Hoje estou convicto de que a história é escrita em páginas amarelas de medo, para justificar as políticas desastrosas de formas de Estado que se agigantam, favorecendo os mesmos de sempre, uma elite de coroados e vassalos internacionais, que se apossou de todo o conhecimento e recursos do trabalho humano, posicionando-se acima das Leis, sobre pilhas de cadáveres que emolduram suas políticas catastróficas, vitimando todas as nações.
Os currais que rotularam de “direita” ou “esquerda”, impedem a gente de andar para frente. Impedem a reflexão sobre o essencial. Inviabilizam a educação para a liberdade, para a curiosidade que excita a busca do saber e criatividade individual, que serve ao bem estar, ao bem comum. A razão econômica se sobrepõe às razões dos humanos que querem construir uma civilização com trabalho e respeito aos semelhantes, segundo os méritos de cada um, preservando sua cultura e tradições, preservando os valores construtivos, priorizando o respeito a vida dos semelhantes e do planeta.
O núcleo duro do poder global utiliza elementos traumáticos de todo tipo, para dissociar a gente da realidade essencial: controle mental, utilização de símbolos, transes hipnóticos que parecem gravar geneticamente as pessoas, passando de geração em geração. O abuso físico é visível nos corpos dos que lidam na roça enfrentando as secas e a fome, nos que se prostituem nas ruas desde a infância, nas filas dos serviços de saúde, naquelas imagens que chegam da África, Somália e outros recantos, na figura dos drogados que parecem caracterizar este admirável mundo novo. É visível na multiplicação do stress provocado por sucessivos traumas que afligem as populações urbanas e rurais.
É insólito saber hoje que os impérios cristãos ocidentais (Estados e corporações) financiaram e propiciaram as revoluções comunistas. Que o nazismo foi uma seqüência daquele laboratório de horrores. Que a inteligência nazista foi acolhida na Europa e nos EUA depois da guerra. Que a violência do momento é uma seqüência destas políticas de saque e submissão. Em 1964 esta informação estava expurgada da história que nos contavam sobre uma suposta oposição entre as grandes potências que ameaçavam o planeta com uma guerra atômica.
Estas são evidências apreendidas da obra de Antony Sutton e outros, que evidenciam os malefícios ideológicos e religiosos em seus desvios violentos e conspiratórios. Muitas destas obras são catalogadas no rol de teorias da conspiração e são mantidas nas gavetas da espiral do silêncio. O “index librorum proibitorum” disseminou-se como prática da “igreja econômica” que fundamenta as diretrizes das políticas de submissão internacional, responsáveis pela eterna dependência das nações, ao contrário do respeito interdependente entre pares.
Senhora Presidente ou Presidenta,
Em 1964 era um menino com baixa escolaridade, atuando entre meninos sonhadores, fáceis de manipular por quem lhes desse atenção e alimentasse sua estrutura de plausibilidade. Os emocionantes lances daquela assembléia de marinheiros, engendrada nos bastidores por sindicalistas com ascendência sobre o Presidente da República, resultou na cena do canhão de um tanque de guerra apontado para o recinto onde estavam marinheiros, fuzileiros e trabalhadores civis. Parte da tropa de fuzileiros que cercava o recinto, largou as armas e os cintos com balas, para juntar-se aos participantes da assembléia.
Quatro dias depois – 31 de Março de 1964 – concretizou-se a queda do governo, conspiração militar-civil que se gestava há três anos, quando da renúncia de Jânio Quadros. Sabe-se hoje que forças poderosas atuavam silenciosamente nos bastidores internacionais, acima das disputas ideológicas da guerra fria. Iniciou-se o período chamado agora pela mídia de ditadura militar, mas, naquela época efusivamente saudada por todos os grandes jornais: “os militares salvavam a nação do comunismo internacional”, diziam as manchetes.
Os militares subalternos não gozavam de direitos políticos (não tinham direito a voto). Mesmo assim, fui o centésimo a perder os direitos (que não tinha) na primeira lista de cassações. Estava oficialmente no rol dos inimigos do Estado. Decorreram dois anos, desde a prisão no DOPS do Rio de Janeiro. Depois no Presídio Fernandes Viana, em contato com presos comuns. Convocado para depor em diversos IPMs (inquéritos policiais militares instaurados em várias instituições tendo à frente Coronéis do Exército). Depoimentos no Cenimar (Centro de Informações da Marinha). Diversos Processos na Justiça Militar comparecendo às audiências com a presença do Advogado de defesa, Alcione Pinto Correa.
Transferência de prisão para a carceragem de uma delegacia de polícia no Alto da Boa Vista por interferência da defesa, para separar dos presos comuns. Quase uma centena de presos políticos foram liberados por hábeas corpus, incluindo uns 30 ex-marinheiros e fuzileiros navais. A Justiça ainda gozava de alguma respeito e a letra da lei era obedecida, mesmo pelos ditadores.
Último prisioneiro político, fugi da prisão com auxílio de AP e POLOP. Clandestinidade fechada em São Paulo. Saída para a clandestinidade (não asilo político) no Uruguai, acolhido pela organização do Engenheiro Leonel Brizola, “para aprender as táticas e as técnicas da guerrilha cubana”, que poderiam, mas não seriam precisamente necessárias “à nossa luta no futuro” – como ele bem me frisou. Diante do insucesso, Brizola retirou-se. Ficamos seis órfãos em Cuba, precisamente contrários ao comunismo. Até que se abriu uma porta para voltar ao Brasil. Fui preso pelo DOPS de São Paulo. Com tortura: pau de arara, choques e porrada em duas sessões nas madrugadas do terceiro e quarto dia.
Colaborei com o Estado ditatorial, tanto pelo terror a que estive submetido, quanto por ter alcançado a consciência da insanidade do estado comunista, experiência vivida na passagem pela Checoslováquia e na clandestinidade da estadia de dois anos em Cuba. Consciência que se cristalizou na volta ao Brasil, onde percebi que a escolha da gente era a vida, o trabalho, criar os filhos, o que era diferente de provocar uma guerra civil. A população estava amedrontada diante da matança, seqüestros, roubos, bombas e barbaridades de uma minoria: de um lado os guerrilheiros, então abertamente na prática do foquismo que levaria à guerra civil, criação do “exército do povo” e tomada do poder com a instalação de um governo comunista, presumivelmente contrário ao “imperialismo norte americano” e submisso ao “imperialismo soviético ou chinês”.
Do outro lado os policiais e militares servidores do Estado que conduziam a nação para um desenvolvimento diferenciado, financiado com recursos externos. Uma forma diferente daquela que um dia ouvi do Engenheiro Leonel Brizola: nacionalismo para “fechar o país, arrumar a casa”. Os militares brasileiros conduziam uma forma de governo com exceções que proporcionava o pleno emprego, criava escolas, modernizava a infra estrutura e as comunicações, no ambiente de produção capitalista associado ao mundo dito “democrático”. Há muito de semelhante nos dias atuais. Passado e presente comum a todos os países da América do Sul.
Entendi que, auxiliar o Estado naquele momento - mesmo que compulsoriamente sob certos aspectos – era respeitar a vontade do povo brasileiro, facilitando o fim da barbárie que envolvia ativistas da guerrilha e agentes das forças de defesa do Estado. A gente comum ficava com os maiores prejuízos. Os maiores beneficiados eram os provedores de armas e recursos logísticos, atuando à distância, invisíveis nos cenários de jogo político internacional.
A gente, estava na linha de fogo, como o Sr. Lovecchio e centenas de outros prejudicados, de ambos os lados, marcando as famílias cujos filhos e pais trocaram a prática do amor pelo ódio ideológico. Esta é uma parte da história esquecida, ignorada e aí residem os maiores prejuízos materiais e espirituais, jamais assumidos pelos revolucionários.
Em vez de armas, política para voltar à vida produtiva em segurança.
Em 1964 já éramos manipulados por forças que não conhecíamos. Hoje mais ainda, quando o coletivismo patrocinado pelos controladores que se agigantaram após a queda do muro de Berlim, reduz o indivíduo “sotto zero”. Tudo estava descrito, antecipado, previsto, planejado, conspirado há séculos.
Aprendí a anestesiar a dor de viver neste mundo de “homens partidos”, viver dividido dentro de mim, viver com a mente dividida. Conservo o orgulho de ser Brasileiro. Penso quantas vezes serei cobrado por cumprir o dever para com a própria consciência. Busco estar atento aos desejos que são instalados pela implacável máquina controladora de corações e mentes, alguns benéficos e outros demoníacos. Penso o quanto mais vão poder dividir esta mente e este corpo machucado, envelhecido e perplexo. Penso neste mundo que nunca imaginei.
Acredito Senhora Presidente, que nada do que está acima descrito seja novidade para quem conquistou a liderança da nação. Acredito nas boas intenções que conduzem suas escolhas. Na realidade, imagino as pressões imensuráveis que dificultam as decisões reais e outras atribuídas à sua função, neste mundo bem diferente do que um dia sonhamos, humanamente, em campos separados por contingências superiores à nossa vontade.
A minha vida foi vivida com a crença de estar servindo à nação, gente de carne e osso merecedora de respeito e sentimentos amorosos. As bússolas apontaram em direções inversas, confundindo mentes imaturas. Muitos atos do passado originaram-se na vontade que prezava como valor maior o companheirismo. Naquela relação falhava a formação de vontades livres, bem informadas e esclarecidas, refratárias ao fanatismo político. Fui peão de um jogo de poder e propósitos reais desconhecidos.
Construíram, depois, um mito que nunca existiu dentro de mim. Arrebataram-me a identidade. Servi à Marinha e desonrei o juramento à Pátria. O ato de indisciplina marcou o renegado. Servi mais tarde ao Governo Federal e ao Estado de São Paulo. Nem do Governo Federal, nem do Estado de São Paulo recebi qualquer remuneração. Os recursos externos que eram derramados para “ajudar” o desenvolvimento do Brasil naqueles dias eram menores que os atuais, mas os resultados eram visivelmente mais benéficos.
De tudo isto, restou-me a insólita perda do nome de batismo e a existência de direito negada: sumiu dos livros o registro batismal. E como não me devolveram a identidade civil, inexisto, como coração quebrado, mas sem culpas, abrigado por alguns amigos e reverente na presença da Inteligência Universal, agradecido e confiante em Deus. Um homem com muito sono, esperando o momento de dormir, mais ainda com os olhos abertos, buscando verdades eternas para entender melhor os sofismas do poder, ração de todos.
Na tentativa de reaver meu nome e identidade, solicito a potência da sua palavra para determinar o cumprimento da “lei para todos”, ato que contribuirá para o maior respeito e credibilidade da sua pessoa e do seu cargo. Na esperança de que se cumpra a vigente Lei de Anistia despida das paixões políticas.
Preciso de minha identidade. Uma ordem sua, como comandante em chefe das Forças Armadas, pode reparar esta absurda injustiça contra mim. A Marinha tem todos os documentos confirmando quem eu sou, por perícia datiloscópica.
Repito que não quero nem preciso de indenização milionária – como outros já fazem jus. Quero a minha anistia, direito já reconhecido, pois fui servidor do Estado (marinheiro de primeira classe) cassado pelo AI-1. E o primeiro passo para isso é ter minha Carteira de Identidade – emitida por órgão civil ou militar.
Dirijo-me, diretamente, a Vossa Excelência, na esperança de que o Direito (humano e legal) seja estritamente respeitado no Brasil, sob sua gestão. Por favor, apelo por sua interferência para que me seja emitida a Carteira de Identidade e para que a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça julgue meu pedido, que dormita na burocracia desde 2004.
Prezada Dilma Rousseff, confio em seu senso de Justiça.
Atenciosamente,
José Anselmo dos Santos.