Prezado José Serra,
Não sou tucano, e tenho feito várias críticas ao seu
partido. Sinto-me sob uma hegemonia da esquerda na política nacional, e creio
que o senhor concordaria comigo. A “acusação” que os petistas lhe fazem, de
“neoliberal” ou “direitista”, são totalmente injustas. O senhor é e sempre foi
de esquerda. Sabemos disso. E eu, como liberal, tenho várias divergências,
portanto, em relação ao modelo de governo, seu e do próprio PSDB.
Dito isso, meu lado pragmático reconhece que as alternativas
são bem limitadas em 2014. Lá está ela, a hegemonia de esquerda. De um lado, a
ideia assustadora de permanência do PT no poder, com esse aparelhamento absurdo
da máquina estatal, esse nacional-desenvolvimentismo ultrapassado, essa gestão
econômica incompetente, essa política externa ideológica e nefasta.
E quem está do “outro” lado, desafiando o atual governo?
Temos Marina Silva, que foi PT até “ontem”, e pelos últimos 30 anos, inclusive
ministra do governo Lula. Sua Rede carrega nas cores ambientalistas de forma
romântica e, assim, perigosa. Sua noção de economia é limitada, e seu governo
seria um grande ponto de interrogação. Ninguém sabe o que esperar.
Eduardo Campos tem encantado alguns empresários, mas vamos
lá: é a “oposição” mais governista que conheço! Ainda é do governo, até hoje!
No mais, seu PSB tem até socialista no nome, e temos visto o que seus
governadores têm feito com os recursos públicos. Neto de Miguel Arraes, não dá
para acreditar que teria uma gestão muito amigável com o mercado. Pode ser
menos pior do que Dilma, mas isso, convenhamos, é fácil demais, e muito pouco.
Resta a alternativa do PSDB. Como já disse, não sou grande
fã do partido. Social-democrata nos moldes europeus, ainda prega um estado
intervencionista demais para o meu gosto. Mas tenho de admitir que há
possibilidade de diálogo, que existem bons economistas ligados ao partido, que
importantes privatizações foram feitas no passado (ainda que mais por
necessidade de caixa do que convicção ideológica), assim como reformas
relevantes (Lei de Responsabilidade Fiscal, câmbio flutuante e meta de
inflação, tudo ameaçado hoje pelo PT).
O retorno do PSDB ao poder federal, portanto, é visto por
mim como a única alternativa em 2014 que daria sobrevida às esperanças no
Brasil. Haverá uma herança maldita para o próximo governo, sem dúvida.
Esqueletos foram escondidos pelo atual governo, e a conta vai chegar. Mas que
seja com uma equipe melhor, com bons economistas no leme, em vez de gente
medíocre que nada entende, e pensa o contrário. A ignorância, quando alimentada
pela arrogância, é um grande perigo.
E é aqui que gostaria de lhe pedir um grande favor. O
momento é bastante delicado. Chegamos em uma encruzilhada, e o Brasil corre o
risco de virar uma grande Argentina. Não é desprezível. Mais quatro anos de PT
é um preço que o país não pode pagar. Será alto demais. A democracia estará
ameaçada, as instituições poderão se esgarçar mais ainda, e novos ataques à
imprensa são esperados.
É hora de patriotismo de todos aqueles comprometidos com o
futuro do Brasil. O momento demanda atitudes nobres e corajosas, deixando-se a
vaidade de lado, os interesses particulares para depois. O PSDB deve estar
unido para esse combate, que já começou, com o próprio ex-presidente Lula dando
a largada para a campanha antes do tempo.
O senhor teve sua chance. Por duas vezes. Não venceu. O
nível de rejeição atingiu patamares elevados. Como eu disse, os mais liberais,
como eu, enxergam o senhor muito à esquerda do que gostariam, e os esquerdistas
preferem o PT mesmo, já que é para ter um estado intervencionista ao extremo.
Eu mesmo confesso que votei no senhor, mas como escrevi em um artigo que
circulou bastante à época, foi uma “escolha de Sofia”.
Até brinquei que precisei do auxílio de um Engov (sem
ofensas). Não leve para o lado pessoal. É questão ideológica mesmo. Respeito o
senhor como figura pública, sei que realmente deseja o melhor para o país.
Apenas discordamos quanto aos meios. E agora, pelo visto, uma vez mais.
Gostaria de ser capaz de tocar-lhe o coração com essa
mensagem. O Brasil precisa urgentemente se livrar do “bolivarianismo” dos
petistas. Já foi longe demais. Nossa República está em xeque, e o mensalão é
prova disso. Precisamos pegar o que resta de nossa “oposição” e turbiná-la, com
unidade e determinação. E Aécio Neves é o nome, atualmente, capaz disso. É hora
de lhe dar uma chance.
Um gesto seu de desistir do sonho da presidência, permanecer
no partido, e endossar a candidatura do colega mineiro seria de enorme valia e
humildade. Seria um ato patriótico. Sei que em 2010 o próprio Aécio não entrou
pesado em campo para lhe ajudar na campanha. Mas espero que seja superior a
isso, e mostre o poder do perdão. Picuinhas só vão prejudicar o PSDB e, por
tabela, ajudar o PT.
Isso seria um duro golpe em milhões de brasileiros que
clamam por mudança. Ajude esses brasileiros todos. O projeto de qualquer um que
deseja construir um Brasil melhor, mais próspero e mais livre, começa com um
primeiro passo fundamental: retirar o PT do poder, eliminar o risco autoritário
do “bolivarianismo”, desmontar o aparelhamento do estado feito pelos
“companheiros”. Contamos com o senhor nessa árdua missão.
Atenciosamente,
Rodrigo Constantino.