sábado, 20 de abril de 2013

Entrevista com o Pastor Sargento Isidório ("ex-gay")


Sem medir palavras para evitar polêmicas, o deputado estadual Pastor Sargento Isidório (PSB-BA) tem criado animosidades até dentro do próprio partido que faz parte por conta das suas posições. Responsável pela Fundação Doutor Jesus, centro de reabilitação para dependentes químicos localizado em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador, o parlamentar se diz “ex-homossexual, ex-drogado e ex-bandido”. Ele também afirma ter “quase certeza” de ter sido infectado pelo vírus HIV – embora não haja diagnóstico que comprove a assertiva – e curado “pela fé”.

Diante dos protestos que envolvem a permanência do deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) à frente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, Isidório subiu ao altar e defendeu o colega. Em entrevista ao Bahia Notícias, ele ratifica as posições de Feliciano e defende inclusive a afirmação do parlamentar de que “africanos são descendentes amaldiçoados de Noé”. “A viadagem da África, quando viu dois cabras bons, bonitos, musculosos, saiu atrás. (...) [Por isso], o Pastor Marco Feliciano falava que por causa do pecado lá naquela região onde a pele é mais negra aconteceu a maldição”, interpretou.

Ele diz que ficou insatisfeito com nota de repúdio lançada pelo PSB, credita o comunicado “aos viados e viadas lá dentro” e discorda das posições da presidente estadual da legenda, a senadora Lídice da Mata. “Ela é de Oxum e eu sou de Jesus. Eu também já fui de Oxum quando era homossexual”, comparou. Ao salientar não temer ser expulso da sigla, afirmou que “se essas desgraças [partidos] prestassem, eram inteiros”. Apesar de suas convicções, o religioso ainda titubeia quando volta seus olhos para o mundo terreno. “O pastor é humano. Claro que eu tenho medo de recaída. Eu não posso ficar junto de um homem muito tempo porque a carne é fraca”, estremeceu.

Bahia Notícias – O senhor defende causas bastante polêmicas, como a do deputado federal Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) e isso foi motivo de uma carta feita pelo PSB discordando do seu posicionamento. Como está o ambiente dentro da legenda que o senhor faz parte?

Pastor Sargento Isidório – Primeiro, eu tenho algumas separações na minha vida. Eu sou sargento de polícia, eu sou pastor e eu estou deputado. Eu não nasci deputado, eu estou. É o povo que nos dá o voto, por um direito popular. Eu acho que nós não devemos ter nada contra o direito de qualquer cidadão optar por uma maneira de se relacionar sexualmente, por seus modus operandi. Nós não devemos ter nada contra porque esse país é totalmente democrático. Imagine que ninguém consegue empatar ninguém de se suicidar. As pessoas estão se assassinando aí no crack. Quem está morrendo de crack, para mim, é suicídio. Nem tem essa história de vitimação. É um suicídio porque todo mundo sabe que crack não tem perna, cocaína não voa, maconha não vem se embolando e depois entra na boca de ninguém. Somos nós que perdemos a dignidade, desobedecemos pai e mãe, não queremos limite e vamos para a droga. Aí dizem assim ‘ah, a violência matou, quem fez aquilo foi o crack’. Não foi não. Isso aí é conversa de terapeuta, de psicólogo, de assistente social, que quer ficar afagando. Foi o homem, que desobedece pai e mãe e vai lá e se agacha no erro. Depois, fica dizendo que foi a pedra. Precisamos reconhecer o que é nosso. Da questão do ponto de vista sexual, todo mundo sabe que eu sou ex-homossexual. Graças a Deus, há 18 anos eu encontrei a cura via palavra de Deus. Então, eu não comi página de Bíblia. Eu apenas cri em alguém poderoso. Eu me drogava, eu era alcoólatra. Hoje, eu tenho 120 e tantas mulheres internadas de 11 anos em diante com problema de drogas e tenho umas 15 lésbicas ainda. Só não estão praticando lá dentro, que eu não permito a prática, mas estão lá comigo, e quando vêm falar comigo, ficam dizendo que se drogaram para se achar, para se encontrar, tem tudo isso. Eu digo que quando eu fui beber é porque não estava aceitando essa história que estava acontecendo comigo. Então, fui me drogar, para tentar conseguir fazer a noitada... e aí a gente não pode dizer a verdade, a gente tem que continuar doente. O direito do relacionamento sexual da maneira invertida  não convém. Não convém sexo de homem com homem e mulher com mulher. Está escrito biblicamente – e estou falando de fé. Quando um partido político tenta punir um deputado ou alguém de lá de dentro fala ‘não foi o partido, não foi a senadora’, mas estou na rua como dizem que fui...

BN – Intolerante...

PSI – Não, como o partido me julgou...

BN – Repudiou...

PSI – Então para a sociedade, estou um deputado repudiado. Aí depois alguém dizer “não, não fui eu, foi João, foi José”. Se foi João, foi José, se acertou parabenize ele, se não acertou chame ele e enquadre. Porque um site tem dono, Facebook do partido tem alguém que controla. Se alguém no seu site, no seu Facebook, me ofendeu, chame essa pessoa, vá para delegacia ou para Justiça e o denuncie. Não dá, na questão religiosa, e aí não somos nós evangélicos, talvez aqui tenhamos pessoas com o mesmo pensamento que eu que não querem se expor, mas sabemos que pela doutrina católica e evangélica, Deus desde o início não criou o gay e não criou a ‘gaya’. Deus criou o macho e a fêmea. Está na Bíblia. Deus abençoou homem e mulher, e a Bíblia diz que o homem é para a mulher e a mulher para o homem. A mulher para ser a ajudadora – não que ela seja pior, pelo contrário, hoje a minha mulher vem em minha frente. A mulher hoje está tomando os espaços dela e consertando aonde chega. Porque a mulher é mais tranquila que o homem. Mas a gente não pode permitir que a nossa fé e o nosso pensamento sejam tolhidos por um partido político, só porque o partido aprova o casamento de homem com homem, o relacionamento via ânus, via reto, que não tem jeito biologicamente, não tem jeito por nada. Ânus, não é só o pastor que diz, que o reto não pode ser penetrado. O ânus é o tubo de esgoto do corpo humano. É o local que, depois que você come, apodrece e por lá que sai...

BN – O senhor fala de que as pessoas se entregam para a droga deliberadamente, deixando de lado a questão da dependência química. Há anos de estudo em torno disso, da neurociência, da psiquiatria etc. Também em relação à homossexualidade, o Conselho Federal de Psicologia vem lutando para tirar dela a pecha de doença. Não trata mais como doença. O senhor trata de uma única fonte que é a Bíblia. Isso não é restritivo na forma de analisar essas questões?

PSI – Primeiro, que a psicologia saiu da Bíblia, a medicina saiu da Bíblia, a engenharia saiu da Bíblia. Tudo o que a imprensa fala saiu da Bíblia. Se vocês saírem da Bíblia verão que aqui [aponta para a Bíblia que levou para a entrevista] tem tudo. A Bíblia tem início, meio e fim. Não é o que o rapaz escandaloso Jean Wyllys [PSOL-RJ] disse, que a Bíblia tão lida por evangélicos, por católicos, por todos os povos. Até os das matrizes africanas, que eu participei também, leem a Bíblia. Eles fazem o sacerdotismo deles também de sacrificar animais, tudo isso sai daqui [da Bíblia] também. Quando ele chega como um rapaz escandaloso e diz que aqui é um livro de piada e que todo mundo que crê é palhaço não pode ser assim. Ainda mais em um mundo em que estamos brigando contra a intolerância religiosa. É a mesma coisa do pastor lá atrás que chutou a imagem. Se alguém tem fé, fé não se discute. Se você chega no candomblé, o caboclo manifestado fala “‘ouvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo’, isso é fé. O espírito bebe a água, joga duro, isso é fé. A gente ora, bota o rosto no chão e joga duro, isso é fé. Fé não se discute. Essa questão da psicologia eu é que acho absurdo o Conselho Regional...

BN – Federal...

PSI – ...Federal tentar punir profissionais que dentro do seu direito de ouvir jovens... que se alguém quer ser lésbica e gay é um direito. Eu sou contra qualquer tipo de violência, não podemos fazer enfrentamento. Dentro do militarismo tem, dentro do papado tem, se brincar no meio dos pastores tem. Sempre convivemos e sempre toleramos. É diferente o PL [Projeto de Lei] 122 que quer criar uma lei especial. Eles [homossexuais] vão virar deuses. O viado e a ‘viada’ vão virar deuses e nenhum hétero terá direito onde tiver um deles. O que está preceituado se aprovado é que vão abrir um presídio, porque vou ser o primeiro a entrar lá, porque vão me tornar homofóbico. Homofóbico é alguém que tem fobia, que quer matar, que quer quebrar, que quer esbagaçar. Eu convivo muito bem com viados, com lésbicas e tudo. Eu tenho pelo menos 700 homens internados e, no mínimo, devem ter pelo menos 50 meninos alegres’, que chegam alegres e depois se alegram com outra coisa. ‘Vá dormir, vá almoçar, vá tomar seu banho, se organize, mas a prática aqui dentro eu não deixo’. Esse Conselho Federal quando proíbe o psicólogo de ouvir alguém... o cara foi para o erro – ou não erro, como eles queiram – mas quer voltar... Imagine, vocês estão diante de alguém que foi gay, mas não gostou. Graças a Deus, constituí família, tenho filho e agora filhos de todo estado que vêm para mim e estão em minha casa. Só não são filhos do ovo, mas são filhos pelo sangue de Jesus, que Deus manda para mim, para recuperar. Deus abençoou a procriação, quando se  pretende botar homem com homem, mulher com mulher, isso é o extermínio da humanidade. A Bíblia diz que nós somos criados à imagem e semelhança de Deus. Tem alguém no mundo espiritual por detrás disso que tem interesse no desaparecimento da humanidade. Daniela Mercury está aí dizendo que causou, que é marida de não-sei-quem. Quero ver a esposa dela dela vir grávida dela. Quero ver ela tirar o ‘bilau’, porque a mulher dela tem a ‘xoxota’, tem a vagina, a popular e conhecida velha ‘tabaca’. Ela vai entrar com o bilau onde? Onde ela vai entrar com o pênis? Que lua-de-mel vai ser essa? Ela engravide, já que ela é o macho. Então, eles têm direito a tudo isso e não temos direito a discordar de uma coisa? É discordar mas conviver. Então eu discordo mas tenho convívio com ele lá... agora a gente não poder sequer questionar é o nome de Deus que está sendo ofendido, o Pastor Marco Feliciano está recebendo intolerância religiosa...

BN – Só para não desviar o foco da pergunta inicial, afinal, o senhor vai continuar no PSB depois desse repúdio?

PSI – Rapaz, se eu não for botado para fora, se não fizerem inquisição, eu vou. Respeito os viados e as ‘viadas’ que estiverem lá dentro. Eu queria ficar no PSB, mas se lá a viadagem estiver forte mesmo, que é que eu posso fazer?

BN – O senhor está flertando com o PSC ou outro partido?

PSI – Olhe o que é partido, já começa na miséria da palavra: partido. Se essas desgraças prestassem, eram inteiros. Está entendendo? É tudo partido. Partido-não-sei-o-que-não-sei-o-que, partido-não-sei-o-que, tudo partido, essas miséria. Não devia ter partido, devia o cidadão dizer assim: ‘ah, eu gostei daquele doido ali’, ‘dez assinaturas, vá lá’, ‘gostei daquele outro ali também’, ‘vá lá’, pronto. Porque os partidos estão todos cheios de donos. Pense aí, não tem um partido que não tenha um dono com  um documento debaixo do braço dizendo [aponta]: ‘você vai ser candidato, você vai, você não vai’. Agora, eu não nasci deputado, eu estou deputado. Eu preciso ser servo de Deus até a hora da minha morte, por gratidão, pelo o que ele fez na minha vida, por hoje eu não estar planejando assalto dentro da polícia com essa idade. Aprendi lá, com os coronéis, com profissionais que estavam lá, até os praças, a fazer o bem. Mas depois, por não conhecer a palavra de Deus [cometeu assaltos]. Mas mudei de vida, estou aqui, hoje sou servo de Deus. Evangélico, tenho convicção do que faço e moro dentro de um centro de recuperação porque às vezes tenho a impressão de que não posso nem sair de lá, de tão ruim que eu sou. Tenho medo de sair e ficar na pior. Fico com eles lá porque pelo menos funciono como um irmão mais velho. O PSB tem direito de fazer o que quer, mas na minha fé o PSB não entra. Gosto da senadora Lídice da Mata, é uma pessoa maravilhosa. Ela é de Oxum e eu sou de Jesus. Eu também já fui de Oxum quando era homossexual.

BN – A psicanálise traz a questão da busca do ser humano por prazer e a divide em várias fases. A razão está sempre associada a prazer oral, anal etc. O senhor fala que o reto é o esgoto do organismo humano, mas antes de o senhor descobrir isso, não era uma coisa prazerosa?

PSI – Rapaz... eu lhe disse que eu me drogava e que eu vivia embriagado. Diga um dopado fazendo sexo, o que é que drogado sabe depois? O drogado não sabe mais nada. Sabe aquele ditado que diz que ‘aquele negócio do bêbado não tem dono’?

BN – É isso o que aconteceu com o senhor?

PSI – Mais ou menos isso. ‘Rapaz, eu vou ter que me relacionar, estou bicha, vou logo tomar uma aqui que é para esquentar o negócio’, pronto. Aí eu estava bêbado mesmo. Graças a Deus, Deus não me permitiu nem lembrar o gosto do negócio mais. Que dizem que aquela parte do bêbado, do drogado, não tem dono...

BN – Então, o senhor toda vez estava sob efeito de entorpecentes?

PSI – Com certeza. Eu tinha que me drogar, porque pensava ‘que negócio é esse, meu filho?’. Eu traí  a todo mundo, traí a tudo, traí a Deus...

BN – O senhor já era casado nessa época?

PSI – Eu já estava me relacionando também com mulher. Então ora eu era só gay, ora não, ora a desgraça... o homem sem Deus é uma folha seca caída no chão. O homem ou a mulher sem Deus é isso. Por isso que é importante que, quando você lida com a palavra de Deus, você não fica melhor que ninguém, mas você vai evoluindo. Eu escolhi evoluir pela palavra de Deus.

BN – Há quanto tempo o senhor não tem uma relação homossexual?

PSI – Rapaz... há 18 anos.

BN – Levou quanto tempo como gay?

PSI – Eu posso dizer que na verdade eu já estava trabalhando com o homossexualismo, sofrendo isso, desde que eu tinha um primo do Exército que dormia dentro do meu quarto. Eu era criança, tinha sete anos de idade, possivelmente, para estar lembrando do que eu estou lembrando. Hoje eu sei que isso se chama abuso sexual. Lá atrás, quando eu estava sendo vítima, dizia, ‘o que é isso aqui?’. Tirado do beliche, botado para baixo, me pediam ‘pegue aqui, pegue ali, faça isso’, por isso que eu faço uma coisa polêmica às vezes para tentar chamar atenção, porque assim eu sou ouvido. Todos os pais e mães se tivessem me ouvido não deixariam uma pessoa estranha dormir no quarto dos seus filhos. Hoje a situação está tão séria que você tem tomar cuidado com a pessoa que vai secretariar sua casa, que vai tomar conta de seus filhos, seja homem ou mulher. ‘Ah, mas está ali meu filho dormindo com primo, com não-sei-quem...’. Tem que tomar cuidado. Porque eu tinha um tal de um primo da minha mãe que estava dentro da casa e tudo isso ajudou [no abuso], porque eu ficava em um quarto com ele e na hora de dormir, de noite, era carícia, carinho. ‘Venha para cá para cima dormir comigo’ e pronto. Olha só o que é que aconteceu. Até que eu conheci a palavra de Deus.

BN – E foi nessa época de mudança que o senhor diz que teria contraído o vírus HIV e ‘milagrosamente’ foi curado?

PSI – O vírus HIV é o seguinte: todo mundo sabe que dentro do homossexualismo ou de qualquer outro tipo de sexo, até o hétero irresponsável, que passa por mais de um parceiro ou parceira, o sexo é livre. E na droga está o risco também. Então eu fui dependente do álcool, das drogas e fui homossexual. Depois, 18 anos atrás, eu apareço [durante] quase oito meses na cama, sem forças, sem andar, sem falar – porque agora estou rouco porque todos os dias eu canto e doutrino uma casa com oitocentas e tantas pessoas...

BN – Mas na Assembleia Legislativa o senhor sempre discursa com essa voz rouca também...

PSI – É porque quando eu chego na Assembleia para descansar, para desestressar. Eu saio da minha casa, do trabalho, e lá, com tudo o que tem ali, debate, projeto, eu ainda consigo descansar. Mas se for dentro de minha casa, eu mal durmo. Ontem estava à 1h socorrendo dois alcoolatras que chegaram de Canudos, fui dormir quase 5h...

BN – Mas e o HIV?

PSI – Então, o que acontece: eu não falava, eu não andava, mas andava na mão das pessoas. Eu cuspia em uma vasilha de margarina e depois, pela minha fé, o pastor chegou lá em um clube que eu tinha – eu tinha um clube –, que de manhã amanhecia cheio de drogas, de porqueira, eu era polícia já. Eu fui para o local onde o pastor me chamou e, ali, naquele momento, eu caí de joelho e levantei, tirando coberta e tudo e quando o pastor me chamou, ‘cadê o sargento Isidório?’, eu levantei pulando e dizendo ‘estou aqui, pastor’. Curado, para a glória do nome de Jesus. Não foi o pastor que me curou, foi a minha fé, o conjunto de força motriz da fé que cada qual aqui pode...

BN – Mas chegou a ter diagnóstico de que o senhor estava com HIV positivo?

PSI – Graças a Deus não. Ali na verdade eu não cheguei a ir para nada porque eu não tinha... hoje eu tenho... melhorou, por causa dessa vivência minha aí no meio dessas pessoas maiores. Eu sou um deputado por acidente de percurso, então melhora vocabulário, melhora conhecimento. Até porque não estava muito na onda há 18 anos...

BN – O senhor usava droga injetável?

PSI – Não.

BN – E qual era a droga que o senhor usava?

PSI – Mais maconha, álcool.

BN – Chegou a cheirar cocaína?

PSI – De determinado momento em diante... o que é que aconteceu... eu acordava e estava caído em um canto, um bocado de outros drogados caídos para lá e ia para o quartel, suado, de manhã cedo, para botar a tropa em forma, perguntando a mim: ‘meu Deus, o que será que eu fiz?’. E pronto. Depois que [a pessoa] sai de si...

BN – Cocaína e crack chegou a usar?

PSI – Que eu lembre não. Crack está de agora.

BN – O senhor disse que não lembra se sentia prazer em relacionamentos homossexuais porque estava drogado, mas no período em que seu primo o abusou, o senhor tem alguma lembrança desse período?

PSI – Mas isso era um abuso.

BN – Mas o senhor achava bom isso, quando não tinha consciência de que era abuso?

PSI – Não tinha consciência de nada. O que é uma pessoa que está ali, vendo alguém tirar sua roupa, botar sua mão em partes íntimas. Até você ter consciência para dizer a uma mãe... você tem filhos hoje que podem estar sofrendo esse abuso e dá para ver pela falta de abertura de pai que não quer dialogar, de mãe que quer ser carrasco. De pais que não se abrem para conversar com o filho. Aí o filho toma medo e daqui a pouco o prejuízo é maior. E lá atrás, eu pensava que se eu dissesse a esse pai meu, a essa mãe minha, eu pensava: ‘rapaz, eu vou é apanhar aqui’.

BN – O senhor chegou a ter trejeitos de mulher?

PSI – Nos carnavais eu me vestia de mulher. Nunca fui normal. Hoje tem a galera que é hétero mesmo que se veste para brincar, mas no meu caso era para aproveitar o negócio (risos).

BN – O senhor não tem medo de uma recaída?

PSI – Eu estou pensando em vestir roupa de mulher para entrar naquela Assembleia, para botar os deputados para pensar e para falar. Porque está todo mundo calado. O grupo gay grita: ‘gay, gay, gay, o Brasil é gay!’ e fica todo mundo calado. Isso é a verdade. É que não estão percebendo que a televisão, a grande mídia, está investindo para descaracterizar a nossa família. O cara pode até depois que fez um filho dar para boiola, mas ele não quer que o filho venha não. Ele quer: ‘não, deixe meu filho macho aí’, mas ele já está vendo que a televisão está trabalhando para mudar a natureza dos nossos filhos, para inflamar as nossas filhas.

BN – O senhor está dizendo que a televisão é capaz de produzir homossexuais?

PSI – É, é sim. É só o que faz, produzir mesmo. Não vê uma [televisão] séria, que tenha um debate respeitoso e diga ‘olha, os religiosos dizem que não é bom’. Não vê. ‘Homem com homem não faz filho, mulher com mulher não faz filho’. Quer ver? Pega um monte de casal de cobra desses aí, joga em uma ilha para ver se vai nascer alguém lá e depois que passou um período de vida normal vá lá para ver se multiplicou, se tem alguém. Morreu todo mundo. Isso é o extermínio da criatura. Porque homem com homem não faz filho. Eu já disse: eu quero ver Daniela [Mercury] voltar de lá com uma mulher grávida. Aí eu vou dizer que é retada.

BN – Todos os defensores e retratores de Marco Feliciano têm usado o argumento da causa gay, mas ele também andou dizendo que os negros foram amaldiçoados. Não é uma contradição uma pessoa que está em uma comissão para defender os direitos das minorias, a causa negra por exemplo, ter usado um argumento desses?

PSI – Eu acredito que no contexto em que o deputado falou, deve ter acontecido um equívoco, um mau entendido, a má interpretação dele. Tipo assim, nós somos negros. Aqui no nosso meio tem pessoas de pele branca, mas estamos em uma nação verdadeiramente negra. Coisa linda, cor de chocolate. Eu sou de moreno para negro e meu avô berço daquele largo [continente africano]. E qual é o problema? Eu costumo dizer que nós vamos ter uma grande surpresa. A Bíblia diz que Jesus não tem formosura, mas quando você vê um quadro de Jesus é meio parecido com você [José Marques]: olho azul – e seu olho não é nem gatinho, não –, mas os cabelos, coisa e tal. Você nunca viu um Jesus negro. E olha a surpresa você chegar lá e ver um Jesus negão, botando pra descer. Rasta, bonito. Por que essa discussão de cor, hoje acho que é mais política.

BN – Mas o líder da comissão não podia ser, ainda que um pastor, uma pessoa que não tivesse usado um argumento que classificam de racista?

PSI – O contexto que ele estava lá: o pastor é humano. Vocês, nesse instante, me perguntaram: você não tem medo de recaída não? Claro que eu tenho medo de recaída. Eu não posso ficar junto de um homem muito tempo porque a carne é fraca. Daqui a pouco o que é que pode acontecer? Então, eu não vou chegar aqui e ficar brincando com fogo. A Bíblia diz que nós devemos sair da aparência do mal. Jesus me livrou do homossexualismo, mas Jesus não está mandando eu voltar e ficar lá agarrado com homem não. Se eu deixei de ser ladrão, como que eu vou continuar no meio de ladrão? Se eu deixei de ser qualquer coisa ruim, eu tenho que me livrar dessas coisas ruins para evoluir para o bem. Agora, só posso ir lá para orientar: ‘olha, não é bom’. É isso que eu digo a todo mundo. ‘Você não está com esse problema, evite ficar agarrando a sua mulher, procure dormir mais separado, procure se afastar. Ou procure se ligar mais para a mulher, para o outro sexo’. Pronto. Eu digo assim porque eu brinco muito, eu sou polêmico e a imprensa, principalmente aquela imprensa sem compromisso com Deus, sem responsabilidade, nunca quer botar as coisas boas. Eu já imagino quanta desgraça vocês vão colocar aqui. Porque às vezes se vocês tivessem a condição de colocar a verdade, ainda tem doutor aí por cima, o dono da imprensa que vai querer que bote o que ele quer para vender a zorra dele. Mas as coisas boas que eu digo aqui dificilmente serão colocadas...

BN – Aqui vai ser tudo colocado na íntegra...

PSI – Se brincar, vão colocar aí que eu disse que tenho queda por homem, que não sei o que, mas graças a Deus não me preocupo com julgamento de imprensa, de revista Veja, de Istoé...

BN – O senhor ainda não comentou as declarações de Feliciano sobre os negros.

PSI – Ele fez o contexto de África. Ele disse que naquela época... pronto, veja como isso é polêmico: lá naquela época, os primeiros viados foram pegar dois anjos que chegaram ali na cidade. Aí o Ló [sobrinho de Abraão] não permitiu que os caras quisessem ter os anjos como bofe. A viadagem de lá, quando viu dois cabras bons, bonitos, parecidos com esse aqui [Evilásio Júnior], musculosos, saiu atrás. O Ló disse: ‘não faça isso. São dois anjos do Senhor que vieram à minha casa’ e ofereceu duas filhas: ‘olha, eu tenho duas filhas moças aí, peguem’. Mas a viadagem não queria. Eles estavam inflamados. O que aconteceu? Cegueira. A viadagem persistiu e o que aconteceu com Sodoma e Gomorra? Heim?

BN – Foram destruídas...

PSI – E foi o Pastor Isidório? Foi Silas Malafaia? Foi Marco Feliciano que queimou? Deus que determinou ‘saiam os bons daí e queime a cidade’. Na Arca [de Noé] já tinham os bons de novo e ele fez chover. Como agora estamos aguardando Jesus voltar. Mas a imprensa tem interesse em dizer que Jesus vai voltar? A imprensa tem interesse em dizer que a chuva que está aí devastando Rio, São Paulo, Santa Catarina, é a volta de Jesus, e está no Livro de Apocalipse tudo isso? A imprensa vai ter vontade de dizer que essa seca que está aí, que neguinho quer culpar o governador, quer culpar a presidente, quer culpar todo mundo [é Deus]? Mas é natureza. Natureza é com Deus, ele é soberano, ele é potente. Então o Pastor Marco Feliciano falava que por causa do pecado lá naquela região onde a pele é mais negra aconteceu a maldição e aí ele fala que o próprio Deus amaldiçoa. Mas não é por causa da pele. É por causa do contexto daquela região que aconteceu. Nós estamos assistindo à seca, estamos assistindo tudo. Toda nação que liberou casamento de homem com homem e mulher com mulher está ruindo. Vocês são inteligentes: buliu com a natureza de Deus... não é Deus que está despencando a nação não. Porque Deus é santo, mas ele vira as costas. Tipo assim: um pai que tem dois filhos agarrados nele, ‘painho, painho, eu te amo, me dê isso’ e o outro filho que está lá tirando onda, é claro que ele vai pegar o que está agarrado nele. As nações que liberaram o casamento de homossexuais estão todas na desgraça. Olhe aí para a Europa. Só por Deus estar percebendo o percurso que isso está tomando, esta nação está ficando ferida. E não é homem que bota a seca, que suspende a chuva não. Para acabar a pobreza, acabar a miséria, depende de Deus. Se a presidente não tomar pulso para deixar como estava antigamente, a viadagem, os gays, agora... agora é lei: supremacia da viadagem. O que estão querendo: aí vão chegar duas pessoas, um gay e um hétero em um concurso aqui nesta casa e o dono disto aqui vai dizer: ‘eu queria botar você mas esse viadão vai dizer que a lei 122... vá pai de família, venha viadão. Tem uma lésbica e uma mulher de bem, mas eu gosto de você, mas acontece se eu botar você...’

BN – O senhor está dizendo que a lésbica é uma ‘pessoa de mal’?

PSI – Não, estou dizendo assim... (pensativo) Olha, agora eu não sei se é do mal, mas quando alguém deixa de querer cumprir palavra de Deus, parir, ter filhos... porque essa sociedade é bonita por causa da produção de pessoas. Deus não fez isso aqui para ficar ilhado. Se seu pai fosse bicha, se sua mãe fosse bicha, você não estava aqui na frente. Se aqui, os pais fossem lésbicas, vocês não estariam aqui. Então imagine o que acontecerá nessa nação na hora que começarem a incentivar homem com homem, mulher com mulher. Rapaz, tem uma coisa por detrás disso que só olhos espirituais [veem]. Imagine você deixar de existir... aí você está vendo aí aborto sendo incentivado pelos cantos. Eu não tenho nada contra uma mulher que foi estuprada se ela decidir ‘não dá’. Mesmo assim, se eu pudesse aconselhar, diria: ‘quem lhe estuprou é que é bandido. O menino que está aí não vai ter nada a ver. Vá cuidar de seu filhinho que tem tanto exemplo de filho que tiveram pai problema e estão dando certo’. Tem muita coisa por detrás que precisa ser debatida. A verdade é que ninguém quer debater direito.

BN – O senhor falou de respeito e falou que Lídice é de Xangô e o senhor é de Jesus. O Estado é laico. Cada um não deveria respeitar a sua religiosidade e não deveria ser uma contradição o senhor legislar com preceitos religiosos?

PSI – É engraçado. Eu acho que você não deve ter ido à Fonte Nova. Essa desgraça desse Estado é laico e a Fonte Nova está cercada só com [a fitinha d]o Senhor do Bonfim. Todo mundo aqui é forçado, obrigado, a se curvar ao Senhor do Bonfim. Eu não estou nem falando de evangélico. Porque tem quem gosta de Maria de Aparecida, Maria da Conceição e é laico. Só é laico porque tem um evangélico na sua frente. Então me ajude a ir lá e tirar aquela fita então e dizer ao governador e à presidente da República que deixe que o povo chame o Deus que quiser. O povo que gosta da Fonte Nova dizer ‘glória a Deus’ ou ‘glória a Cosme e Damião’ ou ‘glória a não-sei-quem’. Mas está lá oficialmente. Que Estado laico, heim? Então ajude, entre aqui na luta. Não bote lá nem Bíblia, nem evangélico, nem ninguém. O Estado é laico e ali no Dique do Tororó só tem Orixás. Pedaço de ferro para mim, que não bebe, não fala, não serve para nada, a não ser enferrujar e gastar dinheiro público. Se é laico, deixe que as pessoas escolham seu caminho. Quem quiser copo de água, do espiritismo, um copo de água, quem quiser umbanda, umbanda, quem quiser Bíblia, é Bíblia. Se é laico ali devia ter um Orixá, uma Bíblia, um copo de água para o espiritismo, lá devia ter Buda, Maomé, devia ter tudo. Aí é laico. Fora isso não devia estar com nada, entendeu? Então, respeite-se a todos. Todos os Orixás, todos os evangélicos, todos os católicos. Conheço tanta gente que mesmo não sendo evangélico é de outros santos. Para ser laico, o Estado tinha que ser juiz: ‘não vamos ter nada aqui, nem Bíblia, nem nada’. Vá aí para o Judiciário, para as escolas, para o Legislativo para você ver que laicidade da miséria. Vá para você ver.

BN – Na Assembleia tem um crucifixo na parede...

PSI – Pois é. É para não ter nada.

BN – Há um tempo atrás o senhor fez uma declaração em plenário contra o exame de próstata, dizendo que os homens não precisavam fazer. Mudou de opinião? O senhor já fez esse exame?

PSI – Eu nunca fui contra o exame de toque. E aí quando falam isso eu já sou vítima porque eu já lhe disse como é que a imprensa é – não é toda ela não, porque tem muitos profissionais com dignidade. No dia em que eu disse aquilo, eu tinha ido fazer exame porque tinha apresentado alguns problemas como já estou de novo: micção curta, toda hora, que o pessoal diz que é ruim. Procurei fazer o exame. Minha chefe de gabinete disse ‘olha, pastor, esse problema seu pode ser da próstata. O senhor já fez?’, eu disse ‘não’. Cheguei lá, o médico disse ‘o próximo’ e me mandou pra a maca. Eu fui deitar e ele disse ‘não precisa deitar não, em pé mesmo’. Ele disse ‘tira as calças’ e eu penso ‘miséria, é pior do que os coronéis, é pior do que o quartel’. Aí tirei o cinto, baixei as calças e recebi os dedos. TUM! Pronto. Eu sou profissional de saúde e tenho convicção que outros procedimentos, como a Benzetacil e comprimidos, as pessoas perguntam: ‘já tomou esse comprimido? Você tem algum problema com ele?’

BN – Foi na rede pública ou na rede privada?

PSI – Sei que paguei 150 contos para tomar uma dedada. É importante fazer os exames porque eu fiz, foi quase dois milhões de folderes depois dizendo tudo tintim por tintim. Eu acho que deviam perguntar, quanto mais em cavidade. Mulher quando vai fazer exame ginecológico, não é toda mulher que tem o nível de vocês, tem mulheres do interior que não fazem ideia do tratamento. É constrangedor. Que é que custa uma médica ginecologista perguntar: ‘já fez?’, ‘não’. E dizer: ‘vai bulir na xequinha, para saber de alguma coisa, mas fique tranquila, eu também já fiz’. Que é que custa? E que é que custava o médico me dizer ‘eu vou introduzir na sua cavidade, mas é porque é para saber melhor o exame, tá certo? Então fique tranquilo, porque toque retal não tira masculinidade de ninguém, já fiz também’. Pronto, era só isso. Hoje, eu sei que inclusive existe uma cadeira anatomicamente preparada para isso. Eu sei que existe um posicionamento para fazer isso. Na verdade, eu tive que ser ridicularizado pela imprensa ou seja quem tenha feito isso para me desgastar, mas Deus estava naquele negócio porque logo depois veio Tony Ramos para falar que fez... nunca se falou tanto. Então, se estou até hoje difamado por não gostar do exame de toque retal, mas isso surtiu efeito porque inclusive tem empresas que estão com um calendário para isso. ‘Os homem fez (sic) 40 anos, véi? Então dedada!’. Nessa história de ficar jocoso publicizou mais o exame e eu sei que hoje eu faço na hora que precisar distribuir dois milhões de folderes que toque retal não tira masculinidade de ninguém. Eu já fiz o meu exame, faça o seu. No folder, Estou com o chapéu da PM, um bujão de gás, a calça um pouquinho aberta e saindo de um consultório. Eu distribuí isso e nunca se teve tanta conversa em relação a isso. O que me dificultou de um lado, por perder a eleição, por tudo isso, Deus fez do limão uma garapa, porque muitos homens estão indo fazer o exame. Eu nunca fui contra isso, apenas falei daquele jeito, da maneira que acabei de explicar. Aí veio um jornal e disse ‘petista [partido anterior do deputado] viu estrela’ e tal, vocês sabem o que é vender jornal e eu não tenho nada contra isso. A imprensa diz o que quer. Eu, por exemplo, não sou dono de mim, eu ganho dinheiro público, eu sou deputado, então não vai ter valor nada meu, quanto mais a parte lá de trás.