A gasolina aumentou, a energia vai aumentar muito, o teto da
meta de inflação virou piso e os juros voltaram a subir
Os eleitores progressistas de Dilma Rousseff estão
radiantes. Foi muito importante a esquerda ganhar a eleição no Brasil. O
candidato burguês da elite branca jamais celebraria o Dia da Consciência Negra
como o fez a presidente mulher e oprimida. Devota de Zumbi (o que fica claro
pelo estilo do seu governo), Dilma exaltou um Brasil que “se orgulha da sua
cor”. Se você não sabia, eleitor derrotado da direita capitalista, agora ficou
sabendo: o Brasil tem uma cor. E não é a sua, seu branco azedo. Aí você
perguntaria: se o Brasil de Dilma é negro, não seria melhor ela entregar logo a
Presidência a Joaquim Barbosa e se exilar na Argentina?
Pronto, lá vem a elite branca com a sua vocação golpista. É
bem verdade que também há brancos entre os eleitores conscientes que salvaram o
Brasil, garantindo mais quatro anos ao PT. Mas é só aparência. São todos negros
por dentro. Negros como o petróleo viscoso que jorrou nas contas bancárias do
PT e aliados nos últimos dez anos.
O eleitor progressista do bem votou na candidata do povo já
sabendo o que tinha acontecido com a Petrobras. Desde o início do ano a
Operação Lava-Jato da Polícia Federal veio mostrando, como numa novela de
Aguinaldo Silva, capítulo por capítulo da privatização da maior empresa
brasileira pela maior quadrilha brasileira — instalada na diretoria da estatal
com as inconfundíveis digitais petistas. Nada disso abalou o eleitor de
esquerda, porque ele sabe que privatização perigosa é a dos neoliberais. Se o
PT e sua gangue tomam posse do que é do povo, isso é socialismo. No máximo na
próxima encarnação você recebe a sua parte.
O que talvez tenha chateado um pouco o eleitor antenado de
Dilma foi um detalhe desagradável do caso Petrobras. Só depois de passada a
eleição, ele ficou sabendo o nome da empresa offshore do ex-diretor de serviços
Renato Duque — um dos prepostos petistas no esquema, que está preso. A empresa
depositária das propinas no exterior se chama “Drenos”. Isso magoa um progressista.
Mensalão, petrolão, enfim, drenar o dinheiro do povo por 12 anos, prorrogáveis
por mais quatro, tudo bem. Mas fazer piada interna com isso é demais. Os
companheiros Valério, Delúbio e Vaccari jamais fariam isso. Parece até coisa da
elite branca.
Os desvios criados pelo PT nesses três mandatos do governo
popular sempre foram coisa séria — dinheiro sujo para financiar a revolução
limpa e gloriosa (e os charutos do Delúbio, que ninguém é de ferro). Enfim,
roubaram sem perder a ternura. O eleitor progressista e libertário do Rio de
Janeiro — que junto com Minas Gerais decidiu a eleição em favor de Dilma —
sabia de tudo isso, e explodiu de orgulho do seu voto no PT. Só não sabia que,
no meio de toda a sucção revolucionária de dinheiro público, havia um engraçadinho
batizando uma offshore do esquema de Drenos. Como assim? Como um companheiro do
bem que ama o Nordeste, os negros e os pobres faz uma coisa dessas? Será que
ele confundiu socialismo com drenagem?
Vamos acalmar o eleitor de Dilma que livrou o Brasil da
direita careta que adora Miami: está tudo bem. Não vá entrar em crise de
consciência agora, que tudo deu certo. Quem sabe até “Drenos” seja o nome de um
deus grego que simboliza a igualdade entre os homens — uma espécie de Hugo
Chávez do Olimpo. Bem, seja qual for o significado de drenagem no novo
dicionário da revolução companheira, o que importa é que Dilma e Lula já
anunciaram que vão trabalhar duro para “resgatar a imagem” da Petrobras. E nem
será preciso trabalhar tão duro assim: com a fortuna do petrolão, dá para
comprar toneladas de batom, rímel e blush. A Petrobras vai ficar linda.
Falando em maquiagem, a contabilidade criativa do governo
popular precisará ser aprimorada. Com toda a perícia no embelezamento dos
números, o déficit público estourou. Os companheiros estão tentando dar o seu
jeito, propondo retirar a palavra “superávit” da norma de metas fiscais. É uma
solução interessante, altamente progressista. Se der certo, poderá ser
estendida a outras áreas — retirando, por exemplo, a palavra “corrupção” do
Código Penal. Aí a elite vermelha poderá tocar a sua drenagem revolucionária em
paz, sem a chateação dessa imprensa burguesa que odeia o povo.
A gasolina aumentou, a energia vai aumentar muito, o teto da
meta de inflação virou piso e os juros voltaram a subir. O que pensam disso os
eleitores conscientes e solidários, magnetizados pelo carisma de Dilma
Rousseff? Eles não têm dúvida: isso certamente foi alguma maldade neoliberal do
Armínio Fraga uns 15 anos atrás. Valha-nos, ó soberano Drenos, e livrai-nos
desses conservadores desalmados, filhotes da ditadura. Esquerda unida jamais
será vencida, caminhando e cantando e seguindo o cifrão.
Manifestações contra o petrolão são coisa da
direita, alertam os progressistas. Dilma fará a mudança. Sendo assim, que o
frete não demore, e ela não esqueça suas apostilas no palácio.