Que bom! Há nas ruas e nas redes sociais sinais claros de
enfraquecimento da metafísica petista
O PT ensaiou uma reação quando veio a público a avalanche de
malfeitorias óbvias na Petrobras: convocou o coração verde-amarelo da nação.
Tudo não passaria de uma conspiração dos defensores da "privataria",
interessados em doar mais essa riqueza nacional ao "sagaz brichote",
para lembrar o poeta baiano Gregório de Matos, no século 17, referindo-se, em
tom de censura, aos ingleses e a seu espírito mercantil. Não colou! A campanha
não pegou. A acusação soou velha, do tempo em que a ignorância ainda confundia
capitalismo com maldade.
Desta vez, parece, os larápios não vão usar o relincho
ideológico como biombo. Até porque, e todo mundo sabe disto, ninguém quer nem
vai vender a Petrobras. Infelizmente, ela continuará a ser nossa, como a
pororoca, o amarelão e o hábito de prosear de cócoras e ver o tempo passar
--para lembrar o grande Monteiro Lobato, o pai da campanha "O petróleo é
nosso". A intenção era certamente boa. Ele não tinha como imaginar o
tamanho do monstro que nasceria em Botocúndia..
Há nas ruas, nas redes sociais, em todo canto, sinais claros
de enfraquecimento da metafísica petista. Percebe-se certo cansaço dessa
estridência permanente contra os adversários, tratados como inimigos a serem
eliminados. Se, em algum momento, setores da sociedade alheios à militância
política profissional chegaram a confundir esse espírito guerreiro com retidão,
vai-se percebendo, de maneira inequívoca, que aquilo que se apresentava como
uma ética superior era e é apenas uma ferramenta para chegar ao poder e nele se
manter.
A arte de demonizar o outro, de tentar silenciá-lo, de
submetê-lo a um paredão moral seduz cada vez menos gente. Ao contrário: há uma
crescente irritação com os estafetas dedicados a tal tarefa. Se, antes, nas redes
sociais, as críticas ao petismo eram tímidas, porque se temia a polícia do
pensamento, hoje, elas já são desassombradas. E se multiplicam. Os blogs sujos
viraram caricatura. A cultura antipetista está em expansão. E isso, obviamente,
é bom.
Notem: não estou a fazer previsões eleitorais. Não sei se
Dilma será ou não reeleita; não me importa se o PT fará mais parlamentares ou
menos; mais governos de Estado ou menos. Quem me lê deve supor o meu gosto para
cada uma dessas possibilidades. Ainda que o partido venha a ter o melhor
desempenho de sua história, terá começado a morrer mesmo assim. Refiro-me, à
falta de expressão mais precisa, a uma "agitação das mentalidades"
que costuma anunciar as mudanças realmente relevantes.
Pegue-se o caso do PT: não nasceu em 1980. Surgiu alguns
anos antes, de demandas geradas por valores a que a política institucional, as
esquerdas tradicionais e o nacionalismo pré-64, que remanescia, já não
conseguiam responder. À diferença do que ele próprio deve pensar, Lula não inventou
o PT. O espírito do tempo é que inventou Lula.
"Ah, mas a oposição não tem projeto!" A cada dia,
fica mais evidente que essa história de "projeto" é conversa para
embalar idiotas. Não é preciso parir a novidade a cada eleição. Ao contrário: o
espírito novidadeiro costuma traduzir um vazio de ideias. Estancar a ladroagem
nas estatais é uma boa proposta. Parar de flertar com a inflação é uma boa
proposta. Desmontar o aparelhamento do estado é uma boa proposta. Estabelecer
parcerias com o setor privado, em vez de comprar a sua adesão com subsídios e
renúncia fiscal, é uma boa proposta. E nada disso compõe, exatamente, um
"projeto". A propósito: qual é o do PT?
Se querem, para o bem do país, tirar Dilma do trono, seus
adversários devem se ocupar menos de encontrar a "pedra filosofal da
oposição" do que de lembrar que estão a falar com um povo, na média,
decente, a cada dia menos tolerante com bandidos que prometem a nossa salvação.
Espero que Aécio Neves e Eduardo Campos descubram, finalmente, a força dos
indivíduos e de seu senso de moralidade. São eles que criam o espírito do
tempo. E que formam o povo.