quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Arnaldo Jabor: Burrice e ignorância

A burrice é diferente da ignorância. A ignorância é o desconhecimento dos fatos e das possibilidades. A burrice é uma força da natureza (Nelson Rodrigues).

A ignorância quer aprender. A burrice acha que já sabe. A burrice, antes de tudo, é uma couraça. A burrice é um mecanismo de defesa. O burro detesta a dúvida e se fecha.

O ignorante se abre e o burro esperto aproveita. A ignorância do povo brasileiro foi planejada desde a colônia. Até o século XIX era proibido publicar livros sem licença da Igreja ou do governo. A burrice tem avançado muito; a burrice ganhou status de sabedoria, porque com o mundo muito complexo, os burros anseiam por um simplismo salvador. Os grandes burros têm uma confiança em si que os ignorantes não têm. Os ignorantes, coitados, são trêmulos, nervosos, humildemente obedecem a ordens, porque pensam que são burros, mas não são; se bem que os burros de carteirinha estimulam esse complexo de inferioridade.

A ignorância é muito lucrativa para os burros poderosos. Os burros são potentes, militantes, têm fé em si mesmos e têm a ousadia que os inteligentes não têm. Na percentagem de cérebros, eles têm uma grande parcela na liderança do país. No caso da política, a ignorância forma um contingente imenso de eleitores, e sua ignorância é cultivada como flores preciosas pelos donos do poder. Quanto mais ignorantes melhor. Já pensaram se a ignorância diminuísse, se os ignorantes fossem educados? Que fariam os senhores feudais do Nordeste em cidades tomadas como Murici ou o município rebatizado de cidade Edson Lobão, antiga Ribeirinha? A ignorância do povo é um tesouro; lá, são recrutados os utilíssimos “laranjas” para a boa circulação das verbas tiradas dos fundos de pensão e empresas públicas.

Como é o “design” da burrice? A burrice é o bloqueio de qualquer dúvida de fora para dentro, é uma escuridão interna desejada, é o ódio a qualquer diferença, a qualquer luz que possa clarear a deliciosa sombra onde vivem. O burro é sempre igual a si mesmo, a burrice é eterna como a Pedra da Gávea (NR). De certa forma eu invejo os burros. Como é seu mundo? Seu mundo é doce e uno, é uma coisa só. O burro sofre menos, encastela-se numa só ideia e fica ali, no conforto, feliz com suas certezas. O burro é mais feliz.

A burrice não é democrática, porque a democracia tem vozes divergentes, instila dúvidas e o burro não tem ouvidos. O verdadeiro burro é surdo. E autoritário: quer enfiar burrices à força na cabeça dos ignorantes. O sujeito pode ser culto e burro. Quantos filósofos sabem tudo de Hegel ou Espinoza e são bestas quadradas? Seu mundo tem três ou quatro verdades que ele chupa como picolés. O burro dorme bem e não tem inveja do inteligente, porque ele “é” o inteligente.

Mesmo inconscientemente, aqui e lá fora, a sociedade está faminta de algum tipo de autoritarismo. A democracia é mais lenta que regimes autoritários. Sente-se um vazio com a democracia — ela decepciona um pouco as massas. Assim, apelos populistas, a invenção de “inimigos” do povo, divisão entre “bons” e “maus” surtem efeito. Surge, na política, a restauração alegre da burrice. Isso é internacional. Bush se orgulhava de sua burrice. Uma vez ele disse em Yale: “Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidentes dos USA”. E, aí, invadiu o Iraque e escangalhou o Ocidente. E está impune, quando deveria estar em cana perpétua. Aqui, também assistimos à vitória da testa curta, o triunfo das toupeiras.

O bom asno é sempre bem-vindo, enquanto o “pernóstico” inteligente é olhado de esguelha. A burrice organiza o mundo: princípio, meio e fim. A burrice dá mais ibope, é mais fácil de entender. A burrice dá mais dinheiro; é mais “comercial”.

Em nossa cultura, achamos que há algo de sagrado na ignorância dos pobres, uma “sabedoria” que pode desmascarar a mentira “inteligente” do mundo. Só os pobres de espírito verão a Deus, reza nossa tradição. Existe na base do populismo brasileiro uma crença lusitana, contrarreformista, de que a pobreza é a moradia da verdade.

No Brasil, há uma grande fome de “regressismo,” de voltar para a “taba” ou para o casebre com farinha, paçoca e violinha. E daí viria a solidariedade, a paz, num doce rebanho político que deteria a marcha das coisas do mundo, do mercado voraz, das pestes e, claro, dos “canalhas” neoliberais. É a utopia de cabeça para baixo, o culto populista da marcha à ré.

Nosso grande crítico literário Agripino Grieco tinha frases perfeitas sobre os burros. “A burrice é contagiosa; o talento não” ou “Para os burros, o ‘etc’ é uma comodidade...” ou “Ele não tem ouvidos, tem orelhas e dava a impressão de tornar inteligente todos os que se avizinhavam dele”, “Passou a vida correndo atrás de uma ideia, mas não conseguiu alcançá-la”, “Ele é mais mentiroso que elogio de epitáfio”, “No dia em que ele tiver uma ideia, morrerá de apoplexia fulminante”.

Vi na TV um daqueles bispos de Jesus, de terno e gravata, clamando para uma multidão de fiéis: “Não tenham pensamentos livres; o Diabo é que os inventa!”. Entendi que a liberdade é uma tortura para desamparados. Inteligência é chata; traz angústia, com seus labirintos. Inteligência nos desorganiza; burrice consola. A burrice é a ignorância ativa, é a ignorância com fome de sentido.

Nosso futuro será pautado pelos burros espertos, manipulando os pobres ignorantes. Nosso futuro está sendo determinado pelos burros da elite intelectual numa fervorosa aliança com os analfabetos.

Como disse acima, a liberdade é chata, dá angústia. A burrice tem a “vantagem“ de “explicar” o mundo. O diabo é que a burrice no poder chama-se “fascismo”.


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Lucas Berlanza: O que diz o anão diplomático?

Entre todas as muitas coisas que precisam mudar no Brasil, a nosso ver, destacaríamos duas como as mais urgentes. A primeira, e mais óbvia, é a intrusão além dos limites do razoável de uma heterodoxia intervencionista na política macroeconômica do país, como tão bem têm apontado, com muito mais propriedade do que nós poderíamos fazer, os prezados economistas – aqueles que não estão comprometidos com o (des)governo atual, naturalmente.  A recessão técnica está aí para não deixá-los mentir, e dificuldades deverão nos aguardar, inevitavelmente, como colheita dos anos de plantio desregrado. A segunda, não menos importante, é a política externa. Importante, porque somente pela sua reorientação poderemos resgatar nossa dignidade perante o mundo.

No último dia 16 de outubro, o Auditório Pedro Calmon, no campus da UFRJ na Praia Vermelha, recebeu, em evento especial organizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais, ninguém menos que o petista histórico Marco Aurélio Garcia, Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais. Uma boa plateia o aguardava, entre professores, estudantes – indecisos ou decididos (alguns adesivos de Dilma Rousseff podiam ser vistos presos às vestes do público) – e profissionais da imprensa.

O assessor não fez feio: não decepcionou quem já estava convencido, e pode ter seduzido quem não está “nem aí com a hora do Brasil” com uma palestra entremeada de colocações bem-humoradas e um discurso mais intelectual e repleto de referências históricas. Limitou-se a ironizar os críticos dos alinhamentos internacionais do Brasil e a atacar um suposto discurso de ódio irracional dos políticos e ideólogos de oposição – como se tais características não fossem inerentes ao modo de fazer política da legenda da estrela vermelha desde seu nascedouro. Depois disso, é que vieram as asneiras mais revoltantes, algumas tristemente recebidas com aplausos.

Não reproduziremos tudo que foi dito. Destacamos alguns pontos da exposição que mostram a fragilidade das ginásticas retóricas com que o PT, a essa altura do campeonato, insiste em mentir sobre seus próprios atos e sua própria história, da forma mais sórdida e, em muitos momentos, inacreditável para qualquer um com o mínimo de pudor.

Em primeiro lugar, Marco Aurélio sustenta a tese do governo de que o Brasil estaria sendo atingido agora pelos efeitos da crise econômica de 2008 – segundo ele, consequência das políticas da Conferência de Bretton Woods e do Fundo Monetário Internacional, no que apenas repetiu os discursos já altamente manjados de nossas esquerdas estatizantes contra o fantasmagórico “neoliberalismo”. As verdadeiras causas dessa crise, bem como o porquê de a afirmação acerca do Brasil ser estupidamente falsa – além da recessão, crescemos menos até que vários vizinhos, especialmente os que estão integrados à Aliança do Pacífico -, já foram exaustivamente explicadas e dissecadas. O governo, no entanto, insiste em distorcer os números e vender a versão de que está tudo às mil maravilhas e de que nosso modelo é exemplo para o mundo.

Sim, segundo Marco Aurélio, o mundo reconhece o Brasil como exemplo de “desenvolvimento econômico aliado à promoção da justiça social” e bla, bla, bla. Até, por exemplo, para a Alemanha, que, em seu modo de ver, estaria “despencando” – ou essa foi a primeira palavra que lhe saiu da boca, até perceber que tinha ido longe demais no entusiasmo cínico e retificar, falando em um “grande baque industrial”.  A situação justificaria políticas mais “protecionistas”, de “soberania nacional” – nós sabemos o que ele quer realmente dizer com isso.

De acordo com ele, o Brasil não é antiamericano e está procurando se reaproximar dos Estados Unidos depois do “ataque de espionagem”. Nem os petistas seriam loucos a ponto de anularem qualquer tipo de relação com a poderosa nação do norte. Até aí, nada de surpreendente. Marco Aurélio alegou ainda que o governo brasileiro não é bolivariano e ele próprio não tem qualquer identificação com o bolivarianismo – usando o termo como uma concepção política “nacionalista” própria de certos vizinhos, que nada teria a ver com o projeto de integração propugnado por lideranças como Lula, Fidel e o falecido Chávez via Foro de São Paulo. Uma simplificação eufemística; determinados termos são usados para sintetizar uma realidade, expressar didaticamente uma ideia. Quer o PT se diga bolivariano ou não, pouco importa; suas afinidades ideológicas e políticas com o projeto retrógrado de continente defendido pelos socialistas dos países próximos são notórias e assumidas. Marco Aurélio não nega essa relação peremptoriamente. Ao contrário, ele afirma que o Brasil optou pela ideia de fazer da América Latina um pólo de forças no mundo.

Aí é que ultrapassamos todos os limites do razoável. Segundo ele, estamos numa das regiões mais bem-sucedidas do planeta nos últimos tempos, devido à saída de diversas pessoas da miséria nos países locais e ao “aumento de investimentos” – de acordo com Marco Aurélio, os comentários de investidores que mostram receio de atuar por essas bandas são apenas mitologia oposicionista. A América Latina se notabilizaria ainda por ser berço de DEMOCRACIAS ALTAMENTE AVANÇADAS e ter apenas nações com governos livres, sem forte REPRESSÃO MILITAR. Marco Aurélio Garcia não pode estar falando sério. No continente em que temos uma Bolívia, em que um deputado ameaça eleitores com chicote se não depositarem seus votos conforme o interesse do governo, e uma Venezuela de Maduro, que dispensa maiores comentários, ficamos nos perguntando onde está o paraíso vislumbrado pelo assessor delirante.

Marco Aurélio não vê problema em nada disso, na verdade. Segundo ele, o Brasil não deve funcionar como “agência de certificação do respeito aos direitos humanos”; relacionar-se com ditaduras e regimes autoritários, para os quais não se poderia simplesmente cerrar as portas, é uma coisa. Construir portos em Cuba, fortalecer líderes deploráveis como Maduro e Morales, e afagar as ditaduras africanas, outra bem diferente, em que o Brasil não se limita ao comportamento de outros países com orientações mais civilizadas. Na verdade, isso deveria ser óbvio. Mas Marco Aurélio acredita que é um pensamento hipócrita, porque países como os Estados Unidos também violam direitos humanos, e muito mais do que os citados. A retórica é muito boa e pode enganar quem não tenha o menor senso de proporção, ou não queira ter. Mas, em sã consciência, não se pode comparar Cuba com os EUA. Simplesmente não dá. Na cabeça de uma das mentes do petismo, porém, pesos e medidas nada significam.

Finalmente, o momento que todos esperavam. Marco Aurélio mencionaria, em sua palestra, a indelicadeza do Brasil na questão israelense, quando ordenou a saída do embaixador do país durante o acirramento da crise com Gaza? Não. Sobre Oriente Médio, ele preferiu abordar a polêmica mais recente, com o Estado Islâmico. Aqui, a estupefação chega ao ápice: segundo ele, o Brasil apenas se opôs a intervenções armadas sem autorização do Conselho de Segurança, nada mais; não fomos irresponsavelmente indulgentes com os terroristas do Estado Islâmico. Ocorre que pouco importa o que Marco Aurélio ou a equipe do Itamaraty digam. Nossa representante máxima, a presidente da República, Dilma Rousseff, para o mundo inteiro ouvir, defendeu o “diálogo” como uma saída possível e necessária diante de facínoras que degolam pessoas para as câmeras sem o menor constrangimento. Disse que a “melhor forma é o diálogo”, que não acredita na eficácia da atitude, que deveria ser defendido o “acordo” (!!). Se não era bem isso que ela quis dizer, assessor, a culpa é dela e dos senhores, que a orientaram mal; não é da imprensa e dos setores da sociedade que reagiram com indignação à vergonha incomensurável que nos fizeram passar como pátria.


Cremos que é suficiente, encerremos aqui. Marco Aurélio se orgulha da política externa dos doze anos de PT. Os verdadeiros patriotas, por outro lado, pranteiam a orientação tupiniquim na contramão da história, sustentando e apoiando o que há de mais atrasado e destrutivo no concerto das nações. Se assim continuar, o qualificativo de “anão diplomático”, atribuído a nós pelo porta-voz do Ministério de Relações Exteriores israelense, Yigal Palmor, seguirá uma lamentável realidade, de todo destoante da sólida tradição dos tempos de Rio Branco e Oswaldo Aranha.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Veja: Deu no New York Times (faz tempo).

A certa altura, em uma comemoração entre amigos no Rio de Janeiro, em maio de 2004, pediram ao americano Larry Rohter que cantasse. O então correspondente do The New York Times no Brasil levantou-se e entoou – com voz desafinada, segundo o relato – Apesar de Você, célebre canção de protesto disfarçado contra a ditadura militar. “Como vai proibir quando o galo insistir em cantar?”, diz um dos versos. Um dos presentes observou que Chico Buarque, autor da música, era partidário de Luiz Inácio Lula da Silva. Rohter apreciou a ironia: na sua interpretação improvisada, a letra voltava-se exatamente contra o governo Lula, que tentara expulsá-lo do país. O motivo dessa tentativa de intimidação – talvez o episódio mais vergonhoso das complicadas relações da administração petista com a imprensa livre – chega a ser trivial: uma reportagem sobre o notório gosto de Lula pelas bebidas alcoólicas. O caso é narrado em detalhes por Rohter em “Deu no New York Times” (tradução de Otacílio Nunes, Daniel Estill, Saulo Adriano e Antonio Machado; Objetiva; 416 páginas; 39,90 reais), que chega nesta semana às livrarias brasileiras e do qual VEJA antecipa alguns trechos, com exclusividade, ao longo das próximas páginas.

A obra divide-se em cinco seções: Cultura, Sociedade, Política, Amazônia e Economia/Ciência. Cada uma delas traz as melhores reportagens do autor sobre o tema, introduzidas por um comentário geral, com uma visão mais pessoal e opinativa do que era permitido ao repórter em sua cobertura cotidiana. Aos 58 anos, casado com uma carioca que cursava como ele a Universidade Georgetown, em 1967, Rohter conhece o país como poucos brasileiros. Começou a trabalhar para o escritório da Rede Globo em Nova York no início da década de 70, produzindo segmentos para o Fantástico, e em 1972 veio ao país pela primeira vez, para trabalhar como uma espécie de cicerone de músicos estrangeiros que se apresentavam no Festival Internacional da Canção produzido pela emissora. Depois dessa experiência inicial, foram quatro anos no Brasil como repórter da revista Newsweek e, em seguida, oito anos e meio como correspondente do Times, função que ele deixou em março. De volta aos Estados Unidos, Rohter cobriu a campanha presidencial de McCain para o jornal. Seu livro traz a visão crítica que se espera de um bom observador estrangeiro – as ilusões ufanistas e os vícios nacionais (a corrupção em particular) estão rigorosamente documentados. Mas é também uma obra muito generosa com o Brasil. A própria interpretação de Rohter para a tentativa de expulsá-lo em 2004 é, afinal, positiva. “O Judiciário agiu de maneira louvável. O pleno funcionamento das instituições brasileiras foi o grande destaque do episódio”, disse ele, por telefone, de sua casa em Nova York, a VEJA.

“De modo geral, suas matérias sobre o Brasil eram ricas e objetivas”, diz o diplomata Roberto Abdenur, ex-embaixador em Washington – cuja única restrição ao trabalho de Rohter é exatamente aquele sobre o presidente e a bebida: “A reportagem era distorcida e exagerada. Lula gosta de beber seu uísque, mas jamais ouvi que isso era problema”. De fato, os hábitos etílicos do presidente já tinham ampla divulgação em notas e artigos na imprensa nacional, sem que ninguém levasse isso tão a sério. O relato de Rohter só criou tanta celeuma porque saiu no Times, um dos maiores jornais americanos e, a despeito de algumas crises de credibilidade recentes (como a causada em 2003 pelo repórter Jayson Blair, que publicou matérias inventadas), ainda o mais influente deles. Junte-se a isso o pensamento provinciano brasileiro de que, se “deu no New York Times”, pouca coisa não é, e eis que o governo armou um circo desproporcional ao assunto.

Na interpretação apresentada em Deu no New York Times, o incidente da tentativa de expulsão vai mais fundo do que apenas ao copo de uísque presidencial. O governo já estaria irritado com Rohter por causa de reportagens anteriores – republicadas, com comentários do autor, no livro recém-lançado. Uma delas, de março de 2004, dizia respeito ao esforço de um governo de esquerda para manter ocultos os fatos sobre a guerrilha do Araguaia, na qual membros do PC do B e o Exército se enfrentaram entre 1970 e 1974. Rohter lembrou uma dolorosa dívida moral do estado brasileiro para com os camponeses locais, que, pegos no fogo cruzado entre guerrilha e repressão, foram desalojados, torturados ou mortos pelas Forças Armadas. “Eles eram as principais vítimas do episódio, mas pareciam ter sido esquecidos por todos os outros protagonistas: Forças Armadas, governo e até os próprios guerrilheiros”, escreve o jornalista. Outra reportagem, ainda mais incômoda para o governo, saíra um mês antes, em fevereiro de 2004. Falava do assassinato do prefeito petista Celso Daniel, de Santo André, e lembrava as possíveis relações entre o crime e o esquema de corrupção que unia várias cidades administradas pelo PT, com a finalidade de arrecadar dinheiro para a campanha presidencial de Lula naquele ano de 2002. A rigor, como o próprio Rohter observa no livro, a reportagem não trazia novidades sobre o caso (que, passados quase sete anos, ainda está para ser esclarecido). Mas o governo brasileiro considerou constrangedor que esses fatos fossem publicados no Times em um momento em que Lula buscava credibilidade internacional.

Já tendo acumulado esse histórico de reportagens indigestas para o petismo, Rohter resolveu xeretar a decantada intimidade de Lula com o copo – algo que, como se sabe, nunca foi visto como uma qualidade negativa e, para muitos eleitores, era francamente simpática. Rohter seguia a tradição do jornalismo americano segundo a qual homens públicos não têm vida privada. Políticos da situação e da oposição confirmaram que Lula gostava de beber, mas, à exceção de Leonel Brizola, nenhum quis ser identificado. O jornal publicou a reportagem em 9 de maio de 2004, um domingo. As reações iniciais caíram dentro do previsível: afetações de orgulho nacional ferido. Na terça-feira à noite, porém, o governo extrapolou: com base em uma lei do tempo da ditadura, resolveu cancelar o visto de Rohter e expulsá-lo do país.

De suas fontes no Planalto, o correspondente soube detalhes do que teria ocorrido na reunião ministerial que conduziu à malfadada decisão. O então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que poderia ser uma voz legalmente sensata no encontro, estava ausente, em compromisso na Suíça. Prevaleceram as opiniões alopradas de Luiz Gushiken e José Dirceu, que mais tarde tombariam nos escândalos do mensalão. A julgar pelo relato de Deu no New York Times, o próprio Lula aloprou: “De acordo com a mesma fonte, quando alguém objetou que me expulsar era inconstitucional porque minha mulher é brasileira, Lula replicou batendo na mesa e berrando, exaltado, ‘Que se f*** a Constituição! Quero que ele vá embora!’”. Rohter permaneceu no país, graças a um pedido de habeas corpus impetrado pelo então senador Sérgio Cabral e aceito pelo juiz Francisco Peçanha Martins, do Superior Tribunal de Justiça. O governo recuou, buscando um acordo com o New York Times – que Márcio Thomaz Bastos tentou vender como um pedido de desculpas do jornal. “Foi pouco comum termos um incidente dessa ordem em um país democrático”, diz Susan Chira, editora da seção Internacional do Times.

Os ataques contra o correspondente não se restringiram aos esforços oficiais para mandá-lo de volta a Nova York. Uma campanha insidiosa passou a ser fomentada na internet, talvez a primeira ação concertada de uma prática que se tornaria corrente no PT dali em diante sempre que se quisesse destruir a reputação de um “inimigo” da causa. Os agentes petistas fizeram circular um texto em que Rohter era acusado de ser agente da CIA, de abusar sexualmente de indiazinhas na Amazônia e de conspirar para derrubar o venezuelano Hugo Chávez. Ele era acusado também de beber “possivelmente bem mais que Lula”. Até aqui nada de muito novo para quem já sofreu esse tipo de ataque. A novidade é quanto Rohter avançou na identificação dos autores da campanha caluniosa. O texto contra ele vinha assinado por uma professora da Universidade de Brasília. Procurada por Rohter, ela negou a autoria. O colunista Ricardo Noblat buscou a fonte de uma cópia recebida desse e-mail e chegou até um endereço... no Palácio do Planalto. A fantasia paranóica de que a reportagem atendia aos interesses conservadores do governo Bush esbarra na orientação política do New York Times, conhecido por sua oposição desinibida aos republicanos e a Bush. O livro do correspondente americano aponta algumas afinidades entre Bush e seu colega brasileiro. Diz ele: “Ideologia não é o único fator a determinar a relação entre presidentes e países. A personalidade também é importante. No caso de Bush e Lula, ajuda a explicar por que os dois se dão bem”.

Há bem mais em Deu no New York Times do que o incidente da quase-expulsão. Nos textos reunidos no livro, Rohter fala da música de Gilberto Gil e Caetano Veloso e da tecnologia agrícola da Embrapa, de jegues e de Paulo Coelho. O livro contém outra peça que criou polêmica, mas por razões mais, digamos, cosméticas do que políticas: uma reportagem sobre a obesidade entre os brasileiros. Rohter teve azar com o fotógrafo. Para ilustrar a matéria, baseada em estatísticas do IBGE, o retratista buscou gordinhas em uma praia do Rio – e fotografou turistas checas fofinhas como se fossem brasileiras. Os cariocas, é claro, pegaram no pé do então correspondente. Ossos – e gorduras – do ofício. “Larry é um profissional consumado e versátil, que escreve tanto artigos de análise política quanto de crítica cultural. Sua visão nuançada e profunda do Brasil assegurou que o New York Times publicasse um grande número de reportagens sobre o país”, diz Susan Chira, que foi editora de Rohter.

De certo modo, Deu no New York Times pode ser lido como uma versão contemporânea dos relatos de viajantes sobre a vida brasileira. Essa tradição começou na colônia, com Jean de Léry e Hans Staden, e incluiu figuras de proa da ciência mundial, como os naturalistas Darwin e Humboldt, que mandavam ao então centro do mundo notícias e impressões das terras remotas que visitavam. O Brasil não é mais o país exótico e selvagem que esses aventureiros e cientistas buscavam – mas o olhar do estrangeiro ainda pode desvendar aspectos inusitados para os nativos. O estrangeiro é mais desassombrado para afrontar unanimidades nacionais – como a arquitetura de Brasília, já desmontada por críticos como Robert Hughes e Marshall Berman e mais uma vez criticada por Rohter. Para quem tem o ex-correspondente americano na conta de uma besta-fera imperialista, a leitura de seu livro pode ser iluminadora: será surpreendente ver que ele apóia algumas bandeiras caras ao atual governo. É a favor das cotas raciais nas universidades e se mostra complacente com a ex-ministra da Igualdade Racial Matilde Ribeiro, que caiu quando se soube de sua farra com os cartões corporativos. Concorde-se ou discorde-se dele, Larry Rohter é um repórter inquieto, um representante da melhor tradição americana da liberdade de imprensa. É bom que o galo cante sem precisar da autorização do mandante da ocasião.

“O meu relacionamento com Lula, embora esporádico, data dos anos 70, quando ele estava surgindo como líder sindical e eu, um correspondente recém-chegado ao Brasil, o acompanhei e o observei. Já conversei bastante com ele, ouvindo declarações astutas e também bobagens, todas devidamente anotadas no meu bloquinho. Já tomei água, refrigerante e até uma cachacinha com ele. Então, fico perplexo quando ouço o presidente alegar que nunca teve nenhum contato comigo. A verdade é comprovadamente outra”

“Também fiquei impressionado na época com as generosas quantidades de álcool que ele consumia. Como tenho por hábito quando estou trabalhando, eu me limitava a tomar Fanta Laranja, e me lembro de Lula me provocar com bom humor por causa disso. ‘Que que é isso, meu caro? Um jornalista que não gosta de beber?’. Enquanto ia de uma reunião a outra, ele bebia o que lhe oferecessem: cachaça, uísque, conhaque para se aquecer em manhãs frias, e mesmo a cerveja da qual ele afirma não gostar. Às vezes seus olhos ficavam injetados e sua fala, enrolada. Era difícil dizer se isso se devia ao álcool, porque ele estava visivelmente fatigado de tensão e falta de sono, e tendia, mesmo quando não tinha bebido, a falar alto e divagar em público, pulando de um tópico a outro”

“A resposta inicial foi bem o que eu esperava: uma explosão de nacionalismo, parte dela bastante hipócrita. Em certo momento, houve um desfile de mais de doze políticos de Brasília me denunciando em um canal de televisão a cabo. Eu tive de rir, porque dois dos que me atacavam – um de um partido aliado ao PT, o outro uma importante figura da oposição – tinham sido informantes para minha reportagem e expressado suas preocupações com a recente passividade de Lula e suas suspeitas de que ele andava bebendo em excesso”

“Contudo, devo confessar que nunca pensei que Lula e seus assessores seriam tolos ao ponto de ordenar minha expulsão do país. Fiquei tão chocado quanto qualquer outra pessoa quando a medida foi anunciada na noite de terça-feira, e soube, assim que ouvi o noticiário, que eles tinham superestimado sua força e iam sofrer uma derrota. Uma coisa era eles invectivarem contra um gringo metido e narigudo que estava ‘manchando’ a ‘honra’ do Brasil. Mas ao tentarem me expulsar, empregando uma lei que datava dos piores dias da ditadura militar, eles tinham ido longe demais e agora estavam também pisando nos calos dos brasileiros”

Márcio Thomaz Bastos
“Depois, muitos de meus colegas na imprensa brasileira retrataram Bastos como o líder sensato e cheio de princípios que havia habilmente costurado uma resolução para uma crise desnecessária. Não partilho essa opinião. A meu ver, o comportamento de Bastos quando retornou da Suíça foi tortuoso e ficou aquém dos padrões éticos exigidos dele como o principal representante legal do país. Ele tinha sido advogado pessoal de Lula antes de ingressar no ministério, e, como ocorreu depois, durante a crise do mensalão de 2005 e 2006, agiu não para defender os interesses mais amplos da nação brasileira, mas para favorecer os interesses partidários mais estreitos de seu antigo cliente e do Partido dos Trabalhadores. Para mim, o verdadeiro herói não louvado do episódio, se é que houve um, foi Sérgio Cabral, que na época era senador pelo estado do Rio de Janeiro, e hoje é governador desse estado e um aliado de Lula. Sem me conhecer pessoalmente, mas reconhecendo que estava em jogo um princípio importante, ele entrou com um pedido de habeas corpus para evitar minha expulsão”

Marco Aurélio Garcia
 “Em sua função como conselheiro de Lula em assuntos de segurança nacional e política externa, Garcia, ex-professor universitário, parecia se ver como uma espécie de Henry Kissinger tupiniquim, um mestre da realpolitik. A realidade, contudo, é que ele parece mais um Renato Aragão da diplomacia, um trapalhão cujo principal talento é bagunçar as coisas”

Lula e Bush
 “As semelhanças de Lula com George W. Bush têm mais a ver com caráter e personalidade. Como Bush, Lula não parece ter muita curiosidade intelectual. Ele não gosta de ler relatórios, muito menos livros, tem uma ideologia estreita que impede que novas experiências mudem sua perspectiva, tinha muito pouca experiência do mundo fora das fronteiras de seu próprio país antes de assumir o governo, e disse algumas coisas notavelmente ingênuas e desinformadas enquanto viajava pelo exterior. Ambos maltratam sua língua nativa, mas ambos são tidos como calorosos e cativantes em situações de contato pessoal. Talvez isso explique a afinidade que eles parecem ter desenvolvido um pelo outro: apesar de suas diferenças ideológicas, parecem reconhecer um no outro espíritos aparentados. De nenhum dos dois, contudo, pode-se dizer que tenha crescido em estatura ou credibilidade enquanto ocupava o cargo”

Oscar Niemeyer
“Outro exemplo de um aspecto da cultura brasileira elogiado muito mais do que ele provavelmente merece é a obra do arquiteto Oscar Niemeyer. Sei que isso pode soar chocante, porque há um consenso quase universal aqui no Brasil de que Niemeyer é um gênio. (...) Deixando de lado a política stalinista de Niemeyer, que é execrável, há uma contradição fundamental e irreconciliável entre o que ele professa e a obra que ele produziu. Ele afirma querer uma sociedade baseada em princípios igualitários, mas sua arquitetura, para usar a linguagem do mundo da computação, não é user-friendly. Ao contrário: ela é profundamente elitista e mesmo egoísta, concentrada principalmente em fazer declarações grandiosas e eloquentes por si mesmas, para satisfação de Niemeyer e seus admiradores, mesmo que cause desconforto ou inconveniência ao usuário.”

O esquema nas prefeituras petistas
 “A atividade ilegal de levantamento de dinheiro em Santo André não era um caso isolado, como afirmavam os líderes do partido, mas era antes parte de um esquema generalizado para acumular uma grande soma em caixa 2 para a campanha, para contrabalançar o apoio da comunidade empresarial aos tucanos. Tinham sido dadas ordens a todos os prefeitos do PT, minha fonte me relatou, para levantar dinheiro por todos os meios possíveis, e cada município havia recorrido a um mecanismo um pouco diferente para cumprir sua cota. Em Santo André eram as empresas de ônibus, como havia ficado claro na investigação do assassinato de Celso Daniel. (...) Em Campinas, onde o prefeito, Antonio da Costa Santos, o ‘Toninho do PT’, tinha sido assassinado quatro meses antes de Celso Daniel, era o superfaturamento de obras públicas e de contratos de estacionamento. E em Ribeirão Preto eram os contratos de coleta de lixo. ‘Ribeirão Preto também?’, perguntei, um pouco chocado, mas no mesmo instante percebendo a importância do que ouvia. Estávamos falando obviamente da época em que Antonio Palocci era prefeito lá, e agora, como ministro da Fazenda, ele se tornara o símbolo da adoção por Lula da responsabilidade fiscal”

O caso Celso Daniel
 “Enquanto fazia reportagens em São Paulo no começo de 2004, eu tinha entrevistado dois dos irmãos de Celso Daniel, um dos quais tinha se escondido depois de receber ameaças de morte. Bruno e João Francisco Daniel disseram com toda a clareza que, de acordo com o que seu irmão havia contado a eles, os membros mais importantes do PT não apenas sabiam do esquema de corrupção que provocou sua morte, como haviam desempenhado um papel ativo em sua operação. Além disso, eles me disseram, esses membros do PT tinham confirmado para Bruno esse papel. Em resultado disso e de outras entrevistas, minha reportagem incluía um parágrafo, mais ou menos na metade do texto, que imediatamente disparou o alarme no governo e no partido governante.

‘Pouco tempo depois do enterro de Celso, Gilberto Carvalho me contou que tinha feito várias entregas em dinheiro vivo ao partido e que, em uma ocasião, ele ficou apavorado porque estava transportando mais de 600 000 dólares em uma maleta’, disse Bruno Daniel na entrevista. ‘Ele me contou que entregava o dinheiro diretamente a José Dirceu, e foi isso que eu disse aos promotores’.”

Genoíno e a guerrilha do Araguaia
 “As entrevistas com Genoíno, que parecia sempre achar a imprensa estrangeira insuficientemente respeitosa, eram sempre delicadas, e nenhuma delas foi mais delicada que esta. Eu entrevistara Genoíno várias vezes no passado, e ele sempre mostrara impaciência comigo e com minhas perguntas, que ele obviamente julgava serem especialmente impertinentes. Mas esta estava fadada a ser uma situação especialmente sensível, dada a história pessoal dele. Ele era tão suscetível a fofocas de que se tornara um dedo-duro sob tortura e revelara informações que comprometiam seus companheiros militantes que tinha até escrito um artigo de jornal negando os boatos”


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Felix Maier: O PT oficial e o PT clandestino

Lula foi uma liderança sindical criada e incentivada pelo general Golbery do Couto e Silva, “o bruxinho que era bom”, para neutralizar o projeto político de Leonel Brizola junto à classe trabalhadora, quando ocorresse a redemocratização, assim como para neutralizar as lideranças da esquerda radical, de modo que os idos de março de 1964 não se repetissem.

O “Lula secreto”, que no início dos anos 1970 tomou aulas de sindicalismo na Johns Hopkins University, nos EUA, sempre foi uma figura dúbia, de tal modo que Guido Mantega o considerava um “burguês” a serviço das montadoras e chegou até a boicotar um texto dele em um jornaleco esquerdista. Romeu Tuma Jr., no livro Assassinato de Reputações, afirma que Lula era um informante dos militares, conhecido como “Barba”, era amigo pessoal do delegado Romeu Tuma e, quando esteve preso, tinha muitas regalias, como não ficar atrás das grades, mas em uma espécie de prisão domiciliar.

Passados esses anos todos, descobriu-se que Lula, o “cabo Anselmo do ABC”, conseguiu enganar a todos, a começar por Golbery, que acreditava ter ajudado a criar uma oposição “digerível”, o Partido dos Trabalhadores (PT). O “Barba” provou que não é um democrata, mas uma figura desprezível que se ligou a tiranos sanguinários comunistas, como Fidel Castro, para transformar toda a América Latina em uma nova União Soviética. A União das Nações Sul-Americanas (Unasul), por acaso, não lembra a URSS?

O PT, em sua trajetória, sempre provou ser um partido autoritário, em que prevalece a ética leninista de que os fins almejados justificam os meios sujos utilizados. Provas? O PT não apoiou o candidato presidencial Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, não assinou a Constituição de 1988, detonou o presidente Collor de Mello com seu “governo paralelo, instituiu o “orçamento participativo” em muitos municípios, tirando as prerrogativas dos vereadores, não apoiou Itamar Franco em um momento difícil, foi contra o Plano Real e a responsabilidade fiscal, – além de outros arroubos autoritários que veremos adiante.

A história do PT é, principalmente, a história de Lula. Há o PT oficial (e o Lula oficial), propagado pela mídia, e o PT clandestino (e o Lula clandestino), escondido pela mídia. O PT oficial participou da Constituinte, embora tenha se negado a assinar a Constituição, por não ser stalinista como desejava. O PT clandestino quis retirar da Constituição a prerrogativa das Forças Armadas, no que diz respeito à garantia da lei e da ordem (GLO), com o intuito de enfraquecer a ultima ratio de defesa da democracia. Tanto é verdade que, quando Lula foi eleito presidente, seu governo criou a Força Nacional de Segurança, para substituir as Forças Armadas em ações internas.

Em 1989, Lula foi o candidato a presidente do PT oficial. Derrotado nas urnas, entrou em ação o PT clandestino e seu desavergonhado “governo paralelo”, com o objetivo de derrubar Collor. Depois de ampla campanha contra o presidente, em que se destacou o serviço secreto do PT, dirigido pelo araponga cubano-brasileiro José Dirceu, com a criação de dossiês e enxurrada de denúncias obtidas por petistas enquistados no governo, Collor foi destituído da presidência. Durante a “CPI dos anões do Congresso”, Esperidião Amin apelidou o serviço secreto petista de “PTPol”, a Interpol do PT. Coitado de Collor! Comparado às falcatruas perpetradas por Lula e pelo PT até os dias de hoje, com destaques para o “mensalão” e o Pasadenagate, Collor não passa de um pivete pé de chinelo.

Um fato grave do PT clandestino ocorreu naquela época, que não teve a devida repercussão na grande mídia. Um antigo guarda-costas de Fidel Castro, Juan Reinaldo Sánchez, autor do livro A vida secreta de Fidel, afirma que espiões cubanos participaram das campanhas presidenciais de Lula, desde 1989. E que os médicos cubanos, recém-contratados por Dilma Rousseff no programa Mais Médicos, não passam também de espiões a serviço de Cuba - um verdadeiro cavalo-de-troia comunista montado pelos “gregos” petistas, uma cunha cubana cravada no coração do Brasil.

O PT oficial nasceu defendendo a ética e pedia CPI para tudo. No entanto, ao comandar as primeiras prefeituras, apareceu a força do PT clandestino, com denúncias de corrupção aos montes, seja em Ribeirão Preto (Antonio Palocci), seja em Santo André (Celso Daniel), ou em São José dos Campos (Ângela Guadagnin, a “dançarina da pizza”). Quando o petista Paulo de Tarso Venceslau, em 1997, denunciou as falcatruas de Lula e do PT, a única providência do PT foi expulsá-lo do partido, como é de praxe nesses casos. Provou-se que o PT é composto, não por donzelas puras, mas por vestais grávidas.

Em 1990, após a derrubada do Muro de Berlim e o início da implosão da URSS, o PT clandestino entrou em ação com força total. Sem nada divulgar para a imprensa, Lula e Fidel Castro criaram o Foro de São Paulo, o qual tinha três objetivos imediatos: salvar o regime cubano, depois que Moscou deixou de remeter gorda mesada a Cuba, impedir o ingresso do México no NAFTA e eleger Lula presidente do Brasil. O objetivo estratégico do Foro, que engloba partidos políticos e movimentos esquerdistas em geral, além de grupos terroristas como as FARC, é comunizar toda a América Latina, tendo Cuba como farol ideológico. A Venezuela de Chavez-Maduro é o que hoje mais se aproxima desse objetivo final, seguido pela Bolívia de Evo Cocales, o Equador de Rafael Correa, a Argentina de Cristina Kirchner, a Nicarágua de Daniel Ortega e – last but not least – o Brasil de Lula-Dilma.

O atual ministro das Relações Exteriores do PT oficial, embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, é mera figura decorativa, depois que o Itamaraty foi jogado no limbo pelo PT, não servindo para nada. O Inglês, que é o Esperanto que deu certo, chegou a ser retirado da prova obrigatória de candidatos ao Itamaraty. Para que falar a língua de Shakespeare, se o cara sabe falar “nóis pega os peixe”? Como prova da subserviência do Itamaraty à ideologia bolivariana, vale lembrar os vergonhosos casos de ingerência do Brasil e da Unasul em assuntos externos, como o asilo político concedido ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaia, e a crise do impeachment do presidente Fernando Lugo, no Paraguai, ocasião em que se aproveitou para expulsar o Paraguai do Mercosul e acolher a Venezuela. Nem é preciso falar da posição do governo petista (“anão diplomático”) frente a Israel, sempre apoiando os terroristas do Hamas, como se o país judeu não tivesse o elementar direito de defender sua população contra os milhares de foguetes disparados de Gaza. No entanto, a direção da política internacional está com o ministro do PT clandestino, Marco Aurélio “top top” Garcia.

Romeu Tuma Jr., em seu livro Assassinato de Reputações, enumera uma série de crimes cometidos pelo PT clandestino. Como exemplo, ele cita o caso insepulto de Celso Daniel, fazendo uma pergunta até hoje não respondida: “Por que Gilberto Carvalho ainda não caiu do caminhão?” Todos os brasileiros não comprometidos com o petralhismo esperam que esta e outras interrogações sejam respondidas no segundo livro de Tuma Jr., a ser publicado nas vésperas das eleições de outubro. Segundo Tuma Jr., até a Polícia Federal tem uma ala petista, que ele classifica de Gestapo do PT, cuja finalidade é confeccionar dossiês de adversários políticos. Ou seja, assassinar reputações. Vale lembrar os dossiês feitos pelos petralhas contra os candidatos presidenciais Roseane Sarney, José Serra, José Alckmin - além do próprio FHC.

O PT clandestino atua há bastante tempo no mundo virtual, não só nestes tempos de ação webterrorista feita por Franklin Martins para alavancar a reeleição de Dilma Rousseff - com o auxílio prestimoso do petista de carteirinha José Dias Toffoli, ministro do STF e atual presidente do TSE, que impediu que as urnas eletrônicas passassem por um teste público. É crescente o uso da internet para ataques contra a imprensa e desafetos políticos, configurando-se verdadeira guerrilha digital. Um exemplo foi o “tuitaço” promovido por Rui Falcão, presidente do PT, e simpatizantes contra a revista Veja, que publica tanto os “malfeitos” da petralhada, quanto os dos tucanos. Eles utilizam robôs e perfis peões, para fazer crer que houve grande adesão a um movimento, como #vejabandida. O # (hashtag ou marcador) colocado na frente de uma palavra ou expressão compete por atenção na rede. Em 2011, o PT lançou o Núcleo de Militância em Ambientes Virtuais. “A utilização massiva da internet, das redes sociais e de blogueiros amestrados faz parte das táticas de engodo e manipulação da verdade no Brasil”. Na China, os “peões” que defendem o governo comunista recebem 50 centavos por cada inserção de apoio. No Brasil, quanto ganham os insetos da falconaria petralha para assassinar as reputações de Aécio Neves e Eduardo Campos?

Até este insignificante escriba da internet é patrulhado por petistas. Um blog baba-ovo, com o nome de Os amigos do presidente Lula, colocou na internet a calúnia de que eu sou um “falsificador de cartas”. As cartas têm autoria, não inventei nada, apenas postei textos recebidos de colaboradores. Ainda estou pensando se processo ou não o difamador. Por ora, o link está aí, especialmente para o deleite dos petralhas, para que conheçam as cartas postadas por mim no site Usina de Letras e espumem de raiva.

Hoje em dia, devido ao poder imperial que adquiriu, de feição fascista, sem uma oposição efetiva, o PT já realiza ações clandestinas à luz do sol. Um exemplo é o decreto nº 8243, assinado por Dilma Rousseff, de modo a instalar conselhos (sovietes) e comissões em todos os órgãos públicos. Tal decreto é apenas o eco de num outro decreto, feito por um órgão de hierarquia superior, ao qual o PT está inteiramente subjugado: o onagro vermelho que se chama Foro de S. Paulo. O jurista Ives Gandra alerta para o perigo de tal ignomínia ser colocada em prática, tirando as prerrogativas do Congresso Nacional. Na verdade, o decreto de Dilma segue o modelo bolivariano de assalto às instituições, de modo a implantar um governo totalitário no Brasil como o que existe em Cuba. Espero que os congressistas rejeitem tal patifaria.

Outro projeto petista é convocar para setembro deste ano um plebiscito popular por uma constituinte exclusiva, de modo que o povo brasileiro dê carta branca ao projeto de acelerar a cubanização do País. Tal canalhice começou a ser levantada pelo PT depois das manifestações de junho de 2013 e agora toma novo fôlego. Por que o PT tem tanta pressa em realizar tal plebiscito? Como a reeleição de Dilma Rousseff não está garantida, com o crescimento de apoio da população aos candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos, o PT quer acelerar o processo de comunização do País.

Se o PT oficial realiza ações cada vez mais ousadas, às claras, tendo em vista tornar o Brasil um país comunista, tendo Cuba como modelo, o que estaria neste momento fazendo o PT clandestino? Importando armas de Cuba e da Venezuela para armar suas futuras milícias, a exemplo do MST, do mesmo modo como fazia o comunista Salvador Allende quando foi presidente do Chile? Não sei. Tratando-se do PT, o pior ainda pode acontecer, porque infelizmente estamos vivendo em uma autêntica República dos Bandidos.

domingo, 12 de outubro de 2014

Editorial o Estadão: A ajuda espantosa da Petrobrás à Bolívia

Além dos empréstimos tomados pelo governo para socorrer as distribuidoras de energia elétrica, a um custo estimado pelo TCU em R$ 26 bilhões, os contribuintes terão de arcar com uma benesse internacional concedida pela administração petista: a Petrobrás pagou à Bolívia, em setembro, US$ 434 milhões mais do que o previsto no contrato de fornecimento de gás ao País. A explicação da Bolívia para exigir a “indenização” é que o gás exportado para o Brasil é “rico”, com componentes nobres usados na indústria petroquímica, mas se destinou à geração de energia térmica. O pagamento é retroativo, relativo ao período de 2008 a 2013.

A operação causou espanto até na esfera oficial. “A associação entre o pagamento do 'gás rico' e o problema de energia no Brasil foi imediata”, disse uma fonte do governo ao jornal Valor (9/10). “Não havia por que pagar por um produto que o Brasil não utilizou e que não estava previsto em contrato.”

A Petrobrás atendeu a uma reivindicação do governo de Evo Morales feita na era Lula. O valor da operação permite presumir que o pagamento foi endossado pelo conselho de administração da estatal, presidido pelo ministro Guido Mantega.

A decisão é esdrúxula, pois, prejudicada pelo represamento de preços de combustíveis e devendo mais de R$ 300 bilhões, a Petrobrás tem sérios problemas financeiros.

Segundo analistas, a estatal cedeu porque teria levado em conta a necessidade de a Bolívia entregar o gás prometido a uma termoelétrica de Cuiabá. Foi rápido o acordo entre o presidente da fornecedora boliviana YPFB, Carlos Villegas, e o diretor da Área de Gás e Energia da Petrobrás, José Alcides Santoro, para indenizar a Bolívia. O governo Morales ameaçava não atender a termoelétrica de Cuiabá. O Brasil e a Argentina não estão na lista de prioridades da YPFB, por isso se negocia novo acordo com a empresa boliviana.

É ominosa a submissão do governo brasileiro às pressões da Bolívia. Pode-se compreender a tentativa de assegurar o fornecimento de gás para evitar o racionamento, mas não por meio de uma negociação nebulosa. Contratos bilaterais devem atender aos interesses das partes e basear-se em critérios técnicos. Reivindicar pagamento retroativo assemelha-se mais a uma extorsão.

Em 2006, o Brasil aceitou um valor simbólico na expropriação de ativos da Petrobrás pelo governo Morales, invocando razões diplomáticas. Hoje, não há diplomacia que justifique o saque no caixa da Petrobrás.



Editorial Estadão: Como roubaram a Petrobrás

Começam a brotar os detalhes daquele que se afigura como um dos maiores escândalos de corrupção da história brasileira - o assalto à Petrobrás, que teria movimentado ao menos R$ 10 bilhões. Os mais recentes depoimentos dos principais personagens desse escabroso esquema, montado para drenar os recursos da maior empresa estatal do País, revelam a quem foi repassado o produto do roubo - e, mais uma vez, como tem sido habitual ao longo dos governos lulopetistas, aparecem fartas digitais do PT.

Fica cada vez mais claro que figuras de proa desse partido - muitas das quais já foram presas por corrupção - permitiram na última década o arrombamento dos cofres do Estado por parte de delinquentes, servindo-se desse dinheiro para financiar seu projeto de poder.

À Justiça Federal no Paraná, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobrás e um dos pivôs do escândalo, confirmou que uma parte do dinheiro desviado financiou as campanhas do PT, do PMDB e do PP em 2010.

Contando detalhes que só quem participou da operação poderia conhecer, Costa revelou que de 2% a 3% dos contratos superfaturados eram desviados para atender os petistas. Segundo ele, várias diretorias da estatal eram do PT. “Então, tinha PT na Diretoria de Produção, Gás e Energia e na área de Serviços. O comentário que pautava a companhia nesses casos era que 3% iam diretamente para o PT”, relatou o ex-diretor, em depoimento gravado. No caso de sua diretoria, Costa afirmou que os 3% eram repartidos entre o PP, ele e o doleiro Alberto Youssef, o outro operador do esquema. Já a Diretoria Internacional repassava os recursos desviados para o PMDB, segundo disseram Costa e Youssef.

Costa afirmou que o contato dos diretores envolvidos nos desvios era feito “diretamente” com João Vaccari Neto, tesoureiro do PT. O nome de Vaccari Neto foi confirmado por Youssef, que também prestou depoimento à Justiça Federal.

Os tentáculos do esquema não se limitavam às diretorias da Petrobrás. Em 2004, segundo declarou Youssef, os “agentes políticos” envolvidos no escândalo pressionaram o então presidente Lula a nomear Costa para a Diretoria de Refino e Abastecimento, ameaçando trancar a pauta do Congresso. “Na época, o presidente ficou louco e teve de ceder”, disse o doleiro. Esse relato, se confirmado, revela como a máfia instalada na Petrobrás se sentia à vontade para manipular até mesmo o presidente da República e o Congresso em favor de seus interesses criminosos. E essa sem-cerimônia talvez se explique pelo fato de que membros proeminentes do próprio partido de Lula, a julgar pelos depoimentos, estavam cobrando pedágio e se beneficiando da roubalheira na estatal.

Os depoimentos de Costa e de Youssef foram os primeiros dados à Justiça depois do acordo em que decidiram contar tudo o que sabem em troca de redução de pena. Se oferecerem informações falsas, perderão imediatamente o benefício - logo, os dois têm total interesse que sua delação seja levada a sério.

Além disso, ambos ofereceram atas e documentos que, segundo eles, comprovariam as reuniões da quadrilha, os esquemas de pagamento e as transações para lavagem de dinheiro em empresas offshore. As autoridades sabem que estão lidando com material explosivo. Segundo a defesa de Youssef, ele e Costa foram apenas operadores do esquema - os verdadeiros líderes “estão fora desse processo, são agentes políticos”.


Diante da enorme gravidade dos fatos até aqui relatados, e ante a certeza de que se trata apenas de uma fração de um escândalo muito maior, seria legítimo esperar que Lula e a presidente Dilma Rousseff viessem a público para dar explicações convincentes sobre o envolvimento de seus correligionários nos crimes relatados. No entanto, Dilma preferiu queixar-se do vazamento dos depoimentos de Costa e de Youssef - como se o mais importante não fosse o vazamento, pelo ladrão, de dinheiro da Petrobrás. Já a reação de Lula foi típica daqueles que se consideram moralmente superiores: ele se disse “de saco cheio” das denúncias de corrupção contra o PT. Pois os brasileiros podem dizer o mesmo.

Pedro Malan: Fazendo o diabo

E assim falou Lula: “Portanto, se aqui for dito alguma coisa que eu já disse, é um defeito político, na verdade, um defeito genérico do político brasileiro, mas que, segundo os comunicadores, é sempre importante a gente repetir a mesma coisa muitas vezes, até que esta coisa se torne quase que uma verdade absoluta para todos nós” - em discurso na sessão de abertura da Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, no início do seu segundo mandato (10/4/2007).

Essa postura não era nova, como já mostrara o bordão sobre herança maldita após 2003, mas sua prática continuada ao longo do segundo mandato permitiria a Lula um arroubo extra de arrogância ao afirmar às vésperas das eleições de 2010: “A opinião pública somos nós”. Talvez porque se sentisse à beira de uma vitória que pretendia de caráter plebiscitário. Como é sabido, o PT disputou até agora (mérito seu, devemos reconhecer) nada mesmo que sete eleições presidenciais desde 1989, perdeu as três primeiras (duas no primeiro turno) ganhou as três seguintes e disputa agora, bem situado, sua sétima eleição presidencial.

Cabe lembrar que em nenhuma das eleições que ganhou (e da que ainda espera ganhar) o eleitorado brasileiro lhe concedeu a graça de uma vitória no primeiro turno. É difícil, pois, entender o arrogante “a opinião pública somos nós” de 2010. Assim como é difícil de aceitar a simplória visão de que a complexa, rica e diversa sociedade brasileira caiba na camisa de força da divisão entre o recorrente “nós” do petismo e o conjunto, nada desprezível, daqueles que têm opiniões distintas e recusam a rotulagem fácil como instrumento de desqualificação. Parte expressiva dos 142 milhões de eleitores brasileiros tem todo o direito de perguntar “nós quem?”, ao saber que uma mesma coisa deve ser repetida muitas vezes até que esta coisa se torne uma verdade quase que absoluta - e para todos nós.

Quatro meses atrás escrevi neste espaço: é bem possível que a máquina de propaganda do governo, com seus vastos recursos e amplo uso das instrumentalidades do poder, convença mais da metade dos eleitores de que eles devem votar de olhos postos nas “conquistas” que seriam, todas, “dos últimos 12 anos” e que “eles” (quaisquer oposições relevantes) iriam destruí-las se eleitos fossem. É lamentável, pela mentira, desfaçatez e hipocrisia, mas alguns dirão: “Isso é do jogo simbólico da política”. Como já foi feito no passado.

Fernando Gabeira foi ao ponto que importa em seu artigo no Globo de domingo passado: “Uma vitória do PT, creio, não pode ser atribuída apenas à sua capacidade de mentir e de atacar”. Não se deve nunca acusar o adversário pela própria derrota. Se não for possível resistir aos ataques e mentiras do PT, isso significa que vai ficar eternamente no poder. Por que mudaria de tática?

Com efeito, por que mudaria de tática, se não tivemos respostas políticas adequadas a deslavadas mentiras do tipo “eles” queriam (ou iriam se eleitos) privatizar a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa ou o BNDES. Ou do tipo “eles são contra, e se eleitos vão acabar com o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e outros programas sociais do governo”. Ou “eles” não aumentaram o salário mínimo em termos reais - o que é mentira, e de má-fé. Ou a mentira de que os programas de transferência direta de renda para os mais pobres sejam uma criação petista, quando a medida provisória do governo Lula, mais de dez meses e meio após a sua posse, lista os programas que havia herdado do governo anterior, e os consolida, após reconhecer que era muito melhor ideia do que a alternativa que tentara por mais de dez meses. Não é correto, como sabe qualquer pessoa minimamente informada, que a estabilidade tenha sido uma conquista dos anos pós-2003.

A presidente chega à decisão do segundo turno carregando consigo três tipos de heranças - duas das quais de sua própria lavra. Sobre a primeira muito já escrevi neste espaço e posso agora apenas resumir. O Brasil não começou em 2003; os últimos 12 anos foram marcados por três períodos distintos: um Lula do primeiro mandato, que começou a acabar em marco/abril de 2006, um Lula II diferente até 2010 e o governo Dilma, que foi um Lula II muito mais problemático. A nova estratégia de marquetagem política, após afirmar não ser possível voltar ao “passado”, volta a 12 ou 16 anos atrás (1998 -2002) para acusar adversários de terem “quebrado por três vezes”. Uma mentira e uma tática diversionista para evitar discutir os sérios problemas que hoje enfrenta o País e os difíceis quatro anos à frente.

A segunda herança - e esta é a que importa agora - é a que o governo Dilma construiu para si (ou para seu sucessor) ao longo dos últimos quatro anos. E na qual só vê elementos positivos, os únicos problemas preocupantes sendo derivados da situação internacional. No front doméstico as coisas estariam absolutamente sob controle: inflação dentro da meta, situação fiscal sem problemas de credibilidade, investimento e crescimento sempre prestes a melhorar um dia. Mas o fato é que as legítimas preocupações com a combinação - há quatro anos - de muito baixo crescimento, muito baixo investimento e relativamente alta e renitente inflação constituem manifestações de problemas (não apenas de curto prazo) que não deixarão de existir porque são ignorados pela força da propaganda e de bravatas de campanha.


A terceira herança é a que a presidente Dilma vem construindo em seus discursos e debates de campanha, em especial ao longo dos últimos dois meses, criando para si própria armadilhas adicionais às que construiu com as políticas que implementou ao longo de seus quatro anos. São estas que estão sob o escrutínio agora, quando a presidente pede ao eleitorado mais quatro anos do mesmo, já que não reconhece problemas e, portanto, não vê necessidade de mudanças para enfrentá-los.

Fernando Gabeira: O Rio que passa em nossa vida

Uma forma de ser universal é escrever sobre o lugar onde se mora. Custei a escrever sobre as eleições no Rio porque ainda estava muito próximo de uma vida política aqui, conheço os personagens e resolvi me concentrar na questão nacional. Desde menino, o Rio para mim é a cidade das luzes. Eu as vi do alto da serra e disse para mim mesmo que iria morar lá embaixo, naquele mundo iluminado. No Rio havia o mar, moravam os artistas, do Rio vinham os jornais e as revistas, aqui estava a vanguarda do país. Os políticos não só eram nomes nacionais como pensavam o país.

O tempo e a decadência, com a mudança da capital, fizeram com que os políticos se voltassem, sensatamente, para os problemas locais. Surge uma nova geração focada nas questões do nosso cotidiano. O ideal seria que se formasse aqui gente com visão nacional e, ao mesmo tempo, capaz de agir localmente. As peripécias de nossa história nos levaram a longos períodos de dominação, ora populista ora de um grupo orientado para o enriquecimento pessoal.

Tantas voltas demos que estamos num segundo turno entre a continuidade de um governo marcada por escândalos e um candidato que associa política e religião de uma forma que me assusta. Respeito a religiosidade em todos os seus níveis, mas o partido ligado à Igreja Universal chegar ao governo é inquietante.

Todas aquelas luzes que contemplei quando menino, todo aquele investimento emocional na metrópole dos sonhos desdobra-se hoje na possibilidade de ser governado por um núcleo religioso que também é um núcleos de negócios.

Na disputa proporcional, a votação de Jair Bolsonaro e Jean Wyllys indica que a questão dos direitos gays está na ordem do dia. Se consideramos os números, vemos uma nítida vantagem de Bolsonaro. Será que determinadas táticas não o estão fortalecendo?

Conheço Bolsonaro há muito tempo. No primeiro mandato, ele fazia discursos pedindo minha prisão, porque fui sequestrador. Um dia disse para a ele: “Antes de ir para a tribuna pedir minha prisão, avisa, pois eles podem te levar a sério, e isso me dá alguns minutos de vantagem para a fuga”.

Nunca mais pediu minha prisão, e convivemos, pacificamente, na Câmara. Bolsonaro tem se movido com desenvoltura na sua cruzada. Ele capta as oportunidades no ar, argumenta pesadamente e, às vezes, briga com a própria imprensa. Bolsonaro vislumbrou esse caminho, assim como o pastor Marcos Feliciano, e o percorre sabendo que sairá com mais votos de cada episódio. Isto significa que os direitos dos gays devem ser congelados, para que Bolsonaro e Feliciano não cresçam? Sugiro apenas que se reveja a tática, procure-se um terreno mais seguro, ampliem-se as alianças.

Uma vez que o tema tem tanta importância na votação dos deputados no Rio, não custa nada lembrar que vale para o movimento gay o aprendizado de todas as lutas minoritárias de que participei: por mais justa que seja a causa, é preciso a forma hábil de conduzi-la. O confronto direto com Bolsonaro e Marcos Feliciano é tudo o que eles querem. Bolsonaro está pensando até em ser presidente da República, com a ajuda, é claro, dos seus próprios adversários.

Para o Senado, o Rio escolheu Romário. O ideal seria um senador do passado, que pensasse no Rio mas também questionasse a política externa tão equivocada do governo. Mas as circunstâncias colocaram em cena um craque do futebol brasileiro e Cesar Maia, que combina uma visão de mundo com uma compreensão local. No entanto, já está muito desgastado para aspirar, no momento, a um cargo majoritário. Já que Romário foi eleito por grande maioria, o ideal seria, ao invés de insistir no seu despreparo, colaborar para que enfrente bem nossos problemas.

Dois milhões de pessoas não votaram no Rio. Juntas representam mais que o segundo colocado. O mesmo se passou no Brasil: 38 milhões de ausentes, votos nulos ou brancos. Grande parte do país rejeitou o processo eleitoral. Não temos outro caminho exceto votar bem, recolher os cacos ao fim de cada eleição, e sonhar com o dia em que essa Argentina, em termos numéricos, volte a se integrar ao Brasil, uma vez que a perdemos nas sucessivas eleições do curto período democrático.

Um tema central para isso é a recuperação da credibilidade. Não creio que os políticos possam se transfigurar com uma vitória da oposição. Nem que venham a ser amados num futuro próximo.

Parte da degradação política brasileira vem do próprio Planalto, dos métodos de conquista do Congresso pelo Mensalão, pela drenagem contínua dos recursos da Petrobras, pela ocupação da máquina do Estado e pela tolerância com a corrupção em tantos níveis. Ventos novos soprando de Brasília podem dar em nossas praias. Depois de tanto inspirar o país, o Rio pode receber uma inspiração nacional. É a esperança que resta no horizonte.

Olavo De Carvalho :As filosofias e sua estrutura

A estrutura de uma filosofia é o que ela tem de mais patente e de mais oculto ao mesmo tempo. Patente, porque está presente em todas as suas partes, mesmo as mais ínfimas e humildes, as quais nada são fora dela. Oculto, porque só está presente no fundo, como chave de travamento do conjunto, e jamais como parte ou tema explícito em qualquer das partes. O filósofo que tomasse como tema a estrutura da sua própria filosofia, para discorrer sobre ela, já a estaria, nesse mesmo momento, inserindo como parte numa estrutura maior.

Uma das conseqüências disso é que a estrutura jamais pode ser revelada por nenhuma “análise de texto”, por mais meticulosa e bem cuidadinha que seja, a qual só leva à estrutura da exposição, ou da obra escrita, cuja relação com a estrutura da filosofia propriamente dita é sempre variada e ambígua.

O método para apreender a estrutura de uma filosofia tem de partir dos seguintes princípios:

(1) Toda filosofia, por abstrata e desinteressada que pareça, é uma intervenção no curso dos negócios humanos. Visa sempre a modificar ou reforçar o estado de coisas na sociedade, na cultura, na ciência, na religião, nos costumes, ou mesmo na condição humana em sua totalidade,

(2) Para esse fim, ela procede a um exame em profundidade dos obstáculos, cognitivos ou de qualquer outra ordem, que impedem ou dificultam a sua consecução, tentando criar os meios intelectuais e práticos para removê-los.

(3) Sua estrutura, portanto, define-se como uma articulação de fins e meios: Qual a meta histórico-cultural proposta e qual a estratégia, a um tempo cognitiva e persuasiva, usada para legitimá-la e viabilizá-la?

Dito de outro modo, a estrutura de uma filosofia só se revela quando o discurso em que ela se expressa é examinado não como um puro sistema de idéias e doutrinas, mas como uma ação humana, a intervenção de um indivíduo intelectualmente privilegiado na vida dos seus semelhantes supostamente menos dotados que estejam dispostos a ouvi-lo.

Ora, o exame de um discurso como modalidade de ação humana é o campo especializado dos estudos retóricos, da arte da persuasão. Para apreender a estrutura de uma filosofia, a articulação dos seus fins com os seus meios, é preciso portanto examiná-la desde o ponto de vista retórico, considerando-a como esforço de persuasão destinado a produzir, através de modificações na esfera cognitiva, determinados efeitos na vida histórico-social ou até na vida humana em geral.

O que faz com que essa obviedade seja freqüentemente esquecida é que a exposição das idéias filosóficas se faz em geral por meio de um discurso lógico-dialético que despreza o apelo à persuasão retórica e pretende situar-se no campo da demonstração estrita, das certezas intelectuais imunes aos atrativos da oratória.

Acontece que esse discurso, enquanto tal, não é “a” filosofia, mas apenas o conjunto ou sistema de meios intelectuais pelos quais ela busca realizar os seus fins. Se o examinamos “em si mesmo”, sem subordiná-lo aos fins a que deve servir, perdemo-nos numa infinidade de “problemas filosóficos” ou acidentes de percurso, sem jamais atinar com a estrutura da filosofia em questão, a qual estrutura consiste precisamente na articulação dos fins com os meios.

No empenho de discernir essa estrutura, é portanto necessário compreender o discurso lógico-dialético como parte e instrumento de um esforço de persuasão, isto é, de um empreendimento que, visto no conjunto, não é e não pode ser senão de ordem retórica.

O método, portanto, para descobrir a estrutura de uma filosofia reside na análise retórica do seu discurso, discernindo nele os quatro elementos que nos tratados clássicos definem todo discurso retórico: a “situação” de discurso, isto é, o quadro histórico, social, cultural e psicológico onde ele emerge e no qual pretende intervir; o “juiz”, isto é, o público em especial a que se dirige e sobre o qual pretende influir; o “objetivo” ou meta, isto é, a modificação específica que pretende introduzir no quadro; e por fim o “discurso” mesmo, isto é, o conjunto de meios de argumentação, prova e persuasão colocados em ação para realizar esse fim.

Felizmente, o objetivo ou meta – o “para quê”, em última análise, o filósofo está fazendo o que faz – vem explicitamente declarado na maior parte das filosofias. Basta procurá-lo. A dificuldade reside em que nem sempre ele consta das partes consideradas mais importantes ou mais nobres da obra filosófica – às vezes só aparece em cartas pessoais ou trabalhos menores --, de modo que o estudioso, especialmente quando adestrado numa tradição de ensino que privilegia sobretudo a análise dos textos enquanto tais e se concentra por isso nos de maior prestígio, pode se perder num emaranhado de dificuldades de percurso e não chegar jamais a perguntar-se para onde, afinal, o filósofo o está levando com tudo isso. É assim que a mais requintada sofisticação dos meios de análise pode se tornar uma apurada técnica de não entender nada.

Embora eu não conheça nenhum caso em que o objetivo tenha permanecido totalmente oculto, o filósofo pode ter um bom motivo para mantê-lo discreto, quando o considera perigoso ou revolucionário demais para poder, sem escândalo, ser exibido em público nas partes mais nobres e vistosas da sua obra escrita. Neste caso é necessário procurá-lo em escritos menores e de ocasião, cuja importância estratégica no conjunto escapa à atenção do analista vulgar, deslumbrado ante o prestígio das “grandes obras”.

É esse, precisamente, o caso de Immanuel Kant, de Descartes e de Maquiavel.


domingo, 5 de outubro de 2014

Guilherme Fiuza: A força do voto aloprado

Tem gente indignada com a denúncia de espionagem do Ministério da Justiça na Polícia Federal para prejudicar Marina Silva. Essa gente não aprende que esse tipo de coisa é normal. Talvez seja preciso o MEC patrocinar uma megaedição da biografia de Hugo Chávez e distribuí-la gratuitamente em todo o território nacional, para os brasileiros finalmente entenderem que o Estado existe para servir aos companheiros. Se bem que, pela performance da companheira Dilma no primeiro turno, pode-se concluir que boa parte do eleitorado já aceitou que não há separação de bens entre o PT e a máquina pública brasileira.

Segundo a denúncia, o secretário nacional de Justiça visitou na calada da noite, extraoficialmente, em plena campanha eleitoral, o diretor da Polícia Federal. Queria saber sobre um inquérito contra a gestão de Marina no Ministério do Meio Ambiente, que corre em segredo de Justiça. Foi uma missão, segundo a acusação, encomendada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Como se sabe, o ministro Cardozo é um funcionário criterioso. Só aparece para ações cruciais, como criticar publicamente as penas dadas aos mensaleiros. É isso que o país espera de um ministro da Justiça.

Também foi Cardozo o pombo-correio de uma denúncia truncada e adulterada contra os adversários do PT em São Paulo - que o ministro fez pousar sutilmente na mesa do Ministério Público. Nada mais natural, portanto, que ele use seu cargo para prospectar armas eleitorais contra Marina Silva. Se o PT traficou o sigilo fiscal de uma filha do adversário de Dilma na campanha de 2010 e ficou tudo bem, não haveria por que abandonar a tática agora. Dizem que o ministro Cardozo é candidato a uma vaga no supremo tribunal Federal. Considerando o perfil dos despachantes que o PT tem inoculado no STF, Cardozo faz absolutamente tudo certo para chegar lá.

Nas urnas, o Brasil vem dizer novamente ao bando: vão fundo! Ninguém terá esquecido a ação de Dilma Rousseff como ministra-chefe da Casa Civil, denunciada pela então secretária da Receita Federal, por tentar aliviar na marra o companheiro Sarney. Também é inesquecível a ação de Erenice Guerra, então braço direito de Dilma na Casa Civil, fuçando os arquivos governamentais para tentar montar um dossiê contra a ex-primeira-dama Ruth Cardoso. São incontáveis as ações da "inteligência" do PT, do famoso dossiê falso dos aloprados na eleição de 2006 à combinação de perguntas e respostas na CPI da Petrobras, passando pela adulteração de perfis de jornalistas na Wikipédia, de dentro do Palácio do Planalto. Tudo testado e aprovado pelo eleitor: vão fundo!

O primeiro turno da eleição presidencial foi basicamente uma disputa entre os concorrentes para provar quem é mais gay, quem é mais coitado e quem é mais alérgico aos bancos. Nesse imenso jardim de infância, a putrefação ao vivo da Petrobras, sob as rédeas de aloprados companheiros, não fez nem cócegas nas pesquisas eleitorais. O eleitor aprova, portanto, além da espionagem, a pilhagem.

A menos de uma semana da eleição, a bomba: o governo registrou, em agosto, o maior déficit nas contas públicas em 14 anos. Finalmente jogou às favas o compromisso com o superávit primário - um dos pilares da estabilidade econômica. Um rombo assumido e escancarado, que nem a contabilidade criativa e maquiagens associadas poderão esconder. Chegou, enfim, a conta da DisneyLula - essa indústria de favores, boquinhas e bocarras, que transformou o orçamento público numa megassena partidária.

A inflação rompeu o teto, a recessão chegou, e o valoroso povo brasileiro, que disse basta e anunciou que quer mudanças, vota majoritariamente no... PT.

Fora as hipóteses de sadomasoquismo e imersões satânicas, restam três explicações possíveis para tão impressionante fenômeno: 1) o povo quer que a capital do Brasil passe a ser Buenos Aires; 2) o eleitorado teme que Dilma saia da Presidência e nunca mais arranje um emprego; 3) notando o gigantesco esquema do "petrolão", montado nos 12 anos do governo petista, o eleitor concluiu que a rede de propinas é a melhor forma de distribuição das riquezas.

Façam suas apostas, depois cobrem da elite vermelha (esperem sentados).

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

João Luiz Mauad: Não será fácil a vida do novo presidente

Existe hoje praticamente um consenso entre economistas sensatos: um duro ajuste fiscal terá de ser feito, envolvendo o realinhamento de tarifas e a redução de gastos, para que o país retome o caminho da estabilidade e do crescimento, com juros baixos e inflação sob controle.

Esses mesmos economistas têm insistido que, independentemente de vontade política, não será possível, qualquer que seja o novo presidente eleito, reduzir substancialmente os gastos do governo central a curto prazo, tendo em vista que a grande maioria das despesas primárias refere-se a transferências de renda — Previdência Social, seguro-desemprego, Bolsa Família, pensões e salários do pessoal da União —, enquanto os gastos de custeio, alguns dos quais poderiam ser mexidos imediatamente, representam muito pouco em relação ao total.

Em outras palavras, a despeito de eventuais promessas de campanha e discursos prometendo milagres, é ilusão acreditar que, logo no primeiro ano de governo, por melhores que sejam as intenções e os níveis de gestão da equipe do novo presidente, haverá redução significativa dos gastos públicos.

A longo prazo, o ajuste nas despesas dependerá, principalmente, de duas variáveis básicas: aumento do PIB e manutenção, tanto quanto possível, das despesas com transferências, uma vez que é absolutamente inviável, tanto política quanto legalmente, reduzi-las nominalmente. O importante, portanto, não é olhar o gasto nominal, mas a sua expressão em relação ao PIB (“G/PIB”), cuja redução dependerá muito mais do aumento deste do que propriamente da diminuição daquele.

Se quisermos turbinar rapidamente as taxas de crescimento, será preciso desengavetar a velha agenda liberal e fazer algumas reformas o mais breve possível, especialmente nas áreas tributária e trabalhista, assim como retirar dos ombros do empresariado o pesado fardo burocrático. Além disso, é desejável privatizar todas as atividades que possam ser executadas pelo setor privado, não apenas para torná-las mais eficientes, mas principalmente a fim de que o governo possa se concentrar naquelas áreas onde ainda é insubstituível. São tarefas árduas, mas não impossíveis.

Por outro lado, para manter os gastos nominais em níveis perto dos atuais, serão necessárias doses de esforço e determinação tremendas, principalmente para lidar com as futuras reivindicações — algumas justas, outras nem tanto — de grupos barulhentos e bem organizados. Talvez essa seja a decisão mais difícil, a qual demandará, além de coragem, muita abnegação e desprendimento, porque extremamente impopular.

Não será fácil, por exemplo, enfrentar as indefectíveis greves de funcionários públicos por aumentos de salários. Menos ainda lidar com a fúria dos aposentados, ávidos por aumentos reais dos seus benefícios. Pior ainda será, eventualmente, ter de congelar os valores do Bolsa Família e outras transferências de renda. Menos problemático politicamente, malgrado sua dificuldade operacional, será fiscalizar com rigor as concessões de seguro-desemprego e outros subsídios temporários.


Como se vê, não será nada fácil a vida do novo presidente, especialmente se ele tiver coragem de fazer o que precisa ser feito. A alternativa é continuar empurrando os problemas com a barriga e largar a fatura para as próximas gerações. Alguém se habilita?