sábado, 28 de setembro de 2013

Guilherme Fiuza: A Primavera burra

O Supremo Tribunal Federal melou a prisão dos mensaleiros, na mão grande. Como se sabe, pela primeira vez na história a corte máxima tem juízes partidários, como Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, obedientes aos seus senhores petistas. E os principais réus do mensalão, que por acaso mandam no Brasil, têm os melhores advogados de Brasília — pagos a peso de ouro com uma dinheirama que eles não precisam dizer de onde veio, mas pode-se supor. Foi com essa blitz política (disfarçada de jurídica), ou, em bom português anglo-saxão, com esse lobby, que o Brasil foi roubado de novo, à luz do dia.

E o que fizeram os brasileiros, que agora são revolucionários e esculhambam o trânsito a qualquer hora do dia para “mudar o Brasil”? Não fizeram nada. Os bravos manifestantes da Primavera Brasileira de 2013 assistiram ao novo assalto, como diria Anitta, ba-ban-do.

O golpe dos embargos infringentes foi vexaminoso. Uma manobra tosca, que embaralhou um julgamento cristalino e cindiu o direito e o bom senso — o que é uma cisão grave, mas não nesse Brasil onde civismo é jogar pedra em vidraça. Votos como o do ministro Marco Aurélio mostraram que o julgamento só poderia ser reaberto — decisão drástica — se não pairassem dúvidas sobre a legalidade dos embargos.

Pois bem: o julgamento foi reaberto em casos onde houve quatro votos contrários à sentença. E a própria decisão de reabertura teve cinco votos contrários! Não seria então o caso de entrar com embargos infringentes contra a aceitação dos embargos infringentes?

Não, não seria, porque nesse caminho de prostituição da técnica, a lógica já foi abandonada no acostamento há muito tempo, e o espírito da lei já foi pendurado na parede, ao lado de um retrato do filho do Brasil. A blitz dos advogados milionários do PT fez o STF virar as costas para a lógica e o espírito da lei. Normal. Quem está do outro lado é só o Brasil, esse pobre coitado, que não tem nada concreto para oferecer: nem cargos, nem prestígio, nem favores, nem negócios, nem mesmo a emoção de um café da manhã com José Dirceu, o astro da penumbra.

Foi comovente ver a bancada petista no Supremo, em ações grandiloquentes e tom épico, defendendo com garra um futuro tranquilo e confortável. O PT inaugurou o patriotismo privado.

Para o pobre coitado do outro lado, batizado com nome de madeira nativa (profetizando a cara de pau), o que aconteceu no Supremo Tribunal Federal é apenas o fim. Se as massas (e os gatos pingados) não sabem direito por que vão às ruas, se não é só por 20 centavos, se é por tudo — e tudo, como se sabe, é igual a nada —, a zombaria do STF contra o país inteiro, aliviando os maiores assaltantes da história da República, cujo grupo político por acaso governa o Brasil, é a causa das causas. É para inundar as ruas de gente, é para cercar os palácios da Justiça Federal em todo o território, é para, aí sim, parar tudo e avisar que isso aqui não é a casa da mãe Dilma e de seus companheiros parasitários.

Mas o que se viu por aí depois do golpe do STF? Bem, escolha a sua manifestação preferida: black blocs vaiando e ameaçando artistas de cinema na chegada ao Festival do Rio; revolucionários da Cinelândia recebendo a adesão do Batman e do Saci Pererê; ninjas, fora do eixo e fora de órbita, discutindo a relação com a polícia (decidindo o que veio primeiro, a pedra ou a pimenta); sindicalistas privatizando as ruas e decidindo quem pode ir e vir.

Enquanto isso, estoura novo escândalo na boquinha que Dilma Rousseff cultivou dentro do Ministério do Trabalho — o mensalão redivivo na farra das ONGs piratas. Mais R$ 400 milhões desviados para a turma que a presidente fingiu escorraçar em 2011, com o inesquecível Carlos Lupi, mas que na verdade protegeu, porque é dando que se recebe. Os réus que o STF acaba de refrescar fizeram escola, só não vê quem não quer. E ninguém parece querer. Não apareceu um único mascarado no horizonte para acuar os sócios do governo popular nesse novo escárnio. Eles preferem rosnar contra artistas de cinema.

Não pode haver mais dúvidas: os movimentos de protesto que levaram os brasileiros às ruas em 2013 passarão à história como a Primavera Burra.


PS: o ministro do Trabalho passa bem, os ministros infringentes idem, e os mensaleiros estão estourando champanhe com a nova disparada de Dilma no Ibope. Vêm aí mais quatro anos de sucção pacífica.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Rodrigo Constantino: Um embaixador americano explica porque seu governo espiona Dilma

Carlos Alberto Montaner é um jornalista e escritor cubano, autor do clássico e imperdível Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano, em parceria com o peruano Alvaro Vargas Llosa e o colombiano Plinio Apuleyo Mendonza. Em sua coluna no Miami Herald, ele conta que um antigo embaixador americano lhe confidenciou porque o governo Dilma é espionado pelo governo americano.

Sua resposta não poderia ser mais franca e direta:

Do ponto de vista de Washington, o governo brasileiro não é exatamente amigável. Por definição e história, o Brasil é um país amigo que ficou do nosso lado durante a II Guerra Mundial e na Coréia, mas seu atual governo não é.

O embaixador pediu para não ter seu nome revelado, pois isso iria gerar um grande problema para ele. Mas autorizou que o jornalista, de quem é amigo, transcrevesse a conversa, sem citar a fonte. O embaixador conhece mais o nosso governo do que nossa imprensa, pelo visto. Diz ele (tradução livre):

Tudo que você tem a fazer é ler os registros do Foro de São Paulo e observar a conduta do governo brasileiro. Os amigos de Luis Inácio Lula da Silva, de Dilma Rousseff e do Partido dos Trabalhadores são os inimigos dos Estados Unidos: a Venezuela chavista, pela primeira vez com (Hugo) Chávez e agora com (Nicolás) Maduro; Cuba de Raúl Castro, Irã, a Bolívia de Evo Morales, Líbia nos tempos de Kadafi; Síria de Bashar Assad.

Em quase todos os conflitos, o governo brasileiro concorda com as linhas políticas da Rússia e da China, em oposição à perspectiva do Departamento de Estado dos EUA e da Casa Branca. Sua família ideológica mais parecida é a dos BRICS, com quem ele tenta conciliar sua política externa.

A grande nação sul-americana não tem nem manifesta a menor vontade de defender os princípios democráticos que são sistematicamente violados em Cuba. Pelo contrário, o ex-presidente Lula da Silva, muitas vezes leva os investidores a ilha para fortalecer a ditadura dos Castros. O dinheiro investido pelos brasileiros no desenvolvimento do super-porto de Mariel, próximo a Havana, é estimado em US $ 1 bilhão.

A influência cubana no Brasil é secreta, mas muito intensa. José Dirceu, ex-chefe de gabinete e o ministro mais influente de Lula da Silva, tinha sido um agente dos serviços de inteligência cubanos. No exílio em Cuba, ele teve o rosto cirurgicamente alterado. Ele voltou para o Brasil com uma nova identidade e funcionou nessa condição até que a democracia foi restaurada. De mãos dadas com Lula, ele colocou o Brasil entre os principais colaboradores com a ditadura cubana. Ele caiu em desgraça porque ele era corrupto, mas nunca recuou um centímetro de suas preferências ideológicas e de sua cumplicidade com Havana.

Algo semelhante está acontecendo com o profesor Marco Aurélio Garcia, atual assessor de política externa de Dilma Rousseff. Ele é um contumaz anti-ianque, pior do que Dirceu mesmo, porque ele é mais inteligente e teve uma melhor formação. Ele fará tudo o que puder para frustrar os Estados Unidos.

Mas isso não é tudo. Há outras duas questões sobre as quais os Estados Unidos querem ser informados sobre tudo o que acontece no Brasil, pois, de uma forma ou de outra, elas afetam a segurança dos Estados Unidos: a corrupção e as drogas.

O Brasil é um país notoriamente corrupto e tais práticas afetam as leis dos Estados Unidos de duas maneiras: quando os brasileiros utilizam o sistema financeiro americano e quando eles competem de forma desleal com empresas norte-americanas, recorrendo a subornos ou comissões ilegais.

A questão das drogas é diferente. A produção de coca boliviana se multiplicou cinco vezes desde que Evo Morales assumiu a presidência, e a saída para essa substância é o Brasil. Quase tudo acaba na Europa, e os nossos aliados nos pediram para obter informações. Essa informação, por vezes, está nas mãos de políticos brasileiros.


A pergunta final feita por Montaner foi se o governo americano continuaria espionando o brasileiro. A resposta do embaixador não poderia ser mais objetiva: “Claro, é nossa responsabilidade para com a sociedade americana”.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Reinaldo Azevedo: Ives Gandra declara a inocência de Dirceu e vira herói dos petralhas. Ou: A esquerda aprecia dois tipos de direita: a que já está morta e a que adere

Quarenta e cinco anos depois da “Batalha da Maria Antônia”, que opôs extremistas da USP aos do Mackenzie, Ives Gandra da Silva Martins, professor emérito deste último, resolve atravessar a rua para se render. Fosse por bons motivos, vá lá; mas é por maus. Resolveu sair em defesa de José Dirceu, que estava entre os amotinados do outro lado, embora não fosse um uspiano. É bem verdade, também, que a Faculdade de Direito da USP funcionava no prédio do Largo São Francisco. Nesse caso, não basta atravessar a rua. Mas estou sendo, digamos assim, simbólico.

Gandra concedeu uma entrevista a Mônica Bergamo, da Folha, em que assegura não haver provas contra José Dirceu. E afirma — lamento a palavra que vou usar agora para definir a entrevista de tão venerando professor — uma penca de bobagens, típicas, suponho, de quem não acompanhou o julgamento e desconhece o caso. Ousaria mesmo dizer que ele desconhece até a chamada “Teoria do Domínio do Fato”, confundindo-a com “responsabilização objetiva”. Reproduzo uma trecho:

Folha – O senhor já falou que o julgamento teve um lado bom e um lado ruim. Vamos começar pelo primeiro.
Ives Gandra Martins - O povo tem um desconforto enorme. Acha que todos os políticos são corruptos e que a impunidade reina em todas as esferas de governo. O mensalão como que abriu uma janela em um ambiente fechado para entrar o ar novo, em um novo país em que haveria a punição dos que praticam crimes. Esse é o lado indiscutivelmente positivo. Do ponto de vista jurídico, eu não aceito a teoria do domínio do fato.
Por quê?
Com ela, eu passo a trabalhar com indícios e presunções. Eu não busco a verdade material. Você tem pessoas que trabalham com você. Uma delas comete um crime e o atribui a você. E você não sabe de nada. Não há nenhuma prova senão o depoimento dela — e basta um só depoimento. Como você é a chefe dela, pela teoria do domínio do fato, está condenada, você deveria saber. Todos os executivos brasileiros correm agora esse risco. É uma insegurança jurídica monumental. Como um velho advogado, com 56 anos de advocacia, isso me preocupa. A teoria que sempre prevaleceu no Supremo foi a do “in dubio pro reo” [a dúvida favorece o réu].

Comento
Assim seria se assim tivesse sido, mas isso, atenção!, não aconteceu. O que os autos evidenciam é que José Dirceu era o chefe do esquema. Isso está provado não por depoimentos dos que queriam incriminá-lo, mas dos que estavam empenhados em negar que os crimes tivessem acontecido. Dirceu não foi condenado em razão do depoimento de Roberto Jefferson, por exemplo. O petista nem era, formalmente, o chefe do partido. Comandava a máquina que produziu aqueles horrores, em parceria com Lula, porque tinha, ATENÇÃO!, mais do que o poder objetivo de fazê-lo: ELE TINHA O PODER POLÍTICO. Por isso a banqueira Kátia Rabello mantinha encontros com o então chefe da Casa Civil. Porque, afinal de contas, era ele a tomar as decisões.

No tempo em que os petistas ainda apostavam que o processo do mensalão não daria em nada porque tudo estaria dominado, o próprio Dirceu fazia praça de seu poder. Atenção! Mesmo cassado pela Câmara por corrupção, mesmo formalmente fora do poder, mesmo atuando como lobista de empresas privadas, ele concedeu uma entrevista à revista Playboy em que se orgulhava da influência que mantinha no Palácio do Planalto.

De resto, quem disse que prova testemunhal não vale — desde que ancorada, como é o caso, em fatos? Ives Gandra Martins dedicou boa parte de sua vida ao direito tributário. Parece que anda um tanto enferrujado em direito penal. Vou lembrar aqui o artigo 239 do Código de Processo Penal, que trata das provas indiciárias. Transcrevo:
“Considera-se indício a circunstância conhecida e provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”.

Não se trata de nenhuma “novidade da Alemanha”, como sugere Gandra. A lei existe no Brasil desde 1941. O Brasil se transformou no reino da impunidade, entre outras razões, porque, por aqui, uma versão vesga do garantismo cobra que bandidos assinem recibo. Eles não costumam fazer isso. Também não têm o hábito de expedir ofício mandando praticar safadezas.

Reproduzo trecho do voto do ministro Ayres Britto, justamente quando tratava do caso Dirceu:
“(…) os fatos referidos pelo Procurador-Geral da República (…) se encontram provados em suas linhas gerais. Eles aconteceram por modo entrelaçado com a maior parte dos réus, conforme atestam depoimentos, inquirições, cheques, laudos, vistorias, inspeções, e-mails, mandados de busca e apreensão, entre outros meios de prova. Prova direta, válida e robustamente produzida em Juízo, sob as garantias do contraditório e da ampla defesa. Prova indireta ou indiciária ou circunstancial, colhida em inquéritos policiais e processos administrativos, porém conectadas com as primeiras em sua materialidade e lógica elementar(…)”.

Os políticos que fizeram os acordos com Delúbio é que garantiram que tudo sempre ficava na dependência da aprovação final José Dirceu. Ora, se ele tem, ainda hoje, depois de tudo, fora da Casa Civil, o controle de boa parcela do PT e influência evidente no governo, é de imaginar como se davam as coisas quando era o segundo homem mais poderoso do Brasil — só Lula estava à sua frente. Mas isso é o que aponta a lógica dos fatos. Contra Dirceu, há uma penca de depoimentos evidenciando que ele comandava o esquema criminoso.

A fala absurda
Afirma ainda Gandra:
“O domínio do fato é novidade absoluta no Supremo. Nunca houve essa teoria. Foi inventada, tiraram de um autor alemão, mas também na Alemanha ela não é aplicada. E foi com base nela que condenaram José Dirceu como chefe de quadrilha [do mensalão]. Aliás, pela teoria do domínio do fato, o maior beneficiário era o presidente Lula, o que vale dizer que se trouxe a teoria pela metade.“

Demonstro acima que não é assim. Muito pelo contrário. As provas indiciárias, como disse, estão no Código Penal desde 1941. Mas quero chamar a atenção de vocês para outra coisa. Notem que Ives Gandra nem toca no caso da corrupção ativa — Dirceu foi condenado por oito a dois. Sabe que é malhar em ferro frio. Também ele se concentra na quadrilha. Rosa Weber e Cármen Lúcia, duas dos quatro que o inocentaram desse crime (vocês sabem quem são os outros dois), nem chegaram a fazer considerações dessa ordem. É que entendem de modo diferente o crime de quadrilha. Seguissem o entendimento de Ives Gandra, elas o teriam inocentado do crime de corrupção ativa também.

A retórica da impunidade
Fico aqui a pensar como a retórica da impunidade, no Brasil, fala a linguagem do legalismo. Se gente como Dirceu, Delúbio e o próprio Genoino não tivessem sido pegos pela malha das provas indiciárias — “Considera-se indício a circunstância conhecida e provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias” —, não teriam sido punidos. Afinal, ninguém por ali assinava recibo. A conversa de Ives Gandra conduziria a uma de duas situações: a) ou todo mundo seria inocentado, e, pois, os crimes evidentes crimes não seriam; b) ou teríamos um processo com banqueiros, publicitários e secretárias condenados. E seriam eles, então, os culpados pelo mensalão. Vai ver Marcos Valério, um dia, chutou a porta de José Dirceu e lhe impôs o mensalão. O garantismo de doutor Ives, contra as provas indiciárias, seria a garantia da impunidade.

“Ah, a Polícia e o Ministério Público que arranjassem as provas…” Não! O direito penal não pode ser um campeonato para saber se os órgãos de investigação conseguem produzir a prova material. A ser assim, o bandido sempre estará na frente porque a tecnologia de investigação sempre estará, por definição, ao menos um passo atrás da tecnologia criminosa. Teremos uma República comandada por criminosos — aí oficialmente. A propósito: se jurado fosse, doutor Ives votaria pela absolvição do goleiro Bruno, certo? O corpo de Eliza Samudio não apareceu, e o que há contra ele são apenas testemunhos. Ora…

Quando a direita é boa
Que gente pitoresca! Na introdução da entrevista de Gandra, leio o seguinte:
“Quem diz isso não é um petista fiel ao principal réu do mensalão. E sim o jurista Ives Gandra Martins, 78, que se situa no polo oposto do espectro político e divergiu “sempre e muito” de Dirceu.”

Esclareço. Dirceu é de esquerda, e Gandra, no “polo oposto do espectro político”, é de direita. Sua opinião se revestiria de especial qualidade por isso. Entendi. Se ele estivesse a dizer que Dirceu é culpado, sim; que o conjunto da obra, pela via das provas indiciárias, justifica plenamente a condenação, ou ninguém daria bola, ou, então, os petralhas se encarregariam de lembrar que ele não passa de “um cara ligado ao Opus Dei” — coisa que, diga-se, as esquerdas vivem me atribuindo. Posso assegurar que a gente nunca se encontrou por lá…

A rede petralha se encarregou de espalhar a entrevista de Gandra como se fosse o “magister dixit” do direito, a palavra final, a prova que faltava. A gente já sabe que, para a turma, direita boa, ou vá lá, ilustrada ao menos, é a direita morta — José Guilherme Merquior, por exemplo (que nem direitista era…). O que eles não suportam é que possa haver conservadores ainda vivos. A sua concepção de democracia (e a de boa parte da imprensa brasileira) não pode conviver com isso. Mas a gente sabe que eles também respeitam a direita que adere — ainda que a apenas parte da agenda. Vejam o caso de Delfim Netto. Do grande satã do regime militar, foi convertido em amigo e conselheiro de Lula. Os revisores da história e revanchistas podem ser implacáveis com um chefe de quarteirão que julgam ter servido ao regime, mas não ousam criticar o ministro que assinou o AI-5 e ainda achou pouco porque não lhe facultou instrumentos, digamos, tão convincentes na área econômica.

O caso Gandra evidencia que, se é para proteger alguém da turma, até um direitista pode passar a ser visto como um homem de bem, que merece ser citado.


Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Josias de Souza: Nota de jornal já fez Celso de Mello mudar voto

Ao desempatar em favor dos condenados a votação em que o STF decidiu por 6 a 5 reabrir o julgamento de 12 mensaleiros, o ministro Celso de Mello tomou distância das ruas. “Os julgamentos do STF, para que sejam imparciais, isentos e independentes não podem expor-se a pressões externas como aquelas resultantes do clamor popular e da pressão das multidões”, disse ele. “Sob pena de completa subversão do regime constitucional dos direitos e garantias individuais.”

Esse Celso de Mello que desafia as multidões para resguardar direitos individuais não orna com o Celso de Mello retratado nas páginas de ‘Código da Vida’ - um personagem capaz de desprover uma petição que considera correta só para não corroborar uma notícia de jornal. O livro que exibe esse Celso de Mello fora da curva é de 2007. Escreveu-o o jurista Saulo Ramos, ex-consultor jurídico e ex-ministro da Justiça do governo de José Sarney.

O autor do voto de minerva que tornou admissíveis os embargos infringentes é mencionado em duas passagens do livro. Numa, Saulo conta como articulou junto a Sarney para que Celso de Mello, seu subordinado na consultoria jurídica do Planalto, fosse guindado ao posto de ministro do STF. Noutra, o autor revela episódio que o fez romper relações com o ex-pupilo.

Ao deixar a Presidência da República, Sarney resolveu candidatar-se ao Senado. O PMDB negou-lhe a legenda no Maranhão. Para driblar o veto, ele decidiu concorrer pelo Amapá. Os adversários impugnaram a candidatura. E o caso subiu ao Supremo. Num telefonema a Saulo, Celso de Mello considerou “indiscutível” o direito de Sarney à candidatura, já que a transferência de domicílio ocorrera dentro do prazo legal.

Sorteado para relatar o processo, Marco Aurélio Mello concedeu no mesmo dia uma liminar favorável à manutenção da candidatura de Sarney pelo Amapá. O caso escalou o plenário do tribunal. Sarney prevaleceu no julgamento do mérito. Para surpresa de Saulo, Celso de Mello votou pela cassação da candidatura. A meia-volta deixou-o embatucado. A explicação viria num novo telefonema do dono do voto. O diálogo vai reproduzido abaixo tal como se encontra no livro:

- Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto no caso do presidente.

- Claro! O que deu em você?

- É que a Folha de São Paulo, na véspera da votação, noticiou a afirmação de que o presidente Sarney tinha os votos certos dos ministros que enumerou e citou meu nome como um deles. Quando chegou minha vez de votar, o presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor. Não precisava mais do meu. Votei contra para desmentir a Folha de São Paulo. Mas fique tranquilo. Se meu voto fosse decisivo, eu teria votado a favor do presidente.

- Espere um pouco. Deixe-me ver se compreendi bem. Você votou contra o Sarney porque a Folha de São Paulo noticiou que você votaria a favor?

- Sim.

- E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?

- Exatamente. O senhor entendeu?

- Entendi. Entendi que você é um juiz de merda.


Saulo conta que bateu o telefone e nunca mais dirigiu a palavra a Celso de Mello. Morreu em 28 de abril de 2013 sem que o livro escrito cinco anos antes merecesse nenhum desmentido público do neodesafeto. Por ora, os dois Celsos -o que desafia as multidões e o que treme ante uma notícia de jornal- continuam coabitando o mesmo corpo.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Rodrigo Constantino - Cabide de emprego: investimentos patinam, mas as estatais seguem inchando o quadro de pessoal

Deu na Folha: Enquanto lucros e investimentos patinam, estatais ganham 40 mil funcionários novos no governo Dilma

Investimentos e lucros caíram em algumas das principais estatais federais, mas a ampliação do quadro de pessoal das empresas mantém, no governo Dilma Rousseff, o ritmo dos anos Lula.

Do final de 2010 até abril deste ano, segundo os dados mais atualizados do Ministério do Planejamento, o número de funcionários das empresas controladas pelo Tesouro Nacional aumentou em 40 mil _como comparação, uma multinacional como a Ambev emprega cerca de 45 mil pessoas no Brasil e em outros países.

A administração petista recebeu críticas, desde seu início, pela política de ampliação da folha de pagamento nos ministérios. No entanto, a expansão nas estatais, menos comentada, foi mais acelerada.

No total, o contingente de empregados nas empresas federais com receita própria se aproxima dos 500 mil, contra 339 mil em 2002, último ano do governo FHC.

A valorização das estatais é uma das bandeiras políticas do PT, que nas eleições presidenciais costuma atacar os adversários tucanos em razão das privatizações dos anos 90. Até o final do ano passado, os governos Lula e Dilma haviam criado dez novas empresas federais.

A expansão do quadro de pessoal, porém, se concentra nas empresas preexistentes, de maior porte. Os maiores empregadoras são Banco do Brasil (que absorveu outras instituições, como o Banco do Estado de Santa Catarina e a paulista Nossa Caixa), Correios, Petrobras, Caixa Econômica Federal e Infraero.

Assim é o PT: tudo aos “cumpanheiros”, e pro inferno com o restante da população! Meio milhão de funcionários trabalham em estatais no Brasil. É uma legião de defensores da manutenção do estado inchado.

Claro, com honrosas exceções, pois há funcionários decentes, aqueles que não temem as privatizações, pois sabem que teriam condições de remuneração ainda melhores nesse caso, mostrando bons resultados.

O avanço do estado sobre a economia tem sido uma das principais bandeiras do PT, e uma das grandes causas dessa situação preocupante de hoje. O estado não é bom empresário, não consegue gerir bem essas empresas.

O resultado é empreguismo, uso político das estatais, ineficiência nos serviços prestados, e uma enorme conta a ser paga pelos pagadores de impostos.

Por um lado, o próprio PT precisa se curvar diante da realidade de sua incompetência e realizar concessões para a iniciativa privada. Por outro, continua inchando o quadro de pessoal das estatais, ou até criando novas.

O que precisamos, no Brasil, é de um partido sem medo de defender o que é melhor, mais eficiente, mais justo, que é retomar um processo agressivo de privatização, liberando o estado para suas funções básicas. Estado não tem que ser empresário. Privatize Já!


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Nelson Motta: O poder da burrice

Todos os governantes, políticos, empresários, juízes, policiais e burocratas corruptos estão aliviados e serão eternamente gratos aos black blocs e vândalos em geral, que lhes prestaram o grande serviço de expulsar das ruas as manifestações populares que exigem mudanças urgentes e têm neles os seus principais alvos. Por ignorância e estupidez, fazem de graça o trabalho sujo em favor do que há de pior no Brasil. E ainda se acham revolucionários…

Em São Paulo, um idiota mascarado dizia na televisão que o seu objetivo era dar prejuízos a empresas multinacionais do bairro. Se fosse o repórter, eu lhe perguntaria se ele nunca imaginou que a única consequência de uma vitrine de banco quebrada é o seguro pagar uma nova. E, se o seguro ficar mais caro, os bancos repassam o aumento para todos os seus clientes. Mas a anta encapuzada acha que está combatendo o capitalismo…

Outro bobalhão, no Rio, encurralado por um policial, exibia o cartaz “não há revolução sem violência”, mas não quer que o Estado democrático se defenda da revolução dele com todos os meios, inclusive a violência. As cenas das turbas desembestadas escoiceando vitrines, pulando em cima de carros, derrubando e incendiando latas de lixo, não evocam a queda da Bastilha ou as revoltas de maio de 68, mas as imagens grotescas e os grunhidos do “Planeta dos macacos”.

A violência é humana e pode ser legítima, criminosa, doentia, perversa, criadora, gratuita, justa ou inevitável, pode até ser o motor da história, e a sociedade democrática tem que conviver com ela e encontrar um equilíbrio entre os direitos individuais e coletivos. Mas nunca foi tão burra como agora no Brasil.

Atuando como tropa de choque dos políticos bandidos, esses anarquistas de araque não sabem que são apenas fascistas, e usam as liberdades e garantias da democracia para ameaçá-la, impedindo que a população ocupe as ruas duramente reconquistadas da ditadura e livrando os verdadeiros inimigos do povo da pressão popular. Nunca tão poucos, e tão burros, deram tanto prejuízo a tantos, não a bancos e seguradoras, mas à democracia no Brasil.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Olavo de Carvalho: Monopólio e choradeira

Quando os comunistas da internet vociferam contra a mídia burguesa, é bom saber que a mídia burguesa são eles mesmos atuando em dois níveis: dominam os grandes jornais e canais de TV desde dentro para usá-los como veículos de desinformação e ao mesmo tempo descem o porrete neles desde fora para dar mais credibilidade à desinformação.

Isso é uma regra básica dos manuais de desinformátsiya. Desinformação só funciona quando a mentira não vem da boca de um inimigo notório e sim de alguém de confiança da vítima. Se você lê no Vermelho.org, no blog de Paulo Henrique Amorim ou no Baixamiro Borges alguma grossa denúncia contra os Estados Unidos, contra a Igreja, contra Israel, contra os militares ou contra os liberais e conservadores, pode desconfiar que é propaganda esquerdista.  Mas se lê a mesma coisa na Folha, no Globo ou no Estadão, imagina que é informação idônea, imparcial, puro  jornalismo.

Para que servem então o Vermelho.org, o Paulo Henrique Amorim, o Baixamiro Borges e similares? Servem precisamente para isso. São a substância de contraste que dá credibilidade à "grande mídia" quando esta, num estilo mais comedido, mente igualzinho a eles.

Secundariamente, podem servir também para alimentar de bobagens estimulantes a militância partidária. Para enganar o público maior, politicamente indefinido, é preciso veículos com uma fama de "direitistas", criada exatamente para esse fim.

Se você examinar caso por caso, verá que desde a década de 60 – em pleno regime militar –, os altos cargos da nossa mídia são quase todos ocupados por militantes ou simpatizantes da esquerda, que ao mesmo tempo, ou em fases alternadas da sua carreira profissional, publicam semanários "nanicos" ou, hoje em dia, blogs "alternativos", dando à plateia ingênua a impressão de que são a arraia miúda em luta contra a poderosa indústria de comunicações.

Isso é a essência mesma do trabalho de desinformação.

Os leitores em massa ignoram que o próprio modelo do jornalismo profissional "moderno", de corte americano, foi implantado no Brasil principalmente por comunistas, que o modularam para que servisse aos seus próprios fins sem dar muito na vista. Confiram na tese "Preparados, Leais e Disciplinados: os Jornalistas Comunistas e a Adaptação do Modelo de Jornalismo Americano no Brasil, de Afonso de Albuquerque e Marco Antonio Roxo da Silva, da UFF(http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1052-1.pdf).

Foi graças a essa operação que, por exemplo, os setenta milhões de vítimas do comunismo chinês, quarenta milhões do comunismo soviético, dois milhões do comunismo cambojano e cem mil do comunismo cubano praticamente desapareceram dos nossos jornais e canais de TV, onde, ao contrário, sempre houve espaço e tempo de sobra para umas dúzias de guerrilheiros mortos pelo regime militar. Deformar o senso das proporções é essencial para dessensibilizar a população ante os crimes dos comunistas e hipersensibilizá-la para tudo quanto seja nocivo ao comunismo.

Para dar somente um exemplo, basta notar que nunca a presença maciça de comunistas em postos de destaque nas redações foi denunciada como sinal de viés ideológico, mesmo quando se tratasse de aparatchniks treinados em Moscou e Pequim.

Ninguém jamais se queixou de que Otávio Brandão, Nabor Caires de Brito, Mário Augusto Jacobskind, Mauro Santayana, Cláudio Abramo, Élio Gaspari, Roberto Múller, João Sant’Anna, Alcelmo Góis, Fernando Morais, Paulo Moreira Leite e mais uma infinidade – alguns até líderes do PCB, do PC do B ou de organizações trotsquistas; outros, notórios empregados de governos comunistas – fossem diretores de jornais ou tivessem colunas de página inteira à sua disposição.

Basta, entretanto, que algum jornalista sem qualquer vínculo partidário, apenas não muito simpático pessoalmente à esquerda, assuma um cargo de editor ou ganhe um espacinho em qualquer jornal, revista ou programa de TV, e imediatamente chovem protestos de todo lado.

Os casos de Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo são apenas os mais recentes. Minha estréia em O Globo foi imediatamente respondida por uma campanha para que minha coluna fosse suprimida.

Milhares de blogs comunistas financiados por ONGs internacionais pululam na internet sem que ninguém ache estranho, mas basta aparecer um blog "de direita", mesmo sem qualquer vínculo organizacional e subsidiado apenas com o parco dinheiro de seus editores, e imediatamente a coisa é alardeada como um escândalo intolerável, um crime de lesa-pátria.

O leitor comum não tem a menor ideia de como essas coisas funcionam, nem das dimensões do poder esquerdista que transforma a mídia nacional praticamente inteira em órgão de desinformação comunista (sem isso teria sido impossível esconder por dezesseis anos a existência do Foro de São Paulo ou continuar escondendo até hoje a denúncia do ex-agente soviético Ladislav Bittman sobre jornalistas brasileiros pagos pela KGB). E os profissionais que sabem de tudo não têm, é  claro, o menor interesse em dar o serviço.

Com toda a evidência, os comunistas da nossa  mídia acham que a coisa mais normal e natural do mundo é possuir o monopólio do espaço jornalístico no Brasil – e ainda choramingar como se fossem uns coitadinhos desprovidos do direito à palavra.


Essa impressão postiça de naturalidade já se alastrou para todas as classes letradas, infectando o "senso comum"  ao ponto de  ninguém mais enxergar o monopólio como tal, e mencioná-lo é candidatar-se ao rótulo de "teórico da conspiração". A mentira alcança a perfeição quando impugná-la se torna uma doença mental.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Félix Maier: No Brasil, o passado é cada vez mais incerto

Eu achava que apenas o futuro era incerto, e que o passado – pelo menos o passado mais recente – fosse um fato consumado, sem muitas incertezas, dado o grande número de provas irrefutáveis que facilmente podem ser conferidas mediante a simples consulta de jornais antigos. Eu tinha certeza de que os fatos históricos recentes que eu tomei conhecimento em meu País seriam de domínio geral, não só meus e de uns poucos. Puro engano.

Cada dia que passa, o passado recente do Brasil vai-se modificando por conta de um revisionismo esquerdista inconsequente, que tenta explicar nossa História unicamente sob a ótica marxista. Pode-se ter dúvidas quanto a um passado remoto, como a Idade Média, ou muito distante, como o Big Bang, que é ainda apenas uma especulação científica. Mas, fatos que ocorreram há poucas décadas, como os dos governos militares pós-1964, deveriam ser contados como realmente ocorreram, sem maniqueísmos pueris, de modo a haver apenas o compromisso com a verdade.

Antonio Giusti Tavares afirma em seu livro Totalitarismo Tardio - o caso do PT: “Juízos de valor acerca de condutas do passado devem ser feitos não a partir de parâmetros éticos do presente, mas da contextualização da conduta na sua própria época, e nela, por comparação com condutas diferentes. Os historiadores e os cientistas sociais devem cumprir pelo menos dois requisitos básicos da epistemologia e da ética das ciências humanas: 1) evitar tanto quanto possível qualquer restrição ou seleção dos fatos brutos e 2) ao apresentá-los, distinguir sempre, tanto quanto possível, entre fatos e interpretações” (pg. 194). (1)

Como exemplos de revisionismo, temos:

- revisionismo soviético (em que antigos heróis, caídos em desgraça, eram riscados de enciclopédias, ou que tinham suas imagens “apagadas” em fotos oficiais);

- revisionismo do Holocausto (em que escritores colocam em dúvida o número de vítimas do Holocausto judeu promovido pelos nazistas - a exemplo de S. E. Castan em seu livro Holocausto Judeu ou Alemão?, pelo qual foi condenado pelo STF);

- revisionismo atual da esquerda brasileira: a história recente do Brasil, especialmente o Movimento militar de 1964, é descrita sob a ótica da dialética comunista, em que não há nenhum estudo sério sobre o assunto, apenas panfletagem e proselitismo socialista.

Outro tipo de revisionismo - na verdade, propaganda da desinformação e da difamação - liga o Papa Pio XII aos nazistas. Por exemplo, o livro de John Cornwell, “O Papa de Hitler”: “A capa do livro de John Cornwell mostra o arcebispo Pacelli saindo de um edifício do governo alemão, escoltado por dois soldados. Essa visita oficial do então Núncio Apostólico na Alemanha, teve lugar em 1929, quatro anos antes que Hitler chegasse ao poder (em 30/1/1933). Como Pacelli saiu da Alemanha em 1929 e nunca mais voltou, é enganoso e tendencioso o uso dessa fotografia” (Texto do jesuíta Peter Gumpel, historiador convidado pelo Vaticano para coordenar o processo de beatificação do Papa Pio XII, in Pio XII, Hitler e os judeus, publicado em PODER - Revista Brasileira de Questões Estratégicas, Ano I, nº 05, pg. 58, Brasília, Maio/Junho 2000).

No último livro de Leandro Narloch (2), lê-se que “‘o Saladino que os muçulmanos elevariam a um status quase messiânico no século 20 tinha uma semelhança muito maior com o imaginário popular europeu do século 19 do que com qualquer personagem histórico’, diz o historiador Abdul Rahman Azzam. Eis um ótimo exemplo de como, dependendo do ânimo e dos ressentimentos de uma época, o passado muda, ganha personagens, enredos e novas razões para as pessoas se sentirem magoadas com a história” (pg. 54).

O objetivo do revisionismo da esquerda brasileira é um só: solapar os fundamentos morais do país, alicerçados na herança judaico-cristã, e a rica história das Forças Armadas, que livraram o Brasil do jugo comunista (ou de uma guerra civil), ao mesmo tempo em que tenta enaltecer terroristas, como a presidente Dilma Rousseff, que integrou a sangrenta VAR-Palmares. Assim, não causa estranheza que o Dia da Pátria seja substituído pelo “dia dos excluídos” e pelo vandalismo dos Black Blocs, que Lamarca seja apresentado como herói e o Duque de Caxias seja revisto como genocida dos paraguaios.

Professores marxistas infiltrados nas escolas brasileiras afirmam que o Brasil e a Argentina estiveram a serviço do imperialismo inglês, invadindo o Paraguai e esmagando o país mais “progressista” da América do Sul. Uma estrondosa mentira, pois o Brasil havia rompido relações diplomáticas com a Grã-Bretanha devido à Questão Christie. O livro Nova História Crítica, para a 7ª. série, de Mário Schmidt, afirma que os ingleses foram contra a escravidão, não por questões humanitárias, mas por interesses econômicos. Na verdade, “o movimento abolicionista inglês teve uma origem muito mais ideológica que econômica. Organizado em 1787 por 22 religiosos ingleses, foi um dos primeiros movimentos populares bem-sucedidos da história moderna, um molde para as lutas sociais do século 19” (NARLOCH, 2009: 104). (3) Segundo Schmidt, “a princesa Isabel é uma mulher feia como a peste e estúpida como uma leguminosa” (idem, pg. 104). Para o linguista de pau, bonito talvez seja Zumbi dos Palmares, que tinha uma penca de escravos.

O historiador Francisco Fernando Monteoliva Doratioto, em seu livro O Conflito com o Paraguai - A guerra do Brasil, contesta tais revisionistas e afirma que “a formação dos Estados nacionais da região foi a causa do sangrento conflito” (Jornal de Brasília, 12/7/1999). Os cambás (pretos, em guarani) foram decisivos para a vitória brasileira: “Muitas vezes as deserções eram tantas que batalhões inteiros dissolviam-se quando em marcha para o front. Na verdade, como temos notícia em cartas de Osório a Caxias, muitos brancos rio-grandenses também desertavam. Porém, negros da Corte ou de todo o vasto Império lutavam bravamente e eram raríssimos os casos de deserção. O bom, forte e sacrificado sangue africano foi decisivo e insubstituível nas conquistas da guerra e, portanto, para o seu desfecho, com a vitória triunfal do Império” (PERNIDJI, 2010: 55-6). (4)

Vale lembrar que Caxias levou uma novidade ao campo de batalha: o balão aerostático, para reconhecimento do número de canhões do inimigo. Para tanto, trouxe o polonês-americano Chodasiewicz, perito no assunto. “Dizem que os paraguaios, quando viram o balão subir, caíram de joelhos e rezaram à Virgem e a Tupã, dizendo que o marquês tinha parte com o demônio e que, com os negros, levaria todos os homens para trabalhar nos saladeiros no Rio Grande, enquanto as mulheres, como escravas, iriam para a luxúria dos soldados, todos dentro do balão” (PERNIDJI, 2010: 94-5).

Enfoques revisionistas marxistas têm o mesmo valor histórico de “O Quinto dos Infernos”, minissérie da TV Globo que trata com desrespeito a História de D. João VI e D. Pedro I, com baixaria de toda ordem. Ou da novela chapa-branca do SBT, Amor e Revolução, apresentada em 2012, que serviu para achincalhar o Exército Brasileiro - uma cortesia de Sílvio Santos ao governo do PT, pela ajuda financeira ao imbroglio PanAmericano. Nesse mesmo ano, o SBT promoveu a votação de O maior brasileiro de todos os tempos. Para tristeza de muitos, Lula ficou pelo caminho, sendo vencedor o espírita Chico Xavier.

O mesmo maniqueísmo é visto na atual Comissão Nacional da Verdade - o Pravda tupiniquim - que tenta reescrever a recente história do Brasil dentro da ótica dos antigos terroristas de esquerda. Além de assassinar a História, de modo que prevaleça a versão da esquerda, o objetivo do governo revanchista de Dilma Rousseff é desviar a atenção de problemas complexos, que são jogados nos porões do esquecimento. Por exemplo, a Secretaria de Direitos Humanos, fazendo eco ao embuste esquerdista, lamenta os cerca de 400 “desaparecidos políticos” do governo militar, porém Maria “La Pecosa” do Rosário (5) não mostra nenhuma emoção, nem revolta, pelos cerca de 50.000 brasileiros que desaparecem todos os anos no Brasil, como noticiou o Jornal Nacional do dia 24/5/2012. Só no pequeno Distrito Federal, mais de 3 pessoas desaparecem todos os dias. Em 10 anos de governo do PT, houve um verdadeiro holocausto brasileiro, desconhecido pela grande mídia. Não me refiro ao livro de Daniela Arbex, mas aos cerca de 1.200.000 brasileiros violentamente mortos nos últimos 10 anos – anualmente, morrem cerca de 60.000 brasileiros em acidentes rodoviários e outro tanto são assassinados.

Recentemente, as Organizações Globo criaram um site, para apresentar a Memória do conglomerado empresarial. No dia 2 de setembro de 2013, requentando um texto publicado pelo jornal O Globo, o apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, lamentou que O Globo tenha publicado em 1984 um Editorial, em que Roberto Marinho fazia um balanço positivo do governo dos militares. Bonner disse que o “apoio ao golpe de 1964 foi um erro” - na verdade, houve um contragolpe, pois desde 1961 os comunistas brasileiros planejavam tomar o poder, com a participação de cubanos, e em janeiro de 1964 o traidor Luiz Carlos Prestes foi prestar contas a seus chefes, no Komintern, em Moscou, dizendo que “os comunistas já estão no governo, só falta tomar o poder”.

É vergonhoso a Globo, hoje, tentar modificar a História, repudiando o Movimento militar de 1964, que foi exigido por toda a sociedade, como se pode comprovar lendo os noticiários da época, quando a quase totalidade dos jornais inicialmente exigiram e depois apoiaram a derrubada de João Goulart. O mesmo pode ser conferido na edição extra da revista O Cruzeiro.

O capitão do Exército José G. Pimentel, em seu site, afirma o seguinte: “Em 1 de abril de 1964 o jornal O Globo não circulou, uma vez que fuzileiros navais, comandados pelo Almirante Aragão, a soldo de Jango, ocuparam as instalações do jornal. No dia seguinte, libertos, publicaram o editorial intitulado Ressurge a Democracia. Amanhã, caso os black blocs e os movimentos sociais, sabe-se lá a soldo de quem, impedirem a circulação do jornal, a quem a direção de O Globo irá recorrer?” Na verdade, tenho certeza de que O Globo não chegará a essa situação difícil, pois os novos donos já fizeram sua opção preferencial pelo apoio à esquerda bolivariana de Lula-Dilma junto com seus parceiros ideológicos Maduro-Correa-Cristina-Evo-Ortega - com a supervisão dos manos Castro, de Cuba. Desde que a verba bilionária proveniente da publicidade governamental continue a cair no cofrinho das Organizações Globo, os descendentes de Roberto Marinho não terão nenhuma vergonha de transformar seu jornal num Granma brasileiro.

Em seu novo Editorial, o “esquadrão de reescritores” orwelliano que hoje comandam o principal conglomerado brasileiro de comunicação, “magoados com a história”, finalizam dizendo pomposamente que “a democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma”. Se os atuais revisionistas das Oganizações Globo têm tanto apreço pela democracia, por que não se posicionam firmemente contra a entrada de milhares de espiões cubanos, fantasiados com jalecos brancos, os quais, de acordo com o objetivo final do Foro de São Paulo, têm como missão primordial ajudar o governo petista e aliados a dinamitar a democracia e instalar um regime comunista no Brasil, como o que já existe na Venezuela? Por que não denunciam a remessa de cerca de R$ 1,3 bilhão à ditadura cubana, que será feita em 3 anos, à custa do trabalho escravo dos “médicos” cubanos?

Será que algum dia os “reescritores” globais irão também fazer um mea culpa a respeito da farsesca edição que a TV Globo fez do debate ocorrido entre Lula e Collor, na campanha presidencial de 1989, em proveito deste último? Com certeza, os revisionistas globais também repudiam o antigo programa Amaral Neto, o Repórter, que apresentava as pujantes obras do governo militar, ao mesmo tempo que devem aplaudir o de Caco Barcelos, que obteve a façanha de criar uma mentira premiada, que foi desmascarada pelo coronel do Exército José Luis Sávio Costa.

No Brasil, o passado é cada vez mais incerto. Chegará o dia em que os mestres esquerdistas do engodo, dentro do espírito da criação de inúmeros bantustões brasileiros e da anticomemoração dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, irão devolver a Portugal as caravelas de Pedro Álvares Cabral. Quem sobreviver, verá!


Vacine-se contra o HIV esquerdista da desinformação, lendo o ORVIL e acessando, além do Mídia Sem Máscara, os sites e blogs Olavo de Carvalho, Escola Sem Partido, A Verdade Sufocada, Heitor de Paola, Terrorismo Nunca Mais - Ternuma, Notalatina, Diego Casagrande, Percival Puggina, Reinaldo Azevedo, Nivaldo Cordeiro, Guilherme Fiuza, Rodrigo Constantino, Augusto Nunes, Piracema – Nadando contra a corrente, Wikipédia do Terrorismo no Brasil.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Xico Graziano: Marketing da discórdia

Toni Ramos que se cuide. Ao virar garoto-propaganda da Friboi, o ator meteu-se numa encrenca que mobiliza o setor de carne bovina no Brasil. Os pecuaristas vislumbram, com temor, a formação de poderoso cartel entre os frigoríficos. Ruim para a boiada, péssimo para o churrasco.

Começou há meses esse embaraço. Articulada com o apoio da conceituada ONG Amigos da Terra, uma série de reportagens do Fantástico (TV Globo) mostrava, com imagens horríveis, a triste situação dos abatedouros municipais no País. Moscas, ratos, urubus misturavam-se à sujeira sanguinolenta, atestando absoluta falta de higiene no descarne das reses. As matérias induziam o telespectador a descobrir a origem da carne que consumiam. Cuidado com a carne clandestina.

A tese está correta. O serviço de inspeção veterinária é fundamental para verificar a existência, no animal abatido, de certas zoonoses, como tuberculose e cisticercose, potencialmente transmissíveis aos humanos. Ademais, somente profissionais habilitados conseguem averiguar as adequadas condições de asseio, impedindo a contaminação local da carne. A morte do bicho ainda deve seguir as regras do abate humanitário, amenizando seu sofrimento. Nenhum frigorífico poderia funcionar sem obedecer a tais exigências.

Ao que tudo indica, porém, houve um jogo combinado. Logo na sequência daquele impactante jornalismo, começou a ser veiculada uma forte campanha de marketing enaltecendo a excelência da carne oriunda da Friboi. As peças publicitárias sugerem ao consumidor que somente o produto dessa empresa garante a qualidade do bife. Foi essa mensagem que irritou profundamente a senadora Kátia Abreu (PR-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Em discurso na tribuna do Senado, a líder ruralista denunciou um "marketing enganoso" no ramo de comércio da carne bovina. Reforçando sua posição em artigo publicado na Folha de S.Paulo (Arquitetura do monopólio, 19/8), a parlamentar acusou o Grupo JBS, dono da marca Friboi, de se aproveitar de vultosos empréstimos obtidos no BNDES (acima de R$ 7 bilhões) para buscar o monopólio do setor. Com respaldo do poder público, estaria ocorrendo um "massacre publicitário" contra as demais empresas frigoríficas do País.

A polêmica avolumou-se. Roberto Smeraldi, sério ambientalista, responsável pela ONG Amigos da Terra, safou-se do conluio em favor do monopólio da carne. Disse apenas lutar, honestamente, pelo direito do consumidor de usufruir um produto sadio, mostrando ter servido de inocente útil na jogada do poderio econômico. O núcleo da questão reside no seguinte: seria saudável apenas a carne oriunda de grandes frigoríficos, ou os pequenos abatedouros também conseguiriam assegurar a qualidade de seu produto?

A legislação sobre a inspeção sanitária de produtos de origem animal no Brasil vem desde 1950. Atualizada em 1989, estabeleceu três níveis, crescentemente rigorosos, para o trabalho de fiscalização. Funciona assim: para a venda apenas dentro de cada município, vale o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), a cargo das prefeituras; a distribuição em nível intermunicipal exige o Serviço de Inspeção Estadual (SIE), mantido pelos governos; sendo o negócio nacional ou internacional, manda o Serviço de Inspeção Federal (SIF), exercido pela União. Em qualquer um deles, a inspeção é obrigatoriamente realizada por médico veterinário pertencente ao quadro público. Um serviço estatal.

Esse modelo de inspeção, territorial e estatizante, vem sendo questionado há tempos. Em contraposição, defende-se um sistema integrado com as empresas processadoras, imputando a estas a responsabilidade de garantir a qualidade de seus produtos. Nesse caso, caberia ao Estado, com poder de polícia, verificar o cumprimento da legislação. Haveria vantagens para a produção artesanal, que seria certificada num processo distinto do industrial, e as barreiras geográficas seriam substituídas por requisitos tecnológicos. Assim se procede em quase todo o mundo.

Hoje se toma como princípio, equivocado, que o rigor na inspeção é exclusividade do SIF, sobrevalorizando o âmbito federal. Sim, é verdade, suas normativas são bastante exigentes. Mas, infelizmente, acabam definindo um padrão, oneroso e burocrático, incompatível com o processamento de pequena escala, favorecendo os grandes frigoríficos. O problema atinge outros setores. Boa parte, por exemplo, do queijo fresco, típico do interior, elaborado historicamente pelos agricultores familiares, é jogada na clandestinidade pelas normas que, em nome da qualidade, beneficiam sempre os maiores laticínios. A legislação conspira contra os singelos.

O atributo da carne na panela, ou do queijo na goiabada, não se mede necessariamente pela escala do negócio. Mais importante que fechar os abatedouros vagabundos, cabe ao poder público ajudar na transformação tecnológica dos pequenos e médios empreendimentos, que precisam ser melhorados, devidamente fiscalizados. Não é justo, nem realista, supor que as periferias metropolitanas e o interior do Brasil venham a ser abastecidos somente pelos grandes conglomerados da alimentação.

Não se pode recriminar Toni Ramos nem seus colegas artistas por ganharem seu pão. Nem mesmo a Friboi deve ser condenada por investir em sua imagem. Errado, isso sim, opera um sistema que, seja na política do BNDES, seja no esquema da inspeção sanitária, atua em favor dos poderosos. Existem cerca de 1.300 frigoríficos espalhados pelo País que contribuem, bem ou mal, para oferecer a proteína e o gosto da carne na mesa das famílias. Seria bom vê-los aprimorados, não engolidos pela truculência capitalista.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Luiz Felipe Pondé: O fascismo do PT contra os médicos

O PT está usando uma tática de difamação contra os médicos brasileiros igual à usada pelos nazistas contra os judeus: colando neles a imagem de interesseiros e insensíveis ao sofrimento do povo e, com isso, fazendo com que as pessoas acreditem que a reação dos médicos brasileiros é fruto de reserva de mercado. Os médicos brasileiros viraram os “judeus do PT”.

Uma pergunta que não quer calar é por que justamente agora o governo “descobriu” que existem áreas do Brasil que precisam de médicos? Seria porque o governo quer aproveitar a instabilidade das manifestações para criar um bode expiatório? Pura retórica fascista e comunista. E por que os médicos brasileiros “não querem ir”?

A resposta é outra pergunta: por que o governo do PT não investiu numa medicina no interior do país com sustentação técnica e de pessoal necessária, à semelhança do investimento no poder jurídico (mais barato)? O PT não está nem aí para quem morre de dor de barriga, só quer ganhar eleição. E, para isso, quer “contrapor” os bons cidadãos médicos comunistas (como a gente do PT) que não querem dinheiro (risadas?) aos médicos brasileiros playboys. Difamação descarada de uma classe inteira.

A população já é desinformada sobre a vida dos médicos, achando que são todos uns milionários, quando a maioria esmagadora trabalha sob forte pressão e desvalorização salarial. A ideia de que médicos ganham muito é uma mentira. A formação é cara, longa, competitiva, incerta, violenta, difícil, estressante, e a oferta de emprego descente está aquém do investimento na formação.

Ganha-se menos do que a profissão exige em termos de responsabilidade prática e do desgaste que a formação implica, para não falar do desgaste do cotidiano. Os médicos são obrigados a ter vários empregos e a trabalhar correndo para poder pagar suas contas e as das suas famílias.Trabalha-se muito, sob o olhar duro da população. As pessoas pensam que os médicos são os culpados de a saúde ser um lixo.

Assim como os judeus foram o bode expiatório dos nazistas, os médicos brasileiros estão sendo oferecidos como causa do sofrimento da população. Um escândalo.É um erro achar que “um médico só faz o verão”, como se uma “andorinha só fizesse o verão”. Um médico não pode curar dor de barriga quando faltam gaze, equipamento, pessoal capacitado da área médica, como enfermeiras, assistentes de enfermagem, assistentes sociais, ambulâncias, estradas, leitos, remédios.

Só o senso comum que nada entende do cotidiano médico pode pensar que a presença de um médico no meio do nada “salva vidas”. Isso é coisa de cinema barato.E tem mais. Além do fato de os médicos cubanos serem mal formados, aliás, como tudo que é cubano, com exceção dos charutos, esses coitados vão pagar o pato pelo vazio técnico e procedimental em que serão jogados. Sem falar no fato de que não vão ganhar salário e estarão fora dos direitos trabalhistas. Tudo isso porque nosso governo é comunista como o de Cuba. Negócios entre “camaradas”. Trabalho escravo a céu aberto e na cara de todo mundo.

Quando um paciente morre numa cadeira porque o médico não tem o que fazer com ele (falta tudo a sua volta para realizar o atendimento prático), a família, a mídia e o poder jurídico não vão cobrar do Ministério da Saúde a morte daquele infeliz. É o médico (Dr. Fulano, Dra. Sicrana) quem paga o pato. Muitas vezes a solidão do médico é enorme, e o governo nunca esteve nem aí para isso. Agora, “arregaça as mangas” e resolve “salvar o povo”.

A difamação vai piorar quando a culpa for jogada nos órgãos profissionais da categoria, dizendo que os médicos brasileiros não querem ir para locais difíceis, mas tampouco aceitam que o governo “salvador da pátria” importe seus escravos cubanos para salvar o povo. Mais uma vez, vemos uma medida retórica tomar o lugar de um problema de infraestrutura nunca enfrentado.


Ninguém é contra médicos estrangeiros, mas por que esses cubanos não devem passar pelas provas de validação dos diplomas como quaisquer outros? Porque vivemos sob um governo autoritário e populista.

Rodrigo Constantino (sobre editorial do Globo): O contexto de 64

O GLOBO reconheceu hoje que seu editorial de 1964, apoiando o “golpe” (ou contragolpe, dependendo do ponto de vista), foi um equívoco histórico. O jornal reconhece que o contexto era diferente, que à época essa pareceu a coisa certa a fazer para a equipe, mas que, com o benefício do retrospecto, mostrou-se um erro ter apoiado os militares. Há controvérsias.

Diz o jornal hoje:

Os homens e as instituições que viveram 1964 são, há muito, História, e devem ser entendidos nessa perspectiva. O GLOBO não tem dúvidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país.

À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma.

Será que não há mesmo como reconhecer, hoje, que o apoio foi um erro? A democracia é um valor quase absoluto, muito valioso, mas ela é um meio acima de tudo, um instrumento para a liberdade em sociedade. Não diria que é um fim em si mesma. Regimes com cores democráticas podem levar a tiranias. O Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores, que levou Hitler ao poder, foi eleito, assim como Chávez na Venezuela.

A democracia é desejável, como sabiam Popper, Mises e Churchill, pois é o pior modelo, exceto todos os outros; é um meio pacífico de eliminar erros, sem derramamento de sangue revolucionário. Mas e quando a própria democracia coloca no poder grupos que desejam destruí-la de dentro? Salvador Allende fez isso, assim como Chávez e Kirchner. Era o caso de Jango? É o caso do PT hoje?

Não são respostas fáceis. O que não podemos fazer, por pressão das minorias organizadas, é reescrever a história e pintar aqueles guerrilheiros comunistas como defensores da democracia. Não eram! Quando o ministro do STF elogia a trajetória de José Genoino, de sua luta pela “democracia”, isso é uma afronta aos fatos! Essa turma queria implantar no país uma ditadura nos moldes cubanos. O GLOBO pode até se sentir acuado com tanta pressão ideológica, mas não podemos ignorar a verdade.

Segue, portanto, um artigo meu que tenta resgatar um pouco alguns acontecimentos importantes da época. Claro que o leitor pode continuar condenando os militares e o editorial do GLOBO da época, mas sem dúvida não é um ponto pacífico, uma conclusão trivial e óbvia. Vejam:

O contexto de 1964

“É sumamente melancólico – porém não irrealista – admitir-se que no albor dos anos 60 este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: ‘anos de chumbo’ ou ‘rios de sangue’…” (Roberto Campos)

Muitos brasileiros pensam que os membros do PT e da esquerda radical sempre participaram de uma luta pela democracia no Brasil. Na verdade, eles queriam uma “democracia popular”, eufemismo para ditadura da nomenklatura, como foi o caso de todos os países onde os comunistas tiveram sucesso.

Eles lutavam pelo modelo existente até hoje em Cuba, que de democrático não tem absolutamente nada. Vale a pena voltar um pouco no tempo, para resgatar os fatos deturpados por esses que posam atualmente de defensores da democracia e recebem milhões de anistia do governo.

A chamada “crise da legalidade” foi deflagrada com a renúncia de Jânio Quadros, quando os ministros da Guerra, da Marinha e da Aeronáutica não aceitaram a posse do vice-presidente João Goulart, herdeiro político do ditador populista Getúlio Vargas e acusado de ligações com os comunistas. O país estava em sério risco de viver uma guerra civil.

Diante da estação da Central do Brasil, mais de cem mil manifestantes gritavam por mudanças, com faixas como “Reconhecimento da China Popular”, “PCB – Teus Direitos São Sagrados”, “Abaixo com as Companhias Estrangeiras”, “Trabalhadores Querem Armas para Defender o Seu Governo” e “Jango – Defenderemos as Reformas a Bala”. A classe média teve uma reação em cadeia contra essa radicalização estimulada pelo próprio governo.

Leonel Brizola, cunhado de Jango, defendeu a substituição do Congresso por uma Constituinte repleta de trabalhadores camponeses, sargentos e oficiais nacionalistas. Goulart assinou um decreto, em 1964, desapropriando todas as terras num raio de dez quilômetros dos eixos das rodovias e ferrovias federais para sua reforma agrária, assim como encampou as refinarias de petróleo privadas, em outro decreto.

Foi anunciado o tabelamento dos aluguéis. O governo estava em crise, apelando para a intimidação, enquanto a economia afundava. A inflação fora de 50% em 1962 para 75% no ano seguinte. Os primeiros meses de 1964 projetavam uma taxa anual de 140%, a maior do século. A economia registrava uma contração na renda per capita pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. As greves duplicaram entre 1962 e 1963. O governo irresponsável acumulara um déficit equivalente a mais de um terço do total das despesas. Jango nomeou o almirante Paulo Mário da Cunha Rodrigues, próximo ao Partido Comunista.

O Congresso mostrava-se disposto a bloquear os projetos de reforma. Luiz Carlos Prestes, ligado ao Partido Comunista, chegou a defender a dissolução do Congresso. Um golpe, de um dos lados, parecia iminente e inevitável. Tancredo chegou a prever que os passos de Jango levariam a uma luta armada. O governador pernambucano esquerdista, Miguel Arraes, declarou estar certo de um golpe, “de lá ou de cá”. Brizola repetia que “se não dermos o golpe, eles o darão contra nós”.

Jango, na China, discursava sobre o socialismo no Brasil. A famosa Revolta dos Marinheiros foi como uma gota no copo d’água lotado. Ocorreu uma quebra de hierarquia militar. O cabo Anselmo liderou a revolta, que resultou na demissão do ministro da Marinha, almirante Sílvio Mota, por tentar reprimi-lo.

O contexto internacional da década de 60 era marcado pela Guerra Fria, e Cuba, no continente americano, tinha sido o primeiro caso de sucesso dos comunistas. O eixo da luta entre capitalistas e comunistas tinha se deslocado para a América Central, e os ditadores da União Soviética estavam investindo pesado no continente, enviando bilhões de dólares e agentes da KGB para diversos países. Em 1962 ocorreu a crise dos mísseis nucleares, que os russos instalaram clandestinamente no território cubano. Quase foi deflagrada uma guerra nuclear pela tentativa de avanço imperialista dos soviéticos comunistas.

O perigo do comunismo era real para todos os países, incluindo o Brasil. Diversas nações caíram nas garras comunistas nesse período, entrando em ditaduras duradouras e caóticas, enquanto outras acabaram partindo para uma ditadura de direita, tentando travar os avanços comunistas. E era esse regime, responsável pela morte de cerca de cem milhões de pessoas no mundo todo, que as “vítimas” da ditadura queriam implantar no Brasil à força. Grandes defensores da democracia!

Eis o contexto do “golpe” de 1964 pelos militares, que, na verdade, foi mais um contragolpe. O general Humberto de Alencar Castello Branco era chefe do Estado-Maior do Exército, e fora um respeitado chefe da seção de operações da Força Expedicionária Brasileira. Assumiu o comando da nação, fazendo um governo decente. Preparou as bases que permitiram o “milagre econômico” posterior. Não vem ao caso analisar os anos da ditadura em si, que foram péssimos para o país, com a exceção desses primeiros comandados por Castello Branco, que pretendia inclusive anunciar eleições democráticas rapidamente.

A ditadura acabou sendo um exemplo do positivismo de Comte, com bastante interferência do Estado. Geisel, não por acaso o ditador mais admirado pela esquerda, criou dezenas de estatais. A ditadura não teve nada de liberal em economia, e a colocam à direita no espectro político apenas por ter combatido a esquerda radical dos comunistas. Mas nenhuma similaridade pode ser encontrada entre os militares e uma Margareth Thatcher, por exemplo, que representa a direita e que possibilitou enormes avanços para a Inglaterra, que estava caminhando rapidamente rumo ao fracasso com medidas socialistas.

Como o próprio Roberto Campos reconheceu, “o erro dos militares foi não terem feito a abertura econômica antes da política; o erro dos civis foi, depois da abertura política, praticarem uma fechadura econômica”. O Brasil simplesmente não experimentou as graças do liberalismo.

Após a reação dos militares, com forte apoio popular na época, que culminou no “golpe” de 64, os comunistas intensificaram alguns ataques. Como os primeiros anos não foram na “linha dura”, os radicais de esquerda perpetraram ações que incluíram assassinatos e seqüestros, como o do embaixador americano, o que acabou provocando o agravamento brutal da repressão, que chegou a partir do Ato Institucional nº 5.

Antes da assinatura do AI-5, já estavam no currículo desses terroristas o assassinato de pessoas como o Major do Exército da então Alemanha Ocidental, Edward Von Westernhagen, no primeiro dia de julho de 1968, e do Capitão do Exército norte-americano Charles Rodney Chandler, em São Paulo, no dia 12 de outubro de 1968.

Um dos grupos que defendia essa guinada violenta era o Agrupamento Revolucionário de São Paulo, inspirada em Carlos Marighela, que havia redigido o “Manual do Guerrilheiro Urbano”. Em 21 de junho de 1968, na chamada “Sexta-feira Sangrenta”, ocorreu um confronto ininterrupto que resultaria em centenas de feridos, 23 pessoas baleadas e quatro mortos, incluindo um soldado da PM atingido por um tijolo.

Tentaram arrombar também as portas da agência do Citibank, símbolo do “imperialismo ianque”, e jogaram vários coquetéis Molotov na sede do jornal O Estado de São Paulo. O AI-5 foi assinado apenas em 13 de dezembro de 1968, como resposta aos crimes bárbaros cometidos pelos comunistas. O povo inocente pagou o preço.

Não obstante esse contexto envolvendo os acontecimentos da década de 1960, a esquerda que lutava pelo modelo comunista ainda tenta monopolizar a moral, se colocando como vítima indefesa de autoritários opressores. Qualquer ditadura merece ser criticada. Mas criticar nossa ditadura não é o mesmo que inocentar os comunistas, que brigavam por outra ditadura muito pior.


Roberto Campos concluiu: “Comparados ao carniceiro profissional do Caribe, os militares brasileiros parecem escoteiros destreinados apartando um conflito de subúrbio…” O mais revoltante mesmo, é ver esses defensores de Fidel Castro condenando a nossa ditadura e ganhando rios de dinheiro, extraídos na marra do povo, somente por terem sofrido num combate onde representavam o pior lado do ponto de vista moral: o lado comunista.