O governo Dilma Rousseff completa 18 meses. Acumulou
fracassos e mais fracassos. O papel de gerente eficiente foi um blefe. Maior,
só o de faxineira, imagem usada para combater o que chamou de malfeitos. Na
história da República, não houve governo que, em um ano e meio, tenha sido
obrigado a demitir tantos ministros por graves acusações de corrupção.
Como era esperado, a presidente não consegue ser a dirigente
política do seu próprio governo. Quando tenta, acaba sempre se dando mal. É
dependente visceralmente do seu criador. Está satisfeita com este papel. E
resignada. Sabe dos seus limites. O presidente oculto vai apontando o rumo e
ela segue obediente. Quando não sabe o que fazer, corre para São Bernardo do
Campo. A antiga Detroit brasileira virou a Meca do petismo. Nunca tivemos um
ex-presidente que tenha de forma tão cristalina interferido no governo do seu
sucessor. Lembra o que no México foi chamado de Maximato (1928-1934), quando
Plutarco Elias Calles foi o homem forte durante anos, sem que tenha exercido
diretamente a presidência. Lá acabou numa ruptura. Em 1935 Lázaro Cárdenas se
afastou do "Chefe Máximo" da Revolução. Aqui, nada indica que isso
possa ocorrer. Pelo contrário, pode ser que em 2014 o criador queira retomar
diretamente as rédeas do poder e mande para casa a criatura.
O PAC - pura invenção de marketing para dar aparência de
planejamento estatal - tem como principal marca o atraso no cronograma das
obras, além de graves denúncias de irregularidades. O maior feito do
"programa" foi ter alçado uma desconhecida construtora para figurar
entre as maiores empreiteiras brasileiras. De resto, o PAC é o símbolo da
incompetência gerencial: os conhecidos gargalos na infraestrutura continuam
intocados, as obras da Copa do Mundo estão atrasadas, o programa "Minha
Casa, Minha Vida" não conseguiu sequer atingir 1/3 das metas.
O Nordeste é o exemplo mais cristalino de como age o governo
Dilma. A região passa pela seca mais severa dos últimos 30 anos. A falta de
chuva já era sabida. Mas as autoridades federais não estavam preocupadas com
isso. Pelo contrário. O que interessava era resolver a partilha da máquina
estatal na região entre os partidos da base. Duas agências foram entregues
salomonicamente: uma para o PMDB (o DNOCS) e outra para o PT (o Banco do Nordeste).
E a imprensa noticiou graves desvios nos dois órgãos, que perfazem quase 300
milhões de reais. A "punição" foi a demissão dos gestores. Enquanto
isso, desejando mostrar alguma preocupação com os sertanejos, o governo
instituiu a bolsa-seca, 80 reais para cada família cadastrada durante 5 meses,
perfazendo 400 reais (o benefício será extinto em novembro, pois, de acordo com
a presidente, vai chover na região e tudo, magicamente, vai voltar ao normal).
Isto mesmo, leitor. Esta é a equidade petista: para os mangões, tudo; para os
sertanejos, uma esmola.
Greves pipocam pelo serviço público. As promessas de novos
planos de carreiras nunca foram cumpridas. A educação é o setor mais caótico.
Não é para menos. Tem à frente o ministro Aloizio Mercadante. Quando passou
pelo Ministério da Ciência e Tecnologia nada fez. Só discursou e fez promessas.
E as realizações? Nenhuma. Mercadante lembra Venceslau Braz. Durante o
quadriênio Hermes da Fonseca, Venceslau foi um vice-presidente sempre ausente
da Capital Federal. Vivia pescando em Itajubá. Quando foi alçado à presidência
da República, o poeta Emílio de Menezes comentou sarcasticamente: "É o
único caso que conheço de promoção por abandono de emprego." Mercadante é
um versão século XXI de Venceslau. O sistema federal de ensino superior está
parado e vive uma grave crise. O que ele faz? Finge que nada está acontecendo.
Quando resolve se manifestar, numa recaída castrense, diz que só negocia quando
os grevistas voltarem ao trabalho.
A crise econômica mundial também não mereceu a atenção
devida. Como o governo só administra o varejo e não tem um projeto para o país,
enfrenta as turbulências com medidas paliativas. Acha que mexendo numa alíquota
resolve o problema de um setor. Sempre a política adotada é aquela mais
simples. Tudo é feito de improviso. É mais que evidente que o modelo construído
ao longo das últimas duas décadas está fazendo água (e não é de hoje). É
necessário mudar. Mas o governo não tem a mínima ideia de como fazer isso.
Prefere correr desesperadamente atrás do que considera uma taxa de crescimento
aceitável eleitoralmente. É a síndrome de 2014. O que importa não é o futuro do
país, mas a permanência no poder.
Na política externa, se é verdade que Patriota não tem os
arroubos juvenis de Amorim, o que é muito positivo, os dez anos de consulado
petista transformaram a Casa de Rio Branco em uma espécie de UNE da terceira
idade. A política externa está em descompasso com as necessidades de um país
que pretende ter papel relevante na cena internacional. O Itamaraty
transformou-se em um ministério marcado por derrotas. A última foi na Rio+20,
quando, até por ser a sede do evento, deveria exercer não só um papel de
protagonista, como também de articulador. A nossa diplomacia perdeu a
capacidade de construir consensos. Assimilou o "estilo bolivariano",
da retórica panfletária e vazia, e, algumas vezes, se tornou até caudatária dos
caudilhos, como agora na crise paraguaia.
O governo Dilma parece velho, sem iniciativa. Parodiando o
poeta: todo dia ele faz tudo sempre igual. E saber que nem completou metade do
mandato. Pobre Brasil.