Levei a pergunta para uma dezena de políticos experimentados
Tirei terno e gravata do armário e fui a Brasília. Onde está
a saída para a crise? Levei a pergunta para uma dezena de políticos
experimentados. Nenhum deles apontou a saída imediata. É um cuidado razoável. O
máximo que se consegue é apontar variáveis que possam definir os rumo da crise.
Comportamento do governo, ajuste econômico, curso da Operação Lava-Jato são as
mais citadas.
A sensação predominante é a de que algo vai acontecer, e
ninguém sabe precisamente o que é. A hipótese de um governo sangrando até 2018
é a mais improvável, embora seja esse o desejo de uma parcela de observadores,
dentro e fora do Congresso. Marchamos para o desconhecido. É uma fase delicada.
Os conservadores tendem a achar que o diabo desconhecido é sempre pior do que o
existente. Querem mudança, mas dentro de um quadro planejado, com resultados
previsíveis. Mas, nesses casos, sempre existe o argumento de que, muitas vezes,
é preciso caminhar, mesmo sem saber o que nos espera, com uma abertura para a
novidade. Quanto ao ajuste econômico, deve ser objeto de muita discussão, basicamente
sobre quem paga a conta. A tendência é de dias mais duros, com possibilidade de
racionamento de energia. É o que os técnicos propõem. Não porque faltará
energia para o consumo em 2015. Mas porque é preciso poupar, pois, sem oferta
adequada de energia, não existe retomada em 2016.
De qualquer forma, o ajuste econômico passou a ser de
interesse nacional, não só por causa da realidade interna, mas também da
percepção externa. Graças à expectativa do ajuste, o Brasil não foi rebaixado à
condição de país especulativo, com inevitável fuga do capital. Sou pessimista
quanto aos passos do governo. O documento que vazou da Secretaria de
Comunicação mostra como estão perdidos. Falam de tudo, de robôs, redes sociais,
blogueiros, propaganda, mas não falam da mensagem. Dilma tem os microfones à
disposição. Mas não sabe usá-los. Em alguns casos é possível aprender. Pessoas
tímidas, executivos de grandes empresas fazem um treinamento, chamado media
training. Mas não há treino que possa criar um líder para conduzir o país numa
tempestade.
Não há mensagem nem presidente capaz de comunicá-la. O
panelaço segue como a batida da temporada. A saída de Dilma é usar a tática de
guerrilha: falar quando o adversário está desprevenido e recuar quando ele está
atento. A outra variável é a Operação Lava-Jato, outro dado positivo que teve
peso para que o Brasil não fosse rebaixado pelas agências internacionais. No
momento, o foco é o PT.
Os políticos deram azar em ter o juiz Sérgio Moro pela
frente. Especialista em lavagem de dinheiro, sabe que rastrear o curso da grana
é o caminho real nas investigações. Com base na informação dos delatores e em
recibos de empresas, as investigações demonstram o golpe do PT: transformar
propinas em doações legais. Leio que o Planalto quer que o PT demita o
tesoureiro. O PT hesita. É difícil passar a ideia de que foi tudo culpa de um
só homem. É gente muito calejada para fingir que João Vaccari era uma fada de
barba que produzia fortunas apenas com o toque de sua vara de condão. Isso irá
parecer um pouco aquela lenda urbana da filha de família que trabalha fora e
volta sempre com presentes caros para casa. E aí os parentes descobrem, um dia,
que a menina faz programas.
A variável mais importante é pouco discutida em Brasília.
Dois milhões de pessoas foram às ruas, sem nenhum incidente. A sociedade
brasileira ganhou maturidade nas demonstrações e mantém-se vigilante porque sua
sorte está em jogo. O agravamento da crise, a dureza do ajuste econômico e a
mobilização social podem nos levar a um novo momento. Não ouso descrevê-lo.
Sinto apenas que o dilema brasileiro poderá ser esse: fazer um omelete sem
quebrar os ovos. Essa tarefa que parece impossível para os estrangeiros não é
tão distante assim das soluções históricas no Brasil. Se os culpados pela
corrupção na Petrobras forem punidos e chegarmos a um consenso mínimo sobre o
ajuste econômico, abre-se a possibilidade de um governo de unidade nacional. O
PMDB tem ocupado o lugar do PT. Mas está encalacrado na Operação Lava-Jato.
Teria, em caso de sobrevida, a possibilidade de um aceno nacional. O PT, que
sempre dividiu o país entre pobres e ricos, brancos e negros, reacionários e
progressistas, não tem chance de tentar esse caminho.
O momento é verde-amarelo. Sem nenhum juízo de valor sobre
símbolos históricos, quem o confundiu com o vermelho cometeu um erro decisivo.
O Estado não é um partido, uma política externa não pode refletir a cabeça da
minoria, os direitos humanos não englobam apenas os escolhidos. Quando
desenharam uma estrela no jardim do Palácio e tiveram que removê-la, deveriam
ter compreendido que é insuportável viver num país que tem dono, seja ele um
partido ou um demagogo.
Não se conhecem os protagonistas do futuro. Mas já se sabe
quem será atropelado por ele.