 mil. A candidatura que mais despendeu recursos foi a de Barros Munhoz, com R$ 2,47 milhões.

Em termos proporcionais, a campanha mais cara foi a do chefe do Legislativo de Roraima, Chico Guerra (PSDB), que gastou R$ 269 mil e obteve 4.592 votos - R$ 58,58 por voto.

A maior parte dos recursos recebidos por esses parlamentares veio de "doações ocultas" - repasses de valores dos diretórios partidários às campanhas sem a identificação do doador original. No total, R$ 4,68 milhões de receitas apuradas por esses parlamentares vieram de doações ocultas - ou 28,43% do total. Indústrias (14,2%), construtoras (10,6%) e comércio (9,8%) estão entre os principais doadores.

Base de apoio. Em apenas três Estados os presidentes das Assembleias Legislativas eleitos não são aqueles que foram apoiados pelo governador.

A situação mais complicada é a de Roseana Sarney (PMDB), no Maranhão. O novo chefe do Legislativo local é Marcelo Tavares (PSB), eleito na aliança liderada pelo ex-deputado federal Flávio Dino (PC do B) - principal opositor de Roseana na campanha de 2010. Situações semelhantes ocorrem no Amapá e em Rondônia, onde os candidatos apoiados pelos governadores Camilo Capiberibe (PSB) e Confúcio Moura (PMDB), respectivamente, foram derrotados por Moisés Souza (PSC) e Valter Araujo (PTB).

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Fernando Henrique Cardoso: entrevista a Sonia Racy, no Estadão

O Brasil estreia no quesito mulher-presidente. Dilma exercerá o poder de maneira diferente se comparada a um homem? Como é sair do poder? Lula tem deixado claro que não está nada fácil adaptar-se à nova rotina. “É como se você estivesse dirigindo a 300 por hora, desse um cavalo de pau e, de repente, o carro parasse no meio da estrada”, declarou ele ao amigo Ricardo Kotscho, semana passada. Depois de anos, como se diz em Brasília, sem precisar tocar em uma maçaneta, o ex-presidente volta agora para lugares e pessoas que já fizeram parte do seu dia a dia. Traz sua transformação pessoal para um ambiente onde, provavelmente, muito pouco mudou.

Lula optou por não se afastar do País. Quando deixou o poder, Fernando Henrique Cardoso, acompanhado de dona Ruth, decidiu sumir do Brasil e escolheu a França para passar três meses. Ali se habituou novamente a comprar jornal, fazer café, andar nas ruas e pegar metrô. Mesmo assim, segundo admite, a passagem é complicada.

FHC recebeu a coluna, na tarde de quarta-feira, para falar sobre poder na condição de ex-presidente e sociólogo. O poder corrompe ou revela o caráter de uma pessoa? Para o intelectual, ele “mais revela” do que transforma. Ou seja, para FHC, a ocasião não faz o ladrão. Aqui vão os principais trechos da conversa.

Qual a diferença entre o poder exercido por uma mulher e por um homem?

Depende. Se a mulher sobe com esta característica, porque é mulher e lutou, é uma coisa. Se sobe porque competiu com outros homens e mulheres de igual para igual, é outra. Ela fica mais dura. No caso atual, a presidente Dilma nunca foi feminista, nunca se apresentou como tal. Nem é uma política. É uma técnica que subiu na base do jogo que aí está. Portanto, não sei se haverá diferença.

Mas ela é mulher. E mulheres são diferentes. O comando de Dilma terá qual componente feminino?

Vamos ver. Ela chegou lá pelas virtudes da profissão, da política, da coisa de tecnicalidade e não pelas características de personalidade. Então, não sei se esse lado da mulher adjetiva vai florescer.

Para se ter poder é necessário, de fato, aparentar poder?

Em geral, sim, mas não necessariamente. Muitas vezes você tem que disfarçar o poder para exercê-lo. A tradição brasileira é muito mais de disfarçar do que de aparentar. Getúlio fazia, por exemplo, dizia que ia fazer algo e ia para um outro lado. Acho que, em geral, quem tem consciência do poder não vai exibi-lo. Ao exibir, abre o jogo e cria o contra corpo.

Lula exerceu o poder por meio da popularidade?

Ele parecia gostar da exterioridade do poder muito mais do que da eficácia de uma decisão. Gostava do aplauso. É uma forma de exercer o poder. Mas nunca vi no Lula um homem de Estado, um poder no sentido mais forte, daquele que tem visão, sabe que tem que alcançar seus objetivos e constrói o caminho. Ele construiu o poder para si mesmo.

Ele não tinha um projeto para o Brasil?

O que tinha, esqueceu no caminho. Adotou o que existia, não o que ele havia proposto. Até me pareceu interessante o Lula no Fórum Social no Senegal, que é o fórum contra a globalização. Ora, o Lula foi o presidente que mais ajudou o Brasil a se globalizar. Aderiu inteiramente. Eu não estou criticando por ele ter feito a adesão. Estou criticando a mudança, essa inconsistência. Ele não tinha um propósito. Este já havia sido dado pela sociedade. Ele assumiu aquilo e como que surfou na direção que a sociedade estava apontando. Não contrariou para mostrar que tinha um objetivo e a força de mudar algo em curso para chegar ao seu objetivo.

No mundo, as pessoas hoje pensam mais no poder do que em um projeto de Nação?

Vamos pegar o que aconteceu nos Estados Unidos no século 18. Bem ou mal, aqueles líderes definiram um caminho, criaram a declaração universal da democracia, a Constituição americana, adotaram as concepções de Montesquieu e por aí foram. Tinham uma visão de futuro e aquilo marcou tudo. Mesmo um tipo como Napoleão, que é o oposto da coisa americana. Aqui, José Bonifácio tinha essa percepção e sabia o que queria. D. Pedro II, se não tinha uma visão, alguma ideia ele tinha de que tinha que civilizar isso aqui. Eu acho que alguns presidentes brasileiros tiveram, como o Getúlio: você pode não concordar com a visão dele, mas ele tinha noção de Estado herdada dos positivistas, autoritária e tal. Alguns tiveram uma certa noção, desenharam o que era possível para o País, mesmo que não tivessem uma coisa tão fundamental como os grandes pensadores americanos.

Obama tinha um projeto quando se elegeu?

Não. O Obama tinha um discurso: “Sim, nós podemos”. Podemos o quê? Nesse aspecto, ele tem uma certa semelhança com o Lula, porque os dois simbolizavam alguma coisa. Não é que tivessem que ter uma proposta. Eles próprios já simbolizavam mais democratização: venho de baixo e chego lá, sou negro e chego lá. Aquele discurso admirável do Obama sobre racismo é uma coisa grandiosa. Mas não é um projeto de Nação. Ele também chegou lá e fez uma tentativa de melhorar o bem-estar da população com seu projeto de saúde. Conseguiu mais ou menos, não tudo que queria. E ficou perdido por isso, passou a ter que resolver os problemas deixados por outros. Ou seja, como enfrentar a crise do capitalismo com os instrumentos disponíveis? Daí por diante, inundou o mundo de dólares, salvou os bancos. Não creio que fosse projeto dele. Foi engolfado pela situação.

O senhor acha que Dilma assumiu o poder com um projeto?

Acho que não. Ela nunca falou à Nação sobre isso. Vai tocando no dia a dia. Qual é o projeto? O que está bem, que continue. Acabar com a pobreza, todos nós dissemos isso e todos nós fizemos um pouco nessa direção. Não só eu, antes de mim também o Itamar, o Sarney, os militares. Isso não é um projeto de Nação: é uma necessidade. Não podemos ter um País com esse grau de pobreza. Nesse momento em que ninguém pode mais ter um projeto desligado do mundo, visto que o grande problema hoje é ligado à globalização, não dá para você ter um caminho que não incida e sofra as consequências do mundo. Temos que discutir estratégias.

Em entrevista à Globo News, o senhor definiu o poder como duro, difícil e sofrido. Qual é o real poder de um presidente no Brasil?

É o de convencimento. Ele tem de convencer o País e o Congresso a ir num certo rumo. Caso contrário, as forças constituídas não mudam nada, ficam repetindo o que elas são. Para exercer de fato o poder no sentido pleno, ao exercê-lo, ele tem que mudar as coisas numa determinada direção. Fora disso, não consegue. A sociedade tem que cobrar mais. O que a sociedade quer? Se o presidente tiver visão das coisas, ele pode até capitanear a mudança, mas ela nunca é dada só pela vontade do presidente. Ela capota diante das instituições e da tradição do que está estabelecido.

Existe uma versão “criminalizadora” da política e do poder, sugerindo que pessoas boas entram na política e aí se tornam más e corruptas. Poder corrompe ou revela o caráter?

Mais revela. É claro que o poder absoluto dá mais chances aos mais fracos de ficarem maus. Veja, vamos falar português claro: uma pessoa que tem posição de mando (não precisa ser presidente) tem enormes possibilidades de enriquecer. Ele tem informações e pode usá-las. O que freia isso, o que inibe? É você mesmo. Quando você não o faz, é você mesmo que deixa de fazê-lo. Não é que o poder está impedindo. Então, acho que poder revela muito mais do que cria ou deforma. É claro que a permanência no poder deforma, porque essas chances vão se repetindo, repetindo… e aí chega um momento em que o risco de você incorrer em erro é maior.

Vou lembrar a frase de que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Antes de corromper, o poder não deslumbra?

A muita gente, sim. Vou falar em termos pessoais: eu nunca me deslumbrei.

Quem o conhece, diz que o senhor era uma pessoa antes de assumir o poder, a mesma pessoa durante e a mesma quando saiu. Mas dentro do senhor, o que mudou no exercício do poder?

Dentro muda. Você vê que as coisas são muito mais difíceis do que você pensava. Você vê que a ambição humana é muito maior do que imagina. Pessoas que são próximas, e você nunca vislumbrou a possibilidade de elas terem uma ambição desproporcional, pedem a você o que não devem pedir. O poder dá uma percepção talvez mais realista do ser humano.

Como isso mudou o senhor como pessoa?

Talvez endureça um pouco, porque você desconfia, a pessoa vai te procurar e você pensa: “O que será que ela quer?”. Em vez de partir do princípio de que não quer nada que seja negativo. Começa a ficar com um pé atrás, fica esperto, astuto para o mal que possa vir. Mal no sentido do inapropriado. A Ruth pesou muito também no meu estilo, porque era muito direta, muito simples, sempre teve horror de ostentação de poder e dessas coisas. Minha família não ficou deslumbrada. Até hoje, quem são os meus amigos mais próximos? São os da universidade, que eu já tinha antes. Com quem eu convivo? Com as pessoas que sempre convivi. É claro que acrescentei, mas nunca mudei de grupo, de camada, de círculo.

Quando o senhor saiu do poder, teve síndrome de abstinência?

Não, não tive. E tomamos uma resolução, Ruth e eu. Imediatamente saímos do Brasil. Por três meses ficamos na França e tomamos decisões claras: não vamos ter automóvel, segurança, assessores. Vinha um rapaz da embaixada brasileira uma ou duas vezes por semana trazer correspondência e conversar. Andei de metrô. Fiz isso logo para me dizer: não sou mais presidente. E passei a desfrutar das coisas que eu gosto. Ir a museus, comprar livros, comecei a me preparar para escrever um livro, via meus amigos, ia comer em restaurantes que eu gostava, ia ao teatro, andava a pé. Foi uma terapia de choque, digamos assim.

Como é o poder para o senhor hoje em dia?

Hoje não tenho poder nenhum. Posso ter é influência, que é uma outra coisa. É a capacidade de a partir do que você fala e faz, influenciar o comportamento de terceiros. Poder é quando você pode obrigar, eu decreto tal coisa e passa a valer. Você tem a capacidade de coagir o outro, pela lei no caso da democracia, mas mesmo a lei está baseada na força, tem autoridade.

O poder leva ao autoengano? Por exemplo, muita gente critica que o senhor deveria ter feito muito mais marketing dos coisas que conseguiu fazer durante seu governo, em lugar de esperar que a própria história lhe fizesse justiça.

É possível que o poder iluda. No caso do marketing, eu mesmo tinha muita resistência. Por outro lado, naquela época isso não seria tolerável, as finanças não eram tão favoráveis assim. A Bolsa Escola, por exemplo, foi a origem de todas as bolsas. Distribuímos 5 milhões de bolsas e eu não usei isso como se fosse dádiva.

O senhor apostava em reconhecimento natural do seu governo?

Eu não estava nem pensando nisso. Tinha uma dúvida profunda, não sabia se estava constituindo um começo ou um interregno. Eu dizia, essas coisas que nós estamos fazendo, eu não sei se é o começo de uma mudança ou se é um momento que depois vai regredir. Vendo hoje, algumas coisas foram um começo, a estabilidade foi uma delas, assim como a área social. Outras foram um interregno, como a concepção de secularizar mais a política e não ficar nessa coisa patrimonialista.

Mas e o marketing?

Nunca tive a preocupação de fazer propaganda em termos pessoais, realmente não pensei. Alguém me perguntou como vou ser visto daqui a 100 anos. Será que eu serei visto? E se eu for bem-visto, estarei morto. De que adianta? (risos) E tem o seguinte: a História modifica o julgamento. Dependendo de cada momento da História, você é bom ou é mau, isso vai variando. Se você fez alguma coisa que mereça ser vista por ela, ótimo. Mas isso não quer dizer que sua posição está assegurada, porque alguns vão dizer que foi bom e outros que foi mau. Depois muda a geração, o que era bom virou mau, o que era mau virou bom. Isso é muito comum, não só no poder. Eu estava lendo hoje numa revista: “Baudelaire não conheceu a glória quando vivo”. Pode ser. Mas de que adianta conhecer a glória morto?

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Felipe Recondo: Censura aos meios de comunicação pode ter sido comprada

A censura imposta ao Estado e mais 83 meios de comunicação em setembro do ano passado pelo desembargador Liberato Póvoa, do Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE-TO), pode ter sido comprada. Ofício encaminhado pela Polícia Federal no ano passado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) revela a existência de indícios de “comércio de decisões judiciais”, inclusive no caso da “censura dos meios de comunicação”.

A liminar, concedida às vésperas das eleições do ano passado, impedia a publicação de notícias sobre a investigação do Ministério Público de São Paulo que citava o então governador Carlos Gaguim (PMDB) como integrante de organização criminosa montada para supostamente fraudar licitações. A decisão impedia também a publicação de dados sobre o lobista Maurício Manduca. Aliado e amigo do então governador, Manduca foi preso no ano passado. A censura atingiu 8 jornais, 11 emissoras de TV, 5 sites, 40 rádios comunitárias e 20 comerciais. Se a decisão fosse descumprida, seria aplicada multa diária de R$ 10 mil.

Os indícios de venda dessa decisão e de pelo menos mais outras seis sentenças levaram o ministro João Otávio de Noronha, do STJ, a autorizar a PF a grampear os telefones de Póvoa e do vice-presidente do Tribunal de Justiça de Tocantins, Carlos Luiz de Souza. A investigação acabou por reforçar os indícios da venda de decisões no TJ, em especial para a liberação célere de precatórios milionários, e acabou por chegar também à presidente do tribunal, Willmara Leila de Almeida.

Esses indícios poderão se tornar provas quando a PF receber dados obtidos com a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos investigados. Será possível, com isso, identificar se os desembargadores receberam um porcentual do valor dos precatórios como forma de agilizar a liberação dos recursos.

Para não atrapalhar as investigações e prejudicar a imagem do Judiciário, a Corte Especial do STJ determinou, em dezembro passado, o afastamento por 180 dias dos três desembargadores. Todos foram também proibidos de entrar nos prédios do TJ e do Tribunal Regional Eleitoral para não atrapalhar as investigações.

A Polícia Federal chegou a pedir a prisão preventiva de Liberato Póvoa e Carlos Souza. Os investigadores argumentavam que o suposto esquema de negociação de sentenças ocorria desde 2007 e que os investigados, conforme mostravam as interceptações telefônicas, continuavam a manter contatos frequentes. Mas Noronha avaliou não haver provas suficientes do suposto esquema que envolveria, além dos desembargadores, advogados e assessores do tribunal.

“É certo que os fatos que estão sendo investigados pela Polícia Federal são de extrema gravidade, mas, até o momento, as provas obtidas apenas indicam eventual participação dos desembargadores nas negociações de decisões judiciais, não havendo sido definido se o grupo formado pelos advogados está apenas explorando o prestígio alheio”, afirmou Noronha em seu voto, publicado no final da semana passada. “Contudo, se por um lado, os elementos até então não são suficientes a ensejar o decreto de prisão, por outro, não se pode olvidar que dão notícias de situação que, se ocorrente, abala a estrutura do Poder Judiciário”, acrescentou.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Lista dos envolvidos no Mensalão – com as respectivas acusações que lhes cabem

Do PT

Em ordem alfabética.

* Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, assumiu para si toda a responsabilidade de arquitetar e executar o esquema de financiamento ilegal do PT e de outros partidos aliados com a ajuda de Marcos Valério. Delúbio disse que nem a direção do PT, nem o ministro José Dirceu conheciam a origem dos recursos obtidos com Marcos Valério. Ele alega que estes recursos seriam pagos e que serviram para o pagamento de despesas “não contabilizadas” das campanhas eleitorais de 2002 e 2004 do PT e dos partidos aliados. A versão foi endossada por Valério. Afastou-se do cargo após as denúncias.

* Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os irmãos do Prefeito Celso Daniel dizem que Carvalho transportava malas de dinheiro do esquema de corrupção montado na Prefeitura de Santo André para o então presidente do PT José Dirceu.

* João Magno (PT-MG), Disse que recebeu dinheiro das contas de Marcos Valério, seguindo a orientação do tesoureiro Delúbio Soares.

* João Paulo Cunha (PT-SP), deputado federal, ex-presidente da Câmara. Dois assessores do deputado mais a sua esposa visitaram o Banco Rural no Brasília Shopping. O deputado disse à CPI dos Correios que sua mulher foi ao banco pagar uma prestação de TV a cabo. A diretora financeira da SMPB (empresa de Marcos Valério), Simone Vasconcelos, disse para a Polícia Federal que João Paulo Cunha recebeu R$ 200 mil de ajuda do empresário. Em seguida, documentos enviados pelo Banco Rural mostraram que a esposa de Paulo Cunha sacou R$ 50 mil. Marcos Valério retificou a lista de Simone Vasconcelos e disse que Paulo Cunha recebeu só R$ 50 mil. Porém, Valério não explicou onde foram parar os outros R$ 150 mil.

* José Adalberto Vieira da Silva (PT-CE), preso pela Polícia Federal com US$ 100.000,00 na cueca, assessor do deputado José Nobre Guimarães.

* José Dirceu, acusado por Jefferson de ser o “mandante” e o “cérebro do maior sistema de corrupção da história da República”, nega categoricamente as acusações, afirmando desconhecer totalmente o esquema de empréstimos e pagamento a deputados. Demitiu-se do cargo de Ministro Chefe da Casa Civil, reocupando seu mandato de Deputado Federal e passando a dedicar-se totalmente à sua defesa no processo de cassação por quebra de decoro parlamentar contra ele aberto na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. José Dirceu teve seu cargo cassado pela Câmara dos Deputados na noite do dia 30 de novembro de 2005 para a madrugada do dia 1º de dezembro de 2005. Os votos a favor da cassação foram 293.

* José Genoíno, ex-presidente do PT. Denunciado por utilizar Marcos Valério como fiador de empréstimos ao PT junto aos bancos do Brasil, Banco Rural e BMG. Também paira sobre ele a suspeita dos doláres apreendidos na cueca do assessor de seu irmão, o deputado José Guimarães. Renunciou à presidência do PT após o escândalo.

* José Mentor (PT-SP), teve atuação polêmica como relator da CPI do Banestado, quando fez sumir, inexplicavelmente, as menções ao Banco Rural no relatório final da CPI. Seu escritório de advocacia recebeu R$ 60 mil de uma conta no Rural de uma empresa de Marcos Valério.

* José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão de José Genoíno, teve seu assessor flagrado com US$ 100.000,00 na cueca, além de R$ 200.000,00 na mala. O deputado Guimarães também é acusado do recebimento de R$ 250.000,00 das contas de Marcos Valério.,

* Josias Gomes (PT - BA), suspeito de retirar, pessoalmente, a quantia de R$ 100 mil das contas de Marcos Valério.

* Juscelino Dourado, chefe de gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Pediu demissão em setembro de 2005 em meio a denúncias de que teria participado ao lado de Rogério Buratti e Vladimir Poleto de operações de tráfico de influência no Ministério da Fazenda. ,,

* Luiz Gushiken, ex-dirigente da SECOM (Secretária de Comunicação, até então com status de ministério), que indicava dirigentes para os fundos de pensão. Acusado de favorecimento de uma corretora de seus ex-sócios ligada a fundos de pensão. Os bancos BMG e Rural são suspeitos de lucrar indevidamente com os fundos.,,,

* Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) segundo Duda Mendonça em declaração a Veja Lula supostamente teria conhecimento do escândalo de caixa dois do PT, e não denunciou. Lula alegou durante muito tempo ser completamente ignorante sobre o esquema, tendo sido apenas em meados do fim do segundo mantato que admitiu estar ciente desde 2005.

* Marcelo Sereno, ex-secretário de Comunicações do PT. Demitiu-se após o escândalo.

* Paulo Rocha (PT-PA), deputado federal, ex-líder do PT na Câmara. Sua assessora foi ao Banco Rural onde fez saques das contas de Marcos Valério no valor de R$ 920 mil. Renunciou à liderança do partido e mais tarde ao cargo de deputado para fugir à cassação.

* Professor Luizinho (PT-SP), deputado federal, ex-líder do governo na Câmara, teve um assessor que recebeu R$ 20 mil de Marcos Valério.

* Raimundo Ferreira Silva Júnior, vice-presidente do PT no Distrito Federal. Trabalhava no gabinete do deputado Paulo Delgado (PT-MG). Também sacou dinheiro das contas de Marcos Valério.

* Ralf Barquete, assessor de Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto, morreu de câncer em 8 de Junho de 2004. Rogério Buratti disse que em 2002 Barquete consultou-o sobre como fazer para trazer dólares do exterior.

* Rogério Buratti, trabalhou como secretário na prefeitura de Ribeirão Preto, durante a administração do prefeito Antonio Palocci (atual ministro da Fazenda). Foi também assessor do deputado José Dirceu na década de 1980. Foi preso em agosto acusado de lavagem de dinheiro. Em busca do benefício da delação premiada, Buratti começou a fazer várias acusações contra o ministro da Fazenda.

* Sérgio Gomes da Silva, mais conhecido como o “Sombra”. Trabalhou na administração do prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002. Segundo o Ministério Público ele é o principal suspeito de ser o mandante do crime.

* Silvio Pereira, ex-secretário Geral do PT. Ao lado de Delúbio Soares e Marcelo Sereno, foi responsável pelo saque de R$ 4.932.467,12 das contas das empresas de Marcos Valério. Durante as investigações, foi acusado de corrupção por ter recebido de presente de uma empresa privada uma Land Rover, em troca de vantagens para na estatal Petrobrás.

* Vladimir Poleto, economista e ex-assessor na Prefeitura de Ribeirão Preto do Ministro da Fazenda Antonio Palocci. Ao lado de Rogério Buratti, é acusado de fazer tráfico de influência. Em 31 de julho de 2002, ajudou a transportar caixas lacradas de bebida de Brasília até São Paulo. Segundo Buratti, dentro das caixas havia dólares doados por Cuba para a campanha de Lula.

* Wilmar Lacerda, presidente do PT no Distrito Federal. Disse para a Polícia Federal que recebeu R$ 380.000,00 da empresa SMPB, do publicitário Marcos Valério. Justificou-se dizendo que apenas seguiu a orientação do tesoureiro do partido Delúbio Soares. ,

* Waldomiro Diniz, assessor do ministro da Casa Civil José Dirceu. Waldomiro foi acusado de extorquir empresários do Jogo do Bicho e de Casas de Bingo para arrecadar fundos para campanhas políticas do PT.

Da base aliada

Entenda-se por “base aliada” os partidos que davam sustentação política ao PT, antes do início do escândalo: PTB, PP, PL e PMDB.

* Roberto Jefferson (PTB-RJ), que deu origem ao escândalo quando denunciou a prática do Mensalão. Acusado de operar um esquema de arrecadação de “contribuições eleitorais” de fornecedores de estatais como os Correios, o IRB e Furnas. Também é acusado de crime eleitoral, quando recebeu R$ 4 milhões diretamente das mãos de Marcos Valério (enviado de José Dirceu) para o PTB, numa operação não declarada à Justiça Eleitoral.

* José Carlos Martinez (PTB-PR), (1948-2003). Acusado de ter recebido R$ 1.000.000,00

* Romeu Queiroz (PTB-MG). Acusado de ter recebido R$ 350.000,00

* José Janene (PP-PR), (1955-2010). Citado por Jefferson desde o início, era acusado de distribuir o Mensalão para a bancada do PP. Seu envolvimento foi comprovado pelo depoimento de seu assessor João Cláudio Genu à Polícia Federal, que confessou fazer os saques e entregar o dinheiro à tesouraria do PP.

* Pedro Corrêa (PP-PE) - presidente do PP, também foi denunciado por Jefferson e incriminado por Genu.

* Pedro Henry (PP-MT) - Ex-líder da Câmara, também foi implicado pelo depoimento de Genu.

* José Borba (PMDB-PR) - Ex-líder do PMDB na Câmara. É acusado pela diretora financeira da SMPB de ter recebido R$ 2,1 milhões, mas de ter se recusado a assinar o comprovante de saque (obrigando-a a ir até a agência do banco para liberar o pagamento).


* Valdemar Costa Neto (PL-SP)- acusado de ser o distribuidor do Mensalão para a bancada do PL. Seu ex-tesoureiro, Jacinto Lamas, é acusado de ser o maior beneficiário dos saques das contas de Marcos Valério no Banco Rural, recebendo R$ 10.837.500,00. Para evitar o processo de cassação, o deputado renunciou às pressas, antes que fosse aberto inquérito contra ele.

* Bispo Rodrigues (PL-RJ) - coordenava a bancada da Igreja Universal do Reino de Deus na Câmara. Teria recebido R$ 150 mil. Foi defenestrado pela sua igreja.

* Anderson Adauto (PL-MG) - o ex-ministro dos transportes, atualmente filiado ao PMDB e prefeito reeleito de Uberaba em 2008. Apesar dos processos contra ele foi reeleito em primeiro turno demonstrando a indiferença do brasileiro á corrupção, recebeu, por intermédio de seu chefe de gabinete, o valor de R$ 1.000.000,00 de Marcos Valério.

Outros

* Marcos Valério, empresário, sem partido. Sendo o “operador do Mensalão”, está sendo acusado de diversos crimes de ordem política, financeira, criminal, eleitoral e fiscal. Além de seu envolvimento atual com o PT e o “mensalão”, revelou que manteve um esquema semelhante em 1998 envolvendo o PSDB: naquele ano, através de empréstimos bancários avalizados pelos contratos de publicidade que mantinha com o governo mineiro, financiou as campanhas de diversos candidatos tucanos, entre os quais o senador Eduardo Azeredo, candidato ao governo de Minas Gerais, e que tinha, como candidato a vice-governador, Clésio Andrade, então sócio de Valério na SMP&B.

* Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Não é acusado de envolvimento direto com o Mensalão, mas é acusado de recebimento de recursos de Marcos Valério para compor o “caixa 2” de sua campanha eleitoral ao Governo de Minas em 1998.

* Roberto Brant (PFL-MG). Deputado mineiro do PFL, foi um dos que receberam recursos das empresas de Valério. Chamou a atenção o fato do deputado Brant, de um partido de oposição ao governo, ser identificado como um dos que receberam dinheiro de Valério. Brant argumentou que o dinheiro que recebeu teria sido contribuição de campanha da empresa Usiminas, a qual não havia sido declarada como um de seus doadores oficiais. Valério desmentiu o deputado e a Usiminas não se manifestou.

* Duda Mendonça, publicitário responsável pela campanha eleitoral de Lula. Sua sócia, Zilmar da Silveira, aparece como beneficiário de Marcos Valério, tendo recebido dela R$ 15.500.000,00.

* Fernanda Karina Somaggio, secretária de Marcos Valério, resolveu testemunhar contra o seu ex-chefe. Confirmou o envolvimento de Valério com Delúbio Soares e com diversos deputados acusados posteriormente de envolvimento com o esquema de corrupção. Denunciou também que os pagamentos eram feitos em malas de dinheiro. Sua agenda que marca os encontros entre Marcos Valério e outras personagens envolvidas no escândalo (Delúbio Soares, José Mentor, entre outros) foi apreendida pela Polícia Federal.

* Renilda Soares, esposa de Valério. Não acrescentou muito às investigações, mas denunciou que José Dirceu tinha pleno conhecimento do esquema de corrupção de Valério, e que tudo era feito com a sua anuência.

* Toninho da Barcelona ou Antônio Oliveira Claramunt. Um dos principais doleiros brasileiros, preso e condenado por realizar operações financeiras ilegais. Ouvido informalmente por alguns parlamentares da CPMI dos Correios, ele alegou que fez várias operações de câmbio para o Partido dos Trabalhadores (PT) e outros partidos. Segundo o doleiro, o PT mantinha uma conta clandestina no exterior no Trade Link Bank, offshore vinculada ao Banco Rural; o caixa do partido vivia cheio de dólares; em 2002, durante a eleição para presidente, o doleiro fazia operações quase diárias de troca de dólares, com valores entre 30 mil e 50 mil dólares, no gabinete do então vereador Devanir Ribeiro; e a corretora Bônus-Banval, de São Paulo era usada para lavagem de dinheiro e outras operações escusas.

* Daniel Dantas, empresário, dono do grupo financeiro Opportunity. Teria praticado tráfico de influência, com a ajuda de Marcos Valério, para que seu grupo fosse favorecido na disputa pelo controle da Brasil Telecom, travada contra o fundo de pensão Previ e o Citibank. Dantas foi condenado em primeira instância pela justiça dos Estados Unidos por práticas que ferem os interesses de acionistas minoritários. Correm contra ele também processos por ter efetuado escutas ilegais em políticos ligados ao então candidato a presidente Luis Inácio Lula da Silva, contratadas junto à empresa Kroll.

* Paulo Okamoto, Presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE),e com comprovadas ligações com o PC do B. Acusado de enviar R$ 29.436,00 de um empréstimo feito com ajuda do tesoureiro do PT, para o PC do B na carta que Delúbio Soares enviou a CPI do mensalão em 30 de agosto de 2005.(ver no Bloger da jornalista Elane Moura )

* Vavá, Genival Inácio da Silva, irmão do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo denúncias publicadas pela imprensa brasileira, aproveitou o parentesco com Lula para fazer tráfico de influência em diversos órgãos.

* Carlos Massa, o Ratinho, apresentador do “Programa do Ratinho” do SBT na noite. Seu nome foi citado em um suposto pagamento de 5 milhões de reais para falar bem do PT em 2004, segundo a revista Veja dia 4 de março, datada do dia 8. Ratinho nega a acusação e chegou a ameaçar em processar a revista.

Em Portugal

* Antonio Mexia - ex-Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações de Portugal. Disse numa entrevista para o jornal Expresso, publicada em 16 de julho de 2005, que recebeu o empresário brasileiro Marcos Valério em Janeiro de 2005 como “consultor do Presidente do Brasil”, a pedido de Miguel Horta e Costa, Presidente da Portugal Telecom. Em 4 de agosto, após ter tido uma conversa com o embaixador brasileiro em Portugal, Mexia diz que recebeu Valério apenas como um empresário brasileiro e que ele não se apresentara como representante do governo brasileiro.

* Miguel Horta e Costa - Presidente da Portugal Telecom. Admite que Marcos Valério já foi recebido pela Portugal Telecom para tratar de negócios envolvendo a empresa Telemig Celular. Ele nega a existência de qualquer negócio escuso com o empresário brasileiro. A Portugal Telecom nega ter havido um encontro com Marcos Valério e Emerson Palmieri nos dias 24, 25 e 26 de janeiro de 2005, em Lisboa. A empresa “assegura que nunca participou de qualquer encontro com o objectivo de discutir ou negociar operações que envolvessem o financiamento de partidos políticos brasileiros.”

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Mary Anastasia O'Grady: Por qué nadie protesta en La Habana

Los acontecimientos de los últimos 10 días de Egipto me hicieron acordar de Cuba. ¿Porqué una rebelión similar contra cinco décadas de represión sigue pareciendo un sueño lejano? Parte de la respuesta es la relación entre los hermanos Castro, Fidel y Raúl, y los generales. El resto se explica por el modelo significativamente más represivo del régimen de la isla. En el arte de las dictaduras, Hosni Mubarak no les llega ni al talón a los Castro.

Que tantos egipcios hayan levantado sus voces en la plaza Tahrir es un testimonio del anhelo universal por la libertad. Pero es un error ignorar el rol clave que juegan los militares. Apostaría a que cuando se escriba la historia del levantamiento, sabremos que los altos mandos de las fuerzas armadas no aprobaban el plan del presidente de designar a su hijo como candidato en la próxima elección.

Castro compró la lealtad de la policía secreta y las fuerzas armadas al cederles el control de los tres sectores más rentables de la economía: las ventas minoristas, el turismo y los servicios. Los militares cubanos reciben cientos de millones de dólares al año. Si el sistema colapsa, también lo hacen esos ingresos. Los militares egipcios también son propietarios de empresas, claro está, pero no dependen de una economía enteramente en manos del Estado. Y como beneficiario de una significativa ayuda y capacitación de Estados Unidos durante muchos años, las fuerzas armadas egipcias han cultivado una cultura de profesionalismo y de compromiso con el país por encima de cualquier individuo.

En Cuba no hay partidos políticos de oposición ni medios de comunicación que no pertenezcan al gobierno: brigadas de respuesta rápida aseguran que se acate la línea del partido. No se puede viajar fuera del país sin la autorización del gobierno. Los disidentes pacíficos con capacidad de liderazgo que no se quiebran son exiliados o asesinados.

La diferencia más impactante entre Cuba y Egipto es el acceso a Internet. En un informe elaborado por Freedom House en marzo de 2009 sobre Internet y la censura a los medios digitales en todo el mundo, Egipto ocupó el puesto 45 (de un total de 100 países), un poco por debajo de Turquía, pero por encima de Rusia. A Cuba le correspondió el lugar 90, con una censura mayor a la de Irán, China y Túnez. Mientras tanto, el servicio de telefonía celular en Cuba es demasiado caro para la mayoría de la población.

Sin embargo, la tecnología de alguna manera se filtra en Cuba. Cuando Fidel acabó con la vida del prisionero de conciencia Pedro Boitel en 1972 al negarle agua durante una huelga de hambre, el mundo apenas lo notó. En contraste, las noticias sobre la muerte a manos del régimen del prisionero de conciencia Orlando Zapata Tamayo en 2010 llegó a Internet casi inmediatamente y fue objeto de una condena mundial. La dictadura militar no pudo contener la publicidad negativa.

De manera similar, cuando las Damas de Blanco, un grupo de esposas, hermanas y madres de prisioneros políticos, fueron atacadas por la policía el año pasado cuando caminaban pacíficamente por La Habana, las imágenes fueron capturadas por teléfonos celulares e inmediatamente aparecieron en la red. Fue otro desastre de relaciones públicas para los hermanos Castro y sus amigos como el presidente mexicano Felipe Calderón y el presidente del gobierno español, José Luis Rodríguez Zapatero.

La presión internacional inducida por la tecnología está haciendo que el régimen se muestre más renuente a aplastar a sus críticos con los métodos tradicionales. En una entrevista del 27 de enero con el diario argentino Ámbito Financiero, la internacionalmente reconocida bloguera Yoani Sánchez dijo que el “estilo” de la represión del gobierno ha pasado de los arrestos agresivos y las largas condenas a los intentos focalizados de difamación y aislamiento. Agregó que la policía uniformada “fue distanciándose del tema político, no por órdenes de arriba, sino porque no quieren quedar asociados con la represión”. Ahora, aseveró, la intimidación y los arrestos arbitrarios son realizados fundamentalmente por la policía secreta con indumentaria civil.

Un poco más de espacio ha envalentonado a la población. Sánchez manifestó en la entrevista que es “optimista respecto del proceso lento e irreversible en el interior de los cubanos, en el que la crítica ciudadana irá en aumento, habrá menos miedo, sentirán que la máscara es cada vez más innecesaria y que ya no se traduce en privilegios y subsidios”.

La semana pasada se filtró en Internet un video de un seminario militar cubano respecto a cómo combatir la tecnología. Las imágenes muestran la preocupación de la dictadura con la web. El instructor advierte sobre los peligros que representan los jóvenes con un discurso atractivo que comparten información a través de la tecnología y que intentan organizarse. El “chat” en tiempo real, Twitter y la aparición de jóvenes líderes en el ciberespacio —llamado un “campo de batalla permanente”— son peligros descritos durante la charla de una hora de duración. El instructor también comparte sus preocupaciones respecto a los programas del gobierno de Estados Unidos que intentan aumentar el acceso a Internet al margen de los canales oficiales en la isla.

El viernes, el régimen brindó una nueva muestra de su paranoia al acusar de espionaje a Alan Gross, el contratista de la Agencia para el Desarrollo Internacional de Estados Unidos. Gross ha estado en la cárcel durante 14 meses por dar a los judíos cubanos equipos de computadoras para que se puedan conectar con la diáspora judía.

A pesar de un acceso muy limitado, los cubanos ya están recurriendo a Internet para compartir lo que hasta ahora habían mantenido en su cabeza: pensamientos contrarrevolucionarios. Si se extienden, incluso los bien alimentados militares no podrán salvar al régimen. Por ahora, sin embargo, los cubanos solamente pueden soñar con la libertad que los egipcios disfrutan mientras dan a conocer su descontento.

Publicado en “El Independiente”

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Caio Frascino Cassaro: Em que país vivem os petistas?

Eu gostaria de saber em que país vivem os petistas. Se alguém souber, me conte que mudarei para lá imediatamente.
Um leitor do blog, sr. Alex, evidentemente partidário do PT, fez recentemente um comentário repleto de inconsistências, imprecisões e inverdades, enfim, um primor da idiotia petista. Senão, vejamos:
De acordo com dados do Banco Central:
1. Dívida interna: 1,8 trilhão de reais;
2. Dívida externa (aquela que o Forrest Gump de Garanhuns disse que pagou): 240 bilhões de dólares;
3. Inflação medida pelo IGPM (atenção: o IGPM de hoje é o IPCA de amanhã; qualquer um com um nível de informação mediano sabe que em médio prazo todos os índices convergem): 11,32%.
4. Déficit em conta corrente com o exterior: 50 bilhões de dólares em 2010, com projeção de 70 bilhões para este ano. Esse déficit só é coberto pela entrada de capital especulativo, que vem para estas plagas em busca da remuneração indecente oferecida aos rentistas. A persistir esse quadro, teremos uma crise cambial em 2013 ou 2014, pois vai chegar um momento que os chacais do mercado financeiro vão achar interessante um ataque especulativo contra o real.
5. NENHUM analista de contas públicas acredita na contabilidade apresentada pelo governo. A manobra contábil de capitalização da Petrobrás foi um primor de “criatividade”. O superávit fiscal baixou a níveis pré-real, desenhando um quadro bastante difícil para a presidente Dilma, que terá de tomar medidas duríssimas caso não queira ver a inflação disparar.
6. Real apreciado frente a todas as principais moedas, fazendo nossas exportações, principalmente de manufaturados, irem por água abaixo. Dias atrás foi publicado um dado a respeito do superávit da balança comercial de 2010. Baixou para 20 bilhões de dólares – o menor valor em oito anos. Se traçarmos uma curva, veremos que nos anos citados no item 4 – 2013 ou 2014 – estaremos em déficit na própria balança comercial.
Detalhe: o Banco Central, na tentativa de conter o surto inflacionário, eleverá a taxa de juros, atraindo ainda mais dólares para o país. Isso apreciará ainda mais o valor da nossa moeda, agravando acelerando a crise no balanço de pagamentos.
A lista é muito maior, mas como “herança maldita”, já está bom.
Com relação a comparações , em nome da honestidade intelectual deve-se contextualizar ambos os governos. Assim teremos :
1. FHC encarou SEIS crises financeiras de grande porte no exterior em 8 anos de governo. Luiz Inácio navegou em mar de almirante com vento a favor durante 6 anos.
2. O acúmulo de reservas ocorrido ao longo do governo Luiz Inácio deveu-se única e exclusivamente ao fato de que os preços de nossas principais commodities terem subido violentamente a partir de 2002 (antes de reclamar, ver estudo do IPEA a respeito).
3. O dólar e o risco Brasil subiram em 2002 em razão do risco PT. É só ter um mínimo de memória e de honestidade intelectual para confirmar o fato. A falta de memória pode ser corrigida pela mera leitura dos jornais e revistas da época. Saliento ainda que a subida do dólar refletiu-se imediatamente na alta da inflação.
4. O Brasil, no governo Luiz Inácio, até 2008, só crescia mais que o Haiti e a Venezuela na América Latina. Nos últimos dois anos, com a farra do boi que virou isto aqui, conseguimos resultados melhores. Se pegarmos o crescimento médio no governo Luiz Inácio, porém, veremos que não passou de 3,5% ao ano, longe dos outros “Brics” [referência a países emergentes especialmente promissores para os analistas -- além do Brasil,  Rússia, Índia e China] e perdendo para vários latino-mericanos. FHC, na América Latina, só perdia para o Chile.
5. Finalizando, Luiz Inácio recebeu um estado reformado – sim, com o Plano Real, o Proer (que, apesar da gritaria na época da implantação, Luis Inácio “ofereceu ao Bush” como tecnologia de reforma bancária) , a Lei de Responsabilidade Fiscal, as privatizações das estatais (que não foram revogadas conforme chegou delirantemente a prometerem os petistas — ao contrário, prosseguem até hoje, conforme se observa no plano apresentado pela Presidente Dilma referente à privatização dos aeroportos), a abertura do capital da Petrobrás ( apoiada pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra em entrevista ao jornal Valor Econômico), etc.
Lula teve o mérito de prosseguir com os programas lançados por FHC. Abandonou o Fome Zero e agrupou os programas de distribuição de renda criados por dona Ruth Cardoso, aumentando o valor do benefício e a sua abrangência.
Prosseguiu com o aumento no valor do salário mínimo, o qual teve um incremento de 42% em termos reais com FHC e cerca de 50% em seu governo. Manteve, no início do mandato, disciplina fiscal.
Contudo, não fez absolutamente nada em termos de reformas de base, levando o país no beiço e sem atacar nenhum problema estrutural de frente.
Resultado: as tensões estão se avolumando, com bombas potenciais como a Previdência, o MST, a infraestrutura em pandarecos e tantos outros petardos que vão explodir no colo da presidente Dilma, que precisará ser muito firme para levar o país adiante.
Antes que alguma viúva do Luiz Inácio venha reclamar, sugiro que traga números que contradigam a argumentação exposta e divulgue a fonte. (Os meus foram extraídos dos sites do Banco Central e do Ministério da Fazenda.)
Caso contrárioo, se for para zurrar ou algo do tipo, vá escrever qualquer bobagem nos sites chapa branca que existem por aí. Está cheio deles na internet.
Com relação às minhas previsões, já temos o seguinte:
1. O Banco Central já começou o processo de aumento da taxa de juros básica, com um incremento de meio ponto percentual na primeira reunião do Copom.
2. A presidente Dilma mandou cortar 50 bilhões de reais do Orçamento da União.
3. O dólar está na casa de 1,66 real, só se mantendo nesse patamar graças aos sucessivos leilões do Banco Central.
4. O superávit da balança comercial de janeiro ficou ao redor de 500 milhões de dólares, com tendência de baixa.
5. Os “apagões” de infraestrutura já deram as caras neste começo de ano. Dos problemas ocorridos no Rio pela falta de ação dos governos em todos os níveis ao apagão de energia ocorrido na sexta-feira, dia 4, tudo isso se encaixa no quadro de má gestão pública que o país sofreu nos últimos 8 anos, e cujos resultados já começam a se fazer sentir.
Ou seja, o quadro de dificuldades descrito por mim no ano passado e no início deste ano já começa a se fazer presente. Vamos aguardar os desdobramentos políticos dessas situações.

George Soros: Por que eu apoio a legalização da maconha (era só o que faltava)

As nossas leis sobre maconha estão claramente fazendo mais mal do que bem. A criminalização da maconha não impediu que ela se transformasse na substância ilegal mais amplamente usada nos Estados Unidos e em muitos outros países. Entretanto, ela generalizou os enormes custos e as consequências negativas.

As autoridades gastam anualmente vários bilhões de dólares dos contribuintes para fazer cumprir uma proibição que não é possível de ser garantida. As cerca de 750 mil prisões realizadas a cada ano por posse de pequenas quantidades de maconha representam mais de 40% de todas as prisões por drogas.

Regular e taxar a maconha ao mesmo tempo pouparia bilhões de dólares aos contribuintes em gastos de policiamento e encarceramento, assim como proveria milhões de dólares em renda anualmente. Também reduziria o crime, a violência e a corrupção associados aos mercados de drogas e as violações de liberdades civis e de Direitos Humanos que ocorrem quando um grande número de cidadãos, que de outro modo seriam cumpridores da lei, são presos. Ao invés disso, a polícia poderia focar em crimes realmente sérios.

As desigualdades raciais que fazem parte integral das políticas de controle da maconha não podem ser ignoradas. Os afroamericanos não são mais propensos a usar maconha que outros americanos; entretanto, têm três, cinco e até dez vezes mais probabilidade de serem presos por posse de maconha, dependendo da cidade. Concordo com Alice Fuman, presidente da California NAACP, quando diz que estar atrelado ao sistema criminal de justiça causa mais dano aos jovens que a própria maconha. Dar a milhões de jovens americanos uma ficha criminal permanente por uso de drogas que os perseguirá por toda a vida não é útil para os interesses de ninguém.

Os preconceitos raciais também ajudam a explicar as origens da proibição da maconha. Quando a Califórnia e outros estados dos EUA decidiram criminalizar pela primeira vez a maconha (entra 1915 e 1933), sua principal motivação não foi baseada na ciência ou na saúde pública, mas sim no preconceito e na discriminação contra imigrantes do México, que, segundo se diz, fumavam a “erva assassina”.

Quem mais se beneficia ao se manter a maconha ilegal? Os grandes beneficiários são as grandes organizações criminais, no México e em outros lugares, que ganham bilhões de dólares anualmente nesse comércio ilícito e que rapidamente perderiam sua vantagem competitiva se a maconha fosse um produto legal. Alguns afirmam que os traficantes simplesmente migrariam para outros negócios ilegais, mas o mais provável é que eles sejam enfraquecidos ao serem privados do lucro fácil que podem obter com a maconha.

Este foi somente um dos motivos pelos quais a Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia – presidida por três notáveis ex-residentes da região: Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, César Gaviria, da Colômbia, e Ernesto Zedillo, do México – incluiu a descriminalização da maconha entre as recomendações para reformar as políticas de drogas nas Américas.

Como muitos pais e avós, também me preocupa que os jovens se metam em problemas com a maconha e outras drogas. A melhor solução, no entanto, é uma educação honesta e efetiva. Estudos após estudos indicam que os adolescentes têm melhor acesso à maconha – e, com frequência, a outras drogas também – que muitos adultos e que se resulta mais fácil a eles comprar maconha que álcool. Legalizar a maconha pode facilitar sua compra aos adultos, mas não a tornará mais acessível aos jovens. Prefiro investir em educação efetiva que em prisões e encarceramentos ineficientes.

A “Proposição 19″ da Califórnia, que legalizaria o uso recreativo e o cultivo em pequena escala de maconha, não resolverá todos os problemas relacionados com a droga. Porém, pode representar um grande passo à frente, e suas deficiências podem ser corrigidas a partir da experiência. Assim como o processo de revogação da proibição do álcool começou com os estados individuais revogando suas próprias leis proibitivas, da mesma maneira os estados podem tomar a iniciativa com respeito à revogação de leis que proíbem a maconha. E, assim como a Califórnia ofereceu sua liderança nacional em 1996 ao se converter no primeiro estado a legalizar o uso medicinal da maconha, tem a oportunidade de uma vez mais liderar a nação.

Em muito sentidos, está claro, a Proposição 19 é uma ganhadora, independentemente do que ocorra no dia do referendo. O simples fato de ser submetida à votação elevou e legitimou o discurso público sobre maconha e políticas de maconha de modos que eu não poderia imaginar um ano atrás. Estas são as razões pelas quais decidi apoiar a Proposição 19 e convidar outras pessoas a fazê-lo.

* George Soros é presidente do Soros Fund Management e fundador da Open Society Foundations.