Encaminhamos à apreciação das autoridades federais,
novamente, algumas perguntas sobre questões de possível interesse para o
leitor. Como costuma acontecer, não virá nenhuma resposta, mas é dever desta
revista fazer o que pode, mesmo sabendo que o governo não reconhece a
existência no Brasil de cidadãos capazes de ter dúvidas — brasileiros que
terminaram o ensino básico, pensam com a própria cabeça e podem, eventualmente,
não entender direito que diabo está acontecendo com seu país.
Por que o governo continua a olhar sem fazer nada, como se o
fato estivesse acontecendo na Transilvânia, o estelionato praticado
sistematicamente contra o trabalhador brasileiro pelas altas autoridades que
decidem qual é o saldo que ele tem, ao fim de cada mês, no Fundo de Garantia?
Ao longo dos últimos quinze anos, cerca de 20% do dinheiro que os trabalhadores
têm no FGTS sumiu, mastigado por cálculos de reajuste que sempre ficam abaixo
da inflação. O Partido dos Trabalhadores, a esse respeito, já teve onze anos
inteiros para fazer alguma coisa a favor dos trabalhadores. Não fez. Por quê?
Os jornalistas Gustavo Patu e Mario Kanno, do blog Dinheiro
Público & Cia, tiveram a paciência de ler do começo ao fim a ata que o
Banco Central soltou depois de sua última reunião, no fim de janeiro. Chegaram
a uma conclusão assombrosa: os dirigentes do BC precisaram escrever nada menos
de 74 parágrafos para explicar por que subiram a taxa de juro em 0,5 ponto
percentual. Embora o idioma oficial do Brasil seja o português, a maior parte
do texto era ocupada por frases como a seguinte: “O Copom entende ser
apropriada a continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em
curso”. Ou: “Não obstante a concessão neste ano de reajuste para o salário
mínimo não tão expressivo quanto em anos anteriores, bem como a ocorrência nos
últimos trimestres de variações de salários mais condizentes com as estimativas
de ganhos de produtividade do trabalho, o Comitê avalia que a dinâmica salarial
permanece originando pressões inflacionárias de custos”. Se era para ninguém
entender nada, por que escrever tanto?
Haveria alguma explicação lógica para a presidente da
República anunciar a “construção de 6 000” creches e, ao fim do prazo fixado
para isso, entregar só 1 000? Ou, pior ainda, por que Dilma prometeu um ano
atrás construir “mais de 880 aeroportos regionais”, como lembrou há pouco o
colunista Lauro Jardim, de VEJA, e conseguiu a proeza de não entregar nenhum —
um só que fosse? Como se pode explicar, mesmo para uma classe do 1º ginasial,
que um governo com um mínimo de amor-próprio cometa erros tão grosseiros assim?
Dilma também prometeu ferrovias que não vai entregar, e águas que não vai
transpor, nem do São Francisco nem de lugar nenhum. “Falta de dinheiro” é a
resposta comum em todos esses casos. Mas então por que, se o dinheiro está tão
escasso, o governo paga 54 000 reais por mês de aluguel para dar um teto ao seu
diplomata-mor em Nova York?
O Brasil, como já se estima há bom tempo, deve ter uma safra
recorde de 90 milhões de toneladas de soja em 2014. Também já se sabe que mais
de 20% desse total será simplesmente jogado no lixo, porque os portos
brasileiros não têm condições de escoar uma produção de tamanho volume. Por
que, sabendo perfeitamente disso tudo, o governo aplicou miseráveis 15 milhões
de dólares em seus portos em todo o ano de 2013 — contra, por exemplo, 1,4
bilhão de reais gastos para construir o Estádio Mané Garrincha, em Brasília?
Pior: por que Dilma deu de presente a Cuba um porto novo em folha, no valor de
1 bilhão de dólares, enquanto nossa soja ficará apodrecendo no pé?
Sabe-se que o bacharel José Eduardo Cardozo é ministro da
Justiça, mas de que país? Recentemente, comentando os horrores sem paralelo
ocorridos na penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão, ele disse o seguinte: “O
sistema carcerário no Brasil é medieval”. E quem é o responsável por isso? O
governo brasileiro, claro, e especialmente a área dirigida por ele próprio,
Cardozo. Não dá para dizer que a calamidade — o Brasil tem no momento 550 000
presos para 350 000 vagas na cadeia — seja obra das elites de direita: o PT já
está há onze anos no governo, e isso é tempo mais do que suficiente para
melhorar alguma coisa, por menor que seja, em qualquer situação de catástrofe.
De lá para cá, o ministro não mexeu um palito para eliminar o inferno de
Pedrinhas; fez questão, porém, de levar a “solidariedade” do Palácio do
Planalto à governadora Roseana Sarney, a quem cabe cuidar do presídio. Por quê?