Dora Kramer: Clube da luta
O mais recente charivari entre tucanos, envolvendo a exclusão do ex-governador José Serra e do senador Aloysio Nunes do programa de tevê do PSDB paulista, seria só mais uma escaramuça entre correligionários não fosse também uma perfeita tradução da incapacidade do partido de se acertar internamente e tocar a vida em frente.
Aloysio reclamou no Twitter e o governador Geraldo Alckmin respondeu pelos jornais com uma desculpa esfarrapada – redução do tempo do programa – e a promessa de que no próximo serão todos devidamente “prestigiados”.
Indigência total de espíritos. Como de resto têm sido as ações oriundas de um PSDB em crise de abstinência provavelmente resultante do poder precoce conquistado (em 1994) apenas seis anos após a fundação do partido (em 1988).
Uma hora é a briga pela “tomada” da máquina do partido, outra hora é a contratação de pesquisa para definir rumos e que só produz novos desacertos e, com frequência, propostas de temas para reflexão a fim de motivar ações são desqualificados internamente numa autofagia intelectual de dar dó.
Tucanos não conversam com tucanos a não ser que pertençam ao mesmo grupo de afinidades eleitorais, enquanto a direção do partido só se manifesta para dizer que vai tudo bem enquanto as evidências mostram como tudo vai mal.
Vivem de subterfúgios, troca de ironias, gestuais minúsculos e atos isolados em prol deste ou daquele interesse sem que haja qualquer formulação estratégica que indique à sociedade que por trás da sigla exista um partido.
O PSDB hoje é uma confederação de emburrados sem rumo, cuja principal ocupação é dar vazão a ressentimentos mútuos por intermédio de atos e palavras que não se conectam entre si.
Nada tem lógica ali: a atuação dos governadores não se comunica com a ação das bancadas no Congresso, que por sua vez não conseguem estabelecer uma conduta que transmita minimamente uma noção de conjunto.
As lideranças alimentam o clima interno de tensão sempre culpando o grupo rival por fazê-lo, sem coragem de explicitar nem de resolver as divergências.
Quando explode em público a discordância, improvisa-se uma cenografia qualquer para simular convergência, acumulando conflitos não resolvidos, que resultam na falta de unidade nas campanhas eleitorais importantes. Nelas há sempre um grupo a solapar o outro, o que se não acaba em derrota produz revanche.
Vem sendo assim desde a fundação, mas foi a partir de 2002 que a paralisia do PSDB em função dos ódios internos se tornou visível a olho nu.
A revitalização do partido é uma promessa eterna. Inexequível, porém, enquanto ali predominar a hipocrisia e a omissão.