Dois artigos importantes da época ajudam a ententer o imbroglio que já vem desde 2006. Este é de ninguém menos que Tereza Cruvinel, a ex-presidente da EBC, nomeada por Lula, que implantou a TV Brasil.
Ela cita, incusive o site “O Informante”, do qual participei ativamente, sendo mais xingado que juiz de futebol ladrão – o site era petralha e teve vida efêmera até Lula ser reeleito.
Morreu tarde a lista de Furnas
Tereza Cruvinel, Panorama Político, O Globo (24/03/06)
Na lixeira em que está se transformando a atividade política, sob o império do jogo rasteiro, pelo menos uma imundície foi removida, a tal lista de Furnas.
Primeiramente a fraude foi atestada pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC), órgão da Polícia Federal. Agora laudos de dois grandes peritos criminais do país — Celso Mauro Ribeiro Del Picchia e Mauro Ricart Ramos — também atestam a sua montagem. As rubricas são falsas, a assinatura de Dimas Toledo é falsa. Até o papel timbrado foi montagem.
Os laudos são peças de cem páginas, com fotografias, exames grafotécnicos, medições técnicas, etc. São conclusivos e categóricos.
A ação que será movida pelo corregedor do Senado, Romeu Tuma, deve envolver, além do lobista Nilton Monteiro, o servidor Luis Fernando Carceroni e o deputado estadual (MG) petista Rogério Correa.
A situação de Carceroni se complica mais porque além de divulgar a lista ele assinou um texto de introdução divulgado pela internet, conferindo-lhe veracidade. Rogério Correia chegou a garantir ter visto os originais.
Removido este entulho, é importante descobrir e punir quem quebrou o sigilo do caseiro Francenildo. Mas a CPI dos Bingos perde a razão quando faz como ontem: fez rodar uma fita, em sessão aberta e transmitida ao vivo, com gravação ilegal de uma conversa entre Rogério Buratti e uma funcionária da prefeitura de Ribeirão Preto.
PT divulga site amigo
O boletim “Informes”, da Liderança do PT na Câmara, divulgou e recomendou o site “O Informante”. O objetivo, veja só, é “preencher as lacunas deixadas pela mídia brasileira”. Entre os colaboradores do “Informante” está Luiz Fernando Carceroni, um dos divulgadores do papelório que ficou conhecido como “Lista de Furnas”. Ele, de fato, preencheu uma lacuna na crise.
Eis o texto do “Informes”:
“Preencher as lacunas deixadas pela mídia brasileira. Esse é o objetivo do site “O Informante”, disponível no endereço www.informante.net. Atualizado diariamente, o site conta com artigos e notícias sobre economia, saúde, educação, meio ambiente, trabalho, política social, infra-estrutura, agricultura, cultura, política externa, esporte, turismo e justiça”.
“O Informante” foi criado como complemento do Grupo de Discussão Tribuna na Internet. “Esse grupo destina-se ao debate, à troca de informações e à divulgação de artigos de interesse geral entre cidadãos que acreditam que erros, desvios e até crimes de alguns indivíduos não podem comprometer a imagem de todo um grupo”, informam os responsáveis pelo site. Os principais colaboradores de “O Informante” são Alexandre Porto, Alyda Sauer, Hilda Lima, Luiz Claudio R. Santos, Luiz Fernando Carceroni e Luiz Gastão A. M. Gaia”.
Outro, da mesma data, é de Fernando Rodrigues, da Folha:
“Lista de Furnas” tem erros e inconsistências
Fernando Rodrigues
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O conjunto de papéis sem autenticação conhecido como “lista de Furnas” é cheio de erros factuais, tem inconsistências técnicas (mesmo para uma fotocópia) e só poderá algum dia ter sua veracidade avaliada se o original aparecer – o que hoje é uma aposta incerta.
A “lista de Furnas” é composta por cinco folhas de papel. São supostamente fotocópias de uma fotocópia que havia sido tirada e autenticada em cartório, no Rio de Janeiro, a partir de um documento original. Está à disposição na internet desde o final do ano passado, em sites de pessoas que são simpatizantes do PT.
Estão citados nas cinco folhas 156 políticos de 12 partidos políticos (PDT, PFL, PL, PMDB, PP, PPS, Prona, PRTB, PSB, PSC, PSDB e PTB). Todos teriam recebido dinheiro de um esquema de caixa dois montado a partir da estatal federal de energia Furnas. Parte dos citados já veio a público para negar a informação.
O valor total das supostas doações é de R$ 39,665 milhões. Teriam sido efetuadas nas eleições de 2002. A data no final do papel é 30 de novembro de 2002. A autenticação da fotocópia, porém, deu-se só em 22 de setembro de 2005.
Até agora, só o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), cassado em 2005, admitiu como verdadeira a informação contida sobre ele: a de que recebeu R$ 75 mil por intermédio de Dimas Fabiano Toledo, um ex-diretor de Furnas.
Dimas já emitiu nota e nega o conteúdo e a autoria do documento – sua assinatura está no papel, com a autenticação “por semelhança” obtida em cartório. Embora o papel seja de 2002, a autenticação que consta para a assinatura do ex-diretor de Furnas foi obtida num cartório do Rio só em 5 de agosto do ano passado.
Origem
A primeira dúvida sobre a “lista de Furnas” é com relação ao fato de o suposto documento original nunca ter aparecido. As fotocópias disponíveis na internet são derivadas parcialmente de uma iniciativa do professor aposentado Luiz Fernando Carceroni, 58, de Minas Gerais. Ele é filiado ao PT desde 1980, quando ajudou a fundar a seção mineira da sigla.
“[Foi] o deputado estadual Rogério Correia, aqui do PT de Minas, quem me passou o papel. Ele disse ter visto o original. Escaneei os papéis e comecei a mandar para amigos e jornalistas. Fiz a minha obrigação, pois também representei para o Ministério Público, para a Polícia Federal e para a Controladoria-Geral da União”, disse Carceroni.
Segundo o petista, que vive em Belo Horizonte, o deputado Rogério Correia teria recebido a fotocópia de Nilton Monteiro, um lobista que seria o detentor do suposto documento original. Monteiro não admite em público ter esse papel em seu poder.
Rogério Correia, 47, segundo-vice-presidente da Assembléia mineira, confirma a história. “Vi o original em novembro. O Nilton me mostrou”, diz. Qual era a cor da suposta assinatura de Dimas Toledo no original? “Difícil lembrar”, responde o deputado.
Ao ver o papel dito original, foi possível notar se a assinatura estava escrita a caneta, deixando marcas no papel ou se poderia ter sido impressa eletronicamente? “Não posso afirmar nada sobre isso também. Seria necessário periciar”, responde Correia. Onde está o original? “O Nilton diz que não tem mais. Diz que deu para um advogado, que já morreu.”
Tio Patinhas
Nesta semana, começou a circular na internet uma versão da primeira página da “lista de Furnas” diferente da que vinha sendo divulgada. O nome de um dos políticos foi substituído. Em seu lugar aparece escrito “Tio Patinhas”, o personagem infantil de revistas em quadrinhos.
Com os recursos disponíveis em informática, é possível alterar totalmente os papéis e imprimir novas cópias. Como são fotocópias, não há como provar qual foi o primeiro a ser montado.
Mesmo que exista um original que tenha dado origem à autenticação das fotocópias – até porque um cartório no Rio atestou nesta semana ser verdadeiro o selo que está na cópia– , nada impede que o original também tenha sido montado.
Os recursos de computadores domésticos hoje permitem a alguém escanear uma assinatura verdadeira e imprimi-la com a cor azul, imitando a de uma caneta, sobre um outro documento. Ao levar ao cartório esse papel montado e com aparência de original, dificilmente o atendente terá condições de identificar a fraude e fará a autenticação “por semelhança” – conferindo com a assinatura disponível em ficha arquivada.
Como o original não está disponível, não é possível dizer se a assinatura ali impressa é fruto de uma montagem ou se foi mesmo produzida pela mão de Toledo.
Além dessas dúvidas técnicas, a “lista de Furnas” traz também erros factuais e inconsistências no que diz respeito à realidade política das pessoas citadas.
O redator do material teve o cuidado de usar um papel timbrado de Furnas, escreveu “confidencial” no cabeçalho das cinco páginas, listou a distribuição de milhões de reais, mas errou o Estado de um deputado e citou candidatos a deputado que não concorreram na eleição.
O corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), está na “lista de Furnas”. Nega ter recebido dinheiro do suposto esquema. “Meu nome está lá, mas com um erro grosseiro. Falam que eu sou de Pernambuco, e eu sou do Piauí”, afirmou.
Os nomes de Luiz Paulo Velloso Lucas (ex-prefeito de Vitória, no Espírito Santo) e de Francisco Luiz Gomide (ex-ministro de Minas e Energia em 2002) aparecem como candidatos eleitos a deputado federal, mas nenhum dos dois chegou a se candidatar nas eleições de 2002.
E achou, na pessoa do ex-coordenador do PROCOM de Belo Horizonte, um certo LUIZ FERNANDO CARCERONI (carceron@superig.com.br), que colocou a papelama na internet através de um site de desenvolvedores de sites, o PontoFlash. Estranhamente, este é o único material “político” do site. Carceroni, por ter tido atuação pública em governos petistas, inventou então um espalhafatoso apelido, Stanley Burburinho Clarivaldo. E foi em frente, no que se deu muito mal.