O hollywoodiano Kevin Spacey, ao dizer que a opinião de um
ator sobre política é absolutamente irrelevante, foi mordaz e cutucou, ainda
que essa possa não ter sido sua exata intenção, um problema importante. No
Brasil, esse ataque seria ainda mais doloroso, escandalizando os ânimos de
muitas figuras que se consideram notáveis intérpretes do Estado e da economia
brasileira porque fazem sucesso nas artes cênicas, como se uma coisa estivesse
ligada à outra. Em verdade, a problemática se torna maior, com músicos sendo
considerados “intelectuais” porque fizeram canções de protesto (contra governos
que não estão no poder há tempos), e continuam sendo paparicados pelos vultosos
recursos públicos via Lei Rouanet.
Spacey expressou, no entanto, uma meia verdade. Natural que
assim seja; poucas vezes uma única frase solta, sobretudo quando dita em tom de
desabafo, tem o condão de sintetizar algo perfeitamente. Trata-se de uma meia
verdade porque, abstração feita da qualidade de ator, alguém pode ter uma
percepção interessante da realidade social, como pode ter a respeito de
qualquer outro assunto. Discutir a importância de uma opinião não é tarefa
simples, e a conclusão estará repleta de subjetividades. A ela, bom dizer,
todos têm direito, inclusive o de expressá-la. Meia verdade, também, porque o
impacto que uma figura pública – e um ator normalmente se enquadra nessa
categoria – consegue ao proferir e disseminar distorções indefensáveis é coisa
muito séria e, por isso mesmo, nada irrelevante. Uma opinião estúpida não é e
não pode ser considerada, por isso apenas, um crime; é inegociável o direito de
externá-la. No entanto, é imperioso que as vozes sensatas não percam a
oportunidade de denunciá-la como sendo o que é, cientes da existência dos
militantes e dos “pseudo-intelectuais” vendidos que de pronto a divulgarão como
propaganda de seus ideais autoritários e intolerantes.
O ator global Wagner Moura, campeão de socialismo entre as
estrelas da televisão e do cinema nacionais, em entrevista ao Jornal O Globo,
em fevereiro de 2014, soltou uma dessas pérolas imperdoáveis que não podemos
deixar de tornar desnudas em sua imbecilidade abjeta. Não satisfeito, resolveu
republicar exatamente esse trecho infeliz em seu perfil na rede social
Facebook, como um “presente” indigesto de fim de ano, em 27 de dezembro
passado. Disse ele:
“É uma pena que muitos comediantes, e não só comediantes,
mas muitos artistas jovens brasileiros sejam de direita. Sejam garotos
fascistas. Eles fazem um trabalho que a gente ensina nossos filhos a não fazer.
Apontam para os outros e dizem: “hahaha, você é preto, você é viado, você é
aleijado”. Eu sou politicamente correto. O politicamente correto é uma
ferramenta civilizatória que inventamos para que uma criança negra não veja um
negro sendo humilhado na TV. Mas todo garotão que é artista gosta de dizer que
o maneiro é ser politicamente incorreto. Isso não é engraçado, não é humor.”
(MOURA, WAGNER)
Vamos examinar o terrível problema. O judicioso cientista
social Wagner Moura acredita que os valores e bons princípios, reduzidos
sistematicamente a nada por teóricos de esquerda como Trotsky, vêm sendo
prejudicados no Brasil, isto sim, pelo surgimento de uma “direita” que,
ocupando um grande espaço nas artes, vem “doutrinando” os jovens para o
descaminho. Gostaria de saber em que país – ou antes, em que PLANETA ele vive.
Brasil, América do Sul, Terra, certamente não é. De memória, me recordo, por
exemplo, do cantor Lobão, que vem defendendo ideias mais à direita e tem
participado de manifestações públicas contra o governo, e o humorista e
apresentador de TV Danilo Gentilli, que vem dando louvável espaço a figuras que
contrastam com o mainstream de esquerda. Talvez haja mais; talvez haja aqueles
que nada falam, embora pensem assim, por receio de prejuízos na carreira. De
qualquer forma, o que desponta são notórias EXCEÇÕES. Já paranoicos como Wagner
Moura, que enxergam um monstruoso “direitismo” tomando de assalto o poder no
Brasil do PT, esses existem aos montes.
Seduzidos pelo “politicamente correto”, que Moura desfralda
como ferramenta civilizatória, esses os há mais ainda. Na “ditadura do mimimi”,
as insistências panfletárias das esquerdas vão tornando a mera verbalização da
verdade um crime imperdoável, exigindo-se que ela seja mascarada por uma série
de camadas de etiquetas, adornos e esquisitices. Em ponto extremo, já chegamos
a ter pessoas deixando de grafar palavras masculinas que, pela convenção da
língua, designam os dois gêneros sexuais, substituindo letras e adulterando
idiomas, supostamente para não ferir suscetibilidades. Com base nessa busca por
privilégios, que abarca a reivindicação irracional por cotas em cada vez mais
setores, a cultura da liberdade vai sendo desprestigiada, e a consagração pelo
mérito, sendo desestimulada. Quem se cansa disso, por ter bom senso, é um
“fascista”, que aprecia debochar dos outros por serem negros, homossexuais ou
deficientes físicos, de acordo com Moura. São “a direita”. Irônico que Wagner Moura tenha relembrado
essa excrescência na mesma semana em que o ditador da Coreia do Norte taxou o
presidente dos EUA, Barack Obama, de “macaco”. Kim Jong-un, por certo, é de “direita”, assim como Stálin,
Mao, Pol Pot…
A “direita”, ou as tradições liberais e conservadoras,
constituem correntes políticas admissíveis e importantíssimas em qualquer
regime democrático, com livre circulação de ideias. Assim deve ser. No entanto,
o aparecimento de “direitistas”, para o senhor Wagner Moura, é um escândalo. O
horror que os nossos esquerdistas sentem pelo diferente e pelo contraditório é
prova cabal de como não têm a mínima legitimidade para se proclamarem os
defensores únicos e impecáveis da tolerância e da pluralidade.
Possivelmente, Wagner Moura se considera uma voz de
contestação muito necessária. Não é; assim como o partido nanico e barulhento
cujos candidatos ele tem o hábito de apoiar, o brasileiro se situa na
“pseudo-oposição” que colabora para “criminalizar” moralmente a verdadeira.
Marionete fanfarrona de um jogo em que não dá as cartas, ele, em que pese sua
competência como ator – que eu reconheço , está, sem nenhuma dúvida, entre os
que com mais afinco procuram dar razão ao seu colega de ofício americano.