A maneira mais estúpida, autoritária e desonesta de
responder a alguma crítica é tentar desqualificar quem critica, porque revela a
incapacidade de rebatê-la com argumentos e fatos, ideias e inteligência. A
prática dos coices e relinchos verbais serve para esconder sentimentos de
inferioridade e mascarar erros e intenções, mas é uma das mais populares e
nefastas na atual discussão politica no Brasil.
A outra é responder acusando o adversário de já ter feito o
mesmo, ou pior, e ter ficado impune. São formas primitivas e grosseiras de
expressão na luta pelo poder, nivelando pela baixaria, e vai perder tempo quem
tentar impor alguma racionalidade e educação ao debate digital.
Nem nos mais passionais bate-bocas sobre futebol alguém
apela para a desqualificação pessoal, por inutilidade. Ser conservador ou
liberal, gay ou hetero, honesto ou ladrão, preto ou branco, petista ou tucano,
não vai fazer o gol não ser em impedimento, ser ou não ser pênalti. Numa
metáfora de sabor lulístico, a politica é que está virando um Fla x Flu movido
pelos instintos mais primitivos.
Na semana passada, Ferreira Gullar, considerado quase
unanimemente o maior poeta vivo do Brasil, publicou na “Folha de S.Paulo” uma
crônica criticando o mito Lula com dureza e argumentos, mas sem ofensas nem
mentiras. Reproduzida em um “site progressista”, com o habitual patrocínio
estatal, a crônica foi escoiceada pela militância digital.
Ler os cento e poucos comentários, a maioria das mesmas
pessoas, escondidas sob nomes diferentes, exigiria uma máscara contra gases e
adicional de insalubridade, mas uma pequena parte basta para revelar o todo.
Acusavam Gullar, ex-comunista, de ter se vendido, porque alguém só pode mudar
de ideia se levar dinheiro, relinchavam sobre a sua idade, sua saúde, sua virilidade,
sua aparência, sua inteligencia, e até a sua poesia. E ninguém respondia a um
só de seus argumentos.
Mas quem os lê? Só eles mesmos e seus companheiros de seita.
E eu, em missão de pesquisa antropológica. Coitados, esses pobres diabos vão
morrer sem ter lido um só verso de Gullar, sem saber o que perderam.