Em tempos de Comissão da Verdade e discursos oportunistas de
“resgate da memória histórica”, aproveitados para legitimar o imaginário acerca
do atual governo e a trajetória de algumas de suas lideranças – conhecidas pelo
combate ao nosso famigerado regime militar, feito, sabemos bem, para implantar
aqui uma ditadura muito pior -, têm sido costume no Brasil revisitar também
algumas das mais importantes personalidades comunistas do passado. Com absoluta
falta de respeito a suas vítimas e com completo desprezo pela realidade, obras
são batizadas com o nome de fascínoras de esquerda – e outras, em prol de
interesses ideológicos e eleitoreiros, têm seus autores originais
desprestigiados em favor de figuras que nada tiveram a ver com suas construções.
Há pouco, a ponte Rio-Niterói foi exemplo dessa prática
revoltante. A Comissão de Cultura da Câmara aprovou, no último dia 12 de
novembro, a mudança do nome oficial da ponte. Construída durante o regime
militar, sob a batuta de Mario Andreazza, ministro dos Transportes à época, ela
tem o nome do presidente Arthur da Costa e Silva. Parlamentares como Chico
Alencar e Jandira Feghali (que surpresa!) conseguiram aprovar a medida que dá à
ponte o nome do sociólogo Betinho, exilado durante o regime, que não tem
absolutamente nenhum mérito pela edificação da obra. Se o incômodo é tanto e
precisam mudar o nome, por que não colocar o nome de Andreazza, que realmente
foi responsável? De qualquer modo, ela continuará a ser sempre, para o povo
carioca, a “ponte Rio-Niterói”. É inútil a medida, e passa por cima da tão
proclamada verdade histórica sem o menor pudor. Sempre frisamos: por que
ninguém se ocupa de mudar o nome da Avenida Presidente Vargas, tendo sido
Getúlio um ditador ainda mais completo e cruel que os nossos mandatários
militares?
Ano passado, ocorreu algo pior ainda. O Colégio Estadual
Presidente Emilio Garrastazu Médici, em Salvador, mudou de nome. Foi rebatizado
com o nome de um esquerdista que combateu a ditadura, naturalmente, mas desta
vez não se ativeram a um sociólogo. O colégio passou a se chamar Carlos
Marighella. Isso mesmo; um assassino comunista, terrorista da luta armada,
virou nome de colégio. É preciso destacar mais o despropósito?
Também no começo deste mês, em Porto Alegre, houve uma
manifestação contra o Memorial Luiz Carlos Prestes, em homenagem à mais
representativa figura do comunismo no Brasil, diretamente implicada, por
exemplo, na morte da jovem Elza Fernandes. Um homem que foi capaz de se
articular ao lado de Getúlio, o ditador que enviou sua esposa grávida para os
nazistas. No entanto, como disse o cientista político Paulo Moura, que ajudou a
promover o ato, acharam por bem erguer um monumento a ele como se o golpista
totalitário tivesse sido um “herói da pátria” – uma vergonha inadmissível para
a nação.
Até aqui, porém, o nível de sordidez se mantém em níveis
nacionais. Betinho, Marighella, Prestes: todos foram brasileiros. O prefeito de
Maricá, Washington Luiz – apelidado de “Washington Quaquá” – foi mais longe. O
dito cujo é petista – por que não me surpreendo?
Em 17 de setembro de 2012, ele anunciou, no site da
Prefeitura, a construção de um novo hospital na região. O projeto estava
calculado em R$ 16 milhões – R$ 11 milhões obtidos junto ao Ministério da Saúde
e repassados pela Caixa Econômica Federal e R$ 5 milhões de contrapartida
municipal. O hospital, de acordo com o anúncio oficial, ficaria instalado numa
área de 6,6 mil m² às margens do km 29 da RJ-106.
Aparentemente, nada realmente grave, não fosse pelo nome a
ser dado à construção. Teríamos, em terras brasileiras, o Hospital Municipal
Doutor ERNESTO CHE GUEVARA. Sim, isso mesmo que você leu. Fôssemos extremamente
ingênuos (ou, mais apropriadamente, imbecis) e veríamos nisso apenas uma
lembrança do fato de que Guevara foi médico. Uma gritante contradição, no
entanto, sabemos bem. Este médico, cuja dedicação deveria ser a de salvar
vidas, se tornou um revolucionário sanguinário, que exaltava o ódio e aplaudia
execuções sem julgamento. Toda a verdade sobre Guevara já está suficientemente
exposta e esclarecida, mas as nossas esquerdas obtusas e mal-intencionadas
insistem em alimentar a imagem de um herói defensor da justiça social.
Dar a um hospital brasileiro o nome de Ernesto Che Guevara,
seja esse hospital onde for, seja do tamanho que for, é, sem exagero nenhum, um
atentado à dignidade moral da nossa pátria. É, além disso, uma ofensa grave às
vítimas dos fuzilamentos, e nada menos que uma profanação de um lugar em que
deveria ser exercida a sagrada tarefa da medicina. O senhor Quaquá, num gesto
nada engraçado – ao contrário de seu apelido -, em vez de homenagear quaisquer
figuras de peso de nossa história nacional, prefere tomar um assassino genocida
estrangeiro, comandante da Revolução que mantém a dinastia Castro até hoje no
poder em Cuba, para dar nome a algo de finalidades tão nobres.
As obras do hospital, hoje, estão atrasadas. Talvez de
propósito – afinal, que maneira melhor de homenagear o socialismo? O socialismo
nada produz, não gera riqueza, nada edifica, nada constrói. Melhor maneira de
reproduzir os ideais guevaristas não poderia haver. Melhor ainda seria, para os
cidadãos de Maricá que não compactuam com essa imundície, para os cidadãos
fluminenses e cariocas, para os cidadãos brasileiros, que tal obra, com esse
nome, jamais fosse erguida em nossa terra. O Brasil não precisa de exaltações à
tirania e à matança. Basta! Mais respeito à vida humana, e mais respeito à
legítima memória histórica. Enquanto tentarem reescrevê-la, tal como o Socing
no 1984 de George Orwell, que haja, nas consciências de quem se põe em busca da
verdade e de sua preservação, a necessária resistência.