domingo, 1 de fevereiro de 2015

Reynaldo Rocha: Não podemos assistir calados à pornográfica eleição deste domingo

O que faz um doente ao saber que a dor que sente é derivada do mal que o aflige? Toma uma aspirina? O que faz um bandido ao entrar no presídio? Escolhe a cela com vista para o mar, travesseiros de penas de ganso e lençóis com fios egípcios? Que tipo de comemoração pode ocorrer na casa do reprovado em um vestibular? A lógica da dor ou dos sentimentos é regra de vida. Não depende de escolha.


Em que mundo vivem os senhores parlamentares que de modo desavergonhado esperam cargos e indicações em troca do voto para a presidência da Câmara? De onde vem a certeza da impunidade que os anima a serem bandidos ou cúmplices?

Só há duas certezas. São sim bandidos escolados ou aprendizes de trombadinhas. E acreditam na impunidade.

Neste domingo assistiremos a mais um espetáculo que faria corar estátuas gregas e etruscas que, exaltando a nudez, exibiam o pornográfico. Troca-se um cargo por um voto. Cada um sabe o que tem a dar. Ou a quem dar.

Dirão os bandidos mais experientes: “Não se assustem. É calúnia. Aqui ninguém dá nada. Só vende….”

Estamos acostumados ao jogo? As fichas são essas? O pano verde é o da mesa do Parlamento? O crupiê é o Planalto? Os prêmios já conhecemos. Por duas décadas assistimos a jogatina nos bordéis onde até as fichas são falsas.

Mas onde fica nossa indignação? Nós, que cobramos das oposições oficiais uma reação à venda dos nobres traseiros na ponta da rua da prostituição, aceitamos calados a cafetinagem que merece as manchetes de jornais e nunca as páginas policiais?

Passamos a considerar NORMAL a compra de deputados na feirinha de orgânicos adubados com esterco? Olharemos um “roubinho” de milhões (frente aos bilhões da PTBRAS) como um “pequeno desvio” que contempla bocas menos famintas ou ratos ainda sem excesso de peso?

Recuso-me sequer a assistir ao episódio II de Calígula. Não tenho crianças para tirar da sala. Mas tenho um estômago. E um cérebro que insiste em me dizer que canalhice tem limites!

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