Quem, em sã consciência, pode apostar que um grupo que se
enraizou no Estado brasileiro para saqueá-lo fará tudo diferente agora?
Ao ser diplomada no TSE para o novo mandato, Dilma Rousseff
propôs um pacto nacional contra a corrupção. Quase na mesma hora, a
Controladoria-Geral da União afirmava que a compra da Refinaria de Pasadena não
foi um mau negócio, foi má-fé. Dilma presidia o Conselho de Administração da
Petrobras, responsável pela aprovação da negociata. A dúvida é se os critérios para
a compra da refinaria e para o pacto anticorrupção serão os mesmos.
O Brasil precisa saber urgentemente qual será o papel do
tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no pacto nacional contra a corrupção. Nas
investigações da Polícia Federal, Vaccari é acusado de beneficiário do esquema
do petrolão, e de injetar propinas na campanha de Dilma - essa mesma que foi
reeleita e diplomada declarando guerra à corrupção. As faxinas da presidente
deixariam o FBI de cabelo em pé.
Os EUA, aliás, já foram apresentados às entranhas do governo
popular, com a chegada do escândalo da Petrobras à Justiça americana. O
problema é que lá não tem um Lewandowski ou um Dias Toffoli para tranquilizar
os companheiros na última instância. Também não tem um ministro da Justiça servindo
de garoto de recados do marqueteiro petista. Como incluir os americanos,
holandeses e suíços lesados pelo petrolão no pacto contra a corrupção? Será que
o apoio deles custa mais do que os da UNE e do MST?
Uma das ascensões políticas mais impressionantes nos últimos
anos foi a do ex-deputado André Vargas. Virou secretário de comunicação do PT e
chegou a falar grosso com o STF no julgamento do mensalão - cuja transmissão
televisiva ele queria embargar. Depois provocou Joaquim Barbosa publicamente,
fazendo a seu lado o gesto do punho cerrado dos mensaleiros. André Vargas
chegou à vice-presidência da Câmara dos Deputados, nada menos. Aos inocentes
que não entendiam aquela ascensão meteórica, veio, enfim, a explicação: Vargas
era comparsa do doleiro Alberto Youssef, o operador do petrolão.
Essa singela crônica de sucesso mostra que hoje, no Brasil,
não há nada mais claro e seguro do que a lógica de funcionamento do PT. A
qualquer tempo e lugar que você queira compreendê-la, o caminho é simples: siga
o dinheiro.
Seguindo o dinheiro (farto) do doleiro, a polícia chegou a
uma quadrilha instalada na diretoria da Petrobras sob o governo popular. Tinha
o Paulinho do Lula, tinha o Duque do Dirceu, tinha o tesoureiro da Dilma, tinha
bilhões e bilhões de reais irrigando a base de apoio do império petista. Um ou
outro brasileiro mal-humorado se lembrou do mensalão e resmungou: mais um caso
de corrupção no governo do PT. Acusação totalmente equivocada.
O mensalão e o petrolão não são casos de corrupção.
Pertencem a um sistema de corrupção, montado sob a bandeira da justiça social e
da bondade. Vamos repetir para os que seguiram o dinheiro e se perderam no
caminho: trata-se de um sistema de corrupção. E as investigações já mostraram
que esse sistema esteve ligado diretamente ao Palácio do Planalto nos últimos
dez anos. Um deputado de oposição disse que o maior medo do PT não era perder a
eleição presidencial, mas que depois Dilma fizesse a delação premiada.
E lá vai o Brasil para mais quatro anos dessa festa. Quem
tem autoridade para acreditar que o método será abandonado? Quem em sã
consciência pode apostar que um grupo político que se enraizou no Estado
brasileiro para saqueá-lo irá fazer tudo diferente agora? Responda, prezado
leitor: quem são as pessoas nesse governo ou nesse partido capazes de liderar
uma guinada virtuosa? Lula? Dilma? Vaccari? Mercadante? Pimentel? Cardozo?
Carvalho? Dirceu? Delúbio?
Mesmo depois de passada toda a propaganda suja da eleição,
mesmo depois de exposta a destruição da maior empresa brasileira pelos que
juravam amá-la, Dilma não recuou. Foi para cima do Congresso e rasgou a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Obrigou o parlamento a legalizar o golpe do governo
popular contra a política de superávit - que é um dos pilares da estabilidade
monetária. O que falta fazer?
Que passe de mágica devolverá a credibilidade a um governo
desmoralizado no país e no exterior? Quem vai querer investir aqui com esse
bando de parasitas mudando as regras ao sabor das suas conveniências
fisiológicas? Quem tem coragem de afirmar (com alguma dignidade) que os
próximos quatro anos poderão reerguer esse Brasil em processo de
argentinização?
Num sistema parlamentarista razoável, a extensão do
escândalo na Petrobras já teria derrubado o governo. Os acordos de delação
premiada já indicaram que Dilma e Lula sabiam de tudo. Se o Brasil quiser (e o
gigante abrir pelo menos um dos olhos), essa investigação chegará onde tem que
chegar. Esse é o único pacto possível contra a corrupção.
Em 1992, quando Collor estava balançando, já por um fio,
Bussunda resolveu dar a sua contribuição e apareceu diante do Palácio do
Planalto vestindo um tomara-que-caia - “em homenagem ao presidente”. É isso que
falta?