O que faz um doente ao saber que a dor que sente é derivada
do mal que o aflige? Toma uma aspirina? O que faz um bandido ao entrar no
presídio? Escolhe a cela com vista para o mar, travesseiros de penas de ganso e
lençóis com fios egípcios? Que tipo de comemoração pode ocorrer na casa do
reprovado em um vestibular? A lógica da dor ou dos sentimentos é regra de vida.
Não depende de escolha.
Em que mundo vivem os senhores parlamentares que de modo
desavergonhado esperam cargos e indicações em troca do voto para a presidência
da Câmara? De onde vem a certeza da impunidade que os anima a serem bandidos ou
cúmplices?
Só há duas certezas. São sim bandidos escolados ou
aprendizes de trombadinhas. E acreditam na impunidade.
Neste domingo assistiremos a mais um espetáculo que faria
corar estátuas gregas e etruscas que, exaltando a nudez, exibiam o
pornográfico. Troca-se um cargo por um voto. Cada um sabe o que tem a dar. Ou a
quem dar.
Dirão os bandidos mais experientes: “Não se assustem. É
calúnia. Aqui ninguém dá nada. Só vende….”
Estamos acostumados ao jogo? As fichas são essas? O pano
verde é o da mesa do Parlamento? O crupiê é o Planalto? Os prêmios já
conhecemos. Por duas décadas assistimos a jogatina nos bordéis onde até as
fichas são falsas.
Mas onde fica nossa indignação? Nós, que cobramos das
oposições oficiais uma reação à venda dos nobres traseiros na ponta da rua da
prostituição, aceitamos calados a cafetinagem que merece as manchetes de
jornais e nunca as páginas policiais?
Passamos a considerar NORMAL a compra de deputados na
feirinha de orgânicos adubados com esterco? Olharemos um “roubinho” de milhões
(frente aos bilhões da PTBRAS) como um “pequeno desvio” que contempla bocas
menos famintas ou ratos ainda sem excesso de peso?
Recuso-me sequer a assistir ao episódio II de Calígula. Não
tenho crianças para tirar da sala. Mas tenho um estômago. E um cérebro que
insiste em me dizer que canalhice tem limites!
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