Exercer tão alto cargo é o ápice da carreira de qualquer
brasileiro. Continuar na arena política diminui a sua importância histórica ─
mesmo sabendo que alguns têm estatura bem diminuta, como José Ribamar da Costa,
vulgo José Sarney, ou Fernando Collor. No caso de Lula, o que chama a atenção é
que ele não deseja simplesmente estar participando da política, o que já seria
ruim. Não. Ele quer ser o dirigente máximo, uma espécie de guia genial dos
povos do século XXI. É um misto de Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar
Vermelho para atravessar e muito menos vivamos sob um regime totalitário.
As reuniões nestes quase dois anos com a presidente Dilma
Rousseff são, no mínimo, constrangedoras. Lula fez questão de publicizar ao
máximo todos os encontros. É um claro sinal de interferência. E Dilma? Aceita
passivamente o jugo do seu criador. Os últimos acontecimentos envolvendo as
eleições municipais e o julgamento do mensalão reforçam a tese de que o PT
criou a presidência dupla: um, fica no Palácio do Planalto para despachar o
expediente e cuidar da máquina administrativa, funções que Dilma já desempenhava
quando era responsável pela Casa Civil; outro, permanece em São Bernardo do
Campo, onde passa os dias dedicado ao que gosta, às articulações políticas, e
agindo como se ainda estivesse no pleno gozo do cargo de presidente da
República.
Lula ainda não percebeu que a presença constante no
cotidiano político está, rapidamente, desgastando o seu capital político. Até
seus aliados já estão cansados. Deve ser duro ter de achar graça das mesmas
metáforas, das piadas chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa. A cada
dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador, São Bernardo e
Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram demonstrações
inequívocas de que ele não mais arrebata multidões. E, em especial, o comício de
Salvador é bem ilustrativo. Foram arrebanhadas ─ como gado ─ algumas centenas
de espectadores para demonstrar apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A
indiferença era evidente. Os “militantes” estavam com fome, queriam comer o
lanche que ganharam e receber os 25 reais de remuneração para assistir o ato ─
uma espécie de bolsa-comício, mais uma criação do PT. Foi patético.
O ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a
sua vontade. É feio. Não faça isso. Veja que não pegou bem coagir: 1. Cinco
partidos para assinar uma nota defendendo-o das acusações de Marcos Valério; 2.
A presidente para que fizesse uma nota oficial somente para defendê-lo de um
simples artigo de jornal; 3. Ministros do STF antes do início do julgamento do
mensalão. Só porque os nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o
senhor, mas o presidente da República? O senhor já leu a Constituição?
O ex-presidente não quer admitir que seu tempo já passou.
Não reconhece que, como tudo na vida, o encanto acabou. O cansaço é geral. O
que ele fala, não mais se realiza. Perdeu os poderes que acreditava serem
mágicos e não produto de uma sociedade despolitizada, invertebrada e de um
fugaz crescimento econômico. Claro que, para uma pessoa como Lula, com um ego
inflado durante décadas por pretensos intelectuais, que o transformaram no
primeiro em tudo (primeiro autêntico líder operário, líder do primeiro partido
de trabalhadores etc, etc), não deve ser nada fácil cair na real. Mas, como
diria um velho locutor esportivo, “não adianta chorar”. Agora suas palavras são
recebidas com desdém e um sorriso irônico.
Lula foi, recentemente, chamado de deus pela então senadora
Marta Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém teve a ousadia de dizer
que Getúlio Vargas era um deus. É desta forma que agem os aduladores do
ex-presidente. E ele deve adorar, não? Reforça o desprezo que sempre nutriu
pela política. Pois, se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o
perdão da ousadia, se ele é deus não poderia saber das frequentes reuniões, no
quarto andar do Palácio do Planalto, entre José Dirceu e Marcos Valério?