sexta-feira, 21 de maio de 2010

Mac Margolis, Newsweek - Diplomacia de velhaco

Em vez de ajudar resolver os problemas do mundo, Lula está flertando com os autocratas e ditadores.

Há apenas um ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era amplamente festejado como o homem que tinha transformado o Brasil em uma usina competitiva, a China da América Latina. Isso não é o que dizem agora. Em lugar de usar a proeminência do Brasil para pressionar regimes isolacionistas no sentido de respeitar direitos humanos e obedecer às regras internacionais em usar a energia nuclear, Lula, de repente, parece inclinado em amainar controvérsias e acomodar demagogos. Ele habitualmente comercia e troca abraços com Hugo Chávez, mesmo quando o líder venezuelano silencia a mídia e molesta seus oponentes. Os diplomatas de Brasília se abstiveram de votar na condenação dos abusos generalizados dos direitos humanos na Coréia do Norte. Lula cancelou uma visita à tumba do fundador do sionismo, Theodor Herzl, mas achou tempo para adornar a sepultura de Yasir Arafat. E em fevereiro, Lula posou para uma série de fotos com Fidel Castro enquanto, a alguns quilômetros dali, ocorriam protestos lamentando a morte de Orlando Zapata Tamayo, dissidente político que morreu depois de uma greve de fome de 85 dias em uma prisão de Havana.

O aspecto mais preocupante da política externa de Lula tem sido o namoro dele com o Irã. Ano passado, diante do resultado sangrento das eleições iranianas fraudadas, o brasileiro defendeu abertamente a vitória “democrática” de Mahmoud Ahmadinejad e comparou os eleitores da “Revolução Verde”, partido derrotado, a torcedores fazendo beicinho de perdedores depois de uma partida de futebol. Desde então, Lula passou a falar sobre o direito do Irã enriquecer urânio e subestimou as advertências dos principais poderes - a ONU e a Agência Internacional de Energia Atômica - de que Teerã estaria desenvolvendo uma bomba. Lula também se ofereceu para servir como intermediário entre Washington e Teerã, mas os críticos advertiram que diplomacia nuclear não é lugar para freelancers. “Tentar chamar a atenção mundial para si é bom, mas depende de como você quer ser notado”, diz Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Americas.

Esta tendência é parte oportunismo econômico. O comércio entre o Irã e o Brasil cresceu 40% por cento, para $2 bilhão, desde que Lula assumiu em 2003. Mas o custo disso foi a repentina tensão de relações entre Brasília e Washington, e é provável que elas ainda esfriem alguns graus com a visita programada por Lula ao Irã, no dia 15 de maio.

Além disso, a espinhosa política externa do Brasil é exacerbada por uma luta dentro do seu próprio meio diplomático, onde o anti-americanismo que ainda data da Guerra Fria é profundamente arraigado. Até dois anos atrás, o Itamaraty exigia que os diplomatas jovens lessem obras de segunda linha, trabalhos neo-marxistas com títulos como “Brasil e Estados Unidos: Relações Perigosas” (o programa foi reformado desde então). O próprio Lula pareceu dirigido a acumular capital político em casa cultivando remendos esquecidos no mundo em desenvolvimento. Quase todas as 35 embaixadas que ele abriu desde que assumiu a Presidência estão na África, no Caribe e na Ásia. Mas com as eleições de outubro se aproximando, a sua política externa sulista se parece mais com um calmante para a ala mais à esquerda do Partido dos Trabalhadores, que nunca engoliu sua economia conservadora. “A política externa aquecida é tudo para o ritmo da campanha”, diz Luiz Felipe Lampreia, ministro das Relações Exteriores anterior.

Uma leitura mais generosa é que o Brasil ainda é um parente recém-chegado ao mundo da diplomacia de alto risco e sofre de uma espécie de ansiedade de principiante. “A política externa exige capital intelectual”, diz Matias Spektor, um especialista em assuntos do Brasil no exterior. “O Brasil ainda está mal preparado para participar de um mundo globalizado.” Agora, como Lula cresceu em arrogância, o risco é o uso que faz da política externa com entalhes políticos de pouca coerência, desperdiçando o notável legado de pragmatismo e imparcialidade que foram âncoras do país durante a maior parte da década passada.