Este é um encontro do povo com o governo. Encontro com esta
multidão e com os milhões que, através dos seus rádios, do recesso de seus
lares, estão presentes não apenas para aplaudir, mas para dialogar com o
governo. Se fosse apenas para aplaudir, não seríamos um povo independente, mas
um rebanho de ovelhas. O povo está aqui para clamar, para reivindicar, para
exigir e para declarar sua inconformidade com a situação que estamos vivendo.
Saudamos o governo pelo seu gesto democrático. Porque é
realmente democrático um governante descer para o diálogo com o povo. E estamos
certos de que o presidente não veio, nesta noite, apenas para falar, mas para
ouvir e para ceder ao povo brasileiro. Para ceder a esta pressão – é a voz que
vem da fonte de todo o poder, é a pressão popular, a que com honra, um
governante deve se submeter.
Quero citar e aplaudir estes dois atos que devem deflagrar
um processo de transformação em nosso país: o decreta a Supra e o decreto de
expropriação das refinarias de petróleo.
Povo e governo, num país como o nosso, devem formar uma
unidade. Unidade esta que já existiu em agosto de 1961, quando o povo
praticamente de fuzil na mão, repeliu o golpismo que nos ameaçava e garantiu os
nossos direitos. Unidade, esta, que já existiu no plebiscito de janeiro de 1963,
quando mais de dez milhões de brasileiros exigiram o fim da conciliação do
parlamentarismo e a realização imediata das reformas.
Quando uma multidão
se reúne como nesta noite, isto significa um grito do nos caminhos da sua libertação.
Em verdade, se conseguirmos hoje a restauração daquela unidade, o presidente poderá
retornar, através da manifestação do povo, às origens de seu governo. E, para
isso, será suficiente que ponha fim à política de conciliação e organize um
governo realmente democrático, popular e nacionalista.
Pode ser que, neste momento, a minha palavra esteja sendo
impugnada. Podem julgar que as minhas credenciais não sejam suficientes. Mas o
meu lugar é ao lado do povo, interpretando suas aspirações, e por isso, aqui
estou como um dos seus autênticos representantes.
Mas quero perguntar ao povo: querem que continue a política
de conciliação ou preferem um governo nacionalista e popular? Aos que desejam
um governo nacionalista e popular que levantem as mãos.
Chegamos a um impasse na vida do nosso país. O povo
brasileiro já não suporta mais suas atuais condições de vida. Hoje, até as
liberdades democráticas estão ameaçadas. Vimos isso em Belo Horizonte, em São
Paulo e no Rio Grande do Sul, onde um governo reacionário está queimando os
ranchos dos camponeses.
O que se passa no estado da Guanabara é uma prova dessa
ameaça, pois a Guanabara é governada por um energúmeno. Tanto isso é verdade
que o próprio presidente da República, para falar em praça pública, precisou mobilizar
as valorosas Forças Armadas. Não podemos continuar nesta situação. O povo está
exigindo uma saída.
Mas o povo olha para um dos poderes da República, que é o
Congresso Nacional, e ele diz NÃO, porque é um poder controlado por uma maioria
de latifundiários, reacionários, privilegiados e de ibadianos. É um Congresso
que não dará nada mais ao povo brasileiro. O atual Congresso não mais se
identifica com as aspirações do nosso povo. A verdade é que, como está, a
situação não pode continuar. E aqui vai a palavra de quem deseja apenas uma
saída para o trágico impasse a que chegamos. A palavra de quem apenas quer ver
o país livre da espoliação internacional como está escrito na Carta-Testamento
de Getúlio Vargas.
E o Executivo? Os poderes da República, até agora, com suas
perplexidades, sua inoperância e seus antagonismos, não decide. Por que não
conferir a decisão ao povo brasileiro? O povo é a fonte de todo poder.
Portanto, a única saída pacífica é fazer com que a decisão volte ao povo
através de uma Constituinte, com a eleição de um congresso popular, de que
participem os trabalhadores, os camponeses, os sargentos e oficiais
nacionalistas, homens públicos autênticos, e do qual sejam eliminadas as velhas
raposas da política tradicional.
Dirão que isto é ilegal. Dirão que isto é subversivo. Dirão
que isto é inconstitucional. Por que, então, não resolvem a dúvida através de
um plebiscito?
Verão que o povo votará pela derrogação do atual Congresso.
Dirão que isso é continuísmo. Mas já ouvi pessoalmente do
presidente da República a sua palavra assegurando que, se fosse decidida nesse
país a realização de eleições para uma Constituinte, sem a participação dos
grupos econômicos e da imprensa alienada, mas com o voto dos analfabetos, dos
soldados e cabos, e com uma imprensa democratizada, o presidente encerraria o
seu mandato.
A partir destes dois atos – assinatura do decreto da SUPRA e
do que encampa as refinarias particulares – desencadear-se-á, por esse país, a
violência. Devemos, pois, organizar-nos para defendermos nossos direitos. Não
aceitaremos qualquer golpe, venha ele de onde vier. O problema é de mais
liberdade para o povo, pois quanto mais liberdade o povo tiver maior supremacia
exercerá sobre as minorias dominantes e reacionárias que se associaram ao processo
de espoliação de nosso país. O nosso caminho é pacífico, mas saberemos
responder à violência com a violência.
O nosso presidente que se decida a caminhar conosco e terá o
povo ao seu lado. Quem tem o povo ao seu lado nada tem a temer.