“Quanto a mim, fico com São Paulo, pois para lá se
transportou a alma cívica da Nação”. Com essa frase e sua atuação na Revolução
de 1932 o mineiro Arthur Bernardes, que presidiu o Brasil entre 1922 e 1926, se
redimiu perante muitos de seus desafetos da justa fama de repressor e reacionário.
Neste domingo, dia 15 de março de 2015, a alma cívica da Nação se transportou
para São Paulo, onde se encarnou nos mais de 1 milhão de pessoas que, juntas na
Avenida Paulista, fizeram a maior manifestação política da história da cidade e
do Brasil.
Há trinta anos, nesse mesmo dia 15, acabava oficialmente o
regime militar de 21 anos de duração. Ao protesto na Avenida Paulista se
somaram outros em todos os Estados brasileiros. No final do dia, mais de 1,4
milhão de brasileiros tinham saído às ruas para protestar contra o PT, o
partido que há doze anos detém o poder em Brasília. “Fora PT” foi o grito que
uniu a maioria absoluta dos manifestantes. E o “Fora Dilma”? Foi a palavra de
ordem circunstancial. Dilma é a presidente e sobre ela recaíram as culpas imediatas
da falência moral, ética e, agora, política do “lulopetismo”.
A alma cívica vista nas caras-pintadas e nas roupas
verde-amarelas do domingo, dia 15, foi a evidência que faltava – se é que
faltava – de que venceu o prazo de validade do PT. O “lulopetismo” será
lembrado na história apenas como mais uma das inúmeras e dolorosas ilusões
populistas que acabam quando acaba a riqueza dos outros. Essas experiências
ignoram que em comparação com o desafio de produzir riqueza, distribuir a
riqueza já produzida é um piquenique no parque. Produzir riqueza é complexo.
Não se faz com conversa fiada, com marqueteiro talentoso. Não se faz no
palanque.
A escassez é um dado da vida humana desde a bíblica expulsão
do paraíso. Todos os simulacros de socialismo, como é o caso do lulopetismo,
acabaram pela incapacidade crônica de vencer a escassez. A presidente Dilma
disse há dias que a situação de penúria atual do Brasil se deve ao fato de que
“nós esgotamos todos os nossos recursos de combater a crise que começou lá em
2009″. Nós quem, cara-pálida? A administração ruinosa do PT esgotou os
recursos. Dito de outra maneira, a presidente afirmou o que o mundo inteiro já
descobriu sobre ela e seu partido: suas políticas se esgotam quando esgotam os
recursos criados por outros. Quem são os outros? São os brasileiros que foram
às ruas neste domingo, dia 15. São os brasileiros que trabalham e entregam na
forma de impostos, taxas e contribuições tudo que ganham nos primeiros cinco
meses do ano ao governo e só depois trabalham para si próprios e suas famílias
e, assim, conseguir pagar por todos os serviços que o governo não entrega:
segurança, saúde, educação.
As formas de produção de riqueza com que o Brasil conta hoje
já existiam antes da chegada do lulopetismo ao poder. Doze anos depois, todas
essas fontes de riqueza ou estão quebradas ou fortemente abaladas pelo abuso
sofrido pela gestão ruinosa e a corrupção endêmica do período. A corrupção
institucionalizada na Petrobras no governo Lula custou 6 bilhões de dólares.
Pois a Petrobras foi sangrada em 60 bilhões de dólares por ter sido obrigada
por Dilma a subsidiar os combustíveis e, assim, não pressionar a inflação.
Subsidiar combustíveis é distribuir riqueza? Sim. Mas os governos que sabem
produzir riqueza controlam a inflação de outra maneira e, assim, evitam tirar
riqueza que distribuem de uma empresa com milhões de acionistas privados –
entre eles milhões de brasileiros que foram levados pelo governo a comprar
ações da estatal do petróleo.
Governos que não sabem produzir riqueza colocam a culpa de
sua própria incompetência em crises externas – e quando o ambiente externo é
favorável, como foi nos oito anos de Lula, fingem que as coisas estão dando
certo por que são sábios. Embromação. Com Lula ou sem Lula teriam entrado no
Brasil os mesmos 100 bilhões de dólares a mais pelo mesmo volume de ferro e
soja exportados, o que se verificou pelo aumento do preço internacional dessas
mercadorias. Lula, Chávez, Dilma, Cristina Kirchner sofrem da mesma
incapacidade de gestão. Não sabem como criar um ambiente de negócios que
incentive a produção de riquezas. São ignorantes nesse tema. Portanto, enquanto
as pessoas não puderem se alimentar de vento e luz, sempre que o dinheiro dos
outros acabar, acabam os lulopetismos.
Dá para entender por que a alma cívica da nação gritou a
todos pulmões, com mais força ainda na avenida Paulista: “Fora PT!”