De origem acadêmica, o PSDB fez ao longo dos 12 anos dos
governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff uma oposição “punhos de
renda” que, segundo parlamentares tucanos, não se traduzia em ações de
contenção ao poder do PT. A reeleição da presidente serviu de “rito de passagem”
para o partido, que abriu a caixa de ferramentas antes mesmo do início do
segundo mandato.
Logo após a eleição, o partido - com o argumento de
responder aos questionamentos nas redes sociais sobre a confiabilidade das
urnas eletrônicas - pediu uma auditoria no resultado das eleições. No momento
seguinte, os principais líderes da legenda, como o senador Aécio Neves (MG) -
candidato à Presidência derrotado no 2.º turno por Dilma -, iniciaram uma blitz
retórica, como chamar o PT de “organização criminosa”.
Agora, dizem os tucanos, com a votação do projeto que
flexibiliza a meta fiscal, é o momento da ação legislativa. “O governo saberá
daqui para a frente o que é fazer oposição selvagem”, disse ao Estado o líder
tucano na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), ele próprio autor de 12 discursos de
ataque ao governo Dilma na sessão de 18 horas que aprovou a flexibilização das
metas fiscais - iniciada anteontem e encerrada na manhã de ontem.
O primeiro discurso de Imbassahy foi feito às 10h28, 25
minutos antes da sessão do Congresso alcançar o quórum necessário para apreciar
dois vetos da presidente Dilma e as mudanças na meta fiscal. O último ocorreu
às 4h38 minutos da madrugada de ontem, antes do encerramento às 5h. Em cada um
deles Imbassahy acusou o governo de envolvimento em corrupção, de ter quebrado
o País, e de fazer maquiagem para tentar se salva. Também citou a delação do
executivo Augusto Mendonça, do grupo Toyo Setal, que disse que doações
eleitorais ao PT eram parte da propina cobrada em contratos da Petrobrás.
Na mesma linha “oposição selvagem” dos tucanos, o deputado
Domingos Sávio (MG) fez 15 pronunciamentos. Já o líder do PSDB no Senado,
Aloysio Nunes Ferreira (SP), fez seis intervenções. Numa delas, evocou o
segundo livro de Samuel, na passagem em que o rei Davi é perdoado depois de
reconhecer que errou ao seduzir a mulher de Urias. “A presidente errou, mas não
reconhece. E erra de novo. Não será perdoada”, sentenciou Aloysio Nunes
Ferreira. Imbassahy, Aloysio Nunes e Domingos Sávio fazem parte da tropa de
choque do PSDB, disposta a não dar sossego ao PT.
Preço. Mas o próprio Aécio, que é presidente do partido,
também foi para o ataque, durante a longa sessão que tratou da mudança na meta
de ajuste fiscal. Disse que Dilma tinha posto o Congresso “de cócoras” ao
editar decreto condicionando a liberação de emendas parlamentares à aprovação
da proposta do ajuste fiscal. Aécio fez as contas e chegou à conclusão que cada
parlamentar valia R$ 748 mil no preço do governo.
Imbassahy diz que os tucanos estão animados. “É como se a
gente estivesse numa partida de futebol, com o estádio cheio. Nosso candidato à
Presidência da República teve 51 milhões de votos. Cada vez que nos manifestamos
aqui, estamos nos manifestando para 51 milhões de eleitores. Isso dá um ânimo
danado para brigar.”