A ordem do ex-presidente Lula, que mandou o PT “ir pra cima”
daqueles que expõem os malfeitos do partido, foi perfeitamente entendida. Os
petistas estão articulando uma verdadeira guerrilha para atuar nas redes
sociais durante a campanha eleitoral. “Não deixem ataque sem defesa”, disse o
presidente do PT paulista, Emídio de Souza, a participantes de um “camping
digital” promovido pelo partido para treinar essas milícias virtuais. É com
esse ânimo que os petistas se aprontam para o que consideram ser uma guerra -
na qual a verdade é o que menos importa.
Motivos não faltam para que o PT se preocupe. Multiplicam-se
evidências de que o escândalo da Petrobrás é muito maior do que o noticiado até
agora. Além disso, o eleitorado começa a se dar conta de que a imagem de
administradora competente atribuída pela propaganda oficial à presidente Dilma
Rousseff não corresponde à realidade. Quando fala em rebater os “ataques” que
sofre, o partido pretende negar a realidade, desqualificar os que pensam de
modo diferente e propagar teorias da conspiração para justificar os problemas
reais do País que governa.
Nada melhor, para isso, do que o lado obscuro das redes
sociais, onde o descompromisso com os padrões éticos e técnicos do jornalismo
profissional permite que mentiras sejam tomadas como verdades e que verdades
sejam combatidas com mentiras repetidas mil vezes. Reputações são dizimadas em
alguns cliques.
Para um partido que se vê como a encarnação da vontade
popular e que considera as opiniões divergentes como manobras dos “inimigos do
povo”, nenhum esforço é pequeno para denunciar os algozes do “novo Brasil”
construído pelo lulopetismo. O tal “camping digital” que o partido montou para
doutrinar seus seguidores respeita esse espírito: adestrar seu exército para
disseminar a “verdade oficial” - não só em páginas do partido, mas também na
forma de patrulha sistemática em sites e blogs alheios.
Nesse encontro petista, cerca de 2 mil inscritos ouviram
dicas sobre como ganhar audiência em blogs, defender o partido na internet e
navegar sem deixar rastros que permitam a identificação - a desculpa
esfarrapada é, conforme o programa oficial, “dar prejuízo à NSA”, a agência de
espionagem americana acusada de bisbilhotar a internet no resto do mundo; na
prática, porém, trata-se de aprender a espalhar inverdades de forma anônima,
evitando processos judiciais.
Além disso, os militantes, com presumível excitação juvenil,
puderam assistir a “debates” didáticos, como o intitulado Como as elites e a
mídia desconstroem a verdade dos fatos, e também à palestra Internet,
informação e disputa política, proferida pelo ex-ministro Franklin Martins -
que está na vanguarda da luta dos radicais petistas para amordaçar a mídia
crítica ao governo e que gostaria de ver o PT aparelhar a internet tanto quanto
aparelhou a administração.
De quebra, em um debate sobre como responder às críticas
sobre os gastos com a Copa, a audiência pôde desfrutar das opiniões de Jânio
Carvalho Santos, ex-diretor da torcida organizada Mancha Alviverde, do
Palmeiras, que já foi preso pela morte de um torcedor corintiano e por tumultos
durante um jogo. Em uma das sentenças, o juiz informou que Jânio tem
personalidade “voltada para a prática de atos violentos e conduta social
reprovável”.
Não é de hoje que o PT trata a internet como trincheira. No
seu 4.º Congresso, em 2011, foi lançada a ideia da Militância em Ambientes
Virtuais (MAV, na sigla petista), organizada para infestar as redes sociais com
os ataques a adversários e à imprensa independente. É, portanto, oficial - e
esses grupos estão espalhados pelo País, disseminando as distorções produzidas
por jornalistas que estão a serviço do governo.
Em recente entrevista a esses jornalistas camaradas, Lula
disse que é preciso uma política de comunicação “agressiva”, para “defender com
unhas e dentes aquilo que a gente acredita que seja verdadeiro”. É nesse clima
que a guerrilha virtual petista está aquecendo os músculos para fazer a versão
do partido prevalecer sobre os fatos.