quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Hiran Reis e Silva: Escravidão e os “Paradisíacos” Quilombos

A origem da escravidão deve igualmente ser revista para que o pretenso resgate proposto, sistemas de cotas, Comunidades Quilombolas, não acabe fomentando, no país, um “Apharteid Étnico” idêntico ao que se vê hoje implantado pelos indígenas da Raposa e Serra do Sol, em relação aos não índios. O costume de vender os prisioneiros de guerra era bastante comum entre as diversas etnias africanas; a escravidão foi durante muito tempo uma prática corriqueira em todas as civilizações, independente da cor da pele.

“Se algum escravo fugia dos Palmares, eram enviados negros no seu encalço e, se capturado, era executado pela ‘severa justiça’ do quilombo”. (CARNEIRO)

Os negros africanos foram, de longe, os maiores traficantes de escravos negros. A tradição estava tão arraigada que um escravo liberto, imediatamente, buscava adquirir um escravo para si mesmo numa demonstração inequívoca de “status”. O “herói” Zumbi dos Palmares, personagem que virou símbolo da luta contra o racismo no país, tinha seus próprios escravos. Os escravos que se negavam a fugir das fazendas e ir para os Quilombos eram capturados e transformados em cativos dos quilombolas. Palmares lutava contra a escravidão própria, mas não pela escravidão alheia. Para reforçar a idéia de que os escravos brasileiros, talvez, tenham sobrevivido somente porque vieram para o Brasil, vamos lembrar que os países da “Mãe África” foram os últimos a abolir a escravidão e que os genocídios étnicos, na região, continuam acontecendo nos dias de hoje. Certamente, os grupos capturados, na época, caso não fossem vendidos, teriam sido sumariamente exterminados lá mesmo.

Jornalista Leandro Narloch

Fonte: Revista Veja – Edição 2.087 – 19/11/2008.

“(…) Ao longo dos séculos, Zumbi se tornou uma figura mítica, festejado como o herói da luta contra a escravidão. O que realmente se sabe dele, como personagem histórico, é muito pouco. (…) Como ocorre com Tiradentes e outros heróis históricos que servem à celebração de uma causa, a figura de Zumbi que passou à posteridade é idealizada. Ao longo do século XX, principalmente nos anos 60 e 70, sob influência do pensamento marxista, Palmares foi retratada por muitos historiadores como uma sociedade igualitária, com uso livre da terra e poder de decisão compartilhado entre os habitantes dos povoados.

Uma série de pesquisas elaboradas nos últimos anos mostra que a história de Zumbi e do Quilombo dos Palmares ensinada nos livros didáticos tem muitas distorções. Muito do que se conta sobre sua atuação à frente do Quilombo é incompatível com as circunstâncias históricas da época. O objetivo desses estudos não é colocar em xeque a figura simbólica de Zumbi, mas traçar um quadro realista, documentado, do homem e de seu tempo. Os novos estudos sobre Palmares concluem que o Quilombo, situado onde hoje é o estado de Alagoas, não era um Paraíso de Liberdade, não lutava contra o sistema de escravidão nem era tão isolado da sociedade colonial quanto se pensava.

O retrato que emerge de Zumbi é o de um rei guerreiro que, como muitos líderes africanos do século XVII, tinha um séquito de escravos para uso próprio. “É uma mistificação dizer que havia igualdade em Palmares”, afirma o historiador Ronaldo Vainfas, professor da Universidade Federal Fluminense e autor do Dicionário do Brasil Colonial. “Zumbi e os grandes generais do quilombo lutavam contra a escravidão de si próprios, mas também possuíam escravos”, ele completa. Não faz muito sentido falar em igualdade e liberdade numa sociedade do século XVII porque, nessa época, esses conceitos não estavam consolidados entre os europeus. Nas culturas africanas, eram impensáveis.

Desde a Antiguidade e principalmente depois da conquista árabe no norte da África, a partir do século VII, os africanos vendiam escravos em grandes caravanas que cruzavam o Deserto do Saara. Na época de Zumbi, a região do Congo e de Angola, de onde veio a maioria dos escravos de Palmares, tinha reis venerados como se fossem divinos. Muitos desses monarcas se aliavam aos portugueses e enriqueciam com a venda de súditos destinados à escravidão.

“Não se sabe a proporção de escravos que serviam os Quilombolas, mas é muito natural que eles tenham existido, já que a escravidão era um costume fortíssimo na cultura da África”, diz o historiador carioca Manolo Florentino autor do livro “Em Costas Negras”, uma das primeiras obras a analisar a história do Brasil com base nos costumes africanos. Zumbi, segundo os novos estudos sobre Palmares, seria descendente de uma classe de guerreiros africanos que ora ajudava os portugueses na captura de escravos, ora os combatia

Quando enviados ao Brasil como escravos, os nobres africanos freqüentemente formavam sociedades próprias – uma delas pode ter sido Palmares. Para chegar a esse novo retrato de Zumbi e do Quilombo, os historiadores analisaram as revoltas escravas partindo de modelos parecidos que ocorreram em outros lugares da América e da África. Também voltaram às cartas, relatos e documentos da época, mostrando como cada historiografia montou o quilombo que queria.

O principal historiador a reinterpretar o que ocorreu nos quilombos é o carioca Flávio dos Santos Gomes. Ele escreve no livro Histórias de Quilombolas: “Ao contrário de muitos estudos dos anos 1960 e 1970, as investigações mais recentes procuraram se aproximar do diálogo com a literatura internacional sobre o tema, ressaltando reflexões sobre cultura, família e protesto escravo no Caribe e no sul dos Estados Unidos”. Atendo-se às fontes primárias e ao modo de pensar da época, os historiadores agora podem garimpar os mitos de Palmares que foram construídos no século XX.

Narloch mostra no seu livro como o viés ideológico pode tentar, de qualquer maneira, ferindo todos os princípios éticos, se sobrepor à pesquisa documental dos fatos.

A imaginação sobre Zumbi foi mais criativa na obra do jornalista gaúcho Décio Freitas, amigo de Leonel Brizola e do ex-presidente João Goulart. No livro “Palmares: A Guerra dos Escravos”, Décio afirma ter encontrado cartas mostrando que o “herói” cresceu num Convento de Alagoas, onde recebeu o nome de Francisco e aprendeu a falar latim e português. Aos 15 anos, atendendo ao chamado do seu povo, teria partido para o Quilombo.

As cartas sobre a infância de Zumbi teriam sido enviadas pelo Padre Antônio Melo, da Vila alagoana de Porto Calvo, para um Padre de Portugal, onde Décio as teria encontrado. Ele nunca mostrou as mensagens para os historiadores que insistiram em ver o material. A mesma suspeita recai sobre outro livro “O Maior Crime da Terra”. O historiador Cláudio Pereira Elmir procurou por cinco anos algum vestígio dos registros policiais que Décio cita. Não encontrou nenhum. “Tenho razões para acreditar que ele inventou as fontes e que pode ter feito o mesmo em outras obras”, disse-me Cláudio no fim de 2008. O nome de Francisco, pura cascata de Décio Freitas, consta até hoje no Livro dos Heróis da Pátria da Presidência da Republica. (NARLOCH)

O Novo Quilombo dos Palmares

O Que se Pensava:

O Quilombo era uma sociedade igualitária, com uso livre da terra e poder de decisão compartilhado;

Zumbi lutava contra a escravidão;

Zumbi foi criado por um Padre, recebeu o nome de Francisco e aprendeu Latim;

Ganga-Zumba, líder que antecedeu Zumbi, traiu o Quilombo ao fechar acordo com os portugueses.

O Que se Pensa Hoje:

Havia em Palmares uma hierarquia, com servos e reis tão poderosos quanto os da África;

Zumbi e outros chefes tinham seus próprios escravos;

As cartas em que um Padre daria detalhes da infância de Zumbi foram forjadas;

Ao romper o acordo com Portugal, Zumbi precipitou a destruição do Quilombo.

Preconceito de Raça ou de Cor

Por Higino Veiga Macedo

“Tem-se ouvido cada vez mais e tem-se visto cada vez mais reações de que há preconceito de raça no Brasil. Querem dizer que há preconceito de cor particularmente contra os negros. O político radical de esquerda tenta buscar eleitores no que eles classificam de Oprimidos pelo Sistema Capitalista. Os demais políticos buscam os votos se enrolando nas bandeiras do “socialmente justo” não diferente dos radicais, mas pecam pela omissão de informar que os radicais são apenas demagogos. Os chamados conservadores também se acovardam para não se incomodarem. Alegam ser aqui mais cruel do que foi na África do Sul e do que nos EUA, por ser velada, sub-reptícia, dissimulada.

Para os baianos, ser chamados de “preto” é ofensa porque preto é cor. Ser chamados de “negro” é aceitável porque negro é raça. E assim as mentiras vão se tornando verdades.

O preconceito está na cabeça daquele que se diz discriminado. Mesmo não havendo a discriminação, ele acha que há porque é ele o preconceituoso. Julga todas as pessoas que o cercam, pelo que ele é capaz de fazer ou capaz de ser. Os defensores dos negros os incluem entre as minorias. Basta verificar os índices do IBGE e verifica-se que são maiorias. Alegam que os pobres, os presos e os analfabetos são pretos. Bom, isso é verdade, mas não falam do enorme salto qualitativo que a cada geração os negros estão tendo.

Ao invés de olhar o meio copo vazio, deveriam ver o meio copo cheio. Quantos negros bem sucedidos tem? Isso ninguém conta. Há cem anos eram escravos e, portanto, sem direito nenhum. Ficaram como escravos por mais de trezentos anos. Vamos analisar o meio copo cheio. Quem os escravizou e por quê? Quem os escravizou foram os próprios negros. Eram tribais, bárbaros, antropófagos alguns e que, por guerra entre tribos, os vencedores vendiam os vencidos como escravos. “Ai dos vencidos” disse Breno, General Gaulês, muito antes do descobrimento da América.

Só os portugueses compravam escravos? Não. Quem começou o comércio de escravos com as Américas Colônias (do norte, do sul e central) foram os ingleses. Mas, se formos à história antiga, veremos que, no império egípcio, nas repúblicas gregas, nas cidades fenícias, havia escravos negros. Negros da Núbia. Então a coisa já havia antes de os portugueses chegarem ao Brasil. E no Brasil, mesmo sendo por trezentos anos escravos e mais cem anos evoluindo, foram bem sucedidos. Imaginem os que ficaram em Angola, Moçambique, e em outras regiões da África que forneceram escravos e eram da mesma família dos que para cá vieram! Isto é, eram da mesma carga genética. Pois bem, quais os descendentes têm melhor qualidade de vida depois de quatrocentos anos? Os daqui ou os que ficaram lá? Ah! Mas foram escravos. Sim. Foram como muitos povos foram. Vejam os judeus. Mais de século só no Egito. Mesmo depois de conduzidos por Moisés, quantas diásporas sofreram?

E o que falar dos índios Guanás, escravizados pelos Guaicurus sabe-se lá quantos séculos também. Os Guanás foram escravos até a guerra com o Paraguai. Pois bem, mesmo sendo escravos, os que tiveram a fortuna de vir para o Brasil têm seus descendentes em melhores situações dos que ficaram na África. Precisam melhorar, mais, suas condições de vida? Claro que precisam. Mas para isso têm de buscar seu espaço sem privilégio. Merecem oportunidades iguais com os brancos, amarelos ou italianos, judeus, alemães, bolivianos, paraguaios. Por que cotas em universidade só para negros? E os Guaicurus, que defenderam o Oeste do Brasil, não merecem? Se negros podem frequentar universidade sem capacitação intelectual, então por que não fazer o mesmo com os índios? Nivela-se então mais por baixo ainda: basta saber apenas ler em português para entender os professores. E, daí, teremos médicos índios, advogados índios e engenheiros índios. Quem os contratará é que será o problema.

Se a escravidão imposta por portugueses foi perversa com a vida dos negros, o que falar da vida dos Guaranis, dos Tupis, dos Payaguás, dos Aimorés… Era bom, também, que usassem os critérios de cotas para as equipes olímpicas de 4×100, 4×400 e outras modalidades de atletismo para beneficiar os brancos.

Por que o desprivilégio, a discriminação contra os brancos? Ah, mas aí é por desempenho atlético. Se assim for, que o “desempenho”, atlético ou intelectual, seja o poder discriminante para todas as atividades. Não se pode alimentar a luta de raça como se alimentou a luta de classe. A luta de classe até hoje não libertou os trabalhadores de serem trabalhadores. Os que evoluíram como trabalhadores o fizeram por oportunidades de preparo intelectual sejam pretos, brancos ou amarelos. Não se pode alimentar culto separatista como o culto à Mamãe África, pois todos são brasileiros. Se a África é tão boa, voltem para lá como fizeram os liberianos. Voltaram e são mais miseráveis que os que ficaram na América do Norte.

Blocos de Olodum com proibição de brancos, sob alegação de ser religião, é uma afronta tanto quanto era no sul a proibição de negros nas calçadas de brancos. É de se supor que os baianos se comportem como os judeus que, por sua religião, lutariam nos exércitos israelenses numa guerra de Israel contra o Brasil embora nascidos em terras de pindoramas. O Brasil, os brasileiros, os índios e todos que aqui moram não têm nenhuma dívida com a África ou com africanos. Um foi vencido em sua terra; o outro foi escravizado a partir de sua terra e o outro mais foi degredado para esta terra. Ninguém deve nada a ninguém. Somos uma nova raça no planeta. Assim, já temos no mundo: branco, negro, amarelo e brasileiro. (MACEDO)