É a insensatez levada ao último grau, que só se explica pela
cegueira a que leva o fanatismo religioso
Não passa uma semana sem que novos atentados matem dezenas
de pessoas. Isso ocorre com mais frequência no Iraque, no Egito, no Afeganistão,
na Síria, em países da África Central. Matar inocentes indiscriminadamente é
difícil de entender. Toda vez que leio uma notícia dessas, surpreendo-me como
se a lesse pela primeira vez.
Não há dúvida de que homicídio puro e simples não deixa de
me espantar. De fato, tirar deliberadamente a vida de alguém é coisa que não
compreendo nem aceito. Mas sei, como todo mundo, que, dependendo de seu
temperamento, pode uma pessoa perder a cabeça e matar um suposto inimigo.
Há, porém, pessoas que têm o prazer de matar e, por isso
mesmo, fazem isso com certa frequência. Lembro-me de um jovem que foi preso
logo depois de liquidar um desafeto. Quando o policial lhe disse que no próximo
ano seria maior de idade e, se voltasse a matar alguém, iria para a cadeia, ele
respondeu: "Pois é, não posso perder tempo".
No que se refere aos atentados, há os motivados por razões
políticas e religiosas e há os que, ao que tudo indica, têm causas psíquicas,
ou seja, o cara é pirado. Esses são os atentados tipicamente norte-americanos.
Com impressionante frequência, surge um sujeito empunhando um revólver ou um
fuzil-metralhadora que começa a disparar a esmo dentro de um shopping ou de uma
universidade. Ele sabe que vai morrer e, quase sempre, é abatido por policiais.
A loucura é certamente um componente desse desatino
homicida. Não obstante, a gente se pergunta por que só acontece nos Estados
Unidos. Será porque todo mundo lá tem armas em casa e aprende a atirar desde
criancinha, no quintal de casa ou no porão? Os fabricantes de armas garantem
que não, que não é por isso, mas tenho dificuldade de acreditar neles.
Esse tipo de atentado difere daqueles outros, cuja motivação
é político-religiosa, e difere também, por seu resultado, não de um surto
psicótico e, sim, pelo contrário, fruto de uma decisão tomada objetiva e
friamente por um líder.
A afinidade que há entre eles é o propósito de assassinar
pessoas inocentes. E é precisamente este ponto que tenho maior dificuldade de
aceitar. Por exemplo, um terrorista, com o corpo coberto de bombas, entra num
ônibus escolar do país inimigo, explode as bombas e a si mesmo, matando dezenas
de crianças. Não vejo nenhum sentido nisso, a não ser mostrar seu ódio ao
adversário; e, nesse caso, por se tratar de crianças, mostrar que sua fúria
homicida desconhece limites. É outra modalidade de loucura.
Mas há ainda os casos em que a fúria homicida mata
indiscriminadamente pessoas de outros países, que nada têm a ver com os
propósitos do atentado. Exemplo disso foi o caso das Torres Gêmeas, em Nova
York, onde morreram quase 3.000 pessoas. O atentado visava os norte-americanos,
mas matou franceses, holandeses e até muçulmanos. Nem mesmo se pode excluir,
dentre as vítimas daquele atentado, pessoas que possivelmente apoiavam a causa
defendida pelos terroristas. É a insensatez levada ao último grau, que só se explica
pela cegueira a que leva o fanatismo religioso.
O que torna mais absurdo tudo isso é o fato de que o
atentado terrorista não traz nenhum benefício a quem o projeta e o faz
acontecer, a não ser satisfazer seus desejos homicidas. De fato, o terrorismo é
a expressão da derrota política de quem o promove, a reação desesperada de quem
sabe que não tem qualquer possibilidade de vencer o adversário e chegar ao
poder.
Mas, ao fim de tudo, não consigo na verdade entender tal
desvario, mesmo porque, além do assassinato em massa de crianças e cidadãos
quaisquer, que o terrorista nem sequer conhece ou sabe que matou, há fatos
quase inacreditáveis.
Como o que ouvi da boca do chefe supremo do Hezbollah, na
televisão. Ele afirmou que o menino-bomba, que praticou o atentado no ônibus
escolar, em Israel, era seu filho e tinha 16 anos. E acrescentou: "O mais
novo, que tem 12 anos, já está sendo preparado para se sacrificar por
Alá". O curioso é que ele manda os filhos morrerem, mas ele, o pai,
continua vivo.