O primeiro escândalo protagonizado por sócios fundadores do PT completa 20 anos nesta primavera. A estreia dos Altos Companheiros ocorreu em outubro de 1989, com o Caso Lubeca, protagonizado pelo advogado Luiz Eduardo Greenhalgh. Na época, ele acumulava os papéis de vice-prefeito e secretário de Negócios Extraordinários. O advogado José Firmo Ferraz Filho, ainda no semianonimato, foi o principal coadjuvante.
O elenco também incluiu a prefeita de São Paulo Luiza Erundina, hoje deputada federal pelo PSB, e o agora deputado federal José Eduardo Cardozo, à época secretário de Governo. Desde 1988, quando o PT assumiu pela primeira vez o controle administrativo da maior metrópole da América Latina, todos participavam da experiência que mostraria se o discurso do partido era compatível com a prática.
A trama começou a ser desmontada na noite de 16 de outubro, num debate transmitido ao vivo pela TV Bandeirantes. Ronaldo Caiado, hoje deputado federal pelo DEM, que disputava a Presidência pelo PSD, afirmou que uma construtora repassara dinheiro para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em troca da aprovação de um projeto estacionado havia tempo nas gavetas da burocracia municipal.
As investigações apontaram para a empresa Lubeca, que não existe mais, e para Greenhalgh, acusado de infiltrar Ferraz Filho na construtora, numa sala perto do cofre. A propina de US$ 200 mil seria liberada para a tesouraria da campanha em troca da aprovação de um projeto urbanístico avaliado em US$ 600 milhões.
A denúncia foi investigada pela polícia civil e por mais duas comissões ─ uma da prefeitura, criada por Erundina e presidida por José Eduardo Cardozo, outra da Câmara Municipal. As três foram arquivadas por falta de provas. O inquérito, aberto inicialmente para apurar a suposta corrupção, acabou convertido em denúncia eleitoral contra Caiado por crime de calúnia. Levado ao Supremo Tribunal Federal, o processo também deu em nada.
Embora absolvido, o vice-prefeito foi afastado da secretaria. Quinze anos depois, quando Greenhalgh disputava a presidência da Câmara dos Deputados, a Folha de S. Paulo publicou trechos inéditos de uma conversa entre Ferraz Filho e Eduardo Pizarro Carnelós, assessor jurídico do vice-prefeito e secretário Greenhalgh. O diálogo foi gravado por Carnelós para transformar-se em prova caso a acusação de corrupção ricocheteasse em seu nome.
“Eu fui plantado na Lubeca. Fui plantado”, revela Ferraz Filho a certa altura. Quando Carnelós pergunta o nome do jardineiro, o advogado abre o jogo: “O Luiz. O Luiz. Pronto. Cara, você vai segurar?”. Dias antes da conversa, gravada em 28 de outubro de 1989, em depoimento à Câmara, Ferraz Filho recusou-se 13 vezes a identificar quem o tinha indicado para trabalhar na Lubeca.
Confrontados com a gravação, integrantes das comissões alegaram que a fita não foi anexada aos autos por ter surgido depois de encerradas as apurações. A informação é contestada por ex-funcionários, segundo os quais Carnelós divulgou na mesma época o conteúdo da fita que entregou pessoalmente a José Eduardo Cardozo. A Folha garante que Erundina teve acesso ao material no mesmo dia em que a conversa foi gravada. Ela ouviu a fita ao lado de outros petistas que se reuniram na casa do ex-secretário de Finanças, Amir Khair. A demissão de Greenhalgh ocorreu menos de uma semana depois.
Na época da reportagem, Dráusio Barreto, promotor de Justiça responsável pelas investigações, lembrou que o inquérito já tinha indícios consistentes das falcatruas quando a Polícia Civil foi surpreendida pela ordem de remeter o caso para a Polícia Federal. “Estávamos no meio de um depoimento, quando agentes da Polícia Federal entraram na sala e retiraram o processo”, conta. “Até hoje não entendi o que aconteceu. Era um caso de propina. Não tinha nada a ver com os federais”.
O delegado Massilon Bernardes Filho disse que o processo foi “abortado” quando estava perto da verdade. Um mês depois de aberto o inquérito, quando se preparava para ouvir um doleiro conhecido como Paco, o delegado recebeu a visita de um agente da Polícia Federal provido de ordem judicial que o autorizava a levar o processo para Brasília. O documento tinha a assinatura do juiz Romildo Bueno de Souza, então ministro do Superior Tribunal de Justiça.
Essas denúncias foram reduzidas a gatunagens de pequenas dimensões depois do inverno de 2005, quando explodiu o escândalo do mensalão, a maior coleção de delinquências federais desde o fim do regime militar, em 1984. Até então, o PT se proclamava detentor do monopólio da ética. O Caso Lubeca foi o primeiro andor da interminável procissão que já exibiu sanguessugas, aloprados, dólares na cueca, estupros de contas bancárias e outros assombros.
Hoje um dos mais prósperos advogados brasileiros, Greenhalgh continuou em cena nestes 20 anos. Incumbido pelo PT de acompanhar as investigações que não investigaram a execução do prefeito de Santo André, Celso Daniel, foi flagrado em conversas por telefone, gravadas clandestinamente, que revelaram movimentações subterrâneas destinadas a abafar o caso. Reapareceu recentemente no noticiário político-policial como advogado de Daniel Dantas e na brigada de defensores do terrorista italiano Cesare Battisti.
O advogado que mais ganha dinheiro com as indenizações pagas aos anistiados políticos tem um currículo e tanto. Insuficiente, porém, para devolvê-lo à Câmara dos Deputados na eleição de 2006. Com pouco mais de 67 mil votos, menos da metade dos quase 148 mil obtidos em 2002, é só mais um suplente.
O elenco também incluiu a prefeita de São Paulo Luiza Erundina, hoje deputada federal pelo PSB, e o agora deputado federal José Eduardo Cardozo, à época secretário de Governo. Desde 1988, quando o PT assumiu pela primeira vez o controle administrativo da maior metrópole da América Latina, todos participavam da experiência que mostraria se o discurso do partido era compatível com a prática.
A trama começou a ser desmontada na noite de 16 de outubro, num debate transmitido ao vivo pela TV Bandeirantes. Ronaldo Caiado, hoje deputado federal pelo DEM, que disputava a Presidência pelo PSD, afirmou que uma construtora repassara dinheiro para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em troca da aprovação de um projeto estacionado havia tempo nas gavetas da burocracia municipal.
As investigações apontaram para a empresa Lubeca, que não existe mais, e para Greenhalgh, acusado de infiltrar Ferraz Filho na construtora, numa sala perto do cofre. A propina de US$ 200 mil seria liberada para a tesouraria da campanha em troca da aprovação de um projeto urbanístico avaliado em US$ 600 milhões.
A denúncia foi investigada pela polícia civil e por mais duas comissões ─ uma da prefeitura, criada por Erundina e presidida por José Eduardo Cardozo, outra da Câmara Municipal. As três foram arquivadas por falta de provas. O inquérito, aberto inicialmente para apurar a suposta corrupção, acabou convertido em denúncia eleitoral contra Caiado por crime de calúnia. Levado ao Supremo Tribunal Federal, o processo também deu em nada.
Embora absolvido, o vice-prefeito foi afastado da secretaria. Quinze anos depois, quando Greenhalgh disputava a presidência da Câmara dos Deputados, a Folha de S. Paulo publicou trechos inéditos de uma conversa entre Ferraz Filho e Eduardo Pizarro Carnelós, assessor jurídico do vice-prefeito e secretário Greenhalgh. O diálogo foi gravado por Carnelós para transformar-se em prova caso a acusação de corrupção ricocheteasse em seu nome.
“Eu fui plantado na Lubeca. Fui plantado”, revela Ferraz Filho a certa altura. Quando Carnelós pergunta o nome do jardineiro, o advogado abre o jogo: “O Luiz. O Luiz. Pronto. Cara, você vai segurar?”. Dias antes da conversa, gravada em 28 de outubro de 1989, em depoimento à Câmara, Ferraz Filho recusou-se 13 vezes a identificar quem o tinha indicado para trabalhar na Lubeca.
Confrontados com a gravação, integrantes das comissões alegaram que a fita não foi anexada aos autos por ter surgido depois de encerradas as apurações. A informação é contestada por ex-funcionários, segundo os quais Carnelós divulgou na mesma época o conteúdo da fita que entregou pessoalmente a José Eduardo Cardozo. A Folha garante que Erundina teve acesso ao material no mesmo dia em que a conversa foi gravada. Ela ouviu a fita ao lado de outros petistas que se reuniram na casa do ex-secretário de Finanças, Amir Khair. A demissão de Greenhalgh ocorreu menos de uma semana depois.
Na época da reportagem, Dráusio Barreto, promotor de Justiça responsável pelas investigações, lembrou que o inquérito já tinha indícios consistentes das falcatruas quando a Polícia Civil foi surpreendida pela ordem de remeter o caso para a Polícia Federal. “Estávamos no meio de um depoimento, quando agentes da Polícia Federal entraram na sala e retiraram o processo”, conta. “Até hoje não entendi o que aconteceu. Era um caso de propina. Não tinha nada a ver com os federais”.
O delegado Massilon Bernardes Filho disse que o processo foi “abortado” quando estava perto da verdade. Um mês depois de aberto o inquérito, quando se preparava para ouvir um doleiro conhecido como Paco, o delegado recebeu a visita de um agente da Polícia Federal provido de ordem judicial que o autorizava a levar o processo para Brasília. O documento tinha a assinatura do juiz Romildo Bueno de Souza, então ministro do Superior Tribunal de Justiça.
Essas denúncias foram reduzidas a gatunagens de pequenas dimensões depois do inverno de 2005, quando explodiu o escândalo do mensalão, a maior coleção de delinquências federais desde o fim do regime militar, em 1984. Até então, o PT se proclamava detentor do monopólio da ética. O Caso Lubeca foi o primeiro andor da interminável procissão que já exibiu sanguessugas, aloprados, dólares na cueca, estupros de contas bancárias e outros assombros.
Hoje um dos mais prósperos advogados brasileiros, Greenhalgh continuou em cena nestes 20 anos. Incumbido pelo PT de acompanhar as investigações que não investigaram a execução do prefeito de Santo André, Celso Daniel, foi flagrado em conversas por telefone, gravadas clandestinamente, que revelaram movimentações subterrâneas destinadas a abafar o caso. Reapareceu recentemente no noticiário político-policial como advogado de Daniel Dantas e na brigada de defensores do terrorista italiano Cesare Battisti.
O advogado que mais ganha dinheiro com as indenizações pagas aos anistiados políticos tem um currículo e tanto. Insuficiente, porém, para devolvê-lo à Câmara dos Deputados na eleição de 2006. Com pouco mais de 67 mil votos, menos da metade dos quase 148 mil obtidos em 2002, é só mais um suplente.