Carlos Daudt Brizola, para a surpresa de muitos, é o
ministro do Trabalho. Sua passagem pelo ministério ─ hoje sem a mínima
importância, ficou seis meses sem titular e ninguém notou ─ é a de um adepto
radical de Paul Lafargue, o autor do clássico “O Direito à Preguiça”.
Tomou posse no dia 3 de maio, quinta-feira. No dia seguinte
teve um compromisso, às 10h. Reapareceu após quatro dias. Mas, de acordo com
sua agenda oficial, seu expediente foi restrito: duas atividades pela manhã,
não mais que duas horas. No dia 9, compareceu ao ministério, outra vez só pela
manhã, para uma palestra. Na quinta, não mudou a rotina: um compromisso. No dia
posterior, mais ociosidade: uma atividade, no final da tarde. Em seguida, três
dias de folga. Reapareceu no dia 15, uma terça, para um evento às 10h30. Mais
nada.
O mais bizarro é que o ministro desapareceu um mês ─ um mês!
Será que quis gozar das férias? Já? Só voltou no dia 14 de junho. Estava na
Suíça, que ninguém é de ferro.
Aí, como um homem de hábitos arraigados, tirou mais quatro
dias de descanso. Em 19 de junho, uma terça, Daudt Brizola resolveu compensar a
ociosidade. Marcou três audiências: das 15 às 18 horas, trabalhando três horas.
Na quarta foi assistir a Rio+20. Na quinta, folga. Na sexta participou de um
evento, pela manhã, no Rio, onde mora.
Pesquisando sua agenda, achei que ele finalmente iria
assumir o trabalho no ministério do Trabalho. Sou um ingênuo. Submergiu mais
cinco dias. Ressurgiu no dia 27. E aí, workaholic, trabalhou três horas pela
manhã, duas e meia à tarde. No dia posterior, repetiu a dose. Na sexta-feira,
veio a São Paulo e em seis horas visitou quatro centrais sindicais. Em junho,
trabalhou oito dias. Só em um deles a jornada se aproximou das oito horas
diárias.
Em julho, Daudt Brizola só começou trabalhar na terça-feira:
ele não gosta das segundas-feiras. Mas nada muito estafante: 90 minutos pela
manhã, começando às 10h. À tarde, a mesma jornada, a partir das 16h. Na quarta,
cinco horas. Na quinta, descansou pela manhã, almoçou tranquilo e só começou
seu expediente às 14h30. Foi embora três horas depois. Na sexta, só compareceu
ao ministério à tarde, por 60 minutos. Às 15h, estava liberado. Afinal, tem o
happy hour.
Na segunda semana de julho, como um Stakhanov, resolveu ser
um herói do trabalho. Registrou atividades de segunda a sexta. Claro que com o
espírito macunaímico: em dois dias só teve um compromisso.
Parecia, apenas parecia, que finalmente o ministro do
Trabalho iria trabalhar. Mais uma vez acabei me equivocando. Como de hábito,
deixou a segunda de lado. Só apareceu na terça, à tarde, reservando 60 minutos
para a labuta. Na quarta, mais três horas de expediente. No dia seguinte, o
ministro sumiu. Só voltou seis dias depois, e somente à tarde. E voltou a se
evadir do dia 25 ─ é devoto de São Cristovão?
Paro por aqui. Não vale a pena cansar o leitor da Folha com
as ausências ao trabalho do ministro. Será que a presidente não tem
conhecimento do absenteísmo do ministro? Com tanta greve, o que ele fez?
E o que diria Leonel Brizola ─ que trabalhou e estudou com
enorme dificuldade, se formou engenheiro em um curso noturno, quando era
deputado estadual ─ vendo um neto tão pouco afeito ao labor?
Em tempo: Brizola Neto é o irmão, não ele.