sábado, 25 de julho de 2009

MIRIAM LEITÃO - ANORMAL PROFUNDO

Parece pequeno. Afinal, o que é um emprego no meio de tanto desvio? O que é mais um ato secreto no meio de tantos baixados por tanto tempo? O que é mais uma ajuda de Agaciel Maia, que ajudou tanto os senadores que o nomearam e o mantiveram na Casa? O que é uma filha pedindo um favor a seu pai, que transfere o pedido para o avô da jovem, que quer apenas um emprego para o namorado?

Tudo parece normal e pequeno, e é um exemplo exato do velho vício brasileiro que tem piorado nos últimos tempos. Maria Beatriz Sarney acha normal dizer: “Pai, meu irmão saiu do Senado, dá para o Henrique (namorado dela) entrar no lugar dele?”

A pergunta revela que uma jovem chamada Beatriz, da elite brasileira, acha que o país tem que dar um emprego público a seu namorado, sem concurso, através do tráfico de influências.

A tragédia brasileira poderia terminar aí, se o pai, Fernando Sarney, dissesse: — Não, minha filha, o que é isso? Cargo público se consegue por concurso, por mérito.

Mas Fernando não surpreende. Nem a filha, nem o país. “Podemos trabalhar isso sim”, diz ele. E mais adiante: “Vou falar com Agaciel.”

Agaciel é o mesmo dos escândalos passados. É o mesmo que foi posto no cargo por José Sarney. Este também não surpreende: “Já falei com Agaciel, pede o Bernardo para falar com ele.” Bernardo é o rapaz que está saindo do cargo. Irmão de Beatriz, neta de José Sarney, que nomeou Agaciel.

Filha e pai têm conversas no dia seguinte. Seria bom, se a jovem dissesse: — Pai, pensei esta noite, que absurdo eu pedi ontem! É uso da máquina pública como se ela pertencesse à nossa família.

Se ela tivesse dito isso, havia esperança de que uma nova geração da mesma família tivesse valores novos. Infelizmente, ela insiste, acha normal que se o irmão saiu da vaga, que ela seja dada ao seu namorado. Vai ao avô com o pedido. Ele poderia ter dito, para melhorar sua biografia: — O que é isso, minha neta? Isso não se faz!

Mas ele reclama que ela demorou a tratar do assunto. Falasse antes para “eu agilizar”.

Os telefonemas e transações continuam. Fernando Sarney liga para o ajudante de ordens do pai para explicar a questão e diz uma frase emblemática: “O irmão está saindo, é uma vaga que podia ser nossa.” O país ficou sabendo assim que existem vagas “deles”, capitanias, que vão do irmão da Beatriz para o namorado da Beatriz.

Em outro diálogo, o outro filho de Fernando Sarney, João Fernando, mostra como eles ocupam essa capitania. Ele trabalha em outra vaga familiar, no gabinete do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), amigo de José Sarney. João Fernando se diverte. Conta ao pai um fato inusitado. O senador, seu chefe, o chamou. “Eu pensei que era coisa séria.” E era para vê-lo porque ele nunca vai lá. Todos acham normal. Pai, filho, senador Cafeteira, que um jovem se abolete num cargo público e não compareça ao local de trabalho. “Chamei para te ver”, disse o senador Cafeteira.

Voltando ao caso de Henrique, o que precisava ocupar o cargo do irmão da namorada, neta de José Sarney. O ajudante de ordens diz que o senador Sarney falará com Agaciel Maia, o diretor do Senado. Fernando, então, fala com o pai. José Sarney reclama de novo dos prazos: “Mas ele (Bernardo, irmão da Beatriz) entrou logo com um pedido de demissão...” O que o avô não gostou é dessa pressa de sair antes que o cargo ficasse garantido com a família. E promete falar com Agaciel. Fernando, seu filho, responde: “É só isso aí, é isso que eu queria. Que tu desse uma palavrinha com ele (Agaciel). Se tu der, resolve.” E resolveu. O cargo foi dado ao namorado da Beatriz, em ato secreto.

Nesses diálogos obtidos pelo “Estado de S. Paulo” está desnuda uma faceta da política brasileira. Um velho vício do Brasil, agravado: a família em questão é rica, muito rica. O avô, patriarca do clã, está inclusive esfriando a cabeça numa ilha particular. Poderia pendurar quem quisesse nos muitos negócios da família: Henrique, Bernardo, Beatriz, João Fernando. Aliás, os prósperos negócios familiares estão nas mãos do pai de Beatriz, sogro de Henrique. Por que não ocorre a ninguém isso?

Ainda haveria uma esperança, se após o diálogo divulgado, o presidente do Senado repetisse a frase que disse diante de Tancredo morto: “Serei maior que eu mesmo.” E encerrasse toda aquela conversa de mais uma vez tratar os bens públicos como parte de suas muitas propriedades. Fosse maior do que tem sido, por décadas.

Mas não há esperança. Os diálogos eram aqueles mesmos. Lá da sua ilha, o patriarca desculpa a todos: “Foram conversas de pai e filho.” São sempre assim então as conversas de pai e filho? O senador sem voto Wellington Salgado (PMDB-MG), conhecido por abonar qualquer mau comportamento, diz que é tudo normal. É político ocupando “espaço disponível”. Espaço para ele não é no sentido figurado, é físico mesmo: é emprego para a parentela. O advogado da família diz que o crime é divulgar a conversa. “É diálogo de natureza política”, entende o ministro da Justiça, Tarso Genro.

Tudo parece normal. E é um instantâneo do anormal profundo com o qual o país tem convivido.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

BESTEIROL - PECADORES NAS MÃOS DE UM DEUS IRADO

Pecadores nas Mãos de um Deus Irado foi um sermão pregado por Jonathan Edwards em 8 de julho de 1741, em Enfield, Connecticut.
O sermão foi baseado em Deuteronômio 32:35, “...a seu tempo quando resvalar o seu pé” e proclamava a ira de Deus contra o pecado e uma petição aos ouvintes para viver uma vida santa.
Edwards não era bom orador, mas, enquanto ele pregava, houve pessoas que choravam e clamavam por arrependimento, enquanto que outros se agarravam às colunas da igrejas, como se estivessem sentindo sendo engolidos pelo inferno. Ele teve que esperar as pessoas se acalmarem para terminar o sermão. Após o sermão, Edwards fez um apelo à unidade cristã e também contribui para O Grande Despertamento. Na opinião de Wesley L. Duewel, este sermão contribuiu para a continuação do avivamento
“Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder, se apressam a chegar.” (Deuteronômio 32:35 ACF1)
Neste verso está indicada a vingança de Deus sobre os pecaminosos e descrentes israelitas, que eram o povo visível de Deus, e que viviam sob os meios de graça; mas que, não obstante todas as maravilhas das obras de Deus para com eles, permaneciam (como está no verso 28) faltos de conselho, não havendo neles entendimento. Debaixo de todos os cultivos do céu, eles produziam fruto amargo e venenoso; como está nos dois versos próximos que precedem o texto. - A expressão que escolhi como meu texto, ao tempo que resvalar o seu pé, parece encerrar os seguintes fatos, relativos à punição e destruição a que estes israelitas pecadores estavam sujeitos: Que estavam sempre expostos à destruição; como alguém que se levanta e anda por lugares escorregadios está sempre exposto à queda. Isto está implícito na forma de destruição que vinha sobre eles, sendo representada por seus pés escorregando (resvalando). O mesmo está expresso no Salmo 73:18 “Certamente tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em destruição.” Isto implica, que eles sempre estiveram expostos a uma repentina e inesperada destruição. Como aquele que anda por locais escorregadios está a cada instante sujeito à queda; ele não pode prever o momento em que estará de pé ou o próximo em que cairá; e quando cai, cai subitamente, sem aviso. Isto também está expresso no Salmo 73:18-19 “Certamente tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em destruição. Como caem na desolação, quase num momento! Ficam totalmente consumidos de terrores.” Outra implicação é, que eles estavam sujeitos a cair por si mesmos, sem serem derrubados pela mão de outro; como aquele que se levanta e anda por um terreno escorregadio não precisa de nada além de seu próprio peso para derrubá-lo. Que a razão porque eles não haviam ainda caído, e não caíram naquele instante, é apenas que o tempo definido por Deus não havia chegado. Por isto está dito que ao tempo, ou quando o tempo determinado chegar, seus pés irão resvalar (escorregar). Então será permitido que caiam, como estão propensos por seu próprio peso. Deus não irá mais segurá-los nestes lugares escorregadios, mas irá deixá-los cair; e então neste exato instante, cairão em destruição; como aquele que se põe em pé em uma rampa escorregadia e inclinada, à beira de um penhasco, não pode permanecer em pé por si só; quando é solto imediatamente cai e está perdido. O exame das palavras nas quais eu irei agora insistir é este: - “Não há nada que mantenha pecadores, em momento algum, fora do inferno, a não ser a mera graça de Deus”. - Por mera graça de Deus, quero dizer sua soberana graça, sua vontade arbitrária, não se prendendo a qualquer obrigação, não impedida por nenhuma forma de dificuldade, coisa alguma mais que a possibilidade da vontade de Deus tida em seu menor grau, ou em qualquer outra consideração, qualquer que seja, nenhuma outra mão há a preservar os pecadores em momento algum. - A verdade deste exame pode aparecer através das seguintes considerações: Não há nenhuma falta de poder em Deus para lançar pecadores ao inferno a qualquer instante. As mãos dos homens não têm forças quando Deus se levanta. O mais forte não Lhe pode resistir, nem pode escapar de suas mãos. - Ele não somente é capaz de lançar pecadores ao inferno, mas pode fazê-lo muito facilmente. Algumas vezes um príncipe terreno encontra grande dificuldade para subjugar um rebelde que tenha encontrado meios de se fortificar, e que tenha se feito forte pelo número de seus seguidores. Mas, não é assim com Deus. Não há fortaleza que sirva de defesa contra o poder de Deus. E ainda que mãos se unam a outras mãos, e vastas multidões de inimigos de Deus se combinem e se associem, eles serão facilmente feitos em pedaços. Eles são como um grande monte de finas moinhas diante de um tufão; ou grandes quantidades de restolho seco diante de chamas devoradoras. Nós achamos fácil pisar e esmagar um verme que vejamos a se arrastar pelo chão; assim também nos é fácil cortar ou queimar uma fina linha na qual alguma coisa esteja pendurada: pois é fácil assim para Deus, quando deseja, lançar seus inimigos até ao inferno. O que nós somos, para que pensemos em nos colocar contra Ele, por cuja repreensão a terra treme, e diante de quem as rochas são esmagadas? Eles merecem ser lançados ao inferno; tanto que a divina justiça nunca se interpõe no caminho, ela não faz nenhuma objeção quanto a Deus usar seu poder no momento de destruí-los. De fato, ao contrário, a justiça clama por uma infinita punição de seus pecados. A justiça divina diz daqueles que geram tais uvas de Sodoma: “Corta o; por que ocupa ainda a terra inutilmente?” Lucas 13.7. A espada da divina justiça está neste momento brandindo sobre suas cabeças, e não há nada além da mão da soberana misericórdia, e da mera vontade de Deus, detendo-a. Eles já estão sob uma sentença de condenação ao inferno. Eles não somente merecem, justamente, serem lançados lá, mas a sentença da lei de Deus, que é a eterna e imutável regra de justiça que Deus fixou entre Ele e a humanidade, foi contra eles, e permanece contra eles, tanto que já estão suspensos sobre o inferno. João 3:18 “Quem não crê já está condenado”. Assim é que cada homem não convertido pertence ao inferno; que é seu lugar; de lá ele é. João 8:23 “Vós sois de baixo.” E para lá estar, é levado; é o lugar onde a justiça, e a palavra de Deus, e a sentença da sua imutável lei serão aplicadas sobre este homem. Eles são agora objeto daquela mesma ira e vingança de Deus, que é expressa pelos tormentos do inferno. E a razão pela qual não vão ao inferno neste mesmo instante, não é porque Deus, em poder de quem estão, não esteja neste momento grandemente irado com eles, da mesma forma como está com as muitas miseráveis criaturas que estão agora em tormentos no inferno, as quais lá sentem e suportam a fúria de sua ira. Na verdade, Deus está irado em um grau muito maior com um grande número dos que estão agora na terra; sim, e sem dúvida, com muitos que estão agora nesta congregação (os quais, é possível, estejam bem à vontade), do que está com muitos daqueles que estão agora nas chamas do inferno. Tanto que não é porque Deus esteja desatento às suas maldades, e não se ressinta delas, que Ele não deixa sua mão baixar e cortá-los fora. Deus não é de forma alguma como eles próprios, apesar deles O imaginarem como sendo. A Ira de Deus queima contra eles, sua condenação não descansa, o abismo está preparado, o fogo está pronto, a fornalha já está quente, pronta para recebê-los; as chamas estão neste momento intensas e ardentes. A resplandecente espada está afiada, e levantada sobre eles, e o abismo tem aberto sua boca abaixo deles. O diabo permanece pronto a cair sobre eles, e apanhá-los como seus próprios, no momento em que Deus o permitir. Eles lhe pertencem; ele tem suas almas em possessão, e sob seu domínio. As Escrituras os representam como suas posses, Lucas 11:21. Os demônios os assistem; estão sempre com eles à sua mão direita; os demônios permanecem aguardando por eles, como vorazes leões famintos que vêem sua presa, e esperam conseguí-la, mas que por enquanto são mantidos afastados. Se Deus retirasse sua mão, pela qual os demônios estão sendo contidos, eles iriam imediatamente voar sobre suas pobres almas. A antiga serpente está escancarada para eles; o inferno abre sua enorme boca para recebê-los; e se Deus assim o permitisse, seriam rapidamente engolidos e estariam perdidos. Há nas almas dos pecadores princípios diabólicos reinando, os quais num instante queimariam e arderiam no fogo do inferno, não fosse pela restrição de Deus. Existe guardada na própria natureza do homem carnal, uma fundação para os tormentos do inferno. Existem neles princípios corrompidos, em reinante poder, e em plena possessão deles, que são as sementes do fogo do inferno. Estes princípios estão ativos e são poderosos, e extremamente violentos em sua natureza, e se não fosse pela restringente mão de Deus sobre eles, rapidamente eles se romperiam e se incendiariam, da mesma forma que estas mesmas corrupções, que o mesmo inimigo cria nos corações das almas em danação no inferno, e produziriam os mesmos tormentos que nelas produzem. As almas dos pecadores são comparadas pelas Escrituras a um mar bravo, Isaias 57:20. No momento, Deus restringe sua maldade através de seu imenso poder, como Ele faz com as furiosas ondas do mar turbulento, dizendo: “Até aqui virás, e não mais adiante”2, mas se Deus retirasse este poder restringente, ele levaria rapidamente todos consigo. O pecado é a ruína e a miséria da alma; é destrutivo em sua natureza; e se Deus o deixasse sem sua restrição, nada mais seria necessário para tornar a alma completamente miserável. A corrupção do coração do homem é sem moderação e não tem limites em sua fúria, e enquanto o pecador aqui viver, é como fogo contido pela restrição de Deus; levando-se em conta que se for deixado solto incendiará o curso da natureza e o coração será então uma fossa de pecado, assim se o pecado não fosse restringido, imediatamente transformaria a alma em um forno ardente, ou em uma fornalha de fogo e enxofre. Não há segurança para pecadores em momento algum, ainda que não existam meios visíveis de morte à mão. Não há segurança para um homem natural, ainda que agora esteja com saúde, e que não veja de que forma possa já agora sair do mundo por causa de algum acidente, e que não haja qualquer perigo visível em nenhum aspecto de suas condições de vida. A contínua e variada experiência do mundo em todos os tempos, mostra que isto não é evidência de que um homem não esteja à beira da eternidade, ou de que o próximo passo não ocorra em outro mundo. O invisível, os imprevisíveis caminhos e meios pelos quais as pessoas vão subitamente para fora deste mundo são inumeráveis e inimagináveis. Homens inconversos andam sobre o abismo do inferno em uma cobertura podre, e há inúmeros lugares nesta cobertura tão fracos que não suportarão seu peso, e estes lugares não são visíveis. As flechas da morte voam invisíveis mesmo ao meio-dia; a vista mais aguçada não as pode discernir. Deus tem muitos e insondáveis meios de levar pecadores para fora deste mundo e enviá-los ao inferno, e não há nada que mostre isto, de modo que Deus não tem necessidade de ficar à busca de um milagre, ou de alterar o curso normal de sua providência, para destruir qualquer pecador, em um momento qualquer. Todos os meios que existem para que pecadores saiam deste mundo estão nas mãos de Deus, e estão tão universal e absolutamente sujeitos ao seu poder e determinação, que não depende de nada além da mais simples vontade de Deus, para que os pecadores sigam em um instante qualquer para o inferno, mesmo que estes meios jamais tenham sido utilizados, ou que não sejam concernentes ao caso. A prudência e o cuidado dos homens naturais em preservar suas próprias vidas, ou o cuidado de outros em preservá-las, não lhes dá segurança em tempo algum. Disto, a divina providência e a experiência universal dão também testemunho. Há esta clara evidência de que a sabedoria própria dos homens não lhes é segurança contra a morte; porque se fosse de outra forma nós veríamos alguma diferença entre os homens sábios e políticos do mundo, e os outros, com relação à sua sujeição a uma morte prematura e inesperada: mas como é isto de fato? Eclesiastes 2:16 “E como morre o sábio, assim morre o tolo!” Todos os esforços e a sagacidade dos pecadores, as quais usam para tentar escapar do inferno, enquanto continuam a rejeitar a Cristo, e portanto, permanecendo pecadores, não lhes garantem contra o inferno em nenhum momento. Praticamente qualquer homem natural que ouve sobre o inferno, ilude a si mesmo de que irá escapar dele; ele depende de si mesmo para sua própria segurança, e se ilude sobre o que já fez, sobre o que tem feito, ou sobre o que pretende fazer. Cada um projeta maneiras em sua própria mente sobre como evitará a danação, e se ilude achando que planejou bem para si mesmo, e que estes esquemas não irão falhar. Eles ouvem, na verdade, que há muito poucos salvos, e que grande parte dos homens que antes morreram foram para o inferno; mas, cada um imagina que projetou maneiras melhores para seu próprio escape do que os outros fizeram. Ele não tem a intenção de ir àquele lugar de tormento; diz a si mesmo, que pretende tomar um cuidado efetivo, e estabelecer fórmulas tais que ele mesmo não venha a falhar. Mas, os tolos filhos dos homens miseravelmente se iludem a si mesmos com seus próprios esquemas, e certos de sua própria força e sabedoria, confiam em nada mais do que uma sombra. A maior parte daqueles que antes viveram sob estes mesmos meios de graça, e que agora estão mortos, foram indubitavelmente para o inferno; e isto não ocorreu porque eles não foram tão espertos quanto aqueles que agora estão vivos: não aconteceu porque eles não tenham projetado, para si mesmos, maneiras de escapar tão boas que assegurassem seu próprio escape. Se nós pudéssemos falar com eles, e inquirir deles, um por um, se eles esperavam, quando vivos, quando ouviram sobre o inferno, que em algum momento estariam sujeitos àquela miséria, sem dúvida, iríamos ouvir um por um responder: “Não, eu nunca pretendi vir para cá; eu tinha planejado as coisas de outra forma em minha mente; eu pensei que havia planejado bem para mim; - pensei que meu esquema fosse bom. Eu pretendi tomar cuidados efetivos, mas ela veio sobre mim inesperadamente; eu não a procurei naquele instante, ou daquela forma; ela veio como um ladrão: - A morte levou a melhor sobre mim. A Ira de Deus foi rápida demais para mim. Oh, minha amaldiçoada insensatez! Eu estava me iludindo e me agradando com sonhos vãos do que faria na vida futura, ao tempo em que dizia: Paz e segurança, então me sobreveio repentina destruição.” Deus não se tem colocado sob nenhuma obrigação, por qualquer promessa, a manter homens naturais fora do inferno em momento algum. Deus certamente não fez promessas seja de vida eterna, ou de qualquer livramento ou preservação da morte eterna, além das que estão contidas na aliança da graça, as promessas que são dadas em Cristo, no qual todas as promessas estão, de fato e amém. Mas, certamente não têm interesse nas promessas da aliança da graça aqueles que não são filhos da graça, aqueles que não crêem em quaisquer de suas promessas, e não têm interesse no Mediador da aliança. Assim é que, com relação a tudo o que alguns têm imaginado e aspirado sobre promessas feitas às buscas e batidas honestas de homens naturais, é evidente e manifesto, que a despeito dos esforços que um homem natural tome em religião, a despeito das orações que faça, até o momento em que venha a crer em Cristo, Deus não está de forma alguma obrigado de protegê-lo um momento sequer da destruição eterna. Assim é que, desta forma estão os homens naturais seguros pela mão de Deus, sobre o abismo do inferno; eles merecem o abismo de fogo, e já estão sentenciados a ele; e Deus está sendo terrivelmente provocado; sua ira é tão grande contra eles quanto para com aqueles que estão agora sofrendo as execuções da ferocidade de sua ira no inferno, e eles não tem feito nada para abrandar ou abater esta ira, nem está Deus ao menos preso por qualquer promessa a mantê-los um instante que seja; o diabo os está esperando, o inferno está escancarado para eles, as chamas juntam-se e flamejam por eles, e irão alegremente envolvê-los, e engoli-los; o fogo contido em seus próprios corações está se debatendo para sair. E eles não têm qualquer interesse em um Mediador, não há meios através dos quais alcancem o que lhes pode ser de segurança. Resumindo, eles não têm refúgio, nada que os mantenha, tudo o que os preserva em cada momento é a mera vontade arbitrária e a não pactuada, não obrigada, clemência de um Deus enfurecido. Aplicação O uso para este terrível tema pode ser o de despertar as pessoas não convertidas nesta congregação. Isto que vocês ouviram é o caso de cada um de vocês que não estão em Cristo. - Aquele mundo de miséria, aquele lago de enxofre incandescente, está largamente estendido abaixo de vocês. Há o horrendo abismo de chamas ardentes da Ira de Deus; há a enorme boca do inferno escancaradamente aberta; e você não tem nada para se manter acima deles, nem nada que para se segurar, não há nada entre você e o inferno além de ar; é somente o poder e a mera vontade de Deus que te mantém acima. Você provavelmente não tem ciência disto; você se percebe sendo mantido fora do inferno, mas não vê a mão de Deus nisto; e busca outras coisas, como o bom estado de sua constituição corporal, você tem cuidado de sua própria vida, e dos meios que você usa para sua própria preservação. Mas, na verdade, estas coisas não são nada, se Deus retirar sua mão, elas não servirão para evitar a sua queda, mais do que o ar rarefeito irá segurar uma pessoa que esteja nele suspensa. A sua fraqueza faz como se você fosse pesado como chumbo, e dirigindo-se abaixo com grande peso e pressão em direção ao inferno; e se Deus permitir que vá, você imediatamente afundará e prontamente descerá e mergulhará no abismo sem fim, e sua saudável constituição, e seu cuidado próprio e prudência, e melhor habilidade, e toda sua justiça, não terão mais influência para sustentá-lo e mantê-lo fora do inferno, do que a teia de uma aranha tem para parar uma rocha que cai. Se não fosse pela vontade soberana de Deus, a terra não te manteria um momento; porque você é um peso para ela, a criação geme por sua causa; a criação está sujeita ao laço da sua corrupção, mas não de bom grado; o sol não brilha de boa vontade sobre você para lhe dar luz para servir ao pecado e a Satanás; a terra não produz de bom grado sua produção para satisfazer suas luxúrias; nem é a boa vontade um palco para sua maldade atuar; o ar não serve de bom grado para você respirar e manter a chama da vida em seus órgãos vitais, enquanto você passa a vida a serviço dos inimigos de Deus. As criações de Deus são boas, e foram feitas para que com elas os homens servissem a Deus, e não são subservientes de boa vontade a nenhum outro propósito, e gemem quando são maltratadas em propósitos tão diretamente contrários à sua natureza e finalidade. E o mundo iria lhe vomitar, se não fosse a pela soberana mão daquele que o sujeitou em esperança. As nuvens negras da Ira de Deus estão agora pairando diretamente sobre suas cabeças, cheias de horrenda tempestade, e inchadas com trovões, e se não fosse pela restringente mão de Deus, elas iriam imediatamente romper-se sobre você. A vontade soberana de Deus, por enquanto, segura seu vento tempestuoso; caso contrário ele viria com fúria, e sua destruição seria como a de um furacão e você seria como a fina moinha trilhada no chão. A Ira de Deus é como grandes águas que por enquanto estão represadas; ela cresce mais e mais, sobe mais e mais alto, até que uma passagem é dada; e quanto mais a corrente é interrompida, mais rápido e poderoso é o seu curso, quando por fim é liberada. É verdade, que o julgamento de suas más obras não foi executado até agora; os dilúvios da vingança de Deus têm sido retidos; mas sua culpa neste meio tempo está constantemente aumentando, e você está a cada dia entesourando mais ira; as águas estão constantemente subindo, e tornando-se mais e mais poderosas, e não há nada além da mera vontade de Deus, que segure as águas, as quais não tem boa vontade de serem paradas, e pressionam duramente para seguir adiante. Se Deus somente retirar sua mão da comporta, ela imediatamente se abrirá, e as ardentes correntes da ferocidade e da ira de Deus, irão ser impelidas à frente com inconcebível fúria, e virá sobre você com poder onipotente; e se sua força fosse dez mil vezes maior do que é, ou ainda, dez mil vezes maior que a força do mais robusto, e vigoroso demônio do inferno, nada seria para lhes resistir ou suportar. O arco da Ira de Deus está esticado, e a flecha está pronta sobre a corda, e a justiça aponta a flecha para seu coração, e estica o arco, e não há nada além da mera vontade de Deus, e de um Deus zangado, sem qualquer promessa ou obrigação que seja, que retenha a flecha por um instante sequer de se embeber em seu sangue. Assim todos vocês que nunca passaram por uma grande mudança de coração, pelo grandioso poder do Espírito de Deus sobre suas almas; todos vocês que não nasceram de novo, e foram feitos novas criaturas, e ressuscitaram da morte em pecados, para um estado de novo, mas, antes estão inteiramente sem experiência de luz e vida, vocês estão nas mãos de um Deus irado. Por mais que vocês possam ter reformado suas vidas em muitas coisas, e possam ter tido sentimentos religiosos, e possam manter uma forma de religião em suas famílias e aposentos, e na casa de Deus, isto não é nada, mas é Sua simples vontade que impede que vocês sejam neste instante engolidos em eterna destruição. Mesmo que vocês agora possam não estar convencidos da verdade do que estão ouvindo, logo estarão plenamente convencidos disto. Aqueles que se foram estando em circunstâncias semelhantes às suas, viram que assim foi com eles; porque a destruição veio sobre a maioria deles repentinamente; quando não a esperavam, e enquanto estavam dizendo, paz e segurança: agora eles vêem, que aquelas coisas das quais dependiam para paz e segurança, não foram mais que ar rarefeito e sombras vazias. O Deus que te segura acima do abismo do inferno, muito como alguém que segura uma aranha, ou algum inseto repugnante sobre o fogo, tem repulsa de ti, e está sendo terrivelmente provocado: sua ira contra você queima como fogo, ele olha para você merecedor de nada mais, que ser lançado no fogo, Ele tem olhos puros demais para suportar ter você em sua visão; você é dez mil vezes mais abominável aos olhos Dele, que a mais detestável serpente venenosa é aos seus. Você O tem ofendido infinitamente mais que um obstinado rebelde a seu príncipe; e ainda assim é nada além que sua mão o que evita que você a cada momento caia no fogo. E não há outra razão a ser dada, por você não ter ido para o inferno na noite passada; que você tenha sido forçado a acordar novamente neste mundo, depois que você fechou os olhos para dormir. Não há outra razão a ser dada, por você não ter sido lançado no inferno desde a hora em que você se levantou de manhã, além da mão de Deus ter te segurado. Não há outra razão a ser dada para você não ter ido para o inferno, desde que você se sentou aqui na casa de Deus, provocando seus puros olhos com a sua perniciosa e pecaminosa maneira de comparecer ao seu culto solene. Sim, não há nada que seja dado como uma razão para que você não caia neste exato momento no inferno. Ó pecador! Considere o temível perigo em que você se encontra: é uma grande fornalha de ira, um enorme abismo sem fundo, cheio do fogo da ira, sobre o que você está mantido pela mão daquele Deus, cuja ira é provocada e inflamada desta tal forma contra você, como contra tantos dos amaldiçoados no inferno. Você está pendurado por uma fina linha, com as chamas da ira divina rompendo por ela, e prontas a cada instante a chamuscá-la, e queimá-la fazendo-a em pedaços; e você não tem qualquer interesse no Mediador, e em nada em que se segurar para se salvar, nada para afastar as chamas da ira; nada de você mesmo, nada do que você tenha feito, nada do que você possa fazer, para induzir Deus a poupá-lo por um instante a mais. - E considere aqui mais particularmente: De quem a ira é: é a ira do Deus infinito. Se ela fosse somente a ira do homem, ainda que fosse do mais poderoso príncipe, ela seria comparativamente muito pequena para ser levada em consideração. A ira dos reis é muito temível, especialmente dos monarcas absolutistas, que têm as possessões e as vidas de seus súditos inteiramente em seu poder, à disposição de suas mera vontade. Provérbios 20:2 “Como o rugido do leão é o terror do rei; o que o provoca à ira peca contra a sua própria alma.” O súdito que muito enfurece um arbitrário príncipe, está sujeito a sofrer os mais extremos tormentos que a arte humana é capaz de inventar, ou que o poder humano é capaz de infligir. Mas, os grandes potentados terrenos em suas grandiosas majestades e força, e quando equipados de seus maiores terrores, não são mais que fracos e desprezíveis vermes na areia, em comparação com o grande e Todo-Poderoso Criador e Rei do céu e da terra. É muito pouco o que podem fazer, quando muito enfurecidos, e quando têm mostrado o máximo de sua fúria. Todos os reis da terra, diante de Deus, são como gafanhotos; não são nada, e menos que nada: seu amor e seu ódio são para ser desprezados. A ira do grande Rei dos reis, é muito mais terrível que a deles, do mesmo modo que sua majestade é maior. Lucas 12:4-5 “E digo-vos, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei.” É à ferocidade de sua ira que você está exposto. Nós freqüentemente lemos sobre a fúria de Deus; como em Isaías 59:18 “Conforme forem as obras deles, assim será a sua retribuição, furor aos seus adversários.” Assim também Isaías 66:15 “Porque, eis que o SENHOR virá com fogo; e os seus carros como um torvelinho; para tornar a sua ira em furor, e a sua repreensão em chamas de fogo.” E em muitos outros lugares. Assim em Apocalipse 19:15, nós lemos sobre “o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso.” As palavras são extremamente terríveis. Se estivesse somente sendo dito, “a Ira de Deus”, as palavras implicariam o que é infinitamente terrível; mas está dito “o furor e a ira do Deus Todo-Poderoso.” A fúria de Deus! A ferocidade de Jeová! Oh, quão terrível ela será! Quem pode exprimir ou conceber o que estas expressões carregam em si! Mas, é também “o furor e a ira do Deus Todo-Poderoso.” Como tal haverá uma grande manifestação de seu onipotente poder através do qual o furor de sua ira será infligido, desta forma a onipotência será como se estivesse enfurecida, e manifesta, de um modo que os homens não costumam manifestar sua força e o furor de sua ira. Oh! Então, qual não será a conseqüência! O que acontecerá aos pobres vermes que a sofrerão! As mãos de quem poderão ser fortes? E o coração de quem poderá subsistirá? Em que terrível, inexprimível, inconcebível profundidade de miséria será a pobre criatura mergulhada, aqueles que estarão sujeitos a isto! Considere isto, você que está aqui presente, e que ainda permanece em um estado de não regeneração: Que Deus executar a ferocidade de sua raiva, implica, que ele infligirá ira sem qualquer piedade. Quando Deus olha para o indescritível extremo de seu caso, Ele vê seu tormento ser tão grandemente desproporcional à sua força, e vê como sua pobre alma está oprimida, e afunda, como se estivesse em uma infinita escuridão; mas, não terá compaixão de você, Ele não irá reprimir as execuções de sua ira, ou mesmo tornará sua mão mais leve; não haverá moderação ou misericórdia, nem reterá Deus de forma alguma seu vento impetuoso; Ele não terá preocupação com seu bem-estar, nem tampouco será cuidadoso de qualquer outro modo a fim de que você não sofra, exceto tão somente que você não sofrerá além do que a estrita justiça requer. Nada será contido, já que é dificílimo para você suportar. Ezequiel 8:18 “Por isso também eu os tratarei com furor; o meu olho não poupará, nem terei piedade; ainda que me gritem aos ouvidos com grande voz, contudo não os ouvirei.” Agora Deus está pronto a perdoá-lo; este é um dia de misericórdia, você pode clamar agora com algum alento de obter misericórdia. Mas, uma vez que o dia da misericórdia tenha passado, seu mais lastimoso e doloroso choro e grito será em vão; você estará completamente perdido e posto longe de Deus, assim como qualquer preocupação para com o seu bem-estar. Deus não terá outra forma de tratá-lo, senão em miserável sofrimento, você continuará a existir sem nenhuma outra finalidade; porque você será um vaso de ira cheio de destruição; e não haverá outro uso para este vaso, além de estar cheio de ira. Deus estará tão distante de perdoá-lo quando você clamar por Ele, que está dito que Ele irá somente “rir e zombar”, Provérbios 1:25-26 ss. Quão terríveis são estas palavras, em Isaías 63:3, as quais são palavras do grande Deus: “e os pisei na minha ira, e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura.” Talvez seja impossível conceber palavras que carreguem em si maiores manifestações destas três coisas, quais sejam, o desprezo, e o ódio, e o furor da indignação. Se você clamar ao Senhor que o perdoe, Ele estará tão distante de perdoá-lo em seu caso sombrio, ou de mostrar-lhe ao menos consideração ou favor, que ao invés disto, irá somente esmagá-lo sob o pé. E ainda que Ele saiba que você não pode suportar o peso da onipotência lhe pisando, ainda assim Ele não terá qualquer consideração, mas irá esmagá-lo sob seu pé sem misericórdia. Ele irá espremer o seu sangue, e irá fazê-lo saltar, e salpicará suas vestes, e manchará toda a sua vestidura. Ele irá não somente odiá-lo, mas terá você, no mais profundo desprezo; nenhum outro lugar será cogitado para você estar, a não ser debaixo de seu pé, para ser pisado como a lama das ruas. A miséria a que você está exposto é aquela que Deus irá infligir até este fim, uma vez que Ele deve mostrar o que é a ira de Jeová. Deus tem tido isto em seu coração para mostrar aos anjos e aos homens, tanto quão excelente é seu amor, quanto quão terrível é sua ira. Algumas vezes reis terrenos tem uma idéia para mostrar quão terrível é sua ira, através de punições extremas eles executarão aqueles que os provocarem. Nabucodonosor, aquele poderoso e orgulhoso monarca do império Caudeu, estava disposto a mostrar sua ira quando se enfureceu contra Sadraque, Mesaque e Abednego, e desta forma deu ordens para que a queima do fogo da fornalha fosse aquecida sete vezes mais que antes; sem dúvida, ela foi aumentada ao maior grau de violência a que a arte humana poderia aumentá-la. Não obstante, o grande Deus está também desejoso de mostrar sua ira, e de magnificar sua tremenda majestade e grandioso poder em sofrimentos extremos aos seus inimigos. Romanos 9:22 “E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição?” E vendo isto em seu projeto, e o que havia determinado, ainda para mostrar quão terríveis são a irrestrita ira, a fúria e a ferocidade de Jeová, Ele levará isto a cabo. Será algo efetuado e causado que será horrível para quem o testemunhar. Quando o grande e irado Deus se levanta e executa sua terrível vingança sobre o infeliz pecador, e o miserável está verdadeiramente sofrendo o infinito peso e o poder de sua indignação, então Deus irá evocar todo o universo a ver quão tremenda majestade e grandioso poder pode nisto ser visto. Isaías 33:12-14 ss “E os povos serão como as queimas de cal; como espinhos cortados arderão no fogo. Ouvi, vós os que estais longe, o que tenho feito; e vós que estais vizinhos, conhecei o meu poder. Os pecadores de Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?” Deste modo, estas coisas acontecerão com você que está em um estado de não conversão, se continuar nele; o infinito poder, e a majestade, e o terror do onipotente Deus serão magnificados sobre você, na indescritível força de seus tormentos. Você será atormentado na presença dos santos anjos, e na presença do Cordeiro; e quando você estiver neste estado de sofrimento, os gloriosos habitantes do céu virão adiante e verão o terrível espetáculo, porque poderão ver o que é ira e o furor do Todo-Poderoso; e quando eles tiverem visto, irão se prostrar e adorar aquele grande poder e majestade. Isaías 66:23-24 “E será que desde uma lua nova até à outra, e desde um sábado até ao outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o SENHOR. E sairão, e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror a toda a carne.” É uma ira eterna. Já seria horrível sofrer esta fúria e ira do Deus Todo-Poderoso por um momento, mas, você a sofrerá por toda a eternidade. Não haverá fim para esta extraordinariamente horrível miséria. Quando você olhar para frente, verá um longo futuro, uma continuação sem fim diante de você, que irá engolir seus pensamentos, e assombrar sua alma; e você se desesperará completamente por ter apenas por um momento algum livramento, algum fim, algum alívio, um descanso qualquer. Você terá plena consciência de que irá se desgastar por longos séculos, milhões e milhões de séculos, lutando e combatendo contra esta vingança onipotente e sem misericórdia; e então quando você estiver assim, quando tantos séculos tenham realmente sido gastos por você desta forma, você saberá que tudo isto é somente um ponto comparado com o que ainda falta. Posto que sua punição será na verdade infinita. Oh, quem pode expressar qual é o estado de uma alma em tais circunstâncias! Tudo que nós possivelmente possamos dizer sobre este assunto, daria apenas uma representação muito fraca e débil; ele é inexprimível e inconcebível: Pois “quem conhece o poder da Ira de Deus?” Quão horrível é o estado daqueles que estão diariamente e de hora em hora em risco de sofrer esta grande ira e infinita miséria! E este é o sombrio caso de cada alma nesta congregação que não tenha nascido de novo, mesmo que de outro modo possam ser morais e retos, sóbrios e religiosos. Oh, que você considere isto, seja você jovem ou velho! Há razão para pensar, que há muitos agora nesta congregação ouvindo este discurso, que serão realmente os objetos desta mesma miséria por toda a eternidade. Nós não sabemos quem são, ou em quais assentos estão assentados, ou que pensamentos têm agora. Pode ser que agora estejam despreocupados, e ouçam todas estas coisas sem muita perturbação, e que estejam agora se agradando supondo que não são estas pessoas, e prometendo a si mesmos que irão escapar. Se você soubesse que havia uma pessoa, e apenas uma, em toda a congregação, que estava para ser objeto desta miséria, que coisa terrível seria pensar sobre isto! Se nós soubéssemos quem ela é, que horrível visão seria ver tal pessoa! Como poderia todo o resto da congregação se levantar e lastimosa e amargamente chorar sobre ele! Mas, ai meu Deus! Ao invés de um, quantos provavelmente irão se lembrar deste discurso no inferno? E seria um milagre, se alguns dos que agora estão presentes, não estejam no inferno em pouco tempo, mesmo antes de este ano acabar. E não seria milagre algum se algumas pessoas, das que estão agora sentadas aqui, em alguns dos assentos deste local de reunião, com saúde, quietos e seguros, estejam lá antes de amanhã de manhã. Aqueles de vocês que finalmente continuarem em uma condição natural, que os mantenha fora do inferno por mais um pouco, logo estarão lá! Sua danação não descansa; ela virá rapidamente, e, com toda probabilidade, muito repentinamente sobre muitos de vocês. Vocês têm razão para se admirarem por já não estarem no inferno. Este é sem dúvida o caso de alguns que vocês têm visto e conhecido, que nunca mereceram o inferno mais que vocês, e que antes davam a impressão de que provavelmente estariam agora vivos como vocês. O caso deles está além de qualquer esperança; eles estão clamando em extrema miséria e perfeito desespero; mas, aqui vocês estão na terra dos viventes e na casa de Deus, e têm uma oportunidade de obter salvação. O que não dariam aquelas pobres almas condenadas e sem esperança por um dia de oportunidade como o que vocês estão agora desfrutando! E agora você tem uma extraordinária oportunidade, um dia no qual Cristo abriu largamente a porta da misericórdia, e permanece chamando e clamando com grande voz pelos pobres pecadores; um dia no qual muitos estão reunindo-se a Ele, e apressando-se ao reino de Deus. Muitos estão diariamente vindo do leste, oeste, norte e sul; muitos que estavam até muito recentemente na mesma condição miserável em que você está, e que agora estão em um estado de alegria, com seus corações cheios com amor por aquele que os amou, e os lavou de seus pecados em seu próprio sangue, e jubilosos de esperança pela glória de Deus. Quão terrível é ser deixado para trás em tal dia! Ver tantos outros festejando, enquanto você está definhando e perecendo! Ver tantos jubilosos e cantando pela alegria no coração, enquanto você tem motivos para prantear pela culpa do coração, e urra pela vexação do espírito! Como você pode descansar um momento sequer em tal condição? Não são suas almas tão preciosas quanto as almas das pessoas de Suffield3, onde estão dia a dia se unindo a Cristo? Não há muitos aqui que tenham vivido muito tempo no mundo, e que não tenham até hoje nascido de novo? E portanto, são estrangeiros na comunidade de Israel, e não têm feito nada durante a vida, além de entesourar ira para o dia da ira? Oh, senhores, seu caso, de uma forma especial, é extremamente perigoso. Sua culpa e dureza de coração são enormes. Vocês não vêem quão comumente pessoas da sua idade passam e se vão, na presente notável e maravilhosa dispensação da misericórdia de Deus? Vocês têm necessidade de considerarem a si mesmos, e acordarem inteiramente deste sono. Vocês não podem suportar a fúria e a ira do Deus infinito. - E vocês, homens jovens, e jovens mulheres, irão negligenciar este precioso momento que vocês estão desfrutando agora, quando tantos outros de sua idade estão renunciando às futilidades da mocidade, e se unindo a Cristo? Vocês especialmente têm agora uma extraordinária oportunidade; mas se vocês a negligenciarem, logo acontecerá com vocês como com aquelas pessoas que gastam todos os preciosos dias da juventude em pecado, e estão agora chegando a esta horrível condição em cegueira e dureza. - E vocês, jovenzinhos, que não são convertidos, não sabem que vocês estão indo para o inferno, para suportar a terrível ira daquele Deus, que está agora zangado com vocês cada dia e cada noite? Vocês estarão contentes por serem jovenzinhos do diabo, quando tantos outros jovenzinhos na terra são convertidos, e se tornaram santos e alegres filhos do Rei dos reis? E permita que cada um que ainda está sem Cristo, e pendurado sobre o abismo do inferno, sejam eles homens ou mulheres de avançada idade, ou de meia idade, ou jovens, ou ainda crianças, ouça agora com muita atenção aos altos clamores da palavra e da providência de Deus. Este ano aceitável do Senhor, um dia de tão grandes bênçãos a alguns, será sem dúvida um dia de notável vingança para outros. A dureza do coração dos homens, e suas culpas aumentam a passo largo em um dia como este, se negligenciam suas almas; e nunca houve tão grande perigo para estas pessoas que cedem à dureza do coração e à cegueira da mente. Deus agora parece estar apressadamente recolhendo seus eleitos em todas as partes da terra; e provavelmente a maior parte dos adultos que nunca serão salvos, será agora levada em pouco tempo, e que isto será como foi a grande expansão do Espírito sobre os judeus nos dias dos apóstolos; os eleitos irão obter, e o restante terá os olhos tapados. Se este for o seu caso, você amaldiçoará eternamente este dia, e amaldiçoará o dia em que nasceu, por ver tal período de expansão do Espírito de Deus, e desejaria que houvesse morrido e ido para o inferno antes de ter visto isto. Agora indubitavelmente está o machado, como esteve nos dias de João o Batista, colocado de forma extraordinária nas raízes das árvores, e cada árvore que não produzir bons frutos, poderá ser derrubada e lançada ao fogo. Contudo, permita que cada um que está sem Cristo, acorde agora e afaste-se da ira que virá. A Ira do Deus Todo-Poderoso está, neste momento, sem dúvida pendendo sobre grande parte desta congregação: Permita que cada um se afaste de Sodoma: “Apressem-se e escapem por suas vidas; não olhem para trás; escapem lá para o monte, para que não sejam consumidos.”

terça-feira, 21 de julho de 2009

CONTRA A EPIDEMIA DE BANDIDAGEM POLÍTICA, USE VAIA. NÃO FALHA NUNCA - AUGUSTO NUNES

17 de julho de 2009

Em 13 de maio de 1959, quando foi anunciada a escalação do Brasil para o jogo contra a Inglaterra no Maracanã, 100 mil torcedores vaiaram a presença de Julinho no lugar de Garrincha. Titular da Seleção na Copa de 1954, campeão italiano pela Fiorentina, o craque do Palmeiras vestia a camisa 7 por decisão do técnico. Mas arquibancadas e gerais precisavam descarregar a frustração causada pela ausência do maior driblador de todos os tempos. Sobrou para Julinho.

Cabeça boa, homem de caráter, Júlio Botelho engoliu sem engasgos a manifestação hostil. No segundo minuto de jogo, livrou-se da selva de zagueiros e fez um golaço. No 15°, esculpiu com dribles e galopes de puro-sangue o lance do gol que consolidou a vitória por 2 a 0. Jogou como um deus. Encerrada a partida, retribuiu com um sorriso tímido a ovação endereçada ao melhor em campo. Não se sentiu vingado. Sentiu-se feliz.

Quase 50 anos depois, quando o locutor do Maracanã anunciou a chegada do presidente da República, 70 mil gargantas vaiaram a presença de Lula na festa de abertura do Pan-2007. A multidão precisava descarregar a indignação provocada pelo colapso da aviação civil, pelo deboche dos quadrilheiros federais, pelo cinismo dos pecadores governistas, pela institucionalização da impunidade, pela inépcia dos pais da pátria, pela erosão dos alicerces físicos e morais sem os quais não se pode sonhar com um Brasil moderno. Sobrou para Lula.

Com a grandeza dos humildes, Julinho não se queixou da vaia nem saiu à caça de culpados: o povo apenas queria ver Garrincha jogar, ponderou. Com a pequenez dos que sempre se absolvem liminarmente, Lula decidiu no primeiro apupo que aquilo era coisa dos descontentes profissionais a serviço da elite golpista. “Os que estão vaiando são os que mais deveriam estar aplaudindo, porque são os que mais ganharam dinheiro no meu governo”, continuou ressentido dois dias depois. “A parte pobre da população é que deveria estar zangada. É só ver o quanto ganharam os banqueiros, os empresários”.

Lula acertou ao admitir que os ricos nunca lucraram tanto quanto no governo eleito pelos dependentes do Bolsa Família. Errou ao imaginá-los saindo furtivamente de seus palacetes para aborrecer o benfeitor no Maracanã. ”Essa gente levou Getúlio ao suicídio”, continuou viajando Lula. ”Essa gente fez a Marcha com Deus pela Liberdade, que resultou no golpe militar”. A fantasia ficou em frangalhos depois de confrontada com as imagens dos supostos conspiradores. Aquela gente não havia nascido quando Getúlio se matou. Aquela gente nem engatinhava quando adultos, em 1964, marcharam com Deus pela liberdade. Aquela gente só podia ser acusada de usar o protesto sonoro para fazer um presidente da República perder o siso e a soberba.

O som que funde a fúria, o cansaço, o sarcasmo e a chacota não tem contra-indicação e age sobre distintas abjeções. Sobressalta o presunçoso, silencia o falastrão, inibe o debochado, constrange o arrogante, desfaz o sorriso do canalha. Nada como a propagação da vaia para combater epidemias de bandidagem política semelhantes à que devasta o Brasil neste começo de século. Já via a cena mais de uma vez. Cínicos juramentados ficam com cara de pugilista na hora do nocaute. Confiram. Nunca falha.

Brasília não é lugar para vaias. Oscar Niemeyer, bom escultor de monumentos inabitáveis, e Lúcio Costa, multiplicador de espaços que reduzem qualquer multidão a fracasso de público, conseguiram fazer uma cidade sem esquinas, e só existe muita gente onde existe esquina. Mas os sócios do cada vez mais populoso clube dos cafajestes só acampam no grande bunker do Planalto Central três dias por semana. Ficam expostos de sexta-feira a segunda. Que sejam vaiados nos aeroportos, no interior dos aviões, nos restaurantes, nas ruas, no jardim da própria casa. É doce contemplar a substituição do sorriso superior pela expressão de medo.

É a hora da vaia. Não há nada a perder além da sensação de impotência e da indignação há tanto tempo represada.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

VIRTUDE X VÍCIO - DENIS LERRER ROSENFIELD

N’O Estado de S. Paulo hoje.

O Brasil tem vivido nos últimos anos, e particularmente nos últimos meses, uma invasão do que poderíamos chamar de politicamente correto. São Paulo encontra-se, agora, na iniciativa. Tal invasão vem acompanhada de uma série de medidas legais, sejam leis propriamente ditas, sejam atos administrativos como decretos, resoluções, portarias e instruções normativas que restringem cada vez mais a liberdade de escolha. O politicamente correto apresenta-se, então, como se fosse, moralmente falando, uma forma do bem que estaria enfrentando o mal, no caso, o mau comportamento. Tivemos, assim, uma avalancha de medidas contra o álcool e o fumo que são apresentadas como se fossem as expressões mesmas da virtude. Sua ampliação já é cogitada para vários alimentos considerados daninhos ao organismo, com diferentes graus de gorduras.

Importa ressaltar que o Estado patrocina essas medidas, impondo-as, de fato, aos cidadãos, como se pudesse arvorar-se em representante do bem, da virtude. O Estado arroga para si uma função que não deveria ser dele, pelo menos na perspectiva de cidadãos que exercem a sua liberdade de escolha, sendo, portanto, responsáveis por aquilo que fazem. O Estado termina por assumir uma função propriamente "ética", ditando aos cidadãos o que deve ou não ser feito, sendo esse dever seguido de medidas jurídicas, tornando obrigatórios tais comportamentos, sob pena de multas e punições em geral.

Nada disso, no entanto, é muito novo. Embora seja normalmente atribuída a uma moda americana com origem nos anos 50-60 do século passado, a partir de pesquisas correlacionando o hábito do fumo, do álcool, de determinados alimentos e de radiações de aparelhos a certas doenças como câncer, cardiorrespiratórias e outras, sua origem remonta à Alemanha nazista. A ciência médica durante o nazismo não se caracterizou só pelas aberrações cometidas nos campos de concentração, na eugenia, na eliminação de "doentes", do corpo e da alma, na discriminação racial, mas também por medidas que recomendavam - algumas obrigavam - aos cidadãos determinados comportamentos tidos pelos dirigentes nazistas como saudáveis para o corpo e a alma. Estava em questão aquilo mesmo que era considerado como devendo ser o bom alemão (sigo aqui o livro de Robert N. Proctor The Nazi War on Cancer, Princeton University Press, 1999).

Um slogan nazista utilizado sobretudo para os alimentos assim proclamava: "O seu corpo pertence à nação! O seu corpo pertence ao Führer! Você tem a obrigação de ser saudável! Alimento não é uma coisa privada."

Ora, dentro dessa lógica, se o corpo do indivíduo pertence à nação, ele pertence a seu dirigente máximo, o Führer, que sabe, em sua onisciência, o que é melhor para todos os cidadãos. O Führer encarna a sabedoria; os cidadãos, a ignorância. A obrigação é a primeira de suas virtudes e a única forma que lhes é reservada de escapar do vício. A saúde do corpo deixa de ser algo individual, objeto de preocupação própria de cada um, e torna-se uma política de Estado, devendo ser simplesmente seguida.

A propaganda nazista não cessava de apregoar a virtude de seus dirigentes, ressaltando que Hitler era antitabagista, enquanto seus inimigos, como Churchill, Roosevelt e Stalin, eram adeptos do fumo, o primeiro, de charutos e os outros dois, de cigarros. Mussolini e Franco eram também não-fumantes. O Führer, ademais, era vegetariano, só comia carne em raras ocasiões, e tampouco bebia. Churchill, seu grande adversário, era renomado tomador de uísque e champanhe em grandes doses. E também não era adepto do vegetarianismo.

Na perspectiva nazista, assinalada em sua propaganda, Hitler era um homem virtuoso, que se dedicava a combater o vício, enquanto os seus adversários eram capitalistas ou comunistas degenerados, frutos de uma civilização decadente. Tratava-se, portanto, para ele, de fazer um resgate da virtude, em contraposição aos que se dedicavam ao vício. Em linguagem contemporânea, diríamos que Hitler era politicamente correto, enquanto os seus inimigos eram libertinos da pior espécie, não propriamente humanos. Eram os representantes dos sub-humanos, embora costumasse reservar mais propriamente essa expressão aos judeus, ciganos, homossexuais e comunistas.

É interessante observar que o álcool e o fumo são considerados enquanto doenças, na verdade, vícios civilizatórios de uma sociedade decadente, de um capitalismo corruptor do corpo e da alma, formas de expressão a serem banidas de um "estilo de vida liberal". Ambos prejudicariam o desempenho no trabalho e a pureza do corpo, numa mistura de considerações sanitárias, trabalhistas, médicas e ideológicas. O tabaco, em particular, era tido como uma "praga", uma "epidemia", uma "bebedeira seca" e uma "masturbação do pulmão". Também era considerado um "veneno", uma forma do capitalismo (tobacco capitalism) e o "inimigo da paz mundial". O ato de fumar era associado à depravação sexual, ao comunismo, ao judaísmo, à África e aos negros degenerados.

A palavra câncer funcionava como uma espécie de metáfora daquilo que deveria ser eliminado, seja um câncer de pulmão, provocado pelo fumo, sejam os judeus, que deveriam ser exterminados. A metáfora do câncer funcionava como um substituto do mal, que exigiria medidas públicas de saneamento, tanto podendo estas se traduzir por medidas raciais, pelo eugenismo, quanto por iniciativas tidas por de saúde pública. Em todo caso, surge, nessas diferentes modalidades, a ideia da criminalização: do alcoolista, do fumante, do judeu, do cigano e do homossexual. Alguns poderiam ser tratados, outros simplesmente eliminados. Um dos mais proeminentes médicos nazistas, Hans Auler, professor em Berlim, considerava o regime nazista como anticancerígeno: "É uma sorte para os pacientes alemães de câncer que o Terceiro Reich estivesse ele mesmo fundado na conservação da saúde alemã."

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E OS INIMPUTÁVEIS - RODRIGO CONSTANTINO

Vamos imaginar um pai que não estabeleça critérios objetivos e impessoais de castigo aos seus filhos. Cada ato irresponsável de desobediência às regras será analisado com extrema complacência, buscando sempre colocar a culpa em fatores exógenos, não no indivíduo responsável. Até o fogo que o moleque colocou de forma premeditada na cortina é culpa da maldita cortina, que estava no lugar errado!

Imaginemos que o grau dos delitos vá aumentando, até o insuportável e intolerável, colocando em risco toda a família. Será que esse pai deveria ficar indiferente frente aos fatos, acreditando que o pequeno monstro não tem culpa de verdade, é apenas uma pobre vítima e, portanto, não merece uma punição mais severa? Será que ele deveria somente aplicar castigos suaves, na esperança de que o tempo se encarregue de consertar o assombroso ser?

Creio que seria absurda e indesejável uma postura complacente dessas. E isso no caso de pai e filho, com todo o amor paterno envolvido. Agora vamos supor que se trata do Estado e dos menores infratores. Parece inadmissível uma conduta tão leniente com os jovens criminosos.

Pois é justamente o que faz o nosso Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA. Ao estar tomado de romantismo e utopia, recheado com boas intenções desprovidas de lógica, o ECA mais parece um convite ao crime, estimulando os jovens à perversão. A proteção das supostas crianças ultrapassa qualquer limite de benevolência, estimulando novos atos de infração cada vez mais graves.

Ao tornar verdadeiros marmanjos inumputáveis até os seus 18 anos, limitando a pena a três anos de reclusão, o ECA criou verdadeiro incentivo ao uso desses jovens pelos criminosos. Um galalau capaz de matar sem nenhum remorso um inocente por um simples tênis estará livre aos 21 anos, pronto para cometer novos assassinatos. Para superproteger os "coitados" que já são capazes dos atos mais bárbaros existentes, esquece-se totalmente das vítimas inocentes. É impressionante como os defensores dos "direitos humanos" focam apenas em um lado, que não é nunca o das vítimas inocentes.

As regras, numa sociedade civilizada, devem ser claras, de conhecimento geral, impessoais e objetivas. O império da lei não permite privilégios, distinção de classe, cor, raça ou religião. Não deve fazer concessões por idade também. Como disse Roberto Campos, "temos de ter normas objetivas e claras, e cumpri-las para valer, feito as regras do trânsito; não se indaga qual a idade ou o grau de culpa de quem furou o sinal vermelho, mas apenas o fato". A impunidade é provavelmente a maior causa da violência e criminalidade, e o ECA apenas legalizou a impunidade dos jovens. Tratar como uma pobre criança indefesa, vítima da "sociedade", um rapaz que cometeu latrocínio, estupro, seqüestro ou assassinato, é pedir para que o caos domine a Nação.

Quando o Estado não garante uma punição impessoal condizente com o crime e o sofrimento da vítima, a sociedade é tomada por sentimento de vingança particular. A institucionalização da punição severa ao criminoso visa justamente a evitar os justiceiros privados. É uma afronta, portanto, que nossas leis sejam tão obsequiosas com os criminosos, tratando-os como cordeiros, e não como os lobos que são. Tal desrespeito aos cidadãos corretos apenas alimenta a descrença nas autoridades, e ajuda na proliferação da criminalidade.

Ficamos limitados aos argumentos teóricos, mas a conseqüência prática de tais absurdos está visível em cada esquina desse país. A criminalidade tomou conta da Nação, e ao invés do Estado partir para uma luta mais dura contra a impunidade, vai à contramão, desarmando inocentes e pregando a redução da pena para crimes hediondos. Muitos já pedem o fim do "caveirão", o blindado da polícia que sobe as favelas sob chuva de balas. Muitos são contra a redução da maioridade penal. Curioso é que para votar, um "homem" de 16 anos é considerado maduro, mas se este mata um inocente, não passa de uma pobre criança que necessita de proteção especial do Estado. É mais fácil vender sonhos românticos para jovens.

Tamanho despautério deveria revoltar a sociedade. Ninguém deveria ser inimputável perante as leis. Crimes devem ter responsáveis individuais, mesmo que sejam jovens. O ECA perde suas qualidades quando protege assassinos.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O GOLPE DAS MENTIRAS - MARIO VARGAS LLOSA

O golpe das mentiras - Mario Vargas Llosa

O Estado de S. Paulo - 12/07/2009

Despertar um presidente constitucionalmente eleito à força de baionetas e enviá-lo para o exílio sem lhe dar nem tempo para tirar o pijama, como os militares hondurenhos fizeram com Manuel Zelaya há duas semanas, é um ato de barbárie política. Foi certa a enérgica condenação desse abuso pelas Nações Unidas, pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pela maioria dos países do mundo todo.

Muito bem, estabelecido este princípio, de que a interrupção da democracia por uma ação militar não se justifica nunca, é preciso analisar esse incidente mais a fundo e com prudência, porque, nesse golpe de Estado, a fronteira entre a verdade e a mentira é mais escorregadia do que uma enguia.

Talvez mais do que o próprio ato do assalto à residência do chefe de Estado hondurenho, deve-se condenar os militares e os juízes que deram a ordem para isso e, com esse abuso, transformaram numa vítima da democracia e quase em herói da liberdade um demagogo irresponsável como Manuel Zelaya que, em flagrante violação da Constituição que jurou respeitar, pretendia realizar um referendo para se fazer reeleger, uma pretensão condenada pela Corte Suprema e pelo Ministério Público do país.

E por causa disso, o Congresso hondurenho iniciara um processo para destitui-lo da presidência. Esse era o procedimento legítimo em defesa da democracia, e foi freado e descaracterizado pela ação militar, no que pareceu uma confusão digna de um manicômio.

A tal ponto que nada menos que o comandante Hugo Chávez, o comandante Daniel Ortega, Evo Morales e até Raúl Castro apareceram rapidamente em cena, liderando um protesto continental em defesa da lei e da democracia, exigindo sanções contra Honduras e convocando uma reunião da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) à qual o desorientado secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, deu, com sua presença, uma aura de legitimidade.

O fato de Chávez, grande desestabilizador da democracia latino-americana, ex-golpista e um megalômano que transformou a Venezuela numa pequena satrapia particular, aspirando fazer o mesmo com o restante da América Latina, arrogar-se do papel de defensor do estado de direito hondurenho, foge ao senso comum e à racionalidade. Além disso, um outro fato ficou evidente: alguma coisa já estava corrompida antes desse golpe. Na verdade, quando ocorreu a intervenção militar, Honduras estava prestes a cair, depois da Bolívia, Nicarágua e Equador, na órbita de influência de Hugo Chávez. Manuel Zelaya era a última conquista do caudilho venezuelano, que o havia subornado, da mesma maneira que fez com outros vassalos da região, vendendo o seu petróleo mais barato e oferecendo créditos generosos. E, sobretudo, apoiando sua ânsia por uma reeleição. Nem ignorante, tampouco um indolente, Manuel Zelaya, figura destacada da oligarquia rural hondurenha, ligado no passado a matanças de camponeses, e eleito presidente como candidato do Partido Liberal, de centro-direita, que tinha um programa de apoio ao investimento externo e à empresa privada, prometendo acabar com a delinquência, aos poucos foi se convertendo às teses populistas e revolucionárias (ou seja, chavistas). Honduras ingressou na Alba, e ele começou a preparar sua permanência indefinida no cargo, por meio de uma reforma constitucional, como foi feito por Chávez e seus discípulos, ou seja, a escória política da América Latina.

Mas, diferentemente do que ocorrem em países como Equador, Bolívia ou Nicarágua (na outra ponta do espectro político, a Colômbia de Uribe, um mandatário democrata que, por desgraça, aderiu também ao sinistro esporte da reeleição), onde os presidentes candidatos à reeleição contavam com uma base popular que apoiava seus projetos, em Honduras as pretensões de Zelaya desde o princípio não tiveram apoio e foram rechaçadas em todo o espectro político. Todas as instituições resistiram à sua tentativa, a Corte Suprema, o Tribunal de Justiça, o Tribunal Eleitoral, todos os partidos democráticos (a começar pelo seu próprio, o Liberal), o Ministério Público do país e a opinião pública em geral. Não foi somente uma rejeição da transformação ideológica do volúvel mandatário, mas também uma clara tomada de posição da população hondurenha contra a perspectiva de tornar-se um país dependente de Chávez , quer dizer, uma pequena ditadura populista transformada em feudo do caudilho venezuelano.

É nesse contexto que se deve julgar a situação em Honduras. Não se trata de justificar uma ação militar ignóbil, que só serviu para desacreditar algumas instituições e o povo, que resistiram corajosamente a objetivos claramente antidemocráticos de um mandatário sem princípios. Mas não devemos incorrer, acreditando ser uma defesa da democracia, numa operação que pode acabar legitimando os planos inconstitucionais, de reeleição e entrega de Honduras ao poder chavista de Manuel Zelaya.

O que pode ser feito para reconstituir a democracia hondurenha abalada? O ideal seria recolocar Zelaya na presidência, desde que renuncie ao seus planos de reeleição, e garantir que as eleições de novembro sejam realizada de maneira correta e sob vigilância das Nações Unidas. Mas isso parece difícil neste momento, já que a situação estão tão deteriorada, como ficou flagrante em 5 de julho, quando a fracassada tentativa do presidente deposto de retornar a Tegucigalpa, provocou violentos incidentes, com muitas pessoas feridas.

Honduras retirou-se da Organização dos Estados Americanos, o que não deve surpreender ninguém, dada a inutilidade dessa instituição que, além do mais, tem a nefasta característica de tornar também inúteis seus secretários-gerais, incluindo aqueles que, como José Miguel Insulza, pareciam mais sagazes do que os outros, de maneira que a OEA, quanto menos intervir tanto melhor. A mediação do presidente da Costa Rica, Óscar Arias, Premio Nobel da Paz, é uma boa ideia: é um estadista respeitado e respeitável, bom negociador e um autêntico democrata.

Por outro lado, é preciso evitar de qualquer maneira que essa tensão existente se degrade num derramamento de sangue. Chávez ameaçou com uma intervenção militar, em que provavelmente levaria consigo a Nicarágua de Daniel Ortega, que o governo hondurenho acusou de mobilizar tropas na fronteira com Honduras. Com certeza, não há um modo de comprovar se são verdadeiras as notícias de que a fronteira já vinha sendo atravessada por comandos venezuelanos e cubanos, como foi denunciado pela imprensa hondurenha, ou apenas campanha de propaganda em defesa do governo de Roberto Micheletti. Mas, diante dos antecedentes e do contexto político da América Central, elas também não podem ser descartadas. A situação instável e precária de Honduras, agora exposta à opinião pública internacional, é propícia a uma insurreição teleguiada de Caracas.

Talvez esses riscos possam ser afastados antecipando as eleições presidenciais marcadas para novembro. Esse escrutínio teria de ser realizado o mais breve possível, o que será viável se a comunidade internacional colaborar com a infraestrutura eleitoral, sob a responsabilidade e supervisão das Nações Unidas, com observadores internacionais da União Europeia e organizações políticas e de direitos humanos, como o Centro Carter, Anistia Internacional e Americas Watch. Não vejo outra maneira mais rápida de reconstruir o estado de direito e acabar com essa situação anômala que vive Honduras por culpa dos militares que tomaram a presidência do país e das manobras astutas de Manuel Zelaya e o seu guru ideológico, Hugo Chávez

quinta-feira, 9 de julho de 2009

AS MESMAS BESTEIRAS DE SEMPRE

O PIG não tem fronteiras

Por Valter Pomar
Imprensa hondurenha dá aulas de colaboracionismo tacanho

Os principais jornais de Honduras não se contentaram em apoiar o golpe de Estado que, desde domingo (28), jogou o país num cenário de colapso interno e isolamento internacional. Além de poupar informações cruciais sobre a manobra para derrubar o presidente Manuel Zelaya, a imprensa hondurenha noticiou a posse do novo presidente, Roberto Micheletti, como uma formalidade burocrática normal, dentro dos marcos da democracia.

Capa dos principais jornais de Honduras na 2ª feira: nenhuma menção ao termo "golpe"

Há tempos não se via, mesmo na América Latina, uma mídia empenhada num colaboracionismo tão tacanho. Militares invadiram os dois principais jornais de Honduras, mas os sites de ambos na internet continuam no ar porque eles são favoráveis ao golpe. "O El Heraldo e o El Tribuno são parte do golpe. Eles e alguns canais de TV são controlados pela oposição. Nesta manhã, esses eram os únicos canais em funcionamento", disse Erin Matute.

De forma eufêmica e enviesada, os principais jornais do país destacaram em suas manchetes de capa a designação de Micheletti à presidência do país. El Heraldo intitulou: "Assume Micheletti"; La Tribuna: "R.Micheletti sucede a Mel" (como é conhecido o presidente Manuel Zelaya), e Tiempo publicou "Roberto Micheletti, novo presidente".

Na noite de segunda-feira, o El Heraldo destacava, em sua página principal, a posse dos cinco ministros nomeados pelo presidente interino e a "luta" do país "contra a ilegalidade". Já o El Heraldo punha em primeiro plano os confrontos entre manifestantes e militares no palácio presidencial, na capital Tegucigalpa, e os relatos de que havia ao menos 20 feridos. Durante os protestos, alguns hondurenhos depredaram bancas que vendiam exemplares do Heraldo — e outros usaram os pacotes de jornais para bloquear as ruas que levam ao palácio.

As bancas são provas incontestes do crime. Na segunda-feira, nenhuma das capas dos principais jornais do país — Tiempo, La Tribuna e El Heraldo — sequer mencionou a palavra “golpe”. No canto inferior direito do La Tribuna, o mascote do jornal, o Tribunito, lê o jornal dizendo: “Desta vez, a ‘quarta’ foi vencida”. É uma grosseira ironia com a quarta urna, que o presidente pretende adicionar às eleições gerais de novembro para que uma Assembleia Constituinte seja convocada.

Além disso, a manchete do La Tribuna (“R. Micheletti sucede a Mel”) traz uma chamada para “Manuel Zelaya vai à Costa Rica”. O fato, de conhecimento público, é que Zelaya foi sequestrado por militares enquanto dormia e despachado, de pijamas mesmo, para a Costa Rica.

"Fui retirado da minha casa de forma brutal, sequestrado por soldados encapuzados que me apontavam rifles", contou o presidente deposto. “Diziam: ‘Se não soltar o celular, atiramos’. Todos apontando para minha cara e meu peito.”

O jornalista hondurenho Renan Martinez, do La Tribuna, disse ao Opera Mundi que as manifestações feitas na segunda-feira não foram noticiadas pela imprensa local. Os meios de comunicação já estão “informando” que Micheletti vai acabar com a fome e com a falta de segurança.

Cenário caótico

Ao jornal O Estado de S. Paulo, fontes diplomáticas também disseram que a capital hondurenha enfrenta cortes intermitentes nos serviços de água e energia elétrica. No domingo, após o golpe, faltou energia por várias vezes no país — o que dificultou a transmissão de notícias pela televisão e o acesso à internet. Além disso, canais estrangeiros de TV sofreram interferência sempre que apresentam reportagens sobre o golpe.

Pelo menos quatro emissoras de TV, três de rádio e a sede de dois jornais foram ocupadas por militares, de acordo com o porta-voz do governo deposto, Guillermo Paz Manuelles. “Foi uma ação muito violenta.

Eles entraram nos edifícios, bateram em funcionários, prenderam pessoas e fecharam as instalações”, disse Manuelles. Segundo o porta-voz, "95% das emissoras hondurenhas ignoraram o golpe — e o Canal 6 transmitiu uma programação infantil durante o dia todo".

As emissoras Rádio América e Radio HRN não noticiaram a deposição — apenas pediam aos hondurenhos que voltassem às atividades normais porque a transmissão de energia elétrica não tardaria a ser restabelecida. Nas poucas rádios e TVs que continuam em operação, são transmitidas músicas e novelas ou programas de culinária, e as menções à crise política que vive o país são esparsas.

Telesur calada

Logo depois de surpreender o presidente em casa e enviá-lo para a Costa Rica, os militares hondurenhos invadiram a emissora de rádio mais popular do país e cortaram o sinal local da rede de TV americana CNN em espanhol e da venezuelana Telesur, além da Cubavisión Internacional.

Uma das equipes de reportagem da Telesur chegou a ser detida em Tegucigalpa. Segundo a enviada especial da emissora a Honduras, Adriana Sívori, ela e outro integrante da equipe foram "sequestrados e agredidos" por militares quando cobriam uma manifestação nas proximidades do palácio presidencial. Os dois detidos foram liberados pouco depois de terem sido levados ao serviço de imigração.

Nesta terça-feira (30), apesar das notícias fantasiosas plantadas pela mídia hondurenha, os golpistas instalados no governo receberam o repúdio unânime da comunidade internacional, que exige a restituição incondicional de Zelaya. Nenhum país e nenhuma instituição, em escala regional e mundial, reconheceram o Executivo-fantoche encabeçado por Micheletti.

Protestos

Os insustentáveis ataques à mídia independente motivaram protestos de entidades internacionais. A comissão investigadora de atentados a jornalistas da Federação Latino-Americana de Jornalistas (Felap, sigla em espanhol) denunciou que "a ditadura militar instaurada em Honduras silenciou todos os meios de comunicação comunitários e alternativos, violentando a liberdade de expressão do povo hondurenho".

Segundo a Felap, por trás deste golpe de Estado há diversas "ameaças ao jornalismo livre e violação dos direitos humanos contra jornalistas que cobrem acontecimentos políticos nesta nação". A nota, assinada pelo presidente da organização, Hernán Uribe, e pelo secretário-executivo Ernesto Carmona, diz ainda que “o regime golpista não deseja que o mundo saiba que o povo está nas ruas exigindo o retorno do presidente constitucional Manuel Zelaya e manifestando seu respaldo à ordem constitucional democrática”.

Já o Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês) manifestou preocupação quanto à informação de que vários meios de comunicação do país estão fora do ar. Até organizações antiesquerdistas, como a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e a Repórteres sem Fronteiras (RSF), também registraram limitações no trabalho dos meios de comunicação.

"Há evidências da suspensão temporária de sinais de rádio e da TV estatal, assim como de outras cadeias internacionais privadas, e de vários atos de agressão contra jornalistas e as instalações físicas de alguns meios de comunicação", disse, em nota, o presidente da SIP, Enrique Santos Calderón.

Na segunda-feira, também a direitista Repórteres Sem Fronteiras se pronunciou, ainda que com palavras mais suaves. “Em princípio, condenamos um golpe de Estado contra um presidente eleito democraticamente, que justifica todos os temores em relação às liberdades fundamentais, entre elas a de informar”, afirmou a RSF: "As suspensões ou fechamento de veículos de comunicação, tanto locais quanto internacionais, manifestam a clara vontade dos golpistas de ocultar os acontecimentos.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) e a comunidade internacional devem exigir, e conseguir, o fim deste blecaute midiático", manifestou a entidade. "Em tempos normais, os jornalistas hondurenhos já padecem de uma grande insegurança. Nas atuais circunstâncias, fazemos também um chamado à responsabilidade dos meios de comunicação.”

Da Redação, com informações do Opera Mundi e agências.