“Nada é mais temido por um covarde do que a liberdade do
pensamento.” (Luiz Felipe Pondé)
Não sei quanto ao leitor, mas eu confesso estar cansado da
ditadura velada do politicamente correto. A impressão que fica é que um bando
de “almas sensíveis” tomou o poder e deseja impor aos outros seu estilo
acovardado de vida.
O reflexo disso é este estado-babá que vemos diariamente
avançar sobre nossas liberdades, com os aplausos de uma gente medrosa e
insegura.
Exemplos não faltam. A começar pelo ícone máximo desta
tirania: Anvisa. Seus burocratas cismaram que têm o direito de cuidar de cada
um de nós como se fôssemos mentecaptos indefesos. Os “iluminados” agentes da
Anvisa vão impor dieta saudável, eliminar as substâncias perigosas, controlar a
exposição ao sol, enfim, serão como nossos pais, e nós seremos as crianças
incapazes de decidir por conta própria como viver.
Mas seria injusto culpar apenas a Anvisa por tais evidentes
excessos. Não. Estas medidas, cada vez mais autoritárias, recebem aprovação de
muitos pais, gente que parece adorar a servidão voluntária, talvez com muito
medo do que faria em liberdade.
O que se passa aqui? Será que estes adultos se sentem tão
assombrados com a vida que precisam delegar ao governo o controle sobre tudo?
Será que perderam a capacidade de assumir riscos e as rédeas de suas vidas? Por
que fogem da responsabilidade (habilidade de resposta) como o diabo foge da
cruz?
Um caso recente ilustra bem isso. Alguns pais buscaram o
governo para proibir uma promoção do McLanche Feliz. Motivo: eles se sentiam
“obrigados” a comprar aquela comida gordurosa porque seus filhos desejavam o
brinquedo anexo. Como assim, obrigados? Será que estes pais nunca ouviram falar
da palavra “não”? Será que não conseguem mais impor limites aos filhos? Que
monstrinhos estes pais estão criando para o mundo?
Os sintomas desta doença moderna da covardia generalizada
podem ser vistos em vários outros casos. Agora tudo é culpa do “bullying”, por
exemplo. Se o psicopata entra na escola atirando a esmo, claro que a causa está
no apelido que lhe deram na infância!
Tanta paranoia vai acabar eliminando um processo natural e
até necessário de preparação para a vida, muitas vezes hostil e dura. Apelidos
“ofensivos”, segregação voluntária (daquele chato que ninguém suporta), piadas
engraçadas, nada disso pode mais. Resultado: um mundo de manés acostumados a
gritar pelo “papai” estado no primeiro sinal de problema que surgir. Os pais
vão ficar orgulhosos. Identificam-se bastante com esta postura.
Como Karl Kraus disse: “A força mais enérgica não chega
perto da energia com que alguns defendem suas fraquezas”.
Outro caso claro está no uso abusivo de eufemismos. Favelas
viram “comunidades”, pivetes viram “meninos de rua”, negros e mulatos são
“afrodescendentes”, deficientes viram “pessoas especiais” e por aí vai. Vejo o
dia em que todo anão será chamado de “verticalmente reduzido”.
Os mais jovens ficariam espantados ao ler artigos de
polemistas como Paulo Francis ou Nelson Rodrigues. Como assim chamar as coisas
pelos seus nomes? Isso era permitido naquela época? E olha que não faz tanto
tempo assim, para dar o tom assustador do andar da carruagem...
Por falar nesses dois, que falta fazem! Colocavam os pingos
nos is, sem ter que agradar a esta maioria facilmente ofendida. Lula, por
exemplo, era chamado por Francis de semianalfabeto (o menor de seus defeitos).
“Preconceito!” A patrulha atua em coro organizado, mas não refuta o fato em si.
Não seria pós-conceito? As palavras perderam o sentido.
De mãos dadas aos politicamente corretos estão os
eco-chatos, essa turma com “consciência ecológica” que vai salvar o planeta
pedalando sua bike e fechando o chuveiro durante o banho. Mas ninguém pressiona
o governo para resolver as graves falhas de saneamento básico que matam vários
pobres todo ano. Haja hipocrisia!
Muitos são apenas “melancias”: verdes por fora, mas
vermelhos por dentro. No fundo, eles querem é atacar o capitalismo, desta vez
por seu sucesso, ou seja, por criar riqueza demais.
Por falar em socialistas, a demanda por igualdade de
resultados entre humanos diferentes talvez seja o maior indício de covardia que
existe. Ignorar que uns são melhores que outros é a marca registrada dos
covardes, que anseiam, como formigas, pela igualdade plena para fugir da
própria mediocridade.
O historiador Paul Johnson, em “Os Heróis”, destaca a
coragem dos independentes como a mais nobre qualidade individual. Como esta
coragem está em falta no mundo moderno!