O ex-presidente bonzinho do Uruguai, José Mujica, contou que
o ex-presidente bonzinho do Brasil, Lula da Silva, se sentiu culpado pelo
mensalão. Está registrado e agora publicado em livro: segundo o companheiro
Mujica, Lula lhe confidenciou que o mensalão era “a única forma de governar o
Brasil”.
Que ninguém tome isso ao pé da letra. Não é que o mensalão
seja a única forma possível de governar. Tem também o petrolão e seus
derivados. Ou seja: a única forma de governar o Brasil é roubar os brasileiros,
enriquecer o partido e comprar a vida eterna no poder.
Esse golpe está sendo dado há 12 anos, e há dez o Brasil
brinca de se perguntar se Lula sabia. Eis a resposta entregue de bandeja pelo
amigo de fé, irmão camarada Mujica: Lula sabia que a única forma de ficar no
poder com um grupo político feito de pessoas medíocres, despreparadas,
hipócritas e desesperadas por cargos e verbas era se fingir de coitado, chorar
e parasitar o Estado brasileiro com todas as suas forças.
O império do oprimido ofereceu ao país incontáveis chances
de perceber a sua única forma de governar. Escândalos obscenos foram montados
dentro do Palácio do Planalto, envolvendo os principais personagens do
Estado-Maior petista.
Hoje o Brasil é governado por uma marionete desse sistema
único de governo (SUG), uma presidente solidária ao seu tesoureiro preso,
acusado de injetar em sua campanha eleitoral dinheiro roubado da Petrobras.
Uma presidente que exalta como heróis os mensaleiros
julgados e condenados. E que presidiu o conselho de administração da maior
estatal brasileira enquanto ela era depenada por prepostos do seu partido.
Foi necessária a confissão de um companheiro uruguaio para
desvelar o óbvio: eles sabiam de tudo. Tudo mesmo.
Essa forma única de governar o Brasil só tem uns
probleminhas: a economia acaba de registrar sua maior retração em 20 anos, na
contramão dos emergentes e do mundo; a inflação avacalhou a meta e taca fogo na
antessala da recessão; o desemprego voltou às manchetes, apesar das tentativas
criminosas de esconder seus índices durante a eleição; a perda do grau de
investimento do país está por uma unha de Levy, após anos de contabilidade
criativa, pedaladas fiscais e outras orgias progressistas para esconder a
gastança – a única forma de governar.
Com inabalável firmeza de propósitos, o PT chegou lá:
tornou-se o cupim do Estado brasileiro. Hoje é difícil encontrar um cômodo da
administração pública que não esteja tomado pelo exército voraz, que substitui
gestão por ingestão. O Brasil quer esperar mais quatro anos para ver o que
sobra da mobília.
Mujica disse que Lula não é corrupto como Collor. Tem razão.
O Esquema PC era um careca de bigode que batia na porta de empresários em nome
do chefe para tomar-lhes umas gorjetas. O mensalão e o petrolão foram dutos
construídos entre as maiores estatais do país e o partido governante.
Realmente, não tem comparação.
Os cupins vão devorando o que podem – inclusive informação
comprometedora. As gravações da negociata de Pasadena, presidida por Dilma
Rousseff, sumiram. Normal. Dilma, ela mesma, também sumiu.
Veio o Dia do Trabalho, e a grande líder do Partido dos
Trabalhadores não apareceu na TV – logo ela, que convocava cadeia obrigatória
de rádio e TV até em Dia das Mães. Pouco depois, veio o programa eleitoral do
PT e, novamente, a filiada mais poderosa do partido não foi vista na tela.
Quem apareceu foi Lula, o amigo culpado de Mujica,
vociferando contra os inimigos dos trabalhadores, as elites, enfim, toda essa
gente que não compreende a única forma de governar o Brasil. E os brasileiros
bateram panela em todo o território nacional – o que algum teórico progressista
ainda há de explicar como uma saudação efusiva ao filho do Brasil adotado pela
Odebrecht.
O ministro da Secretaria de Comunicação disse que é um erro
vincular Lula e Dilma ao PT. Já o PT tenta parecer desvinculado do governo
Dilma. Pelo menos isso: eles sabiam de tudo, mas não têm nada a ver uns com os
outros.
Em meio aos panelaços, foi possível ouvir o balanço da
Petrobras contabilizando 6,2 bilhões de reais de corrupção. Ou seja: as
informações da Operação Lava-Jato, que apontam o PT e a própria presidente da
República como beneficiários do petrolão, foram oficializadas no balanço
auditado da maior empresa brasileira.
Pena Lula não ter conversado sobre isso com Mujica. Os
brasileiros vão ter que perceber sozinhos: esta só continuará sendo a única
forma de governar o Brasil se o Brasil não cumprir o seu dever de enxotar um
governo irremediavelmente delinquente.