Sem medir palavras para evitar polêmicas, o deputado
estadual Pastor Sargento Isidório (PSB-BA) tem criado animosidades até dentro
do próprio partido que faz parte por conta das suas posições. Responsável pela
Fundação Doutor Jesus, centro de reabilitação para dependentes químicos
localizado em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador, o parlamentar se
diz “ex-homossexual, ex-drogado e ex-bandido”. Ele também afirma ter “quase
certeza” de ter sido infectado pelo vírus HIV – embora não haja diagnóstico que
comprove a assertiva – e curado “pela fé”.
Diante dos protestos que envolvem a permanência do deputado
Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) à frente da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara Federal, Isidório subiu ao altar e defendeu o colega. Em entrevista
ao Bahia Notícias, ele ratifica as posições de Feliciano e defende inclusive a
afirmação do parlamentar de que “africanos são descendentes amaldiçoados de Noé”.
“A viadagem da África, quando viu dois cabras bons, bonitos, musculosos, saiu
atrás. (...) [Por isso], o Pastor Marco Feliciano falava que por causa do
pecado lá naquela região onde a pele é mais negra aconteceu a maldição”,
interpretou.
Ele diz que ficou insatisfeito com nota de repúdio lançada
pelo PSB, credita o comunicado “aos viados e viadas lá dentro” e discorda das
posições da presidente estadual da legenda, a senadora Lídice da Mata. “Ela é
de Oxum e eu sou de Jesus. Eu também já fui de Oxum quando era homossexual”,
comparou. Ao salientar não temer ser expulso da sigla, afirmou que “se essas
desgraças [partidos] prestassem, eram inteiros”. Apesar de suas convicções, o
religioso ainda titubeia quando volta seus olhos para o mundo terreno. “O
pastor é humano. Claro que eu tenho medo de recaída. Eu não posso ficar junto
de um homem muito tempo porque a carne é fraca”, estremeceu.
Bahia Notícias – O senhor defende causas bastante polêmicas,
como a do deputado federal Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) e isso foi motivo de
uma carta feita pelo PSB discordando do seu posicionamento. Como está o
ambiente dentro da legenda que o senhor faz parte?
Pastor Sargento Isidório – Primeiro, eu tenho algumas
separações na minha vida. Eu sou sargento de polícia, eu sou pastor e eu estou
deputado. Eu não nasci deputado, eu estou. É o povo que nos dá o voto, por um
direito popular. Eu acho que nós não devemos ter nada contra o direito de
qualquer cidadão optar por uma maneira de se relacionar sexualmente, por seus
modus operandi. Nós não devemos ter nada contra porque esse país é totalmente
democrático. Imagine que ninguém consegue empatar ninguém de se suicidar. As
pessoas estão se assassinando aí no crack. Quem está morrendo de crack, para
mim, é suicídio. Nem tem essa história de vitimação. É um suicídio porque todo
mundo sabe que crack não tem perna, cocaína não voa, maconha não vem se
embolando e depois entra na boca de ninguém. Somos nós que perdemos a
dignidade, desobedecemos pai e mãe, não queremos limite e vamos para a droga.
Aí dizem assim ‘ah, a violência matou, quem fez aquilo foi o crack’. Não foi
não. Isso aí é conversa de terapeuta, de psicólogo, de assistente social, que
quer ficar afagando. Foi o homem, que desobedece pai e mãe e vai lá e se agacha
no erro. Depois, fica dizendo que foi a pedra. Precisamos reconhecer o que é
nosso. Da questão do ponto de vista sexual, todo mundo sabe que eu sou
ex-homossexual. Graças a Deus, há 18 anos eu encontrei a cura via palavra de
Deus. Então, eu não comi página de Bíblia. Eu apenas cri em alguém poderoso. Eu
me drogava, eu era alcoólatra. Hoje, eu tenho 120 e tantas mulheres internadas
de 11 anos em diante com problema de drogas e tenho umas 15 lésbicas ainda. Só
não estão praticando lá dentro, que eu não permito a prática, mas estão lá
comigo, e quando vêm falar comigo, ficam dizendo que se drogaram para se achar,
para se encontrar, tem tudo isso. Eu digo que quando eu fui beber é porque não
estava aceitando essa história que estava acontecendo comigo. Então, fui me
drogar, para tentar conseguir fazer a noitada... e aí a gente não pode dizer a
verdade, a gente tem que continuar doente. O direito do relacionamento sexual
da maneira invertida não convém. Não
convém sexo de homem com homem e mulher com mulher. Está escrito biblicamente –
e estou falando de fé. Quando um partido político tenta punir um deputado ou
alguém de lá de dentro fala ‘não foi o partido, não foi a senadora’, mas estou
na rua como dizem que fui...
BN – Intolerante...
PSI – Não, como o partido me julgou...
BN – Repudiou...
PSI – Então para a sociedade, estou um deputado repudiado.
Aí depois alguém dizer “não, não fui eu, foi João, foi José”. Se foi João, foi
José, se acertou parabenize ele, se não acertou chame ele e enquadre. Porque um
site tem dono, Facebook do partido tem alguém que controla. Se alguém no seu
site, no seu Facebook, me ofendeu, chame essa pessoa, vá para delegacia ou para
Justiça e o denuncie. Não dá, na questão religiosa, e aí não somos nós
evangélicos, talvez aqui tenhamos pessoas com o mesmo pensamento que eu que não
querem se expor, mas sabemos que pela doutrina católica e evangélica, Deus
desde o início não criou o gay e não criou a ‘gaya’. Deus criou o macho e a
fêmea. Está na Bíblia. Deus abençoou homem e mulher, e a Bíblia diz que o homem
é para a mulher e a mulher para o homem. A mulher para ser a ajudadora – não
que ela seja pior, pelo contrário, hoje a minha mulher vem em minha frente. A
mulher hoje está tomando os espaços dela e consertando aonde chega. Porque a
mulher é mais tranquila que o homem. Mas a gente não pode permitir que a nossa
fé e o nosso pensamento sejam tolhidos por um partido político, só porque o
partido aprova o casamento de homem com homem, o relacionamento via ânus, via
reto, que não tem jeito biologicamente, não tem jeito por nada. Ânus, não é só
o pastor que diz, que o reto não pode ser penetrado. O ânus é o tubo de esgoto
do corpo humano. É o local que, depois que você come, apodrece e por lá que
sai...
BN – O senhor fala de que as pessoas se entregam para a
droga deliberadamente, deixando de lado a questão da dependência química. Há
anos de estudo em torno disso, da neurociência, da psiquiatria etc. Também em
relação à homossexualidade, o Conselho Federal de Psicologia vem lutando para
tirar dela a pecha de doença. Não trata mais como doença. O senhor trata de uma
única fonte que é a Bíblia. Isso não é restritivo na forma de analisar essas
questões?
PSI – Primeiro, que a psicologia saiu da Bíblia, a medicina
saiu da Bíblia, a engenharia saiu da Bíblia. Tudo o que a imprensa fala saiu da
Bíblia. Se vocês saírem da Bíblia verão que aqui [aponta para a Bíblia que
levou para a entrevista] tem tudo. A Bíblia tem início, meio e fim. Não é o que
o rapaz escandaloso Jean Wyllys [PSOL-RJ] disse, que a Bíblia tão lida por
evangélicos, por católicos, por todos os povos. Até os das matrizes africanas,
que eu participei também, leem a Bíblia. Eles fazem o sacerdotismo deles também
de sacrificar animais, tudo isso sai daqui [da Bíblia] também. Quando ele chega
como um rapaz escandaloso e diz que aqui é um livro de piada e que todo mundo
que crê é palhaço não pode ser assim. Ainda mais em um mundo em que estamos
brigando contra a intolerância religiosa. É a mesma coisa do pastor lá atrás
que chutou a imagem. Se alguém tem fé, fé não se discute. Se você chega no
candomblé, o caboclo manifestado fala “‘ouvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo’,
isso é fé. O espírito bebe a água, joga duro, isso é fé. A gente ora, bota o
rosto no chão e joga duro, isso é fé. Fé não se discute. Essa questão da
psicologia eu é que acho absurdo o Conselho Regional...
BN – Federal...
PSI – ...Federal tentar punir profissionais que dentro do
seu direito de ouvir jovens... que se alguém quer ser lésbica e gay é um
direito. Eu sou contra qualquer tipo de violência, não podemos fazer
enfrentamento. Dentro do militarismo tem, dentro do papado tem, se brincar no
meio dos pastores tem. Sempre convivemos e sempre toleramos. É diferente o PL
[Projeto de Lei] 122 que quer criar uma lei especial. Eles [homossexuais] vão
virar deuses. O viado e a ‘viada’ vão virar deuses e nenhum hétero terá direito
onde tiver um deles. O que está preceituado se aprovado é que vão abrir um
presídio, porque vou ser o primeiro a entrar lá, porque vão me tornar
homofóbico. Homofóbico é alguém que tem fobia, que quer matar, que quer
quebrar, que quer esbagaçar. Eu convivo muito bem com viados, com lésbicas e
tudo. Eu tenho pelo menos 700 homens internados e, no mínimo, devem ter pelo
menos 50 meninos alegres’, que chegam alegres e depois se alegram com outra
coisa. ‘Vá dormir, vá almoçar, vá tomar seu banho, se organize, mas a prática
aqui dentro eu não deixo’. Esse Conselho Federal quando proíbe o psicólogo de
ouvir alguém... o cara foi para o erro – ou não erro, como eles queiram – mas
quer voltar... Imagine, vocês estão diante de alguém que foi gay, mas não
gostou. Graças a Deus, constituí família, tenho filho e agora filhos de todo
estado que vêm para mim e estão em minha casa. Só não são filhos do ovo, mas
são filhos pelo sangue de Jesus, que Deus manda para mim, para recuperar. Deus
abençoou a procriação, quando se
pretende botar homem com homem, mulher com mulher, isso é o extermínio
da humanidade. A Bíblia diz que nós somos criados à imagem e semelhança de
Deus. Tem alguém no mundo espiritual por detrás disso que tem interesse no
desaparecimento da humanidade. Daniela Mercury está aí dizendo que causou, que
é marida de não-sei-quem. Quero ver a esposa dela dela vir grávida dela. Quero
ver ela tirar o ‘bilau’, porque a mulher dela tem a ‘xoxota’, tem a vagina, a
popular e conhecida velha ‘tabaca’. Ela vai entrar com o bilau onde? Onde ela
vai entrar com o pênis? Que lua-de-mel vai ser essa? Ela engravide, já que ela
é o macho. Então, eles têm direito a tudo isso e não temos direito a discordar
de uma coisa? É discordar mas conviver. Então eu discordo mas tenho convívio
com ele lá... agora a gente não poder sequer questionar é o nome de Deus que
está sendo ofendido, o Pastor Marco Feliciano está recebendo intolerância
religiosa...
BN – Só para não desviar o foco da pergunta inicial, afinal,
o senhor vai continuar no PSB depois desse repúdio?
PSI – Rapaz, se eu não for botado para fora, se não fizerem
inquisição, eu vou. Respeito os viados e as ‘viadas’ que estiverem lá dentro.
Eu queria ficar no PSB, mas se lá a viadagem estiver forte mesmo, que é que eu
posso fazer?
BN – O senhor está flertando com o PSC ou outro partido?
PSI – Olhe o que é partido, já começa na miséria da palavra:
partido. Se essas desgraças prestassem, eram inteiros. Está entendendo? É tudo
partido. Partido-não-sei-o-que-não-sei-o-que, partido-não-sei-o-que, tudo
partido, essas miséria. Não devia ter partido, devia o cidadão dizer assim: ‘ah,
eu gostei daquele doido ali’, ‘dez assinaturas, vá lá’, ‘gostei daquele outro
ali também’, ‘vá lá’, pronto. Porque os partidos estão todos cheios de donos.
Pense aí, não tem um partido que não tenha um dono com um documento debaixo do braço dizendo
[aponta]: ‘você vai ser candidato, você vai, você não vai’. Agora, eu não nasci
deputado, eu estou deputado. Eu preciso ser servo de Deus até a hora da minha
morte, por gratidão, pelo o que ele fez na minha vida, por hoje eu não estar
planejando assalto dentro da polícia com essa idade. Aprendi lá, com os
coronéis, com profissionais que estavam lá, até os praças, a fazer o bem. Mas
depois, por não conhecer a palavra de Deus [cometeu assaltos]. Mas mudei de
vida, estou aqui, hoje sou servo de Deus. Evangélico, tenho convicção do que
faço e moro dentro de um centro de recuperação porque às vezes tenho a
impressão de que não posso nem sair de lá, de tão ruim que eu sou. Tenho medo
de sair e ficar na pior. Fico com eles lá porque pelo menos funciono como um
irmão mais velho. O PSB tem direito de fazer o que quer, mas na minha fé o PSB
não entra. Gosto da senadora Lídice da Mata, é uma pessoa maravilhosa. Ela é de
Oxum e eu sou de Jesus. Eu também já fui de Oxum quando era homossexual.
BN – A psicanálise traz a questão da busca do ser humano por
prazer e a divide em várias fases. A razão está sempre associada a prazer oral,
anal etc. O senhor fala que o reto é o esgoto do organismo humano, mas antes de
o senhor descobrir isso, não era uma coisa prazerosa?
PSI – Rapaz... eu lhe disse que eu me drogava e que eu vivia
embriagado. Diga um dopado fazendo sexo, o que é que drogado sabe depois? O
drogado não sabe mais nada. Sabe aquele ditado que diz que ‘aquele negócio do
bêbado não tem dono’?
BN – É isso o que aconteceu com o senhor?
PSI – Mais ou menos isso. ‘Rapaz, eu vou ter que me
relacionar, estou bicha, vou logo tomar uma aqui que é para esquentar o negócio’,
pronto. Aí eu estava bêbado mesmo. Graças a Deus, Deus não me permitiu nem
lembrar o gosto do negócio mais. Que dizem que aquela parte do bêbado, do
drogado, não tem dono...
BN – Então, o senhor toda vez estava sob efeito de
entorpecentes?
PSI – Com certeza. Eu tinha que me drogar, porque pensava ‘que
negócio é esse, meu filho?’. Eu traí a
todo mundo, traí a tudo, traí a Deus...
BN – O senhor já era casado nessa época?
PSI – Eu já estava me relacionando também com mulher. Então
ora eu era só gay, ora não, ora a desgraça... o homem sem Deus é uma folha seca
caída no chão. O homem ou a mulher sem Deus é isso. Por isso que é importante
que, quando você lida com a palavra de Deus, você não fica melhor que ninguém,
mas você vai evoluindo. Eu escolhi evoluir pela palavra de Deus.
BN – Há quanto tempo o senhor não tem uma relação
homossexual?
PSI – Rapaz... há 18 anos.
BN – Levou quanto tempo como gay?
PSI – Eu posso dizer que na verdade eu já estava trabalhando
com o homossexualismo, sofrendo isso, desde que eu tinha um primo do Exército
que dormia dentro do meu quarto. Eu era criança, tinha sete anos de idade,
possivelmente, para estar lembrando do que eu estou lembrando. Hoje eu sei que
isso se chama abuso sexual. Lá atrás, quando eu estava sendo vítima, dizia, ‘o
que é isso aqui?’. Tirado do beliche, botado para baixo, me pediam ‘pegue aqui,
pegue ali, faça isso’, por isso que eu faço uma coisa polêmica às vezes para
tentar chamar atenção, porque assim eu sou ouvido. Todos os pais e mães se
tivessem me ouvido não deixariam uma pessoa estranha dormir no quarto dos seus
filhos. Hoje a situação está tão séria que você tem tomar cuidado com a pessoa
que vai secretariar sua casa, que vai tomar conta de seus filhos, seja homem ou
mulher. ‘Ah, mas está ali meu filho dormindo com primo, com não-sei-quem...’.
Tem que tomar cuidado. Porque eu tinha um tal de um primo da minha mãe que
estava dentro da casa e tudo isso ajudou [no abuso], porque eu ficava em um
quarto com ele e na hora de dormir, de noite, era carícia, carinho. ‘Venha para
cá para cima dormir comigo’ e pronto. Olha só o que é que aconteceu. Até que eu
conheci a palavra de Deus.
BN – E foi nessa época de mudança que o senhor diz que teria
contraído o vírus HIV e ‘milagrosamente’ foi curado?
PSI – O vírus HIV é o seguinte: todo mundo sabe que dentro
do homossexualismo ou de qualquer outro tipo de sexo, até o hétero
irresponsável, que passa por mais de um parceiro ou parceira, o sexo é livre. E
na droga está o risco também. Então eu fui dependente do álcool, das drogas e
fui homossexual. Depois, 18 anos atrás, eu apareço [durante] quase oito meses
na cama, sem forças, sem andar, sem falar – porque agora estou rouco porque
todos os dias eu canto e doutrino uma casa com oitocentas e tantas pessoas...
BN – Mas na Assembleia Legislativa o senhor sempre discursa
com essa voz rouca também...
PSI – É porque quando eu chego na Assembleia para descansar,
para desestressar. Eu saio da minha casa, do trabalho, e lá, com tudo o que tem
ali, debate, projeto, eu ainda consigo descansar. Mas se for dentro de minha
casa, eu mal durmo. Ontem estava à 1h socorrendo dois alcoolatras que chegaram
de Canudos, fui dormir quase 5h...
BN – Mas e o HIV?
PSI – Então, o que acontece: eu não falava, eu não andava,
mas andava na mão das pessoas. Eu cuspia em uma vasilha de margarina e depois,
pela minha fé, o pastor chegou lá em um clube que eu tinha – eu tinha um clube
–, que de manhã amanhecia cheio de drogas, de porqueira, eu era polícia já. Eu
fui para o local onde o pastor me chamou e, ali, naquele momento, eu caí de
joelho e levantei, tirando coberta e tudo e quando o pastor me chamou, ‘cadê o
sargento Isidório?’, eu levantei pulando e dizendo ‘estou aqui, pastor’.
Curado, para a glória do nome de Jesus. Não foi o pastor que me curou, foi a
minha fé, o conjunto de força motriz da fé que cada qual aqui pode...
BN – Mas chegou a ter diagnóstico de que o senhor estava com
HIV positivo?
PSI – Graças a Deus não. Ali na verdade eu não cheguei a ir
para nada porque eu não tinha... hoje eu tenho... melhorou, por causa dessa
vivência minha aí no meio dessas pessoas maiores. Eu sou um deputado por
acidente de percurso, então melhora vocabulário, melhora conhecimento. Até
porque não estava muito na onda há 18 anos...
BN – O senhor usava droga injetável?
PSI – Não.
BN – E qual era a droga que o senhor usava?
PSI – Mais maconha, álcool.
BN – Chegou a cheirar cocaína?
PSI – De determinado momento em diante... o que é que
aconteceu... eu acordava e estava caído em um canto, um bocado de outros
drogados caídos para lá e ia para o quartel, suado, de manhã cedo, para botar a
tropa em forma, perguntando a mim: ‘meu Deus, o que será que eu fiz?’. E
pronto. Depois que [a pessoa] sai de si...
BN – Cocaína e crack chegou a usar?
PSI – Que eu lembre não. Crack está de agora.
BN – O senhor disse que não lembra se sentia prazer em
relacionamentos homossexuais porque estava drogado, mas no período em que seu
primo o abusou, o senhor tem alguma lembrança desse período?
PSI – Mas isso era um abuso.
BN – Mas o senhor achava bom isso, quando não tinha
consciência de que era abuso?
PSI – Não tinha consciência de nada. O que é uma pessoa que
está ali, vendo alguém tirar sua roupa, botar sua mão em partes íntimas. Até
você ter consciência para dizer a uma mãe... você tem filhos hoje que podem
estar sofrendo esse abuso e dá para ver pela falta de abertura de pai que não
quer dialogar, de mãe que quer ser carrasco. De pais que não se abrem para
conversar com o filho. Aí o filho toma medo e daqui a pouco o prejuízo é maior.
E lá atrás, eu pensava que se eu dissesse a esse pai meu, a essa mãe minha, eu
pensava: ‘rapaz, eu vou é apanhar aqui’.
BN – O senhor chegou a ter trejeitos de mulher?
PSI – Nos carnavais eu me vestia de mulher. Nunca fui
normal. Hoje tem a galera que é hétero mesmo que se veste para brincar, mas no
meu caso era para aproveitar o negócio (risos).
BN – O senhor não tem medo de uma recaída?
PSI – Eu estou pensando em vestir roupa de mulher para
entrar naquela Assembleia, para botar os deputados para pensar e para falar.
Porque está todo mundo calado. O grupo gay grita: ‘gay, gay, gay, o Brasil é
gay!’ e fica todo mundo calado. Isso é a verdade. É que não estão percebendo
que a televisão, a grande mídia, está investindo para descaracterizar a nossa
família. O cara pode até depois que fez um filho dar para boiola, mas ele não
quer que o filho venha não. Ele quer: ‘não, deixe meu filho macho aí’, mas ele
já está vendo que a televisão está trabalhando para mudar a natureza dos nossos
filhos, para inflamar as nossas filhas.
BN – O senhor está dizendo que a televisão é capaz de
produzir homossexuais?
PSI – É, é sim. É só o que faz, produzir mesmo. Não vê uma
[televisão] séria, que tenha um debate respeitoso e diga ‘olha, os religiosos
dizem que não é bom’. Não vê. ‘Homem com homem não faz filho, mulher com mulher
não faz filho’. Quer ver? Pega um monte de casal de cobra desses aí, joga em
uma ilha para ver se vai nascer alguém lá e depois que passou um período de
vida normal vá lá para ver se multiplicou, se tem alguém. Morreu todo mundo.
Isso é o extermínio da criatura. Porque homem com homem não faz filho. Eu já
disse: eu quero ver Daniela [Mercury] voltar de lá com uma mulher grávida. Aí
eu vou dizer que é retada.
BN – Todos os defensores e retratores de Marco Feliciano têm
usado o argumento da causa gay, mas ele também andou dizendo que os negros
foram amaldiçoados. Não é uma contradição uma pessoa que está em uma comissão
para defender os direitos das minorias, a causa negra por exemplo, ter usado um
argumento desses?
PSI – Eu acredito que no contexto em que o deputado falou,
deve ter acontecido um equívoco, um mau entendido, a má interpretação dele.
Tipo assim, nós somos negros. Aqui no nosso meio tem pessoas de pele branca,
mas estamos em uma nação verdadeiramente negra. Coisa linda, cor de chocolate.
Eu sou de moreno para negro e meu avô berço daquele largo [continente
africano]. E qual é o problema? Eu costumo dizer que nós vamos ter uma grande
surpresa. A Bíblia diz que Jesus não tem formosura, mas quando você vê um
quadro de Jesus é meio parecido com você [José Marques]: olho azul – e seu olho
não é nem gatinho, não –, mas os cabelos, coisa e tal. Você nunca viu um Jesus
negro. E olha a surpresa você chegar lá e ver um Jesus negão, botando pra
descer. Rasta, bonito. Por que essa discussão de cor, hoje acho que é mais
política.
BN – Mas o líder da comissão não podia ser, ainda que um
pastor, uma pessoa que não tivesse usado um argumento que classificam de
racista?
PSI – O contexto que ele estava lá: o pastor é humano.
Vocês, nesse instante, me perguntaram: você não tem medo de recaída não? Claro
que eu tenho medo de recaída. Eu não posso ficar junto de um homem muito tempo
porque a carne é fraca. Daqui a pouco o que é que pode acontecer? Então, eu não
vou chegar aqui e ficar brincando com fogo. A Bíblia diz que nós devemos sair
da aparência do mal. Jesus me livrou do homossexualismo, mas Jesus não está
mandando eu voltar e ficar lá agarrado com homem não. Se eu deixei de ser ladrão,
como que eu vou continuar no meio de ladrão? Se eu deixei de ser qualquer coisa
ruim, eu tenho que me livrar dessas coisas ruins para evoluir para o bem.
Agora, só posso ir lá para orientar: ‘olha, não é bom’. É isso que eu digo a
todo mundo. ‘Você não está com esse problema, evite ficar agarrando a sua
mulher, procure dormir mais separado, procure se afastar. Ou procure se ligar
mais para a mulher, para o outro sexo’. Pronto. Eu digo assim porque eu brinco
muito, eu sou polêmico e a imprensa, principalmente aquela imprensa sem
compromisso com Deus, sem responsabilidade, nunca quer botar as coisas boas. Eu
já imagino quanta desgraça vocês vão colocar aqui. Porque às vezes se vocês
tivessem a condição de colocar a verdade, ainda tem doutor aí por cima, o dono
da imprensa que vai querer que bote o que ele quer para vender a zorra dele.
Mas as coisas boas que eu digo aqui dificilmente serão colocadas...
BN – Aqui vai ser tudo colocado na íntegra...
PSI – Se brincar, vão colocar aí que eu disse que tenho queda
por homem, que não sei o que, mas graças a Deus não me preocupo com julgamento
de imprensa, de revista Veja, de Istoé...
BN – O senhor ainda não comentou as declarações de Feliciano
sobre os negros.
PSI – Ele fez o contexto de África. Ele disse que naquela
época... pronto, veja como isso é polêmico: lá naquela época, os primeiros
viados foram pegar dois anjos que chegaram ali na cidade. Aí o Ló [sobrinho de
Abraão] não permitiu que os caras quisessem ter os anjos como bofe. A viadagem
de lá, quando viu dois cabras bons, bonitos, parecidos com esse aqui [Evilásio
Júnior], musculosos, saiu atrás. O Ló disse: ‘não faça isso. São dois anjos do
Senhor que vieram à minha casa’ e ofereceu duas filhas: ‘olha, eu tenho duas
filhas moças aí, peguem’. Mas a viadagem não queria. Eles estavam inflamados. O
que aconteceu? Cegueira. A viadagem persistiu e o que aconteceu com Sodoma e
Gomorra? Heim?
BN – Foram destruídas...
PSI – E foi o Pastor Isidório? Foi Silas Malafaia? Foi Marco
Feliciano que queimou? Deus que determinou ‘saiam os bons daí e queime a cidade’.
Na Arca [de Noé] já tinham os bons de novo e ele fez chover. Como agora estamos
aguardando Jesus voltar. Mas a imprensa tem interesse em dizer que Jesus vai
voltar? A imprensa tem interesse em dizer que a chuva que está aí devastando
Rio, São Paulo, Santa Catarina, é a volta de Jesus, e está no Livro de
Apocalipse tudo isso? A imprensa vai ter vontade de dizer que essa seca que
está aí, que neguinho quer culpar o governador, quer culpar a presidente, quer
culpar todo mundo [é Deus]? Mas é natureza. Natureza é com Deus, ele é
soberano, ele é potente. Então o Pastor Marco Feliciano falava que por causa do
pecado lá naquela região onde a pele é mais negra aconteceu a maldição e aí ele
fala que o próprio Deus amaldiçoa. Mas não é por causa da pele. É por causa do
contexto daquela região que aconteceu. Nós estamos assistindo à seca, estamos
assistindo tudo. Toda nação que liberou casamento de homem com homem e mulher
com mulher está ruindo. Vocês são inteligentes: buliu com a natureza de Deus...
não é Deus que está despencando a nação não. Porque Deus é santo, mas ele vira
as costas. Tipo assim: um pai que tem dois filhos agarrados nele, ‘painho,
painho, eu te amo, me dê isso’ e o outro filho que está lá tirando onda, é
claro que ele vai pegar o que está agarrado nele. As nações que liberaram o
casamento de homossexuais estão todas na desgraça. Olhe aí para a Europa. Só
por Deus estar percebendo o percurso que isso está tomando, esta nação está
ficando ferida. E não é homem que bota a seca, que suspende a chuva não. Para
acabar a pobreza, acabar a miséria, depende de Deus. Se a presidente não tomar
pulso para deixar como estava antigamente, a viadagem, os gays, agora... agora
é lei: supremacia da viadagem. O que estão querendo: aí vão chegar duas
pessoas, um gay e um hétero em um concurso aqui nesta casa e o dono disto aqui
vai dizer: ‘eu queria botar você mas esse viadão vai dizer que a lei 122... vá
pai de família, venha viadão. Tem uma lésbica e uma mulher de bem, mas eu gosto
de você, mas acontece se eu botar você...’
BN – O senhor está dizendo que a lésbica é uma ‘pessoa de
mal’?
PSI – Não, estou dizendo assim... (pensativo) Olha, agora eu
não sei se é do mal, mas quando alguém deixa de querer cumprir palavra de Deus,
parir, ter filhos... porque essa sociedade é bonita por causa da produção de
pessoas. Deus não fez isso aqui para ficar ilhado. Se seu pai fosse bicha, se
sua mãe fosse bicha, você não estava aqui na frente. Se aqui, os pais fossem
lésbicas, vocês não estariam aqui. Então imagine o que acontecerá nessa nação
na hora que começarem a incentivar homem com homem, mulher com mulher. Rapaz,
tem uma coisa por detrás disso que só olhos espirituais [veem]. Imagine você
deixar de existir... aí você está vendo aí aborto sendo incentivado pelos
cantos. Eu não tenho nada contra uma mulher que foi estuprada se ela decidir ‘não
dá’. Mesmo assim, se eu pudesse aconselhar, diria: ‘quem lhe estuprou é que é
bandido. O menino que está aí não vai ter nada a ver. Vá cuidar de seu filhinho
que tem tanto exemplo de filho que tiveram pai problema e estão dando certo’.
Tem muita coisa por detrás que precisa ser debatida. A verdade é que ninguém
quer debater direito.
BN – O senhor falou de respeito e falou que Lídice é de
Xangô e o senhor é de Jesus. O Estado é laico. Cada um não deveria respeitar a
sua religiosidade e não deveria ser uma contradição o senhor legislar com
preceitos religiosos?
PSI – É engraçado. Eu acho que você não deve ter ido à Fonte
Nova. Essa desgraça desse Estado é laico e a Fonte Nova está cercada só com [a
fitinha d]o Senhor do Bonfim. Todo mundo aqui é forçado, obrigado, a se curvar
ao Senhor do Bonfim. Eu não estou nem falando de evangélico. Porque tem quem
gosta de Maria de Aparecida, Maria da Conceição e é laico. Só é laico porque
tem um evangélico na sua frente. Então me ajude a ir lá e tirar aquela fita
então e dizer ao governador e à presidente da República que deixe que o povo
chame o Deus que quiser. O povo que gosta da Fonte Nova dizer ‘glória a Deus’
ou ‘glória a Cosme e Damião’ ou ‘glória a não-sei-quem’. Mas está lá
oficialmente. Que Estado laico, heim? Então ajude, entre aqui na luta. Não bote
lá nem Bíblia, nem evangélico, nem ninguém. O Estado é laico e ali no Dique do
Tororó só tem Orixás. Pedaço de ferro para mim, que não bebe, não fala, não
serve para nada, a não ser enferrujar e gastar dinheiro público. Se é laico,
deixe que as pessoas escolham seu caminho. Quem quiser copo de água, do
espiritismo, um copo de água, quem quiser umbanda, umbanda, quem quiser Bíblia,
é Bíblia. Se é laico ali devia ter um Orixá, uma Bíblia, um copo de água para o
espiritismo, lá devia ter Buda, Maomé, devia ter tudo. Aí é laico. Fora isso
não devia estar com nada, entendeu? Então, respeite-se a todos. Todos os
Orixás, todos os evangélicos, todos os católicos. Conheço tanta gente que mesmo
não sendo evangélico é de outros santos. Para ser laico, o Estado tinha que ser
juiz: ‘não vamos ter nada aqui, nem Bíblia, nem nada’. Vá aí para o Judiciário,
para as escolas, para o Legislativo para você ver que laicidade da miséria. Vá
para você ver.
BN – Na Assembleia tem um crucifixo na parede...
PSI – Pois é. É para não ter nada.
BN – Há um tempo atrás o senhor fez uma declaração em
plenário contra o exame de próstata, dizendo que os homens não precisavam
fazer. Mudou de opinião? O senhor já fez esse exame?
PSI – Eu nunca fui contra o exame de toque. E aí quando
falam isso eu já sou vítima porque eu já lhe disse como é que a imprensa é –
não é toda ela não, porque tem muitos profissionais com dignidade. No dia em
que eu disse aquilo, eu tinha ido fazer exame porque tinha apresentado alguns problemas
como já estou de novo: micção curta, toda hora, que o pessoal diz que é ruim.
Procurei fazer o exame. Minha chefe de gabinete disse ‘olha, pastor, esse
problema seu pode ser da próstata. O senhor já fez?’, eu disse ‘não’. Cheguei
lá, o médico disse ‘o próximo’ e me mandou pra a maca. Eu fui deitar e ele
disse ‘não precisa deitar não, em pé mesmo’. Ele disse ‘tira as calças’ e eu
penso ‘miséria, é pior do que os coronéis, é pior do que o quartel’. Aí tirei o
cinto, baixei as calças e recebi os dedos. TUM! Pronto. Eu sou profissional de
saúde e tenho convicção que outros procedimentos, como a Benzetacil e
comprimidos, as pessoas perguntam: ‘já tomou esse comprimido? Você tem algum
problema com ele?’
BN – Foi na rede pública ou na rede privada?
PSI – Sei que paguei 150 contos para tomar uma dedada. É
importante fazer os exames porque eu fiz, foi quase dois milhões de folderes
depois dizendo tudo tintim por tintim. Eu acho que deviam perguntar, quanto
mais em cavidade. Mulher quando vai fazer exame ginecológico, não é toda mulher
que tem o nível de vocês, tem mulheres do interior que não fazem ideia do
tratamento. É constrangedor. Que é que custa uma médica ginecologista
perguntar: ‘já fez?’, ‘não’. E dizer: ‘vai bulir na xequinha, para saber de
alguma coisa, mas fique tranquila, eu também já fiz’. Que é que custa? E que é
que custava o médico me dizer ‘eu vou introduzir na sua cavidade, mas é porque
é para saber melhor o exame, tá certo? Então fique tranquilo, porque toque
retal não tira masculinidade de ninguém, já fiz também’. Pronto, era só isso.
Hoje, eu sei que inclusive existe uma cadeira anatomicamente preparada para
isso. Eu sei que existe um posicionamento para fazer isso. Na verdade, eu tive
que ser ridicularizado pela imprensa ou seja quem tenha feito isso para me
desgastar, mas Deus estava naquele negócio porque logo depois veio Tony Ramos
para falar que fez... nunca se falou tanto. Então, se estou até hoje difamado
por não gostar do exame de toque retal, mas isso surtiu efeito porque inclusive
tem empresas que estão com um calendário para isso. ‘Os homem fez (sic) 40
anos, véi? Então dedada!’. Nessa história de ficar jocoso publicizou mais o
exame e eu sei que hoje eu faço na hora que precisar distribuir dois milhões de
folderes que toque retal não tira masculinidade de ninguém. Eu já fiz o meu
exame, faça o seu. No folder, Estou com o chapéu da PM, um bujão de gás, a
calça um pouquinho aberta e saindo de um consultório. Eu distribuí isso e nunca
se teve tanta conversa em relação a isso. O que me dificultou de um lado, por
perder a eleição, por tudo isso, Deus fez do limão uma garapa, porque muitos
homens estão indo fazer o exame. Eu nunca fui contra isso, apenas falei daquele
jeito, da maneira que acabei de explicar. Aí veio um jornal e disse ‘petista
[partido anterior do deputado] viu estrela’ e tal, vocês sabem o que é vender
jornal e eu não tenho nada contra isso. A imprensa diz o que quer. Eu, por
exemplo, não sou dono de mim, eu ganho dinheiro público, eu sou deputado, então
não vai ter valor nada meu, quanto mais a parte lá de trás.