A Petrobras decidiu divulgar o balanço contábil do terceiro
trimestre de 2014 sem revisão pelos auditores independentes, em nome da
“transparência”. A estatal compreende que será necessário realizar ajustes
contábeis nos ativos imobilizados, por conta da Operação Lava-Jato, mas, “em
face da impraticabilidade de quantificar de forma correta” essas perdas,
preferiu usar uma metodologia mais gradual até se chegar ao valor justo desses
ativos no balanço.
Reconheceu, portanto, uma perda de “apenas” R$ 2,7 bilhões
com as refinarias Premium I e Premium II, em razão da descontinuação desses
projetos. Mas, em carta assinada pela presidente Graça Foster (alguém a viu por
aí recentemente?), a empresa reconhece que o tamanho provável do rombo é muito
maior.
Praticamente um terço dos ativos da estatal foram avaliados
por firmas independentes, mas a presidente julga que “o amadurecimento
adquirido no desenvolvimento do trabalho tornou evidente que essa metodologia
não se apresentou como uma substituta ‘proxy’ adequada para mensuração dos
potenciais pagamentos indevidos”.
Ainda assim, ela prossegue: “O resultado das avaliações
indicou que os ativos com valor justo abaixo do imobilizado totalizaram R$ 88,6
bilhões de diferença a menor. Os ativos com valor justo superior totalizaram R$
27,2 bilhões de diferença a maior frente ao imobilizado”. Apesar disso, a
empresa decidiu não utilizar a metodologia do valor justo para ajustar os
ativos no balanço.
Trocando em miúdos, aquilo que seria um prejuízo de mais de
R$ 60 bilhões por perdas contábeis se transformou num lucro de R$ 3 bilhões no
trimestre (que, ainda assim, representa uma queda de quase 40% em relação ao
trimestre anterior). O EBITDA ajustado, uma proxy da geração bruta de caixa da
empresa, ficou em R$ 11,7 bilhões no trimestre, uma queda de 28% em relação ao
segundo trimestre.
A Petrobras terminou o trimestre com um endividamento
líquido de R$ 261,4 bilhões, um aumento de 18% (ou R$ 40 bilhões) em relação ao
fechamento de 2013. A empresa investiu R$ 62 bilhões até o terceiro trimestre
em 2014. Ou seja, a geração própria de caixa da empresa não consegue financiar
seus projetos, e ela precisou buscar dois terços do total investido com
terceiros.
Além do elevadíssimo endividamento, grande parte dele é em
moeda estrangeira, principalmente dólar (70% do total). Se o real sofrer uma
desvalorização acentuada, o impacto no resultado da Petrobras será enorme. A
empresa deve muito, e deve em moeda estrangeira. Teoricamente ela teria um
“hedge”, pois vende uma commodity cujo preço é dolarizado. Mas sabemos que isso
é só na teoria, pois a empresa não repassa o aumento do petróleo para os
preços, por pressão do governo para combater a inflação.
Em resumo, o balanço da Petrobras, não auditado, sem
reconhecer os rombos por conta dos “malfeitos”, e com um endividamento desta
magnitude, em dólar, é mesmo um show de horror. Ninguém fica surpreso ao ver as
ações da empresa valendo cada vez menos. A destruição da maior empresa do país
pela incompetência e corrupção do PT segue seu curso, ainda que a “pedalada”
tenha transformado um prejuízo de R$ 60 bilhões em um lucro de R$ 3 bilhões no
trimestre…