Em que pese todo o histórico de que esquerda e direita surgiram durante as revoluções iluministas dos séculos XVII a XVIII, foi durante o século XIX que a verdadeira Esquerda emergiu e ganhou a identidade que teria até os dias de hoje. Marx foi o grande divisor de águas, que relegou Proudhon, Lassale e outros pensadores de esquerda da época ao segundo plano, definindo a metodologia e o conjunto de crenças que mais tarde guiariam Gramsci, Lenin, Mao, Trotsky, e outros pensadores e estadistas pós-marxistas.
A única delimitação conceitual existente entre direita e esquerda, que se funda em premissas mais objetivas e aferíveis in concreto (leia-se: segregacionistas), é justamente a delimitação dada pelos marxistas: só é de esquerda quem está concatenado com a pauta revolucionária de instituição da ditadura do “proletariado” (aqui dentro de um conceito partidário do termo, não significando o operário em si, mas os professores, servidores públicos, artistas, intelectuais, etc., que abraçam o socialismo marxista).
A hegemonia política de um único partido sobre as demais forças políticas da sociedade, com a posterior implantação de uma pauta mista de reformismo e reacionarismo, é a única bandeira ideológica real da esquerda marxista: é preciso ser hegemônico no poder, sobre a “mídia”, os partidos, as instituições, o ensino, as crenças, etc., para que o projeto socialista perdure e gere os frutos de utopia igualitária que ele pretende.
E por ser assim, não há margem para negociações de longo prazo, como a aceitação às liberdades individuais da pequena burguesia, contempladas no liberalismo constitucional das revoluções iluministas (aquelas mesmas que fizeram surgir o embate direita x esquerda, sob outras bases, décadas antes de Marx). Toda concessão feita pela Esquerda é uma aceitação provisória, uma negociação que visa derrotar o liberalismo constitucional com as armas da democracia representativa: vencer as eleições, cooptar aliados, subornar a ala corrupta e fisiológica da Direita, aparelhar as instituições, deslegitimar as forças de oposição e, finalmente, suprimir as liberdades burguesas.
Não existe esquerda democrática, não no sentido liberal do termo: a democracia que esbarra na garantia de direitos e liberdades individuais inalienáveis. A democracia da Esquerda é a democracia direta da vontade popular dinâmica, dialética, da supressão de “privilégios” daqueles que estejam por baixo na cadeia alimentar do equilíbrio de forças políticas de uma sociedade. E quem tacha como “de direita” todos aqueles que, mesmo se dizendo de esquerda, não estão comprometidos com o projeto revolucionário marxista, de hegemonia partidária e ideológica (o que inclui o controle da superestrutura, do ensino à comunicação social), é a própria Esquerda (marxista, socialista, revolucionária).
Logo, fora do campo de auto-articulação desses grupos revolucionários, que visam à ditadura do proletariado “de boutique” (leia-se: os professores, intelectuais, artistas e servidores públicos marxistas), só há a Direita. E esta Direita pode ser liberal ou conservadora nos costumes, liberal ou intervencionista/nacionalista na economia, democrática ou autoritária: a Direita é a zona cinzenta que abrange todos os demais grupos de ideologias que não são a Esquerda (marxista, socialista, revolucionária).
Isto não sou eu quem está dizendo. Isto é o que disseram Gramsci, Lenin, Trotsky, Mao, e todos os demais pensadores e estadistas pós-marxistas, com seu segregacionismo próprio daqueles que se pretendem iluminados com um messianismo que a tudo justifica, inclusive à utilização da democracia para suprimir a democracia, ou de discursos de paz e prosperidade para justificar a violência e a privação.
Plagiando o Al Corão: só há uma Esquerda, e Karl Marx é seu profeta. Alguém duvida disto?