quinta-feira, 3 de março de 2011

David Harsanyi: O Estado-Babá

Em alguns bairros de Los Angeles, legisladores criaram o que definem como “zonas de saúde” e baniram restaurantes de comida pouco saudável. Em São Francisco, as autoridades pretendem elevar os tributos sobre alimentos não saudáveis. Em Orlando, uma aluna foi detida por fiscais que a encontraram cortando seu lanche com uma “perigosa” faca. E por aí vamos.

A maioria dos norte-americanos está ciente das constantes agressões às liberdades individuais. Ainda assim, muitos ainda não entendem seu alcance. Todos rimos quando um parlamentar tenta abolir a palmada ou criar autorizações para que as crianças possam sair à rua no Dia das Bruxas. Vemos isso como surtos isolados e absurdos. Mas não deveria ser assim.

Nos EUA, a prática de assumir um papel de babá se desenvolveu como uma ideologia destrutiva. Embora ainda não tenha virado um movimento político, está mudando o papel do governo, prejudicando a Constituição e alterando o modo de vida.

Essa prática começou quando os cidadãos cederam à conveniência em vez de defender seus princípios. E avançou com políticos cúmplices ou temerosos em adotar o argumento de que as liberdades pessoais têm, sim, importância.

Tome o exemplo da guerra ao tabagismo, a iniciativa mais em voga no Estado Babá. Na maioria das cidades americanas, já não se pode compartilhar um hábito legal em um estabelecimento privado. Mesmo quando o proprietário, todos seus empregados e clientes concordam que o fumo ali é aceitável. O próximo passo é alcançar os lares. Recentemente, a rica Belmont, na Califórnia, ampliou o banimento para incluir moradias de vários andares ou unidades. Outras cidades têm tentado fazer o mesmo. O que começou com a proibição do fumo nos locais de trabalho desabrochou em um ataque à propriedade individual e à liberdade de reunião, criando precedentes para coibir outros “maus hábitos” . Em Nova York, foram banidas as gorduras trans. Poucas pessoas reclamaram. Porquê? Ninguém argumenta que elas são saudáveis. Mas qual é o parâmetro para banir este ou aquele ingrediente? Como o consumidor vê amanteiga, o creme de leite, os churrascos, o sal e o açúcar?

Esses “proibicionistas” aprenderam uma grande lição. Trabalhe lentamente, dê dois passos paternalistas para diante e um para trás. Argumente que o assunto tem a ver com “as crianças” ou com “os pobres”. Converta o tema em questão de segurança, moralidade, vício e não mencione a escolha consciente. Afinal, quem acredita que um pateta seja capaz de resistir à intoxicante sedução de um cheeseburger, um refrigerante e um maço de cigarros? De certa forma, é nossa culpa. Muitos americanos acreditam estar imbuídos de “direitos” que não existem até que os inventemos. O direito de não sentir o cheiro de qualquer coisa que nos irrite; de não ouvir qualquer coisa que nos ofenda; de educar os filhos alheios; de não apenas ter um plano de saúde individual, mas de ditar que plano de saúde os outros terão.

Diante da expansão do paternalismo governamental, surgem questões. Será que a natureza dos cidadãos mudou? Será que ficamos tão avessos ao risco que nos convertemos em uma nação de covardes? Será que damos mais valor à saúde e à segurança do que à liberdade?

Infelizmente, ainda não tenho essas respostas. Historicamente, os EUA têm sido uma nação com propensão a abraçar a autoridade central e a liberdade. Tradicionalmente, não temos paciência com quem tenta gerenciar nosso comportamento individual. Por isso, pode não ser tarde para deter essa tendência que parece irreversível. Torçamos para que esta não seja uma mera esperança boa.