"Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança". Benjamin Franklin
Pobre família. Esmagada entre teorias sobre seu fim ou sua transformação em mera empresa que gera jovens consumidores e gestores de carreiras, a família se despedaça sob a bota da instrumentalização da vida. Perdoe-me o leitor por contaminar sua segunda-feira com palavras de horror. Sou obrigado a fazê-lo.
E mais. Pais atormentados por mudanças que desqualificam seu lugar de homens despencam num abismo de sensibilidades, no fundo indesejadas por suas parceiras. Mães espremidas pelas obrigações advindas da emancipação de sua condição de mulher, ameaçadas pela solidão de quem aposta demasiadamente nas propagandas de sucesso pessoal, no fundo apavoradas como sempre estiveram pela deformação de seus corpos diante do desejo ávido masculino por mulheres cada vez mais jovens. Homens e mulheres acuados pela imensa montanha de idealizações.
A dependência de especialistas em como educar filhos se torna mais aguda do que a dependência do sexo, do álcool ou do tabaco. Bom o tempo em que tudo que temíamos era a luxúria dos corpos que ardiam na escuridão dos quartos. A insegurança de cada passo mostra seus dentes diante dos filhos que crescem ao sabor de um mundo que se torna cada vez mais exigente e, por isso mesmo, mais cruel. A associação entre demanda de sucesso e crueldade parece escapar aos especialistas na vida bem sucedida.
O fracasso é o pai do humano que se quer humano. Eis o maior de todos os impasses. Alguns praticantes das ciências parecem analfabetos tolos diante desta máxima e, por isso, repetem alegres suas crenças bobas nos instrumentos do progresso. Enganam-se, em sua infância intelectual, quando pensam que nós, céticos desta Babel, amamos o sofrimento, quando na realidade sabemos apenas de sua inevitabilidade como condição da humanização. É uma ciência da inevitabilidade do sofrimento que falta a estas almas superficiais que ainda chafurdam nas crenças do século 18.
Esses chatos, montados em suas análises jurídicas, sociológicas e psicológicas, atormentam a família, que fica perdida em meio a uma ciência moralista que tem como uma de suas taras a intenção de provar a incompetência dos homens e das mulheres na labuta com suas crias. Agora esses chatos decidiram que vão mandar nas compras de sucrilhos e nas idas ao McDonald's.
Tomados pelo furor da lei, esses puritanos querem ensinar padre-nosso ao vigário, assumindo que os pais precisam de tutela na hora de comprar comida para seus filhos. Nada de bonequinhos, nada de brindes, apenas embalagens feias como caixotes soviéticos. Daqui a pouco, vão proibir mulheres bonitas nas propagandas e as gotas de cerveja que escorrem por suas saias curtas. Riscarão do mapa carros que desfilam homens charmosos. Uma verdadeira pedagogia do horror como higiene do bem.
O problema com este higienismo é que ele pensa combater em nome da liberdade, mas, na realidade, restringe ainda mais a liberdade, esmagando-a em nome desta senhora horrorosa que se chama "cidadania". Esta senhora, que tende ao desequilíbrio quando se faz cheia de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa, e dela guarda seu gosto pela humilhação. Deve, portanto, permanecer sob "medicação", porque detesta o homem comum e sua miséria cotidiana que carrega nossa identidade mais íntima. Sob a égide da defesa do bem comum, ela, quando investida da condição de rainha louca da casa, amplia o sentido dessa "coisa pública" elevando-a a categoria de uma geometria moral da intolerância.
Deixe-nos em paz com nossos filhos mal educados, com maus hábitos alimentícios, viciados em televisão e computador, aos berros para ganhar o McLanche Feliz. A negação da liberdade vem acompanhada da afirmação do que é a liberdade certa. Liberdade sempre pressupõe o desgosto e uma certa desordem indesejável. Daqui a pouco, vão dizer que não podemos comprar chocolates com personagens infantis (como se o gosto do chocolate para uma criança fosse "apenas o gosto do chocolate").
Em seguida, obrigarão nossas crianças a ler livros com meninas beijando meninas e histórias onde Jesus era africano. Criarão aulas onde meninos aprendam a colocar camisinha em bananas com a boca, afinal a igualdade entre os sexos deve passar pelo esmagamento da privacidade suja dos preconceitos, como se a vida fosse possível sem sombras, sob o calor sufocante da luz.
Pobre família. Esmagada entre teorias sobre seu fim ou sua transformação em mera empresa que gera jovens consumidores e gestores de carreiras, a família se despedaça sob a bota da instrumentalização da vida. Perdoe-me o leitor por contaminar sua segunda-feira com palavras de horror. Sou obrigado a fazê-lo.
E mais. Pais atormentados por mudanças que desqualificam seu lugar de homens despencam num abismo de sensibilidades, no fundo indesejadas por suas parceiras. Mães espremidas pelas obrigações advindas da emancipação de sua condição de mulher, ameaçadas pela solidão de quem aposta demasiadamente nas propagandas de sucesso pessoal, no fundo apavoradas como sempre estiveram pela deformação de seus corpos diante do desejo ávido masculino por mulheres cada vez mais jovens. Homens e mulheres acuados pela imensa montanha de idealizações.
A dependência de especialistas em como educar filhos se torna mais aguda do que a dependência do sexo, do álcool ou do tabaco. Bom o tempo em que tudo que temíamos era a luxúria dos corpos que ardiam na escuridão dos quartos. A insegurança de cada passo mostra seus dentes diante dos filhos que crescem ao sabor de um mundo que se torna cada vez mais exigente e, por isso mesmo, mais cruel. A associação entre demanda de sucesso e crueldade parece escapar aos especialistas na vida bem sucedida.
O fracasso é o pai do humano que se quer humano. Eis o maior de todos os impasses. Alguns praticantes das ciências parecem analfabetos tolos diante desta máxima e, por isso, repetem alegres suas crenças bobas nos instrumentos do progresso. Enganam-se, em sua infância intelectual, quando pensam que nós, céticos desta Babel, amamos o sofrimento, quando na realidade sabemos apenas de sua inevitabilidade como condição da humanização. É uma ciência da inevitabilidade do sofrimento que falta a estas almas superficiais que ainda chafurdam nas crenças do século 18.
Esses chatos, montados em suas análises jurídicas, sociológicas e psicológicas, atormentam a família, que fica perdida em meio a uma ciência moralista que tem como uma de suas taras a intenção de provar a incompetência dos homens e das mulheres na labuta com suas crias. Agora esses chatos decidiram que vão mandar nas compras de sucrilhos e nas idas ao McDonald's.
Tomados pelo furor da lei, esses puritanos querem ensinar padre-nosso ao vigário, assumindo que os pais precisam de tutela na hora de comprar comida para seus filhos. Nada de bonequinhos, nada de brindes, apenas embalagens feias como caixotes soviéticos. Daqui a pouco, vão proibir mulheres bonitas nas propagandas e as gotas de cerveja que escorrem por suas saias curtas. Riscarão do mapa carros que desfilam homens charmosos. Uma verdadeira pedagogia do horror como higiene do bem.
O problema com este higienismo é que ele pensa combater em nome da liberdade, mas, na realidade, restringe ainda mais a liberdade, esmagando-a em nome desta senhora horrorosa que se chama "cidadania". Esta senhora, que tende ao desequilíbrio quando se faz cheia de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa, e dela guarda seu gosto pela humilhação. Deve, portanto, permanecer sob "medicação", porque detesta o homem comum e sua miséria cotidiana que carrega nossa identidade mais íntima. Sob a égide da defesa do bem comum, ela, quando investida da condição de rainha louca da casa, amplia o sentido dessa "coisa pública" elevando-a a categoria de uma geometria moral da intolerância.
Deixe-nos em paz com nossos filhos mal educados, com maus hábitos alimentícios, viciados em televisão e computador, aos berros para ganhar o McLanche Feliz. A negação da liberdade vem acompanhada da afirmação do que é a liberdade certa. Liberdade sempre pressupõe o desgosto e uma certa desordem indesejável. Daqui a pouco, vão dizer que não podemos comprar chocolates com personagens infantis (como se o gosto do chocolate para uma criança fosse "apenas o gosto do chocolate").
Em seguida, obrigarão nossas crianças a ler livros com meninas beijando meninas e histórias onde Jesus era africano. Criarão aulas onde meninos aprendam a colocar camisinha em bananas com a boca, afinal a igualdade entre os sexos deve passar pelo esmagamento da privacidade suja dos preconceitos, como se a vida fosse possível sem sombras, sob o calor sufocante da luz.