Thomas Sowell dizia: “Nunca entendi por que é ‘ganância’
você querer conservar o dinheiro que ganhou, mas não é ganância querer tomar o
dinheiro dos outros.” Mutatis mutandis, a obrigação moral que os ricos têm de
ajudar os pobres, mesmo quando seja tomada em sentido absoluto e intransigente,
não implica jamais que os pobres tenham o “direito” de ser ajudados.
Todo direito de um implica obrigações para algum outro, mas
nem toda obrigação que pese sobre alguém gera direitos para quem quer que seja.
A razão disso é simples e auto-evidente: toda e qualquer
obrigação moral ou legal é relativa porque limitada à disponibilidade de meios,
ao passo que um “direito”, uma vez consagrado, é universal e incondicional.
Decretado que os pobres têm “direito” à ajuda estatal ou privada, a simples
inexistência dos meios de ajudá-los se torna automaticamente algo como uma
ilegalidade ou um crime, e a sociedade inteira, quanto mais pobre, tanto mais
merecerá o rótulo de criminosa, de modo que a pobreza de uns será uma espécie
de mérito e a de todos um delito abominável. Se isto está muito sintético,
analisem e verão que é certo.
Da incompreensão
dessa obviedade deriva a noção monstruosamente perversa de que uma sociedade
onde haja pobres, ou muitos pobres, é uma “sociedade injusta”. Em princípio, e
à luz da razão, toda obrigação moral ou legal está condicionada à regra áurea
do Direito: Ad impossibilia nemo tenetur, “ninguém é obrigado ao impossível”.
Por isso mesmo a obrigação de ajudar os pobres não dá a estes nenhum direito de
exigi-la. A absurdidade dessa exigência aparece nítida no delírio de Luís da
Silva no romance Angústia de Graciliano Ramos:
“Há criaturas que não suporto. Os vagabundos, por exemplo.
Parece-me que eles cresceram muito, e, aproximando-se de mim, não vão gemer
peditórios: vão gritar, exigir, tomar-me qualquer coisa.”
E Luís da Silva não é nenhum burguês atemorizado ante a
revolta dos infelizes. É ele mesmo um pobretão ressentido, sem dinheiro para o
aluguel. Só no mundo das alucinações a pobreza é, por si, fonte de direitos.
Antigamente, até os marxistas compreendiam isso. Julgavam
que o proletariado industrial tinha o direito de expropriar a burguesia não
pelo simples fato de ser pobre, mas por ser o criador material da riqueza
social. A horda de miseráveis improdutivos, o Lumpenproletariat, não lhes
merecia senão desprezo. É o óbvio dos óbvios: ninguém se torna um “expoliado” pelo
simples fato de estar sem dinheiro. Para ser um expoliado é preciso produzir
primeiro alguma coisa e depois ser despojado dela injustamente. Como o
proletariado se recusou a aderir às revoluções, os teóricos do marxismo
promoveram a escória lumpenproletária ao estatuto de credora universal e
portadora, ipso facto, da autoridade intrínseca das virtudes morais faltantes
ao resto da sociedade. Daí ao endeusamento dos delinqüentes o passo é bem
curto.
Da insensibilidade a esses fatos vem a noção de “dívida
social”. Qualquer candidato que proponha a sua eleição como o pagamento de uma
dívida social é, com toda a evidência, um charlatão do qual não se pode esperar
nada de bom. Se a dívida existe e é social, não pode ser jamais resgatada
mediante pagamento a um só indivíduo. O fato mesmo de que este se apresente
como credor simbólico, herdeiro e resumo vivo de várias gerações de interesses
lesados, já mostra que se trata de um vigarista, pois nem aceita pagamento
simbólico nem tem como repassar o pagamento efetivo aos credores defuntos de
cujo crédito se apropria indevidamente.
Todo eleitor em seu juízo perfeito deveria pensar nisso
antes de votar em tipos como Luís Inácio Lula da Silva ou Barack Hussein Obama.
Mas, tão logo a pobreza se torna fonte de “direitos”, é inevitável que o
carreirista desprovido de méritos próprios se invista de prerrogativas
imaginárias derivadas da pobreza alheia, impondo-se como recebedor único da
“dívida social” -- um vigarista elevado à segunda potência.
***
Se esbarrasse na rua com algum dos nossos políticos ditos
“de direita”, eu lhe perguntaria o seguinte: “Você quer destruir a esquerda,
destrui-la politicamente, socialmente, culturalmente, de modo que ela nunca
mais se levante e que ser esquerdista se torne uma vergonha que ninguém ouse
confessar em público?”
Tenho a certeza de que a resposta do desgraçado será “Não”,
e virá provavelmente acompanhada das usuais caretas de repugnância fingida com
que os bons meninos da direita marcam sua distância de todo “extremismo”.
Bem, o fato é que aquilo que a direita não quer fazer com a
esquerda é o que a esquerda já fez com a direita.
Afinal, só quem precisa ostentar moderação é quem se
envergonha da sua própria opinião ao ponto de admitir, cabisbaixo e submisso,
que ela só vale alguma coisa quando usada em doses moderadas. Em doses
moderadas, filhinho, até a estricnina vale alguma coisa. Só o que é
indiscutivelmente bom, como a inteligência, a beleza, a santidade ou a saúde,
vale tanto mais quanto maior a dose. A esquerda conseguiu convencer até os
direitistas de que nenhuma dose de esquerdismo é excessiva, tanto que o sr.
Luis Inácio Lula, vendendo uma imagem de moderado, não se vexava de presidir o
Foro de São Paulo de maozinhas dadas com um notório extremista, assassino e
narcotraficante, o sr. Manuel Marulanda, nem muito menos se esquivou jamais de
fazer parceria com o sr. Fidel Castro, que é o extremismo de esquerda
encarnado.
Já os homens “da direita” – digo “homens” cum grano salis –
prefeririam antes morrer do que ser vistos ao lado de alguém que lhes pareça
mais direitista que eles.