A interrupção das negociações de paz entre os israelenses e
os palestinos esta semana se deu quando o presidente palestino Mahmoud Abbas -
frustrado com a não libertação de um último grupo de prisioneiros palestinos
por Israel - assinou papéis pedindo a adesão do Estado da Palestina a 15
agências da ONU e tratados internacionais, incluindo as convenções de Viena e
Genebra. Com isso, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, o mediador das
negociações, cancelou sua ida a Ramallah e voou para Bruxelas.
Mas foi também o anúncio por Israel que tinha relançado uma
licitação para a construção de 708 casas em um bairro de Jerusalém Ocidental,
que é considerada ocupada e anexada, que forçou a reação palestina. Os
palestinos tinham aceitado adiar o pedido de admissão para essas entidades internacionais
por nove meses. Israel teme que os palestinos o critiquem, mas Abbas disse que
eles tinham que reagir ao anúncio israelense.
Com essa última rodada de troca de acusações e ações
unilaterais, muitos já estão tocando o sino do fim desse último período de
negociações que somente começou em julho de 2013 depois de estar parado por
cinco anos. Eu acho cedo para anunciar o fim das tentativas de negociar um
acordo final para o estabelecimento de um Estado da Palestina, livre e
independente, dentro da Cisjordânia, um território ocupado por Israel desde
1967, e a Faixa de Gaza. Os maiores obstáculos são o primeiro-ministro
israelense Benjamin Netanyahu e sua coalizão de partidos ultraconservadores e
nacionalistas, que insistem que os palestinos reconheçam Israel como um Estado
judeu, que renunciem à sua reivindicação histórica de que a parte leste e árabe
de Jerusalém seja a capital do Estado palestino e que Israel possa deixar
tropas na Cisjordânia por tempo indeterminado.
Ora, essas exigências israelenses não deixam dúvida de que o
seu atual governo não quer ver um Estado palestino viável ao seu lado. Os
levantes da Primavera Árabe nos últimos três anos e o confronto do Ocidente com
o programa nuclear do Irã têm tirado o foco do mundo do conflito israelense-palestino.
Mas o Estado de Israel nunca vai ser seguro enquanto não resolver a questão
palestina. Como, eu pergunto, os judeus de Israel, que interminavelmente evocam
as atrocidades cometidas contra eles pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial
na Europa, podem tratar os palestinos na Cisjordânia como cidadãos de segunda
categoria com pouquíssimos direitos civis, políticos ou econômicos? Esse
apartheid israelense está corroendo a alma do Estado judeu, que é supostamente
liberal, progressista e democrático. Talvez seja, mas somente por cidadãos
israelenses que são judeus.
O presidente americano Barack Obama deu luz verde a John
Kerry para botar a possível libertação do espião americano Jonathan Pollard na
mesa de negociação com os israelenses. O pensamento é que, com isso, Netanyahu
poderia soltar ainda mais prisioneiros palestinos, incluindo 400 mulheres e
crianças, sem ser muito criticado pela opinião pública israelense, que não tem
visto a libertação de palestinos presos em Israel com bons olhos. Mas é um erro
oferecer Pollard aos israelenses. Ele já vai poder pedir sua liberdade
provisória em 2015, e toda a comunidade de inteligência americana tem ficado
irredutível quanto ao presidente americano perdoar Pollard desde os anos 1980,
por causa dos milhares de páginas de segredos militares que ele vendeu para
Israel e outros países. Em todo caso, Netanyahu tem sempre pedido muito mais
dos americanos quando lhe é oferecida uma recompensa para um ato que adianta as
negociações.
Eu acho que Abbas e Kerry são sinceros em querer avançar as
negociações para um acordo final que veria as fronteiras de Israel, com um
estado palestino, definidas. Infelizmente, Obama não parece ter muita paciência
com os dois lados, e Netanyahu não leva a sério o processo. Mesmo assim, não
podemos ser tomados pelo desespero. Uma solução justa para os dois lados é o
único caminho para um Oriente Médio mais seguro e equitativo para todos. Mas
também não podemos nos manter parados em negociações sem fim, e ficar falando
só para falar. Talvez seja tempo de introduzir um negociador além dos EUA, que
nunca escondeu sua predileção por Israel. Um interlocutor europeu talvez seja a
solução.