segunda-feira, 9 de maio de 2011

Lucia Hippolito: Osama e a negritude

No caso da ordem do Executivo para que o comando americano matasse Osama Bin Laden, estou fechada com o governo americano.

O homem tinha que ser morto.

Vivo, geraria uma fortuna para advogados, ONGs de boas e más intenções.

Mulheres de todas as idades e todas as religiões quereriam se casar com ele.

Todos os Oliver Stones e demais oportunistas se apresentariam, junto com o Sting, naturalmente, explorando o cacique Raoni, para fazer um filme sobre ele.

Ah, e não vamos esquecer o James Cameron. Já imaginaram um Avatar de Osama? Imperdível!

Haveria discussões intermináveis sobre direitos humanos.

Pior ainda: os Estados Unidos tinham que matá-lo rápido. Caso contrário, o homem poderia morrer de uma infecção dentária, por exemplo, ou de uma diarreia, e ninguém ia contar.

Daqui a dez anos ou mais, um desertor diria que ele morreu em 2012, por exemplo, e todo mundo diria que era mais uma armação da CIA.

Não seria a primeira. Nem será a última.

A ordem de Obama foi: mata, mostra a foto e joga o cadáver no mar.

Por que não preservar o corpo?

Já imaginaram o comércio legal, e sobretudo ilegal, de dedinhos, ossinhos, restos mortais do “amado” Osama? Pedaços da roupinha?

Há dois mil anos vendem pedaços da cruz de Cristo, que, juntos, dariam para construir um porta-aviões.

Sem contar os pedacinhos do véu de Nossa Senhora nos escapulários pelo mundo afora…

O mundo cristão conhece muito bem isso.

E não vamos nos iludir: o mundo muçulmano está adorando. Já imaginaram um rival de Maomé?! Ou mesmo de seu genro Ali, chefe espiritual dos xiitas?

Assim, o mundo inteiro está em paz.

O presidente Obama não fugiu às suas responsabilidades.

O mundo das ONGs tem um tema para se ocupar.

O mundo muçulmano tem alguma coisa para se distrair, em vez de matar israelenses.

Estes, por sua vez, também estão encantados, e dão uma trégua na matança dos palestinos.

Só os africanos, que não dão a mínima para Osama Bin Laden, continuarão a se matar alegremente, nesses novos tempos de afirmação da negritude.

Viva Léopold Senghor! Viva a negritude!