sexta-feira, 25 de maio de 2012

Demétrio Magnoli: Os bons companheiros

De “caçador de marajás”, Fernando Collor transfigurou-se em caçador de jornalistas. Na CPI do Cachoeira, seu alvo é Policarpo Jr., da revista “Veja”, a quem acusa de associar-se ao contraventor “para obter informações e lhe prestar favores de toda ordem”. Collor calunia, covardemente protegido pela cápsula da imunidade parlamentar. Os áudios das investigações policiais circulam entre políticos e jornalistas ─ e quase tudo se encontra na internet. Eles atestam que o jornalista não intercambiou favores com Cachoeira. A relação entre os dois era, exclusivamente, de jornalista e fonte ─ algo, aliás, registrado pelo delegado que conduziu as investigações.

Jornalistas obtêm informações de inúmeras fontes, inclusive de criminosos. Seu dever é publicar as notícias verdadeiras de interesse público. Criminosos passam informações ─ verdadeiras ou falsas ─ com a finalidade de atingir inimigos, que muitas vezes também são bandidos. O jornalismo não tem o direito de oferecer nada às fontes, exceto o sigilo, assegurado pela lei. Mas não tem, também, o direito de sonegar ao público notícias relevantes, mesmo se sua divulgação é do interesse circunstancial de uma facção criminosa.
Os áudios em circulação comprovam que Policarpo Jr. seguiu rigorosamente os critérios da ética jornalística. Informações vazadas por fontes diversas, inclusive a quadrilha de Cachoeira, expuseram escândalos reais de corrupção na esfera federal. Dilma Rousseff demitiu ministros com base naquelas notícias, atendendo ao interesse público. A revista na qual trabalha o jornalista foi a primeira a publicar as notícias sobre a associação criminosa entre Demóstenes Torres e a quadrilha de Cachoeira ─ uma prova suplementar de que não havia conluio com a fonte. Quando Collor calunia Policarpo Jr., age sob o impulso da mola da vingança: duas décadas depois da renúncia desonrosa, pretende ferir a imprensa que revelou à sociedade a podridão de seu governo.
A vingança, porém, não é tudo. O senador almeja concluir sua reinvenção política inscrevendo-se no sistema de poder do lulopetismo. Na CPI, opera como porta-voz de José Dirceu, cujo blog difunde a calúnia contra o jornalista. Às vésperas do julgamento do caso do mensalão, o réu principal, definido pelo procurador-geral da República como “chefe da quadrilha”, engaja-se na tentativa de desqualificar a imprensa ─ e, com ela, as informações que o incriminam.
O mensalão, porém, não é tudo. A sujeição da imprensa ao poder político entrou no radar de Lula justamente após a crise que abalou seu primeiro mandato. Franklin Martins foi alçado à chefia do Ministério das Comunicações para articular a criação de uma imprensa chapa-branca e, paralelamente, erguer o edifício do “controle social da mídia”. Contudo, a sucessão representou uma descontinuidade parcial, que se traduziu pelo afastamento de Martins e pela renúncia ao ensaio de cerceamento da imprensa. Dirceu não admitiu a derrota, persistindo numa campanha que encontra eco em correntes do PT e mobiliza jornalistas financiados por empresas estatais. Policarpo Jr. ocupa, no momento, o lugar de alvo casual da artilharia dirigida contra a liberdade de informar.
No jogo da calúnia, um papel instrumental é desempenhado pela revista “Carta Capital”. A publicação noticiou falsamente que Policarpo Jr. teria feito “200 ligações” telefônicas para Cachoeira. Em princípio, nada haveria de errado nisso, pois a ética nas relações de jornalistas com fontes não pode ser medida pela quantidade de contatos. Entretanto, por si mesmo, o número cumpria a função de arar o terreno da suspeita, preparando a etapa do plantio da acusação, a ser realizado pela palavra sem freios de Collor. Os áudios, entretanto, evidenciaram a magnitude da mentira: o jornalista trocou duas, não duzentas, ligações com sua fonte.
A revista não se circunscreveu à mentira factual. Um editorial, assinado por Mino Carta, classificou a suposta “parceria Cachoeira-Policarpo Jr.” como “bandidagem em comum”. Editoriais de Mino Carta formam um capítulo sombrio do jornalismo brasileiro. Nos anos seguintes ao AI-5, o atual diretor de redação de Carta Capital ocupava o cargo de editor de “Veja”, a publicação na qual hoje trabalha o alvo de suas falsas denúncias. Os editoriais com a sua assinatura eram peças de louvação da ditadura militar e da guerra suja conduzida nos calabouços. Um deles, de 4 de fevereiro de 1970, consagrava-se ao elogio da “eficiência” da Operação Bandeirante (Oban), braço paramilitar do aparelho de inteligência e tortura do regime, cuja atuação “tranquilizava o povo”. O material documental está disponível no blog do jornalista Fábio Pannunzio, sob a rubrica “Quem foi quem na ditadura”.
Na “Veja” de então, sob a orientação de Carta, trabalhava o editor de Economia Paulo Henrique Amorim. A cooperação entre os cortesãos do regime militar renovou-se, décadas depois, pela adesão de ambos ao lulismo. Hoje, Amorim faz de seu blog uma caixa de ressonância da calúnia de Carta dirigida a Policarpo Jr. O fato teria apenas relevância jurídica se o blog não fosse financiado por empresas estatais: nos últimos três anos, tais fontes públicas transferiram bem mais de um milhão de reais para a página eletrônica, distribuídos entre a Caixa Econômica Federal (R$ 833 mil), o Banco do Brasil (R$ 147 mil), os Correios (R$ 120 mil) e a Petrobras (que, violando a Lei da Transparência, se recusa a prestar a informação).
Dilma não deu curso à estratégia de ataque à liberdade de imprensa organizada no segundo mandato de Lula. Mas, como se evidencia pelo patrocínio estatal da calúnia contra Policarpo Jr., a presidente não controla as rédeas de seu governo ─ ao menos no que concerne aos interesses vitais de Dirceu. A trama dos bons companheiros revela a existência de um governo paralelo, que ninguém elegeu.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Fábio Altman: 13 de Dezembro de 1968, o dia do AI-5


As gravações inéditas da reunião do Conselho de Segurança Nacional que promulgou o ato contam a história do decreto que pôs o Brasil na escuridão

Há dias que se transformam em marcos na cabeça das gerações que os vivem. Nos Estados Unidos é comum as pessoas lembrarem onde estavam em 22 de novembro de 1963, quando o presidente John Kennedy foi assassinado. Os portugueses transformaram o 25 de abril de 1974, a data da Revolução dos Cravos, em substantivo próprio. Na História recente do Brasil, o 13 de dezembro de 1968 é um desses dias que abraçam o mundo e um sentimento. Naquela data, o governo militar do presidente Arthur da Costa e Silva decretou o AI-5 - o ato institucional que deu plenos poderes ao chefe de Estado, pôs o Congresso Nacional em recesso, suspendeu o recurso jurídico de habeas-corpus e iniciou uma infindável leva de cassações políticas. O dia do AI-5 trouxe a treva ao Brasil. A partir dele, e durante dez anos, os militares mandaram no país com mão de ferro.

O AI-5 foi o instrumento responsável por tirar de cena uma geração inteira de políticos, estabeleceu a censura e permitiu que a tortura fosse usada como arma de combate àqueles que lutavam contra o regime das fardas. Na definição do presidente Fernando Henrique Cardoso, foi uma noite escura: "Foi uma noite escura porque houve repressão, censura e violência de todo tipo, o que gerou o terrorismo e uma série de movimentos que tinham o objetivo de mudar o regime autoritário mas que acabaram contribuindo, de alguma maneira, para o contrário e foram esmagados violentamente, também por tortura e morte".

Época teve acesso, com exclusividade, à íntegra das gravações da sessão do Conselho de Segurança Nacional que, naquela tarde de 13 de dezembro de 1968, no Palácio Laranjeiras, no Rio de Janeiro, apagou a luz no Brasil. Não se trata de grampo. É uma gravação legítima, aberta, feita por dois aparelhos colocados na mesa de mogno à frente de Costa e Silva cujos microfones circularam, de mão em mão, entre os 23 ministros. No livro 1968, O Ano que Não Terminou, de 1988, o jornalista Zuenir Ventura já tinha relatado momentos daquela reunião histórica. Pela primeira vez, agora, ela aparece em sua totalidade. Nas páginas seguintes, nos quadros em verde, nas laterais, selecionamos os principais trechos do voto dos ministros. Na Internet (www.epoca.com.br), estão os pareceres completos e longas porções em áudio. É um documento impressionante pelo ambiente tenso (há ruídos de sirene ao longo da reunião) e pelo contéudo. Era o governo impondo, na marra, os rumos do país.

Nem todos os 24 homens sentados na biblioteca do Palácio das Laranjeiras, no segundo andar do edifício, falavam a mesma língua. Os militares queriam o AI-5 para calar a subversão à força. "Se não tomarmos neste momento esta medida que está sendo aventada, amanhã vamos apanhar na cara", disse o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Orlando Geisel. Para os ministros civis, tratava-se de uma decisão constrangedora mas inevitável. Tornou-se célebre o trecho que vazou do depoimento do ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, coronel da reserva, para quem a decisão era "...ditatorial, mas às favas, senhor presidente, todos os escrúpulos de consciência". O então ministro da Fazenda, Delfim Netto, disse o seguinte: "Estou plenamente de acordo com a proposição, mas diria mesmo que creio que ela não é suficiente. Eu acredito que deveríamos dar ao presidente da República a possibilidade de realizar certas mudanças constitucionais que são absolutamente necessárias...", afirmou.

O próprio Delfim explica, hoje, o que pretendia ao dizer que a medida não era suficiente. Por que não era suficiente? "Queria fazer do limão uma limonada, aproveitar o AI-5 para incluir nele emendas que permitissem reformas tributárias vitais para o país, como a do ICMS", diz ele, hoje deputado federal pelo PPB. O único voto contrário ao AI-5 foi o do vice-presidente Pedro Aleixo, que preferia o estado de sítio. Ao chegar em casa, na noite da reunião, ele disse à mulher: "Hoje fechei definitivamente as portas do Palácio do Planalto para mim". Tinha razão. Em agosto de 1969, com a doença de Costa e Silva e seu afastamento do poder, os três ministros militares não deixaram que Aleixo assumisse o comando do país. Era o AI-5 gerando outra vítima. Acompanhe, a seguir, o dramático desenrolar do dia 13 de dezembro de 1968, uma sexta-feira quente, no relato dos homens que o fizeram - de um lado e do outro da sociedade brasileira. Depois daquele dia, o país nunca mais seria o mesmo.

A voz e o dono da voz

Alberto Curi, locutor oficial da Voz do Brasil, decidira aproveitar a sexta-feira 13 para limpar o galinheiro do quintal de sua casa, no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Às 17 horas, um carro da Presidência da República estacionou em frente à residência. "O presidente mandou chamar o senhor", disse o ajudante-de-ordens. "Mas o que está acontecendo?", perguntou Curi. "Não sei, mas o próprio presidente Costa e Silva pediu para levá-lo ao palácio." O locutor tomou banho, fez a barba, pôs terno e gravata e somente depois do asseio dirigiu-se ao Palácio Laranjeiras. Chegou ali ao redor de 18h30. Enquanto esperava, lhe ofereceram bife a cavalo com fritas. O presidente mandou convocá-lo ao gabinete, no andar superior do palácio, apenas às 21h45. Era a primeira vez que o locutor oficial e o chefe de Estado se encontravam pessoalmente. "O senhor parece mais jovem do que na televisão", disse Costa e Silva, habituado a acompanhar Curi pelos anúncios oficiais, na telinha em preto-e-branco, e também pela Voz do Brasil e pela leitura do Diário de um Repórter, de David Nasser, ambos no rádio (Curi, a rigor, servia a dois amos - às 7 e meia da noite dava as notícias do governo para, logo em seguida, aparecer interpretando as violentas críticas de Nasser, um jornalista que se aperfeiçoara em soltar disparos contra o regime militar).

Costa e Silva fez o comentário sobre a boa aparência de Alberto Curi, abriu uma pasta e lhe entregou 18 laudas batidas a máquina, em tipologia maior que a normal, com anotações a lápis nas laterais. Era o Ato no 5. "Presidente, posso me preparar? Gostaria de lê-lo antes", pediu Curi. "Não, senhor, não temos tempo - as câmeras de TV e os microfones das rádios já estão a postos, vamos entrar ao vivo em cadeia nacional." Curi foi imediatamente levado ao Grande Salão de Visitas, no andar térreo do Palácio Laranjeiras. Ali o colocaram atrás de uma mesa de mármore. Às suas costas, pontificava uma tela a óleo de Luís XIV, pintada pelo francês Hyacinthe Rigaud. Eram 10 da noite quando o ministro da Justiça, Luiz Antonio Gama e Silva, chegou à sala e sentou-se ao lado do locutor. O AI-5 seria finalmente anunciado ao país inteiro. Gama e Silva fez uma rápida introdução de 5 minutos e passou a palavra a Alberto Curi. Foram, então, 18 minutos sem um único erro, em tom monocórdio e solene. Sem "boa-noite". À frente da mesa, na outra ponta do salão amparado por colunas de ônix claro, estava o ministério inteiro, em pé - os ministros militares à frente. "Os olhares me fuzilavam, a tensão naquela sala era imensa", disse Curi a Época há um mês, dez dias antes de morrer de infarto, aos 72 anos. Era a primeira vez, em 30 anos, que ele voltava ao Salão de onde o Brasil viu e ouviu o Ato Institucional no 5. "Enquanto lia, tomava conhecimento das medidas - no início, quando estava nos 'considerando', achei normal, sereno. Quando começei a ler o ato propriamente dito, com os 'decido', é que me dei conta do que se anunciava. Mas não podia gaguejar. Ali eu era apenas uma voz com salário mensal de 300 cruzeiros. O dono da voz era o presidente da República."


"Um mar de milicos na pista do Galeão"

A voz encerrou a leitura do ato às 22h30. Não muito longe das Laranjeiras, num apartamento da Rua Assis Brasil, 36, em Copacabana, o deputado federal Raphael de Almeida Magalhães, da Arena, interrompia um jantar para acompanhar pelo rádio o decreto do governo. Raphael festejaria 37 anos do dia seguinte e aproveitara para reunir alguns amigos ao redor da mesa. Estavam com ele na sexta-feira à noite seis pessoas - entre elas a economista Maria da Conceição Tavares. Minutos depois do pronunciamento, tocou o telefone. Era o então deputado Renato Archer. "Você vai ser preso, Raphael", anunciou Archer. Ele mal havia colocado o fone negro no gancho quando ligaram o ex-governador do Rio de Janeiro Carlos Lacerda e o deputado da Arena Daniel Krieger. Ambos com a mesma informação. Estavam todos certos. A campainha do apartamento tocou às 23 horas. O próprio Raphael abriu a porta e deu de cara com dois agentes do Dops do Rio de Janeiro. "Estamos aqui com uma ordem do I Exército. O senhor deve se apresentar na Polícia Central", disse um dos delegados. O outro policial chegou a pedir desculpas pelo transtorno (Raphael tinha sido secretário de Segurança Pública no governo de Carlos Lacerda e por isso era bem-quisto na polícia). O deputado pegou uma pequena valise e, diante do olhar dos amigos, disse que estava pronto para acompanhar a turma do Dops. "Mas o senhor vai levar só isso?", perguntou um dos agentes. "É que não pretendo ficar muito tempo preso", respondeu Raphael (ele ficaria cinco dias detido na Vila Militar, no bairro de Realengo).

Raphael de Almeida Magalhães tinha deixado a vice-liderança da Arena, o partido governista, no início do ano. Durante os três meses de crise entre o discurso de Márcio Moreira Alves que ofendera as Forças Armadas, em setembro, e a votação da véspera, em que o governo perdera por 216 votos contra 141, na qual se recusou a licença para processar Márcio Alves, Raphael liderara a manobra da Arena contra o próprio governo. Por isso ele foi um dos primeiros nomes da lista de prisões preparada pelo chefe do Gabinete Militar de Costa e Silva, o coronel Jayme Portella - os outros eram os deputados David Lerer e Hermano Alves, ambos do MDB, o ex-presidente Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda. Na Vila Militar, Raphael dormiu sozinho, em meio a um mar de beliches. Na manhã seguinte, dia de seu aniversário, foi procurado por um dos soldados que se preparavam para o campeonato de futebol de salão do quartel. "O senhor gostaria de jogar no nosso time?" Raphael era excelente jogador de futebol, e essa fama corria o Rio de Janeiro. Ele aceitou o convite, entrou em campo e fez um dos gols antes de se contundir e sair da quadra.

No dia 12 de dezembro, ele desembarcara no Rio de Janeiro a bordo de um avião Caravelle, num vôo da Cruzeiro do Sul, proveniente de Brasília. Deixara a capital no fim da tarde, logo depois da votação do Congresso, que decidira não permitir a licença para Márcio Moreira Alves ser processado por seus pares. Naquela ocasião, o Congresso trabalhava ao ritmo desse vôo da Cruzeiro do Sul - fazia Rio-Brasília às terças e retornava às quintas. O líder da Arena rebelde entrou no vôo com Renato Archer, Daniel Krieger, Ney Braga e Teotônio Vilela. Subiram a escada e, logo na primeira fileira, deram com o ministro da Justiça, Gama e Silva, e com o coronel Sizeno Sarmento, comandante do I Exército. Estavam os dois com o semblante fechado. Gama e Silva já levava em sua pasta o rascunho de uma versão do AI-5. "Quando a porta do avião se abriu, havia um mar de milicos esperando o Gama e o Sizeno na pista do Galeão", lembra Raphael de Almeida Magalhães. "Tivemos certeza, naquele fim de tarde do dia 12, que o governo se irritara profundamente com o desfecho do episódio Márcio Moreira Alves - e que alguma reação estava sendo preparada."


Em cima da jabuticabeira

Márcio Moreira Alves não esperou a reação do governo - na verdade, nem esperou o fim da votação na Câmara dos Deputados, em Brasília. Na manhã de 12 de dezembro ele pronunciara seu derradeiro discurso, escrito a quatro mãos com o jurista Oscar Pedroso Horta, em que defendia seu mandato e a honra do Parlamento. À tarde, ao fim da sessão, os deputados vitoriosos (entre eles 76 da Arena) começaram a entoar o Hino Nacional. Nas últimas estrofes, Márcio Moreira Alves já corria pelos corredores do Congresso em companhia do deputado Martins Rodrigues, também do MDB. Os dois foram até o aeroporto de Brasília. Ali, ele tomou um monomotor e seguiu para Ribeirão Preto, no interior do estado de São Paulo. "Naquele momento, era questão de vida ou morte", diz. "Sabia que, tendo sido escolhido como bode expiatório pelo regime, seria uma das primeiras vítimas dele." O último político a deixar a Câmara dos Deputados, naquele dia 12, foi o então líder do MDB, Mário Covas, que deixou o prédio apenas depois de rasgar e atear fogo aos documentos que tinha na gaveta.

De Ribeirão Preto, Márcio Moreira Alves foi levado num Fusca 68 para uma fazenda em Campinas, de propriedade do conselheiro Antônio Prado, com quem tinha parentesco distante. Na manhã de 13 de dezembro, Márcio Moreira Alves foi resgatado na fazenda pelo deputado Francisco Amaral. É o próprio Moreira Alves quem descreve a cena em seu livro 68 Mudou o Mundo, publicado em 1993: "Encontrou-me trepado em uma jabuticabeira na beira da piscina, tranqüilo, na certeza de que os entrelaçamentos das relações de parentesco da classe dominante brasileira, que eu aproveitara, eram impenetrável mistério para a polícia política". Márcio Alves assistiu à apresentação do AI-5, na voz de Alberto Curi, num televisor na casa de Francisco Amaral, tomando cerveja quente e comendo sanduíche.

Terminado o anúncio, virou-se para Amaral e disse: "É, não dá mais". Imediatamente Amaral telefonou para um amigo dentista militante do MDB, já falecido (José Roberto Teixeira, ex-prefeito de Campinas), e pediu ajuda. Teixeira, conhecido como Grama, tinha uma garçonnière no centro da cidade - Márcio Moreira Alves permaneceu ali uma semana e depois fugiu para o exílio. Retornaria ao Brasil, já como jornalista (hoje escreve para O Globo), apenas em setembro de 1979.


"Hoje eu quero a pressão alta"

Enquanto Márcio Moreira Alves descia da jabuticabeira, no Palácio Laranjeiras o presidente Costa e Silva recebia o chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), Emílio Garrastazu Médici. "O senhor não caiu durante a noite porque é o senhor, outro no seu lugar teria caído", disse Médici. Às 11 horas, vindo de uma cerimônia na Escola Naval, Costa e Silva convocou uma reunião com Augusto Radmaker, ministro da Marinha, Lyra Tavares, ministro do Exército, Márcio de Mello e Souza, ministro da Aeronáutica, Médici, chefe do SNI, Jayme Portella, chefe da Casa Militar, e Rondon Pacheco, chefe da Casa Civil. O ministro da Justiça, Gama e Silva, também chamado para essa reunião, chegou com atraso de 15 minutos. Entrou no gabinete do presidente da República esbaforido. Costa e Silva brincou com a demora de Gama e Silva e pediu que ele apresentasse sua sugestão para o ato que se preparava. Gama e Silva leu o esboço do texto que havia preparado. Lyra Tavares argumentou: "Assim você desarruma a casa toda". Ato contínuo, Costa e Silva pediu a cada uma das pessoas naquela sala a sua opinião sobre o que Gama e Silva acabara de ler. Por 3 votos a 2 (Radmaker e Márcio Mello aceitaram o projeto de Gama), o documento do ministro da Justiça foi rechaçado. O presidente solicitou a seu chefe da Casa Civil, Rondon Pacheco, que ajudasse Gama e Silva a preparar uma segunda versão - a definitiva.

O que havia na primeira versão do ato, chamada por Gama e Silva de "ato adicional 2", que desarrumava a casa toda? É Rondon Pacheco, hoje aposentado, quem diz: "Gama e Silva inspirou-se num ato semelhante que existira na Argentina - ele propunha a dissolução do Congresso, a intervenção direta em todos os estados e o recesso do Supremo Tribunal Federal - era inaceitável". O AI-5 em sua versão final impunha o recesso do Congresso (não sua dissolução) e, ainda que suspendesse o habeas-corpus, mantinha em funcionamento o Supremo Tribunal Federal (mesmo que, na prática, ele tenha se tornado inútil). Às 13 horas, terminada a reunião, Gama e Silva juntou-se a Rondon Pacheco numa das salas do Palácio Laranjeiras para rascunhar o AI-5. "Lembro-me de que o Gama e Silva atendia a inúmeros telefonemas com sugestões de emendas ao ato", diz Rondon Pacheco. "Eram telefonemas da área militar." O chefe da Casa Civil sugeriu que, no texto do ato, se colocasse o prazo determinado de um ano para sua vigência. A sugestão não foi acatada e se decidiu que ela seria discutida na reunião do Conselho de Segurança Nacional convocada para as 17 horas na biblioteca em estilo Luís XVI no pavimento superior.

Pouco antes, segundo relato de Jayme Portella, chefe da Casa Militar de Costa e Silva, o capitão Elcio Simões, médico particular do chefe de Estado, informou que o presidente estava com a pressão muito alta e que precisava ser medicado. Costa e Silva disse, brincando: "Não quero remédios para a pressão, hoje preciso dela bem alta". E foi ouvir música clássica e terminar as palavras cruzadas, dois de seus hábitos, até o início da reunião do AI-5.


A fuga do Opala preto

No exato instante em que Costa e Silva abria a reunião, tendo o cuidado de colocar dois gravadores em cima da mesa de mogno, o AI-5, que oficialmente não existia, já tinha feito sua primeira vítima. O jornalista Rogério Monteiro, militante do Partido Comunista Brasileiro, assessorava os deputados estaduais Fabiano Vilanova e Alberto Rajão, ambos do Partidão, na ilegalidade, mas eleitos pelo MDB do Rio de Janeiro. Às 14h30 Monteiro participaria de uma reunião na casa da deputada Yara Vargas, em Copacabana, numa tentativa de convocar a Assembléia Legislativa extraordinariamente, já que a casa estava em recesso de fim de ano. Ao meio-dia, Rogério Monteiro desceu as escadarias da Assembléia Legislativa com o general Olympio Mourão Filho, que rompera com a revolução de 1964 e tornara-se célebre com a frase "Em matéria de política, sou uma vaca fardada". Mourão seguiu em direção à Biblioteca Nacional. Monteiro foi para o lado do Teatro Municipal.

Na calçada da Rua 13 de Maio, ao lado do teatro, alguém chamou o jornalista - Rogério Monteiro fingiu não ouvir e continuou a caminhar. Dois agentes da polícia correram em sua direção. Exigiram que ele entrasse num Opala preto. "Naquele instante imaginei: não posso entrar nesse carro. Já que a prisão é inevitável, vou provocá-la na frente da Assembléia Legislativa", lembra Monteiro. "Corri, comecei a gritar, falava meu nome em voz alta. Todo mundo que estava por perto ouviu. Garanti minha sobrevivência." Ele foi levado para o quartel Caetano de Farias, onde permaneceu até as 23h30. Dali, foi transferido para as instalações do Dops. No fim da noite, chegou à sua cela o também jornalista Oswaldo Peralva, diretor de redação do Correio da Manhã. "Peralva, que prazer!", disse Monteiro. Peralva irritou-se com o comentário até que Monteiro pudesse explicar o que significava o "que prazer". "Era o prazer de saber que tinha alguém para conversar na prisão, um fraternal amigo." Depois de Peralva chegaram o jornalista Hélio Fernandes e Carlos Lacerda. No dia seguinte, à noite, seria a vez de o ator Mário Lago ingressar no Caetano de Farias.


O abraço de Mário Lago e Lacerda

Mário Lago chegou à cadeia ainda maquiado e com a calça de veludo de um de seus personagens. No sábado 14, seria a estréia da peça Inspetor, Venha Correndo no Teatro Princesa Isabel, em Copacabana. Era uma comédia em que Lago fazia o papel do inspetor. Não um, mas dois inspetores foram buscá-lo no teatro antes do início do espetáculo. Mário Lago atravessou a platéia, atônita, ao lado dos agentes policiais. Um deles era o censor que, na véspera, assistira ao ensaio final para a censura. Ao chegar em casa, depois da sessão para os censores, Mário Lago escutou ao lado da mulher, na TV, o anúncio do AI-5. Comentou: "O caldo ferveu, vem chumbo grosso por aí". Na manhã seguinte, ela o aconselhou a pedir o cancelamento do espetáculo alegando não estar se sentindo bem. Lago não quis. Ao chegar ao quartel Caetano de Farias, ele foi informado de que ali já se encontrava o ex-governador Carlos Lacerda, seu inimigo há décadas. "Não falo com ele", disse Lago. Lá dentro, na cela, Lacerda fazia a mesma promessa. "Não falo com ele." Os dois trataram de descumprir a promessa vã. Ao se encontrarem, o que sobrou foi um fraternal abraço e um comentário de Carlos Lacerda: "Estamos no mesmo barco agora".


O dia dos cegos

No mesmo barco estava a redação do Jornal do Brasil, na Avenida Rio Branco, 110. Às 22 horas, o editor-chefe do jornal, Alberto Dines, reunira-se com alguns de seus editores mais próximos para ouvir o AI-5 no alto-falante sintonizado na Rádio Jornal do Brasil. Ao final do anúncio, Dines saiu da sala, uma das únicas da redação com ar-condicionado, e subiu para falar com o dono do jornal, Manoel Francisco Nascimento Brito. "Vem censura aí, e não será por poucos dias. Quero a autorização do senhor para alertar nossos leitores de que estaremos sob censura", disse Dines. Nascimento Brito limitou-se a responder: "Vá em frente, mas não quero bagunça". Quando retornou à redação, já próximo das 23 horas, Dines foi recepcionado por dois majores do Exército que ali estavam como censores. Os dois majores terminariam a madrugada de 13 para 14 de dezembro humilhados por uma das mais inventivas primeiras páginas da história do jornalismo no Brasil - foram driblados por Alberto Dines como Garrincha entortava um joão qualquer. No canto superior direito lia-se o seguinte: "Ontem foi o Dia dos Cegos". No canto superior esquerdo, tradicional espaço da previsão do tempo, o leitor era apresentado à seguinte situação climática: "Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máx.: 38 graus, em Brasília. Mín.: 5 graus, nas Laranjeiras".

Na manhã do dia 14 já não eram dois - e sim sete - os censores do Jornal do Brasil. O chefe deles, um major gaúcho, entrou na redação gritando: "Você me fez de palhaço". Dines gritou mais alto: "O senhor saia da minha sala, comporte-se". Outro major ainda tentou pedir calma. No domingo 15 o Jornal do Brasil não circulou porque um de seus diretores, o diplomata José Sette Câmara, tinha sido procurado pela polícia - e Nascimento Brito anunciara tirar o jornal de circulação caso isso acontecesse. Alberto Dines seria preso no dia 22 de dezembro.


A resistência na mesa do bar

O dia 13 de dezembro de 1968 não era mesmo um bom dia para festa. Mas houve, sim, quem tenha insistido em fazê-la. Naquela noite amarga, de gatos pardos, foi fundado o Bar Bip-bip, em Copacabana, no Rio de Janeiro, hoje reduto do melhor chorinho da cidade. Uma placa à entrada do bar informa: "Bip-bip, fundado em 13-12-1968 em homenagem à Mocidade Brasileira". O atual proprietário do botequim, Alfredo Melo, anos depois cruzaria sua vida com a do bar e a do AI-5. Em 13 de dezembro de 30 anos atrás, Melo preparava-se para estar na inauguração do recinto como mero freqüentador. Ao ouvir no rádio o anúncio do Ato Institucional no 5, logo intuiu que não era boa idéia ir ao rega-bofe. Pegou um táxi e foi para Bangu, bairro onde moravam seus pais e ele mesmo passara toda a vida até alugar um apartamento em Copacabana. Em Bangu, acionou o Fusca azul que costumava ficar parado na garagem e iniciou um périplo: foi à casa dos amigos que, naquele ano de 1968, se meteram em política e eram potenciais vítimas do AI-5. Um de seus amigos, assustado, chegou a rasgar uma carta que o poeta Carlos Drummond de Andrade enviara celebrando a criação de um centro acadêmico com seu nome. Em 1998 será a primeira vez que o Bip-bip de Alfredo Melo comemorará sua inauguração no dia 13, cravado. "Não festejávamos de raiva - era uma espécie de resistência silenciosa."


O placar: 22 a 1

O voto de cada ministro nas anotações de Costa e Silva. Apenas Pedro Aleixo disse não

1.         Vice-presidente (Pedro Aleixo): não; optou pelo estado de sítio
2.         Ministro da Marinha (Augusto Radmaker): sim, repressão do ato praticado pelo dep. M.M. Alves
3.         Ministro do Exército (Lyra Tavares): sim
4.         Min. Rel. Ext. (Magalhães Pinto): sim
5.         Min. da Fazenda (Delfim Netto): sim
6.         Min. Transportes (Mário Andreazza): sim
7.         Min. Agricultura (Ivo Arzua): sim
8.         Min. Trabalho (Jarbas Passarinho): sim
9.         Min. Saúde (Leonel Miranda): sim
10.       Min. Aeronáutica (Márcio de Souza e Mello): sim
11.       Min. Educ. e Cultura (Tarso Dutra): sim, com modificação
12.       Min. Minas e Energia (Costa Cavalcante): sim
13.       Min. Interior (Afonso Albuquerque): sim
14.       Min. Planejamento (Hélio Beltrão): sim
15.       Min. Comunicações (Carlos Simas): sim
16.       Chefe SNI (Médici): sim
17.       Chefe EMFA (Orlando Geisel): sim
18.       Chefe E.M. Armada (Adalberto de Barros Nunes): sim
19.       Chefe E.M. Exército (Adalberto dos Santos): sim
20.       Chefe E.M. Aeronáutica (Carlos Alberto Huet): sim
21.       Min. Justiça (Gama e Silva): sim
22.       Chefe Gab. Civil (Rondon Pacheco): sim
23.       Chefe Gab. Militar (Jayme Portella): sim


A HERANÇA DAS TREVAS
A contabilidade dos dez anos de vigência do AI-5

Filmes proibidos         - 500
Peças de teatro vetadas           - 450
Livros censurados       - 200
Revistas retiradas de circulação          - 100
Letras de música cortadas       - 50
Capítulos de novela cancelados          - 12
Direitos políticos perdidos      - 66
Cassações de mandatos          - 313
Aposentadorias compulsórias - 348
Militares reformados   - 139
Demissões de executivos do governo - 129

Fonte: Iuperj/Zuenir Ventura (1968 - O Ano que Não Terminou)


Os trechos mais fortes do Ato Institucional no 5

Uma seleção do que valeu no Brasil entre 13 de dezembro de 1968 e 31 de dezembro de 1978

Art. 2o - O presidente da República poderá decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por ato complementar, em estado de sítio ou fora dele...

Art. 3o - O presidente da República, no interesse nacional, poderá decretar a intervenção nos estados e municípios, sem as limitações previstas na Constituição.

Art. 5o - A suspensão dos direitos políticos, com base neste ato, importa simultaneamente em:

     I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;

     II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;

     III - proibição de atividades ou manifestações sobre assunto de natureza política;

     IV - aplicação, quando necessário, das seguintes medidas de segurança:
           a) liberdade vigiada;
           b) proibição de freqüentar determinados lugares;
           c) domicílio determinado.

Art. 6o - O presidente da República poderá, mediante decreto, demitir, remover, aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas neste artigo...

Art. 10o - Fica suspensa a garantia de habeas-corpus, nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social.


A carta inacabada de Passarinho

Minha mulher,
Meu filho Júnior         13 dez. 1968

"Estou sentado à mesa do Conselho de Segurança decidindo o presente e o futuro imediato do Brasil.

Vocês sempre me viram defender a liberdade e a democracia. Hoje, pode parecer a ambos que estou passando à História brasileira como um liberticida, apoiando poderes ditatoriais conferidos, neste instante, ao senhor presidente da República.

Vou referendar o novo ato institucional. No meu entender, isso equivale a uma ditadura, ao menos em potencial.

Felizmente, o fiador de tudo será o marechal Costa e Silva, que não usará abusivamente dos poderes que lhe damos neste momento. Deus assim o permitirá.

Por outro lado, não são os artigos de uma Constituição que garantem uma democracia. Na Rússia, o direito ao livre expressar do pensamento é letra da Constituição. No entanto, é letra morta. De que vale..."


O que se disse no palácio

Quantas vezes foram citadas algumas palavras na reunião do conselho

Revolução (de 1964)  - 47
Ordem - 36
Subversão       - 13
Ditadura          - 13
Estado de sítio - 13
Repressão        - 6
Democracia     - 6
Contra-revolução        - 6
Desagregação  - 3
Moral   - 3
Liberdade        - 3
Desordem        - 2
Escrúpulo(s)    - 2
Caos    - 1
Corrupção       - 1
Censura           - 0
Tortura            - 0


Quatro anos de confronto
A escalada política de 1964 a 1968

1964

31 de março
A revolução depõe João Goulart. Castello Branco é o primeiro presidente do regime militar.

1966

25 de junho
Três atentados são cometidos pela direita em Pernambuco. Um dos alvos é o Aeroporto dos Guararapes.

19 de novembro
Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda lançam a Declaração de Lisboa, o primeiro manifesto da Frente Ampla, de oposição ao governo.

1967

15 de março
Arthur da Costa e Silva é empossado na Presidência da República. Seu vice é o deputado Pedro Aleixo.

24 de setembro
Carlos Lacerda e João Goulart assinam o Acordo de Montevidéu, que defendia a volta do país ao regime democrático.

1968

28 de março
O estudante Edson Luis é morto no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro.

21 de junho
Quatro mortos, 58 feridos e mil presos numa manifestação estudantil, no centro do Rio. É a sexta-feira sangrenta.

26 de junho
Passeata dos 100 mil, no Rio.

29 de agosto
A polícia invade a Universidade de Brasília.

2 de setembro
O deputado Márcio Moreira Alves faz um discurso criticando a invasão da UnB. O governo usaria esse pronunciamento como pretexto para o AI-5.

3 de outubro
Um estudante morre no confronto entre a direita do Mackenzie e a esquerda da Faculdade de Filosofia, em São Paulo.

12 de outubro
Cai o Congresso da UNE, em Ibiúna.
Charles Chandler, capitão americano, acusado de pertencer à CIA, é assassinado numa ação da VPR.

12 de dezembro
Por 216 votos contra 141, a Câmara rejeita o pedido de licença para processar Márcio Moreira Alves.

13 de dezembro
AI-5


"Eu vi gente torturada"

Um depoimento exclusivo do presidente Fernando Henrique sobre o AI-5

No dia 13 de dezembro de 1968, eu estava em São Paulo quando ouvi, pelo rádio, a voz desagradável do ministro da Justiça, Gama e Silva, que havia sido meu colega no Conselho Universitário da USP, a ler os artigos do Ato Institucional no 5. Ele lia esbravejando e isso me dava uma reação muito estranha porque eu o conhecera bem. Nunca o tive como um bravo.

Daí por diante, foi uma noite escura. Foi uma noite escura porque houve repressão, censura e violências de todo tipo, o que gerou o terrorismo e uma série de movimentos que tinham o objetivo de mudar o regime autoritário mas que acabaram contribuindo, de alguma maneira, para o contrário e foram esmagados violentamente, também por tortura e morte.

Antes disso, eu estava na França. Voltei ao Brasil em outubro de 1968 para concorrer à cátedra na Universidade de São Paulo. Concorri à cátedra de Ciência Política e ganhei. Mas, quando ouvi o AI-5 sendo lido, imaginei logo que minha duração na USP seria curta. Efetivamente, em abril de 1969, esse mesmo AI-5 fundamentou um ato que me aposentou compulsoriamente, afastando-me da USP. Se fosse para levar ao pé da letra o AI-5, eu fiquei proibido até de exercer certo tipo de atividade, como a pesquisa.

Não obstante, nós montamos um centro de pesquisa, que foi o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), e procuramos resistir com dignidade, mantendo nosso pensamento altivo embora não na ação política direta, a não ser mais tarde, quando passamos a apoiar o MDB e os movimentos democráticos em geral, como o movimento pela anistia. Ainda assim, como conseqüência do AI-5, em 1975, eu e meus companheiros do Cebrap fomos levados à chamada Oban (Operação Bandeirantes), um órgão de repressão onde havia tortura, e eu vi gente torturada. Embora isso não tivesse ocorrido comigo, aconteceu com alguns companheiros de trabalho que tinham, como único pecado, o fato de ter a cabeça livre. Eles não estavam de forma alguma metidos em organizações clandestinas ou terroristas. Mas, naquele tempo, tudo era confundido. O que era uma ação mais crítica era confundido com uma ação subversiva. Por sorte, o Brasil foi capaz de superar, embora lentamente, esses anos de chumbo. Hoje, o AI-5 é apenas uma memória negativa de um momento triste da História do Brasil.


Vozes da ditadura

Exclusivo: as gravações da reunião do Conselho de Segurança Nacional podem ser ouvidas no site da revista na Internet no endereço www.epoca.com.br


ENTREVISTA
O legado do AI-5 para o Brasil

A diretora do Centro de Pesquisas da FGV diz por que é crucial que o país não perca de vista o estrago provocado pelo ato

Época: O que o AI-5 deixou como herança para o país?
Maria Celina D'Araújo: O custo do AI-5 para o Brasil, hoje, está muito presente. Na educação, por exemplo, a censura aos livros didáticos formou uma geração que não tinha opções de escolha - e por isso não pôde conhecer uma parcela fundamental da História deste país. Quando o regime abriu, as pessoas descobriram, sim, o que lhes fora negado - e acharam fantástico. Mas, de alguma forma, já era tarde demais. Era fundamental que muito do que foi sonegado fosse lido num momento histórico preciso, que já passou. Hoje, os fatos são tratados como mera lembrança. Aprendeu-se, também, a temer as autoridades - e não a respeitá-las. Na farda não está o ser que protege, e sim o que ameaça.

Época: E do ponto de vista político, o que aconteceu?
Maria Celina: Houve uma desqualificação da classe política. O AI-5 impediu a formação de uma geração de novos parlamentares. Não é à toa que antigas lideranças, como Miguel Arraes e Leonel Brizola, voltaram com força tantos anos depois.

Época: Os militares, em especial os da chamada linha dura, costumavam dizer que o AI-5 foi uma resposta do governo às ações da guerrilha de esquerda. A senhora concorda com isso?
Maria Celina: Não. O AI-5 foi o ápice da radicalização ideológica no Brasil - mas a iniciativa de levá-lo ao paroxismo foi da direita, e não da esquerda, como apregoavam os militares. Tanto isso é verdade que as ações da esquerda, sobretudo da guerrilha urbana, crescem justamente depois que o governo decreta o AI-5, já em 1969.

Época: Se o presidente Costa e Silva não tivesse promulgado o AI-5, o que poderia ter acontecido?
Maria Celina: É o chamado exercício contrafactual, complicado de ser feito. Mas é possível que, sem o AI-5, houvesse algum tipo de conciliação. Pela História brasileira se percebe a cínica capacidade da elite de ser coesa, de se unir quando necessário. Dificilmente, portanto, teríamos uma guerra civil. Agora, é uma balela dizer que o AI-5 foi necessário, que ele significava um instrumento crucial, ainda que constrangedor, da manutenção da ordem no Brasil. Não é verdade. O AI-5 foi uma escolha. Não foi uma fatalidade. Havia, sim, outras saídas políticas.

Época: Há sempre muito barulho, de ambos os lados, quando um personagem da repressão, do AI-5, conquista um cargo de importância na política brasileira. O que essa reação significa?
Maria Celina: Os militares chamam a essa preocupação de não oferecer posição de comando a atores da repressão, como foi o caso recente do médico Fayad, que assinava laudos nos porões, de revanchismo. Eu chamo isso de necessidade intrínseca de interpretar os fatos históricos, de criar mitos, de tentar entender o que aconteceu. A questão é simples: fizemos a catarse? As sociedades precisam chorar seus mortos, lamentar suas tragédias e seus dramas.

Maria Celina D'Araújo: responsável pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, órgão da Fundação Getúlio Vargas

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A astrologia segundo Olavo de Carvalho (ex-astrólogo)



1. O debate que entrou em órbita
Ao longo das últimas décadas, a astrologia tornou-se um sucedâneo de religião para as massas de classe média e umhobby “espiritual” para os letrados. Montada na onda do novo paradigma que alguns teóricos reclamam para a ciência no século XXI, ela ganhou mesmo ares de respeitabilidade em muitos círculos acadêmicos. Nada parece deter sua ascensão. Até as reações hostis de alguns religiosos e homens de ciência apenas aumentam sua popularidade. No mínimo, o que é objeto de debate é objeto de atenção.
No entanto, os debates, na sua quase totalidade, têm se limitado aos aspectos mais vistosos e periféricos da questão astrológica, sem fazerem avançar um passo sequer o esforço para responder às perguntas que constituem, ou deveriam constituir, o miolo do problema: existe, objetivamente, uma relação entre os movimentos dos astros no céu e o desenrolar da vida humana na Terra? Se existe, qual a sua natureza e o seu alcance? Quais as causas que a determinam? Quais as possibilidade e os meios de conhecê-la cientificamente?
Em vez de enfrentar essas perguntas, os adeptos e adversários da astrologia preferem discutir o seguinte tópico: “Astrologia funciona?” O debate toma por foco a astrologia como prática divinatória ou diagnóstica, e deixa de lado a questão das influências astrais propriamente ditas. Aparentemente, nenhum dos partidos em disputa se deu conta de que a existência ou inexistência de influências planetárias sobre a vida humana, de um lado, e de outro a eficácia ou ineficácia da ciência ou pseudociência que se gaba de conhecê-las, são questões perfeitamente distintas, e de que não se pode decidir segunda sem haver antes dado à primeira uma resposta satisfatória. Pois o que define e singulariza a astrologia não é a afirmação genérica de que “existem influência astrais” (a qual pode ser admitida até mesmo por quem odeie astrologia, como Sto. Agostinho, por exemplo), mas sim a pretensão de já possuir um conhecimento cabal de suas manifestações e variedades, ao ponto de poder descrever meticulosamente as diversificações da influência de cada planeta conforme o lugar que ocupe no céu no instante do nascimento de cada indivíduo em particular — sem exceções ou dificuldades notáveis. Bem pode ser, é claro, que esta pretensão seja descabida, maluca mesmo, sem que por isto o fenômeno das influências astrais, em si mesmo e independentemente das interpretações que os astrólogos lhe dêem, deva ser considerado inexistente.
Por óbvia que seja essa advertência, os protagonistas do debate astrológico têm preferido omiti-la, confundindo a si mesmos e ao público. Invariavelmente, no calor da polêmica, cada pequeno indício da existência de influências astrais é tomado como argumento legitimador da prática astrológica existente; de outro lado, cada sinal de ineficácia ou erro dos astrólogos é exibido como prova da irrealidade das influências astrais. Isto em lógica chama-se um non sequitur: tirar à força, de uma premissa, conclusões que dela não se seguem logicamente. Por exemplo, a pesquisa realizada por Michel Gauquelin, na França, que numa revisão de 500 mil horóscopos de nascimento encontrou uma correlação estatística altamente significativa entre grupos profissionais e tipos astrológicos (conforme a posição dos planetas na hora do nascimento), é brandida orgulhosamente pelos astrólogos como prova de que “astrologia funciona” (e não somente de que “existem influências astrais”). Inversa e complementarmente, o físico Shawn Carlson, da Universidade da Califórnia, após ter verificado, em testes estatísticos, a incapacidade de vinte astrólogos para identificarem traços de personalidade com base em horóscopos de nascimento, divulgou esse resultado (na revista Nature) como prova de que “não existem influências astrais” (e não somente de que a astrologia não funciona, pelo menos tal como praticada atualmente). Confusões dessa ordem são a regras geral nos debates sobre astrologia, mesmo quando os debatedores são homens cultos e preparados. Numa recente mesa-redonda na UFRJ, confrontado com um sujeito que, para cúmulo, era professor de metodologia científica, não consegui, por nada deste mundo, fazê-lo compreender a inépcia de uma discussão colocada nesses termos. Com os astrólogos, excetuando uns happy few, não tenho logrado resultados melhores. Coisas desse tipo contribuem para fazer do debate astrológico um sinal particularmente enfático da demência contemporânea. No entanto, a questão das influências astrais, em si, e independentemente da polêmica, é da máxima importância para a nossa civilização em seu estágio presente. Se nos lembrarmos de que a geografia se constituiu e se expandiu rapidamente como ciência a partir do momento em que uma Europa culturalmente unificada partiu para as navegações e a descoberta da Terra, é fácil perceber, por analogia, que a humanidade culturalmente unificada de hoje, ao partir para a exploração do ambiente cósmico em torno, se defronta com a necessidade urgente de um nova colocação do problema das relações entre o cosmos e a vida humana, não somente biológica, mas histórica e psicológica; e este é, precisamente, o tema da astrologia. Este tema sugere, inclusive, a oportunidade de uma recolocação global das relações, ainda hoje obscuras, entre ciências “naturais” e ciências “humana”. A nulidade dos resultados que a astrologia tenha até agora alcançado na sua investigação, com os métodos peculiares e um tanto extravagantes que emprega, não justifica que seu objeto mesmo seja negligenciado. Aliás, não foi a propósito da astrologia que Kepler enunciou seu célebre aviso sobre a criança e a água do banho? Se a astrologia tal como se praticou e se prática hoje é falsa, o que temos de fazer é uma verdadeira, ao invés de proclamar, com uma autoconfiança de avestruz, a inexistência do fenômeno astral sob a alegação de falsidade do que dele se diz. Se os historiadores erram em suas interpretações da Revolução Francesa, ou se os zoólogos eventualmente se equivocam quanto à fisiologia das vacas, isto não constitui motivo suficiente para concluir que a Revolução Francesa não aconteceu e que as vacas não existem. Mesmo na hipótese de que nada se salve da astrologia, mesmo na hipótese de que tudo o que os astrólogos disseram a respeito do fenômeno astral seja rematada besteira, isto não desculpa o desinteresse pela perguntas mesmas às quais a astrologia pretendeu oferecer resposta.
Por tudo isso, é espantoso o contraste entre o baixo nível do debate astrológico hoje em dia e as discussões que seis ou sete séculos atrás os acadêmicos faziam a respeito do mesmo tema. Quanto examinamos as páginas que Sto. Tomás de Aquino, Hugo de S. Vitor, John de Salisbury e outros intelectuais medievais consagraram ao problema astrológico, surpreendemo-nos com o rigor e a serenidade de suas colocações, que constituem um exemplo para nós.
Particularmente Sto. Tomás chegou a desenvolver uma teoria completa das influências astrais, que constitui até hoje uma das mais límpidas colocações do problema e pode servir de marco inicial para as nossas investigações.
Tendo tocado no assunto, de passagem, na Suma Teológica e nos comentários à Física de Aristóteles, ele lhe dá um tratamento sistemático em cinqüenta densas páginas da Suma contra os Gentios (1258). Ele não discute a existência das influências astrais, que no seu tempo era geralmente admitida (mesmo pelos que, em nome da religião, condenavam a prática da astrologia divinatória); esforça-se apenas por definir a sua natureza e precisar o seu alcance. É verdade que sua análise se detém no nível meramente conceptual e lógico, sem entrar no campo da investigação empírica. Mas quem não sabe que sem conceitos claros e uma hipótese condutora a investigação empírica é perda de tempo? O que Sto. Tomás sugere, em essência, é que um corpo não pode exercer nenhuma influência causal sobre o que não seja também corpo; e que, portanto, está excluída a hipótese de que os astros exerçam qualquer influência sobre a psique e o comportamento humano a não ser por intermédio de alterações fisiológicas (ou fisiopatológicas). Ele chega a sugerir que os astros afetem a formação do embrião e que, produzindo assim conformações corporais diversas, acabem por agir como causas remotas do comportamento humano. Os movimentos planetários, diz ele, não influenciam a inteligência e a vontade humanas, mas, atuando sobre os corpos, predispõem a distúrbios passionais que podem obstar a livre operação da inteligência e da vontade.
A tremenda importância dessas observações reside em que elascolocam a questão astrológica na linha de uma investigação científica possível, tirando-a da esfera dos argumentos metafísicos e teológicos sobre determinismo e livre-arbítrio. Mas, passados sete séculos, a lição do grande escolástico ainda não foi assimilada, pois tais argumentos continuam comparecendo invariavelmente em toda discussão sobre o problema astrológico, malgrado sua já demonstrada impertinência e esterilidade.
O tratamento que Tomás deu à questão mostra, ademais, que ela pode e deve ser abordada independentemente de quaisquer reivindicações polêmicas sobre a legitimidade ou ilegitimidade da astrologia enquanto prática. Esta lição também não foi assimilada. Em resumo, no século XII estávamos mais perto de uma colocação racional do problema do que estamos hoje em dia, justamente quando ele se revela mais importante e urgente.
De outro lado, é claro que, se em vez de investigar diretamente o fenômeno astral continuarmos polemizando sobre “a” astrologia, não chegaram a nada. “A” astrologia é um amálgama enorme e confuso de códigos simbólicos, mitos e preceitos empíricos, procedentes de épocas e civilizações diversas, numa variedade que se rebela contra toda tentativa de reduzi-la a um corpo unitário de doutrina. Como pronuciar-nos, de um só golpe, sobre a veracidade ou falsidade de uma massa tão heteróclita? Só a ignorância fanática ou o desejo de aparecer explicam que alguém se disponha a tomar partido num debate que se coloque nesse termos. Mas, se os interessados no debate astrológico estão atrasados de sete séculos em assimilar a lição de Tomás, é que estão atrasados de vinte em assimilar a de Aristóteles, o qual ensinava que, de um sujeito equívoco, nada se pode predicar univocamente. “A” astrologia é muitas coisas. Talvez algumas delas sejam verdadeiras, outras falsas, umas valiosas, outras desprezíveis. Quando essa mixórdia milenar se houver transformado num corpo teórico explícito, à custa de depurações dialéticas e metodológicas como as que Sto. Tomás realizou para um aspecto em particular, então e somente então poderemos debater com proveito sua veracidade ou falsidade.
Até lá, tudo o que podemos fazer é declarar, humildemente, se gostamos dela ou não. Quanto a mim, é claro que gosto.
2. Astrologia e ciência
Conferência proferida no auditório do Palácio Tiradentes (Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) por ocasião dos festejos do 10º aniversário da Escola Astroscientia, em 22 de outubro de 1994.
A pergunta “A astrologia é uma ciência?” tem obtido as seguintes respostas:
1ª É uma ciência. Assim respondem os adeptos da chamada “astrologia científica”, como Paul Choisnard e Adolfo Weiss. Esta escola caracteriza-se por julgar que, para a astrologia ter direito ao estatuto de ciência, tudo o que é preciso é tomar as afirmações correntes dos manuais de astrologia e submetê-las a uma verificação estatística, que as confirmará em toda a linha.
2ª É uma pseudociência. É o que dizem alguns dos mais encarniçados adversários da astrologia, recrutados sobretudo entre os astrônomos de profissão. Dentre eles destacam-se, como típicos, o falecido diretor do Observatório de Paris, Paul Couderc, e, no Brasil, o diretor do Observatório do Valongo, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. As razões que fundamentam esta resposta são muitas — algumas perfeitamente impertinentes, como por exemplo a de que é impossível calcular horóscopos de pessoas nascidas no Polo Norte, ou a de que os signos não coincidem com as constelações; mas algumas pertinentes e razoáveis, como aquelas que se alegam o princípio de falseabilidade de Popper ou os resultados negativos obtidos em testes estatísticos. É importante notar que esta corrente entende como critério de cientificidade da astrologia o mesmo, no fundo, que adotavam Choisnard e Weiss, apenas com a ressalva de que sua aplicação dará resultados negativos.
3ª É um saber revelado, superior à ciência — e como tal, furta-se a todo exame científico na medida em que não pode ser apreendida pelas categorias racionais. Esta resposta é defendida ou presumida, em geral, pelos que abordam a astrologia pelo lado da psicologia junguiana, da mitologia e dos estudos de simbolismo e que ao mesmo tempo têm uma atitude crítica face à ciência contemporânea. O famoso astrólogo Charles E. O. Carter é um deles. É um teosofista. Mas igual atitude encontra-se em René Guénon, temível adversário do teosofismo.
4ª É uma linguagem simbólica e, como todas as linguagens, escapa das categorias do verdadeiro e do falso, podendo ser julgada apenas por sua adequação e expressividade.
É a atitude daqueles que, abordando a astrologia igualmente pelo lado do simbolismo, da mitologia, da psicologia — mas também da antropologia, da sociologia —, tomam no entanto como universalmente válidos os critérios da ciência moderna. É o caso de um Gaston Bachelard, de um Claude Lévi-Strauss e, em geral, da comunidade acadêmica.
Alguns encaram a astrologia como um “corpo de crenças” que não cabe à ciência julgar, mas descrever e compreender em suas estruturas, relacionando-as com as da sociedade humana.
Malgrado suas enormes diferenças e malgrado o fato de que parecem abranger totalmente a gama das alternativas possíveis, todas essas respostas são falsas ou, pelo menos, inadequadas.
A primeira delas — a tese da “astrologia científica” — é falsa pelas seguintes razões:
1. Uma técnica não se torna científica pelo simples fato de empregar, mesmo com sucesso, métodos cientificamente válidos para testar os resultados de sua aplicação. É preciso que ela mesma, no seu conteúdo, nas teorias em que se embasa, tenha caráter científico. Não é o caso da astrologia, que se fundamenta em pressupostos simbólicos que escapam a todo critério de verificabilidade.
2. Uma ciência não se limita a registrar correlações estatisticamente, mas busca uma explicação teórica para os fatos. A idéia de que montanhas de fatos estatisticamente comprovados fazem uma ciência é de um primarismo grosseiro.
3. Mesmo assim, os testes estatísticos relativos à eficácia dos diagnósticos astrológicos têm chegado uniformemente a resultados negativos. Todas as tentativas de correlacionar estatisticamente posições planetárias e traços de personalidade falharam.
4. Não há ciência sem contínua revisão dos pressupostos à luz dos resultados experimentais, e a astrologia tem alguns pressupostos imutáveis e dogmáticos.
Mas aqueles que negam todo estatuto científico à astrologia também estão errados, porque:
1. É impossível saber se um conjunto de teorias é científico ou não sem primeiro reduzir esse conjunto a um sistema, a uma teoria unificada. Nunca se fez isto.
2. Os critérios pelos quais se condena a astrologia dariam resultados negativos também se aplicados a uma multidão de ciências atualmente admitidas como tais, como por exemplo a sociologia, a psicologia, etc.
3. Embora seja um fato que a astrologia não atende ao princípio de falseabilidade de Karl Popper, considerado universalmente um critério válido, também é um fato que, com base no mesmíssimo princípio de Popper, não tem cabimento rejeitar como falso aquilo que escapa ao critério de falseabilidade; e os críticos da astrologia aqui referidos não pretendem apenas que ela seja uma não-ciência, e sim que ela seja falsa. Confundem assim ciência e verdade. Um conhecimento essencialmente verdadeiro e não-científico pode transformar-se em científico mediante simples adaptações lógicas e metodológicas.
A hipótese que subtrai a astrologia ao julgamento científico alegando que ela é um saber revelado também é falsa, porque:
1. Saber revelado e saber científico se distinguem somente por sua origem diversa, mas o critério de validade é o mesmo para ambos, e este critério é científico. Alegar origem revelada é eludir a questão.
2. O saber é revelado divinamente só ao primeiro que o recebe. Este o transmite aos demais por meios humanos, que subentendem o uso da linguagem, da razão, etc.
3. Deus nunca enviou uma revelação sem milagres que a acompanhassem ao longo do tempo, para legitimá-la aos olhos dos crentes. Se os astrólogos são profetas, não devem limitar-se a prever o futuro como vulgares vaticinadores, mas deter o movimento do Sol, separar as águas do Mar Vermelho e curar os leprosos.
4. Um saber revelado não se furta ao teste da verdade por meios científicos. Ao contrário: Todas as grandes religiões sempre submeteram as partes testáveis de sua fé à verificação.
Finalmente, não tem cabimento eludir a questão da veracidade mediante a alegação de que a astrologia é uma linguagem simbólica:
1. Uma linguagem é apenas um sistema de signos e símbolos com os quais se podem expressar muitas idéias. A linguagem em si não pode ser verdadeira ou falsa. O que é verdadeiro ou falso é o conteúdo das idéias que o homem expressa com a ajuda delas, as quais, por sua vez, não constituem um sistema de signos, mas afirmações sobre a realidade, com referência extra-linguística. Se a astrologia é uma linguagem, está fora do domínio do verdadeiro e do falso e nada afirma sobre o real. Ora, a prática astrológica universal consiste precisamente em fazer afirmativas sobre a realidade — sobre o caráter e o destino das pessoas, por exemplo.
2. Das regras de uma linguagem é impossível deduzir o conteúdo do que nela se vai dizer. Se a astrologia é uma linguagem, não é um conhecimento, exceto de si mesma. No entanto, a pretensão de constituir um conhecimento é inerente à prática astrológica, antiga ou moderna, Ocidental ou Oriental.
Essas quatro categorias de respostas resumem o essencial do que foi, no século XX, o debate da questão astrológica. Por elas, fica patente que esse debate não levou a nenhum resultado apreciável, e que, portanto, é necessário recolocar a questão desde suas bases, para tentar chegar a um quinto grupo de respostas, na esperança de que sejam mais consistentes. Começo por rever o sentido dos termos.
Que é propriamente uma ciência? Todo estudioso do assunto sabe que as ciências reais (historicamente existentes) não servem, por si, como fundamento para uma resposta. Por indução, os traços que obteríamos seriam demasiado amplos e frouxos para poder abranger a História, a Antropologia, a Matemática, a Biologia, a Física Teórica, etc. Resta a alternativa husserliana de conceber a ciência como um modelo ideal de conhecimento, do qual se podem deduzir, como diferentes possibilidades de realização, mais perfeitas ou imperfeitas, as ciências que se manifestaram historicamente e ainda outras ciências possíveis.
Esse modelo impõe certas exigências para que um conhecimento possa aproximar-se do ideal científico:
I. Todas as ciências historicamente existentes procuram realizar, por variados meios, um ideal de saber fundamentado, firme, oposto à mera opinião. A definição ideal de ciência implica como condições essenciais:
1. Evidência. O termo “evidência” aqui não significa “o dado” ou “o imediatamente apreendido pelos sentidos”. Significa apenas aquilo que é certo e inegável por si mesmo, não requerendo prova. Mesmo as correntes de pensamento que não aceitam nenhum tipo de intuição do dado fundam-se em alguns princípios tomados como evidentes ou ao menos convencionalmente colocados fora de toda discussão. Esses pontos de partida são indispensáveis em toda ciência, e é inconcebível uma ciência que presuma poder prosseguir indefinidamente suas investigações sem referi-las a um ponto de partida.
2. Prova.
3. Nexo evidência-prova.
4. Caráter evidente (e não provadodo nexo mesmo.
II. Como condições existenciais, a ciência requer:
1. Repetibilidade do ato intuitivo referido à “mesma” essência.
2. Repetibilidade do fenômeno cuja essência é intuída.
3. Registro.
4. Transmissibilidade.
III. Esse ideal foi realizado, historicamente, segundo modalidades variadas, calcadas nas ciências que casualmente obtivessem maior sucesso no momento.
1. Geometria (séc. IV a. C.)
2. Biologia [ classificação ] (séc. VI em diante: influência aristotélica tardia).
3. Dialética e Lógica (séc. XII em diante).
4. Matemáticas (séc. XV em diante).
5. Física mecanicista (séc. XVII em diante).
6. Biologia e medicina experimental (séc. XIX). Ao mesmo tempo: História.
7. Física matemática, lógica matemática, linguística, informática e neurobiologia (séc. XX).
IV. A astrologia pode tentar em vão copiar o modelo de alguma delas ou, ao contrário, procurar constituir-se como ciência desde o ideal mesmo que define a idéia de ciência.
V. Só este último caminho é válido, porque o objeto da ciência astrológica é radicalmente diverso do de todas as demais ciências. Que objeto é esse?
1. O estudo das influências astrais? Não.
2. O estudo da personalidade à luz dos astros? Não.
3. É o estudo das relações entre fenômenos celestes e terrestresde qualquer natureza.
VI. Pode a astrologia ser uma ciência?
1. Logo, a astrologia, se houver uma, é uma ciência:
a) Comparativa.
b) De objeto lógico e não fático.
c) Múltipla. A variedade de objetos requer variedade de métodos.
d) Interdisciplinar.
2. Eis a razão pela qual a astrologia perdeu, no Renascimento, seu estatuto de ciência. A astrologia até então existente bastava para dar conta da fenomenalidade terrestre tal como descrita pela física de Aristóteles, mas o súbito avanço das demais ciências as fragmentou de tal modo que uma ciência comparativa, sintética e interdisciplinar como a astrologia se tornou impossível.
3. Hoje, graças ao sistema internacional de intercâmbio de informações científicas, a ciência astrológica se torna novamente possível.
4. Como realizá-la?
1. Enfrentando logo as questões preliminares de delimitação, de métodos investigativos e de critérios de validação.
2. Enfrentando logo o problema da unificação da teoria astrológica, o que implica a reinterpretação de todo o legado da astrologia antiga — trabalho para muitas gerações.
3. Distinguindo para sempre as duas questões que o debate atual confunde:
a) O fenômeno astral em si.
b) A validade das técnicas astrológicas.
4. A resposta sobre a validade ou não da astrologia não pode preceder a resposta sobre a existência ou inexistência do fenômeno astral (chamemos assim as relações entre fenômenos celestes e terrestres).
a) A resposta sobre o fenômeno astral já nos foi dada por Gauquelin.
b) A comprovação da existência do fenômeno não basta para validar a astrologia, mas basta para justificar a necessidade de uma ciência astrológica: resta fazê-la, em vez de proclamar que está feita e cultuar uma imagem de sonho.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Fábio Pannunzio: As penas alugadas ao petismo e a máquina de demolir reputações


O leitor que se quer bem-informado deve estar atônito com a lama que escorre no entorno da CPI do Cachoeira. A imprensa brasileira — aí compreendidas todas as publicações, nos veículos formais e também na internet — parece ter sido tomada por escribas ora a serviço da quadrilha do bicheiro Cachoeira, ora a serviço da quadrilha do mensaleiro Zé Dirceu.  A disputa nas várias mídias parece ser em torno de quem representa melhor os interesses espúrios das hordas de bandidos que se acercaram do Poder.
O grande esforço da BESTA (Blogosfera Estatal), neste momento, é para comprovar que a Revista Veja, na pessoa de seu editor Policarpo Jr., estava a serviço do submundo da espionagem e à disposição da interface parlamentar da organização, capitaneada pelo ainda senador Demóstenes Torres.
Do outro lado, jornalistas de grandes veículos e blogues a eles vinculados (chamados de PIG pela BESTA) tentam desmontar o jogo de manipulação de colegas regiamente pagos — e isso é inquestionável — pelo dinheiro público para mover uma campanha de desmonte da “velha mídia”, ou do jornalismo formal, como queiram.
Em meio a essa confusão, surgem outros atores, que passam a duelar publicamente, difundindo informações que põe em xeque a lisura das apurações e das intenções de seus contendores. Na contradita, os injuriados do outro lado apresentam argumentos de que seus novos desafetos estão igualmente comprometidos com uma ou outra vertente derivada do problema. E isso faz com que todos os jornalsitas pareçam iguais aos olhos do público, o que não é verdade.
Vou tratar aqui do caso Policarpo. Há cerca de um mês o editor de Veja em Brasília está sob fogo cerrado. Primeiro, falava-se que ele tinha trocado cerca de 200 telefonemas com os arapongas de Carlinhos Cachoeira. Se não serviu para condená-lo definitivamente, a quantidade de conversas apresentadas o incriminava de maneira contundente. Nada, além de suposições perniciosas, demonstrava que havia algo errado na relação entre o jornalista e suas fontes.
Quando a íntegra do inquérito contra Demóstenes vazou, uma vez mais não havia ali qualquer indício de anomalia nessas relações. O que ficou comprovado, entao, foi que Policarpo recebeu informações dos arapongas de cachoeira e as utilizou em benefício do interesse público. Foi assim com a cena da propina paga a um dirigente dos Correios que despertou a fúria de Roberto Jefferson, e que serviu para desbaratar a quadrilha dos mensaleiros arregimentada por José Dirceu. Foi assim mais tarde, quando se descobriu que o “chefe da quadrilha” havia transformado a suíte de um hotel de Brasília em gabinete do governo paralelo que, sob Lula, o mesmo Dirceu continuava comandando.
A esta altura, sabe-se que os arapongas de Cachoeira comentavam em suas conversas pornográficas os resultados que esperavam advir da publicação do material que haviam fornecido ao jornalista. Isso, nem de longe, leva a qualquer indício de atrelamento entre o repórter e o esquema que os inimigos da liberdade de imprensa pretendem implodir. Apesar disso, a BESTA continua tentando colecionar elementos que possam referendar sua teoria conspiratória com recortes das gravações vazadas do inquérito da PF.
Ao mesmo tempo, o que se pode comprovar é que o time que ataca o jornalismo formal — ele mesmo composto por jornalistas que perderam espaço da grande imprensa e ocupam hoje posições terciárias em veículos aparelhados pelo pior do petismo — está claramente comprometido com um lado do problema.
E os interesses podem ser vistos a olhos nus, sem a necessidade de lentes ideológicas ou doutrinárias. É o caso notório do chefe da claque da BESTA na internet, Paulo Henrique Amorim, cujo discurso paranoico é financiado por empresas estatais como o Banco do Brasil, a CEF e a PETROBRAS. A respeito disso, o Blog do Pannunzio descobriu que, só em contratos  firmados com a CEF, o governo Tarso Genro e os Correios, Paulo Henrique Amorim se transformou num gênio financeiro da “nova mídia”, com faturamento de quase R$ 1 milhão desde o ano passado. As informações foram confirmadas por fontes oficiais e não houve nenhuma contestação ou desmentido.
O trabalho a que se propõem os arautos do fim do jornalismo, no entanto, não se limita ao ataque institucional. Para demolir a Imprensa, é preciso dinamitar reputações. É a isso que se dedicam com muito afinco os atores secundários do esquema da BESTA nesse dias de conturbação absoluta.
A investida não constitui propriamente uma novidade. O método é o mesmo de 2009, quando a organização que chamo de BESTA criou seu know-how de injuriar em série. A estratégica consiste em repercutir ao máximo “informações reveladoras” que um dos militantes “descobre” invariavelmente na internet, em investigações pífias e cheias de problemas éticos, até que o assunto “denunciado”se transforme em “verdade absoluta” e, em seguida, em fato político. É sempre assim, não importando se o objeto da denúncia é ou não verdadeiro — ou quiça verossímil.
Uma das primeiras vítimas do esquema dos detratores profissionais da BESTA foi o jornalista Heraldo Pereira. Em maio de 2009, ele ocupou a posição em que hoje está Policarpo Jr. A história vem sendo contanda por este blog desde então. Sinteticamente, Heraldo foi acusado de trabalhar para o então presidente do STF, Gilmar Mendes, que era a quem se pretendia atingir. As “provas”contra ele foram coletadas pelo site Cloaca News, organizadas em formato de reportagem por Luis Carlos Azenha e, na sequência, passaram a servir como munição para Paulo Henrique Amorim atacá-lo até a insanidade das injúrias raciais, que já lhe custaram uma indenização de R$ 30 mil e um recalcitrante pedido de desculpas publicado em dois grandes jornais brasileiros.
Para construir a série de injúrias, a BESTA ignorou pressupostos elementares do Código de Ética dos jornalistas, como ouvir o outro lado. Isso apesar de Heraldo ter sido muito próximo de um de seus detratores — foi ele quem indicou Azenha para a Rede Manchete,  onde consolidou sua carreira. A história é contada pelo próprio Azenha, em julho de 2010, conforme o trecho que reproduzo abaixo:
Um dia, estudante em São Paulo e desempregado, passei pela entrada do Hospital das Clínicas, onde Tancredo Neves estava moribundo, e encontrei o Heraldo Pereira, então repórter da TV Manchete, que me disse que a emissora tinha vaga para repórter (àquela altura eu já tinha quatro anos de experiência em TV, o que incluia longos meses cobrindo férias na Globo de São Paulo, com muitas reportagens em jornais de rede e algumas no Jornal Nacional).
Fui contratado.
Vinte e cinco anos depois, nem a gratidão motivou Azenha a cumprir o dever ético de ouvir o outro lado antes de condenar o colega. Em seu blog, depois de apresentar como verdades as denúncias falsas dos outros blogues coligados à BESTA, Azenha escreveu o seguinte:
“Tendo em vista que Gilmar Mendes teve participação direta e decisiva na polêmica que levou ao afastamento de Paulo Lacerda da ABIN, você considera que Heraldo Pereira deveria ter revelado que é funcionário de Gilmar antes ou depois do comentário que fez a respeito de Lacerda no Jornal da Globo?”
Aí está a soma de mentiras rematadas transformada em verdade absoluta pelos inimigos da imprensa livre. O post sumiu do site de Azenha, mas ainda pode ser lido no webarchive.org. O link está aqui. As aleivosias jamais foram objeto de um desmentido. Heraldo suportou um período terrível de provações até conseguir a primeira reparação — a sentença que obrigou PHA a se retratar e a indenizá-lo. E ainda aguarda a condenação do editor do Conversa Afiada por crime de racismo, que deve acontecer antes do recesso forense.
Hoje, é Policarpo Jr. quem está no alvo das penas alugadas da BESTA. Contra ele erguem-se suspeitas infundadas construídas sobre falaciosos recortes da investigação. Até agora, no entanto, não há uma evidência sequer de que o editor de Veja tenha oferecido qualquer contrapartida a suas fontes, muito menos que tenha de alguma forma auferido qualquer  tipo de vantagem pessoal a partir das relações com o submundo da espionagem de Cachoeira.
Para quem prometia revelações bombásticas nos “200 telefonemas”, o resultado do frenético CTRL-C/CTRL-V nos inquéritos vazados é pífio. Onde estão os elementos que levam à suposição de que Veja planejava golpear o governo Lula ? Onde estão as provas de que Policarpo era parte do esquema Cachoeira, como muitas vezes a BESTA tem sugerido e afirmado em suas copiosas páginas de aleivosias ? Simplesmente não há.
Em compensação, repito, há evidências de sobra de que a Blogosfera Estatal acumula privilégios e vantagens no acesso aos cofres da União e seus prepostos. Vantagens checadas e confirmadas por fontes limpas, que não foram nem serão objeto de contestação porque simplesmente não podem ser contestadas. Ao contrário dos sofismas da BESTA, as informações sobre o comprometimento dos escribas a mando de José Dirceu são verdadeiras e cristalinas.
Ao leitor, antes de entrar em desespero com tantas versões antagônicas sobre os mesmos fatos políticos, recomendo que façam uma triagem dessas fontes de informação. Antes de elaborar juízos de valor a partir do que se escreve, é preciso saber quem escreve e com que propósitos escreve.
Só assim será possível separar o joio da imprensa de aluguel do trigo da informação genuína.