Para Napoleão Bonaparte, a imprensa tinha um papel
preponderante. A monarquia francesa caiu do trono no fim do século XVIII e
subiu os degraus do patíbulo exatamente quando a difusão das impressoras
influenciou a circulação de panfletos e jornais de conteúdo explosivo. Napoleão
teve a sua escalada liberada em seguida pela imprensa. Sentiu na epiderme esse
efeito e nunca esqueceu a importância do controle da informação.
Já como imperador, afirmou: “Se perco o controle da
imprensa, não me aguentarei no poder nem por três meses”.
O crescente descontentamento nos meios sociais alfabetizados
acelerou a queda da monarquia. Foram jornalistas e editores como Camille
Desmoullins, o mesmo personagem imortalizado nos quadros de 14 de julho de 1789
como orador da tomada da Bastilha, que determinaram a queda da opulenta Corte
de Versalhes.
A classe média da época, a burguesia, ao ter conhecimento
dos abusos nos gastos de Luís XIV, em contraste com as dificuldades e penúrias
dos setores produtivos e populares, submissos ao crescente confisco tributário,
gerou o mais intenso movimento revolucionário de todos os tempos. Alastrou-se
entre o povo sofrido e chegou longe. Depois das primeiras convulsões jacobinas,
a via ficou livre para Napoleão se impor como ditador/imperador. As revoluções
têm essa tendência de sair pela culatra e substituir um sistema por outro
parecido.
Napoleão casou-se em 1810 com a sobrinha de Maria Antonieta,
15 anos após esta ter a cabeça cortada aos gritos da praça. Quem quebrou os
paradigmas de milênios de feudalismo foi o movimento arrastado pela imprensa,
fazendo luz sobre os descalabros da monarquia.
De lá pra cá a importância da comunicação, da circulação das
informações e opiniões, foi uma constante limitadora para os governantes,
determinando constrangimento na atuação indiscriminada. Mudou e ainda vem
mudando os costumes.
Agora as redes sociais, como as impressoras do século XVIII,
ampliam e aceleram o alcance da informação, apertam ainda mais os governantes.
E a guerra nas redes toma aspectos patéticos, marcados de absurdos e inverdades
acobertados pelo anonimato. A verdade, entretanto, tem uma força que costuma
aparecer. O engano dura pouco ou muito tempo, mas nunca para sempre.
A informação correta incomoda os sistemas de governo
arbitrários; quanto mais tirânicos, mais necessidade de oprimir a imprensa.
O melhor marketing de um governante é o sucesso, aquele que
atinge os governados. Qualquer ação coroada de sucesso tem o poder de demolir a
inverdade.
O governante, quanto mais sofrível é seu desempenho, mais
queixoso será com a mídia e mais feroz com quem a mantém num campo de
objetividade. Ao déspota a verdade não basta, mesmo com todos os meios que tem
de se dirigir aos governados e fazer valer sua versão. A mídia enganosa,
especialmente agora com a concorrência das redes, se inviabiliza. Esconder,
manipular, distorcer, além de atos falhos, são atos suicidas.
A imprensa nos últimos 200 anos aumentou a capacidade de
incomodar o poder e ser, quando bem administrada, um instrumento de equilíbrio
social. Aquela de coloração imprópria e chantagista, hoje, tropeça justamente
na multiplicidade das versões com as quais se confronta.
Diante de tudo isso, não se entende por que agora surgem
tantas preocupações de limitar uma liberdade que é indispensável para qualquer
democracia.