PARA MUDAR DE VERDADE O BRASIL
CONFIANÇA • CIDADANIA • PROSPERIDADE
O PSDB oferece à sua consideração as bases de uma nova
agenda para o país.
Uma agenda que tem como objetivo resgatar a enorme dívida
social que o país ainda tem com milhões de cidadãos e garantir às novas
gerações as condições para viver num Brasil mais justo, democrático e
desenvolvido, onde riquezas que pertencem a todos estejam a serviço de todos.
Um país em que o conhecimento, a renda e as oportunidades sejam distribuídos
com justiça. Um país da integração e não da divisão. Onde a ação política não
estimule o ódio e a intolerância, mas abra caminhos para uma sociedade solidária.
Um país que olhe seu futuro com mais esperança e tranquilidade.
Sonhamos com um país em que os brasileiros desfrutem das
liberdades – públicas e individuais –,de prosperidade e bem-estar.Que,de forma
solidária,possam se reconhecer uns nos sonhos dos outros. Um país em que o
governo exerça com responsabilidade e eficiência o seu dever de apoiar a
população mais pobre e onde a livre iniciativa e o empreendedorismo sejam
estimulados. Um país que acredite na capacidade de seus cidadãos serem
independentes. Onde a democracia seja valor incontestável e os malfeitos,
punidos. Em que o Estado cumpra seu papel, assegure melhor ambiente para o
investimento e o desenvolvimento e garanta igualdade de oportunidades. Um Brasil
em que a educação seja verdadeira causa nacional, a estratégia central para a
transformação do país. Onde o destino de cada criança não seja mais determinado
pelas condições materiais de sua família ou pelo local em que nasce ou vive.
Sonhamos com um país que participe ativamente da comunidade
internacional, negociando com todos os continentes. Um país justo, inovador,
sustentável, produtivo, integrado e moderno. E que valorize ainda mais a sua
rica diversidade cultural.
Este documento é mais
um passo de uma conversa que, pretendemos, seja com todos os brasileiros. A
nova agenda que o PSDB propõe fundamenta-se no respeito às instituições do
Estado democrático de Direito. É viabilizada por um ambiente econômico estável,
competitivo e sustentável, que não se submeta a ideologias, livre de dogmas do
passado. E se caracteriza por uma visão social libertadora, que defende a
atuação do Estado na proteção e na garantia dos direitos de cada cidadão,
acredita na força transformadora de cada pessoa e na obrigação dos governos de
criar condições para que ela floresça.
Ao longo deste ano, andamos por todas as regiões do Brasil.
Conversamos com os mais diversos segmentos da sociedade. Ouvimos. Percebemos
que, por mais diferentes que sejam as circunstâncias de cada um, há um
sentimento de inquietação e frustração comum a todos. Há um sonho e um desejo
de mudança comum a muitos brasileiros. Há também, em cada canto deste nosso
imenso país, a esperança e a aspiração por um Brasil melhor, mais justo, ético
e fraterno. Um Brasil diferente.
Para mudar – e melhorar – de verdade o Brasil, acreditamos
que devemos partir da restauração de valores que vêm sendo aviltados no país
nos últimos anos. São eles que orientaram a preparação deste documento. É
abraçado a eles e aos sonhos de cada um dos brasileiros que queremos ampliar
nossa caminhada de diálogos e debates.
O primeiro desses valores é a Confiança, que se manifesta na
recuperação da crença do brasileiro na sociedade que construímos, no ambiente
em que vivemos e produzimos. Para tanto, professamos nosso compromisso com o
combate intransigente à corrupção, com a democracia, com a restauração da
ética, com o respeito às instituições, com a recuperação da credibilidade
perdida e com a construção de um ambiente econômico adequado para o
desenvolvimento do país.
O segundo valor é a Cidadania, que reconhece e respeita os
direitos dos cidadãos e a sua legitimidade em reivindicá-los. O poder público
deve estar integralmente a serviço de todos os brasileiros, por meio de ações
eficientes em segurança, transporte público, saúde e, em especial, educação. Só
um Estado eficiente, justo e transparente é capaz de perseguir esses objetivos,
devolvendo em forma de melhores serviços o que os cidadãos recolhem em
tributos.
O terceiro valor fundamental é a Prosperidade, que entende
que o bem-estar das famílias brasileiras deve ser o principal objetivo de uma
política de desenvolvimento. Ela, a prosperidade dos brasileiros e do nosso
país, exige do governo coragem, ação responsável e planejamento. Exige que o
governante não se curve às conveniências do momento, mas priorize sempre seu
compromisso com o futuro do país. Porque o futuro que teremos está sendo
construído hoje. Queremos uma nação mais solidária, com estados e municípios
tendo maior autonomia, com condições para que tanto o poder público quanto a
iniciativa privada possam atuar para produzir mais riqueza, empregos e
oportunidades para todos os brasileiros. Queremos criar as condições para a
melhoria da qualidade de vida e do bem-estar de toda a nossa gente.
Ao trazer à sua reflexão este documento, o PSDB propõe o
início de um diálogo ainda mais amplo com a nossa sociedade. Aqui, você não vai
encontrar propostas prontas para um futuro governo. Não vai encontrar
pensamentos fechados, nem verdades absolutas.
Aqui, você vai encontrar reflexões que são um ponto de
partida para um grande debate. Aqui você poderá conhecer a abordagem que
julgamos mais correta, as prioridades, os grandes desafios do país e o caminho
que consideramos ser o melhor para superá-los.
Vai encontrar nosso olhar crítico sobre o que está
acontecendo no país, segmentado em 12 diferentes aspectos, e os pressupostos e
as ideias com que acreditamos ser possível avançar em cada área.
Sobre essas ideias, queremos dialogar com você. Com
compromisso com os nossos princípios, queremos ouvir você. Conhecer e aprender
mais. Argumentar, compartilhar opiniões, agregar sugestões e reflexões. E, ao
fim da caminhada, esperamos ter um conjunto de propostas que possa ser
oferecido aos brasileiros como a nossa contribuição para um Brasil melhor.
Vamos conversar?
CONFIANÇA
Resgate de valores, compromisso com a democracia,
recuperação da credibilidade e da responsabilidade pública
1. Compromisso com a ética, combate intransigente à
corrupção, radicalização da democracia e respeito às instituições
2. Recuperação da credibilidade e construção de um ambiente
adequado para o investimento e o desenvolvimento do país
CIDADANIA
Garantia dos direitos dos brasileiros
3. Estado eficiente, a serviço dos cidadãos
4. Educação de qualidade como direito da cidadania, educação
para um novo mundo
5. Superação da pobreza e construção de novas oportunidades
6. Cidadãos seguros: segurança pública como responsabilidade
nacional
7. Mais saúde para os brasileiros: cuidado, investimento e
gestão
PROSPERIDADE
A nação solidária e o bem-estar coletivo
8. Nação solidária: mais autonomia para estados e
municípios, maior parceria da União
9. Meio Ambiente e Sustentabilidade, a urgente agenda do
agora
10. A agenda da produtividade: infraestrutura, inovação e
competitividade
11. A agropecuária que alimenta o presente e o futuro do
país
12. Política externa: reintegrar o Brasil ao mundo
CONFIANÇA
1. Compromisso com a ética, combate intransigente à
corrupção, radicalização da democracia e respeito às instituições
A confiança nas instituições é chave para o sucesso das
nações. Porque estimula e encoraja a participação e as manifestações da
cidadania, garante o pleno exercício das liberdades, resguarda o respeito à
ordem democrática e garante as condições para o desenvolvimento. No entanto,
esses valores fundamentais para nossa sociedade vêm sendo sistematicamente
aviltados no país nos últimos anos. Os fins passaram a ser usados para justificar
os meios. O equilíbrio entre os poderes foi rompido. Instaurou-se, despudoradamente,
um clima de vale-tudo para prover e garantir a hegemonia do atual projeto de
poder – que se utiliza da mentira e da máquina pública para fins políticos – e
de leniência com a corrupção, num nefasto esforço para desmoralizar a atividade
política, por meio da tentativa de igualar a todos por baixo.
Em claro desrespeito ao equilíbrio democrático, estimula-se,
de um lado, a cooptação e, do outro, o constrangimento. Assim, setores
importantes da sociedade perderam canais legítimos de organização, à medida que
sindicatos, entidades e movimentos sociais foram cooptados, deixando de
responder aos interesses dos segmentos que deveriam representar para passar a
servir aos interesses do poder estabelecido. Por outro lado, com o viés
autoritário de quem tem dificuldade de conviver com a diferença, buscou-se legitimar
a prática da intolerância, da hostilidade e da calúnia contra opositores. Esse conjunto
de ações deteriorou o ambiente político do país e fez aumentar a desconfiança dos
brasileiros na atividade pública.
Nosso compromisso é restaurar valores e ideais caros aos
brasileiros: ética, dignidade, honra, solidariedade, transparência – em suma,
colocar o poder público a serviço da coletividade e dos interesses da nação.
Radicalizar a democracia brasileira, fortalecer e aperfeiçoar as instituições,
para que, com a necessária autonomia, possam exercer seu papel na defesa da
sociedade. É imperativo empreender um combate intransigente à corrupção,
garantir a lisura e a transparência no trato do interesse público, o respeito aos
direitos da cidadania e assegurar o pleno cumprimento dos deveres do Estado.
Aprofundar a defesa das liberdades, em especial a de
imprensa. Estabelecer absoluto compromisso com a firme defesa dos direitos
humanos, com o respeito aos direitos das minorias, com o reconhecimento dos
direitos de comunidades como as indígenas e as quilombolas. Respeitar as justas
conquistas da população negra e ampliar sua participação nos diversos setores
da nossa sociedade. Promover uma reforma política que aproxime o eleitor de
seus representantes e amplie os canais de participação, aproveitando as
oportunidades criadas por novas tecnologias de interação e diálogo institucional
que possibilitam novas e bem-vindas formas de convívio com a atividade pública.
É chegada a hora de dar respostas claras e efetivas às mudanças reclamadas pelos
brasileiros, no sentido de restaurar a fé e a confiança dos cidadãos no país e
nas possibilidades de seu próprio crescimento e ascensão social, em ambiente de
ética e respeito.
2. Recuperação da credibilidade e construção de um ambiente adequado
para o investimento e o desenvolvimento do país
O Brasil enfrenta hoje um processo de perda de credibilidade
e de aumento das incertezas. Numa combinação perversa, a inflação está alta, o
crescimento é baixo e o déficit das contas externas, ascendente. Os alicerces
que permitiram ao país atravessar um longo período de prosperidade, ampliar a
justiça social e dar um salto no seu padrão de desenvolvimento estão sendo
cotidianamente minados e aproximam-se da exaustão. O aumento ilimitado dos
gastos compromete as contas públicas e prejudica a melhor utilização do
dinheiro pago pelos contribuintes. Arrecada-se cada vez mais e investe-se cada
vez menos. Nossa balança comercial caminha para ser deficitária, na mesma velocidade
em que o país se isola do resto do mundo. Importantes decisões foram subordinadas
não aos interesses dos brasileiros, mas à conveniência de um discurso ideológico
que – embora tenha sido revisto em alguns pontos de forma envergonhada –,
provocou uma década de atraso ao país. Agências reguladoras, estatais e
instituições como a Petrobras e o BNDES, patrimônio de todos os brasileiros,
foram transformadas em instrumentos de um projeto de poder, causando enormes
prejuízos ao país e aos brasileiros.
É necessário restaurar a responsabilidade no trato da coisa
pública e restabelecer compromisso responsável com a política de inflação,
trazendo-a para o centro da meta e, sobretudo, combatendo-a com tolerância
zero. O país tem o dever de encerrar a manipulação das contas públicas,
instaurando uma “comissão da verdade” que recupere a credibilidade do Brasil e
garanta transparência absoluta no uso dos recursos públicos. Cada política
pública precisa ser cuidadosamente planejada, monitorada e avaliada, para responder
às expectativas e ao debate realizado pela sociedade, constituindo-se numa resposta
aos problemas reais do Brasil e dos brasileiros. Deve haver metas e controle de
resultados devidamente mensurados em termos de custos e benefícios gerados para
o conjunto da sociedade e não apenas para grupos de interesse ou pressão. Os
brasileiros têm direito de saber onde foi parar cada centavo emprestado pelo
BNDES e a que objetivos eles efetivamente estão servindo. Têm direito de saber
como a Petrobras vem sendo arruinada, vergada por projetos fracassados ou
obscuros e responsabilidades que não lhe dizem respeito, como o controle da
inflação.
Nosso compromisso é construir um ambiente econômico
saudável, com fundamentos sólidos que permitam a recuperação da confiança e da
credibilidade.Que abra espaço para atuação da livre iniciativa e do
investimento privado e promova o melhor funcionamento de uma economia de
mercado mais produtiva e capaz de mobilizar o capital que o país precisa para
acelerar seu crescimento – em especial, em infraestrutura e na indústria de base
– e beneficiar os brasileiros. O Estado deve recuperar sua capacidade de
regulação e assegurar um ambiente propício à competição, garantindo a
necessária segurança jurídica para a realização dos negócios. Fortalecer os
órgãos de controle e fiscalização e, principalmente, resgatar a autonomia das
agências reguladoras, livrando-as da captura por interesses particulares,
impondo a melhoria da qualidade na prestação dos serviços e resguardando o
interesse dos cidadãos enquanto consumidores. O BNDES e a Petrobras, com a
excelência que caracteriza suas trajetórias, precisam ser novamente colocados a
serviço de todos os brasileiros.
CIDADANIA
3. Estado eficiente, a serviço dos cidadãos
O Estado deve atuar na defesa dos cidadãos. Deve ser
eficiente, justo e transparente. Não se trata de Estado mínimo, nem tampouco de
Estado máximo. O Estado deve estar a serviço das pessoas e de seu bem-estar,
provendo, com mais eficiência, os serviços públicos pelos quais os cidadãos
pagam seus tributos, em especial saúde, segurança e educação de qualidade.
Serviços públicos aos quais todo brasileiro tem direito. Essa é a base
fundamental da igualdade de oportunidades, mas não é isso o que vemos hoje no
país: o governo recolhe muito e devolve pouco à sociedade. Nos últimos anos, a
máquina estatal agigantou-se e passou a consumir recursos escassos que deveriam
estar servindo à melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. A desejável
eficiência na gestão viu-se solapada por um ministério tão numeroso como nunca
se viu na nossa história – tendo praticamente dobrado de tamanho na última
década, estimulando desvios e a ineficiência. O Estado brasileiro não executa
nem regula o que deve, não investe o que é necessário e funciona como
dificultador para quem tenta empreender e investir no país.
O Estado brasileiro não pode cruzar os braços e terceirizar
responsabilidades, nem tampouco assistir impassível às tragédias que se
desenrolam cotidianamente em cada canto do país, que cassam os direitos
fundamentais de cidadania dos brasileiros. As políticas públicas demandam novo
modelo de gestão: profissionalização, planejamento rigoroso, gestão por
resultados, definição de metas de desempenho, acompanhamento e fiscalização
permanentes, como forma de garantir melhores serviços para a população. É
preciso que sejam criados novos canais de diálogo com a sociedade – que possam,
inclusive, aumentar a interação dessa com o Estado – e que haja uma busca
permanente por mais transparência. O país tem a obrigação de reverter a
incômoda condição de oferecer um dos piores retornos do mundo em termos de
serviços públicos, apesar da carga recorde de tributos que arrecada. Devemos
buscar um Estado que seja também promotor e indutor e não apenas executor, que
seja mais descentralizado e que, inclusive, incentive maior envolvimento e
participação do terceiro setor.
Nosso compromisso é tornar o Estado brasileiro um
instrumento de transformação da sociedade, de criação de oportunidades, de
combate a privilégios, de efetiva superação da pobreza e redução das
desigualdades. Um Estado eficiente a serviço da sociedade e ativo na geração de
igualdade de oportunidades para todos. Um Estado que planeje, projete, execute
e entregue as obras que prometeu e não se limite à publicidade de obras que
finge ter feito. O aparato estatal deve promover o bem-estar da população, a garantia
de uma vida digna, com especial atenção às mulheres, aos jovens, aos idosos e
às crianças. Deve habilitar-se para promover uma revolução na qualidade de vida
nas metrópoles, hoje asfixiadas pela falta de infraestrutura, de transporte
público e de serviços públicos eficientes. Deve, em parceria com estados e
municípios, melhorar as condições de vida dos milhões de brasileiros que perdem
horas de seus dias apenas para se deslocar de casa para o trabalho, sendo
privados da convivência com suas famílias. Nesse sentido, merecem prioridade os
projetos voltados a enfrentar o desafio premente da mobilidade urbana, com
especial ênfase em parcerias entre os entes federados. Pelo forte impacto que
tem na vida de milhões de brasileiros, a questão da mobilidade passou a ser
símbolo de desafios cujo enfrentamento o Brasil não pode mais adiar. Também é
necessário empreender combate sem trégua ao desperdício, à burocracia opressiva,
à má gestão, ao improviso, à ineficiência, à malversação dos recursos públicos
e ao alto custo do Estado, colocando-o a favor do interesse público e não de uns
poucos. Exigir mais dos impostos e menos dos contribuintes. Aumentar a
qualidade da oferta de serviços públicos implicará a promoção de uma reforma
administrativa que produza maior racionalidade nas decisões, com redução do
número de ministérios pela metade. Valorizar o funcionalismo, a meritocracia, o
profissionalismo na gestão pública e combater o aparelhamento
político-partidário que prejudica a administração pública e, logo, a melhoria
de vida de toda a população. Gastar menos com o governo para poder investir
mais nas pessoas.
4. Educação de qualidade como direito da cidadania, educação
para um novo mundo
O Brasil precisa construir uma história de verdadeiro respeito
a seus cidadãos e isso só será possível se sua mais profunda preocupação for a
organização de uma educação comprometida com a construção de um mundo melhor
para todos. A sétima economia do planeta não pode continuar convivendo com a
vergonhosa mancha do analfabetismo e da baixa escolaridade, que mina a
perspectiva dos brasileiros e o futuro do país. Não teremos chance de êxito se
não nos indignarmos por exibir a menor média de anos de estudo em todo o
continente sul-americano e se nos contentarmos em ter quase metade da população
sem concluir o ensino fundamental. Não teremos perspectiva como nação enquanto
nossas crianças e nossos jovens continuarem figurando entre os menos preparados
em rankings internacionais de conhecimento, enquanto nossas universidades
exibirem padrões muito distantes até daqueles de países mais pobres.
A baixa escolaridade e o déficit de qualidade do ensino
público demandam um esforço convergente, solidário e partilhado entre governos
e sociedade organizada, para que a educação brasileira saia do esquecimento
para, com realismo, voltar a significar um caminho real para o presente de
crianças, adolescentes e jovens. Não superaremos a pobreza, as desigualdades e
a falta de oportunidades com escolas esquecidas. A educação que hoje oferecemos
não está efetivamente comprometida com os desafios do mundo contemporâneo.
Entre 1995 e 2002, nosso governo garantiu a universalização
do ensino fundamental às crianças brasileiras. O segundo passo foi deixado de
lado, a partir de então: a qualidade, a aprendizagem e a garantia da conclusão
dos estudos foram objetivos abandonados pelo atual governo. Agora, nosso
compromisso é alçar a melhoria da educação à prioridade máxima na estratégia de
construção de um novo Brasil. Não se admite, nas atuais condições em que hoje
nos encontramos, nada menos que isso. A educação precisa ser a grande causa
nacional. Sem promover uma revolução nos níveis de aprendizado de nossas
crianças e jovens não alcançaremos o lugar que almejamos. A educação que o
Brasil precisa construir de fato deve ser amplamente debatida e avaliada com os
professores, que são os principais condutores de todo o processo de construção
do saber. Temos que respeitar e implementar o Plano Nacional de Educação, atrasado
em dois anos por divergências do atual governo em relação ao investimento
necessário na área. Temos que garantir o cumprimento das metas do PNE e ter os
professores como os principais aliados na construção de uma educação de
qualidade e que responda aos problemas da realidade brasileira.
Defendemos a implantação de uma Lei de Responsabilidade
Educacional, articulada com o PNE e construída em conjunto com professores e
profissionais de educação, que faça com que a responsabilidade do poder público
não seja apenas com a quantidade de recursos investidos na área, mas também com
os resultados que esse investimento deve gerar para a sociedade. Erradicar o
analfabetismo é uma obrigação, bem como resolver o analfabetismo funcional e
ampliar a educação básica, considerando não apenas a garantia de acesso, mas
também a permanência, a trajetória escolar no tempo certo e a conclusão. Vamos,
em conjunto com os professores, definir metas e estratégias de participação
familiar e comunitárias. Consideramos que também é chegada a hora de
estabelecer a carreira dos professores com incentivos continuados, promovendo
sua valorização profissional. Uma estratégia voltada a dar qualidade à educação
inclui, ainda, a implantação da educação de tempo integral, a melhoria e a
reorganização dos currículos, a partir de um amplo debate com pais, professores
e a comunidade escolar. A educação brasileira deverá estar voltada à construção
de uma sociedade solidária e à promoção da cidadania, mas, igualmente, a
ampliar as capacidades de nossos jovens para se inserir no mercado de trabalho
– para o que será fundamental reestruturar o ensino médio e priorizar o ensino
técnico e tecnológico, com ênfase na flexibilização curricular e na utilização
intensiva de tecnologias de informação que atraiam nossa juventude para o
conhecimento. Prioritária, também, é a melhor qualificação do ensino superior,
com incentivo à pesquisa. Uma educação de qualidade deve estar articulada com o
incentivo à cultura e à formação cultural, valorizando e promovendo a rica
diversidade de um país plural como o Brasil. É preciso que a cultura seja
compreendida como caminho de valorização e transformação dos cidadãos e, por consequência,
da própria realidade.
5. Superação da pobreza e construção de novas oportunidades
Uma nação com as riquezas e potencialidades que o Brasil
exibe não pode continuar convivendo com o imenso abismo que divide o país entre
ricos e pobres, entre cidadãos com direitos e excluídos sociais. Precisamos
urgentemente nos tornar uma nação de todos, com oportunidades iguais para
todos. A superação da pobreza não pode se limitar a uma única ação. Nesse
sentido, o Bolsa Família não pode continuar sendo ponto de chegada; precisa
transformar-se em ponto de partida para mudanças e conquistas sociais dos
brasileiros. A verdadeira emancipação só ocorrerá quando cada brasileira e cada
brasileiro tiver direito de escolha, obtiver formação adequada para ter
trabalho e ocupação digna por toda a vida e puder proporcionar essa mesma
herança a seus filhos. Esse direito deve ser objetivo central das políticas
sociais do país.
Desenvolvimento econômico e desenvolvimento social devem ter
peso equivalente num governo comprometido com a eliminação da histórica
desigualdade que ainda subsiste num país como o Brasil. A superação da pobreza
deve ser conquistada por meio de uma estratégia transversal e integrada de ação
do Estado, que contemple, além da função de garantir assistência social, a
promoção de igualdade de oportunidades. É preciso definir que a pobreza não é
apenas privação de renda, como o governo federal tenta fazer crer. É, sim, um
conjunto de privações e de ausência de proteção social caracterizados pela
falta de serviços, oportunidades e liberdades fundamentais para a inclusão
social. É necessário empreender uma travessia rumo a um Brasil mais justo, sem
limitar-se à administração cotidiana da miséria, sem que o cartão de um
programa como o Bolsa Família se constitua na única herança que um pai pode
deixar para seu filho.
Nosso compromisso não é apenas garantir a cada família o
direito a uma renda mínima, por meio do Bolsa Família, que buscamos ver
assegurado na Lei Orgânica de Assistência Social como política de Estado. Mas
ir muito além, reconhecendo e garantindo que todas as privações sociais das
famílias brasileiras possam ser atendidas como urgência social. Ir de porta em
porta para apoiar a inclusão das famílias. Trabalhar nos territórios mais pobres,
vulneráveis e violentos do país, que serão alvos prioritários de maior atenção
social. Regiões mais carentes do país deverão ser objeto de maior investimento
social per capita em saúde e educação. Pessoas com deficiência receberão a
atenção especial que merecem. Chegará o dia em que o destino de uma criança
brasileira não será mais determinado pelas condições materiais de sua família
ou pelo local em que nasce ou vive. Consideramos que são as mulheres, pelo
protagonismo que exercem hoje nos lares de milhões de brasileiros, que devem
merecer a maior atenção dentro desta estratégia, com ênfase, por exemplo, no
aumento da oferta de creches para seus filhos. As mulheres devem merecer
políticas estruturantes que garantam o fortalecimento dos novos papéis que
exercem. Mulheres são mães, são esposas, são filhas, são donas de casa, são
trabalhadoras, são estudantes, são chefes de família: para cada um destes
papéis, o governo deve olhar com atenção e com a responsabilidade de
emancipação e empoderamento. Temos uma certeza: os pobres do país têm o direito
de deixar de ser pobres. Erradicar a extrema miséria e superar a pobreza vai muito
além de estatísticas. O que o Brasil precisa de fato é construir um conceito e
uma ação que garantam, efetivamente, a inclusão social. Não podemos dizer que
as famílias deixaram a pobreza se elas continuam a depender de programas de
transferência de renda. Mais do que portas de saída da pobreza, precisamos
criar enormes portas de entrada na inclusão. E essas portas devem garantir que
as famílias acessem educação, saúde, habitação, emprego, qualificação
profissional e, sobretudo, convivam em comunidades em que seguranças sociais
sejam sempre a premissa.
6. Cidadãos seguros: segurança pública como responsabilidade
nacional
A insegurança que aflige todos os brasileiros tornou-se
autêntica calamidade pública. Consequência de um ambiente de pouco respeito às
leis, de erosão dos valores da autoridade, das limitações da Justiça, mas,
sobretudo, fruto da omissão do governo federal no enfrentamento do problema.
Caiu o mito de que avanços de renda diminuem, por si só, a criminalidade. Na
crueza da elevação dos índices da violência no Brasil, muito mais precisa ser
feito. Mas o governo parece não ter se dado conta dessa triste constatação. É
inaceitável que a União invista apenas uma ínfima parte dos recursos aplicados
em segurança pública no país e, ainda, contingencie recursos orçamentários de
fundos destinados a auxiliar estados e municípios no combate ao crime. Não surpreende
que, nessas condições, o Brasil tenha se tornado recordista de tristes estatísticas
globais de violência: aqui, mata-se mais do que em muitas guerras ao redor do
mundo. Um em cada três brasileiros já foi vítima de algum tipo de crime. O
tráfico de drogas agrava a criminalidade e faz dos jovens suas principais
vítimas. O flagelo do consumo, em especial do crack, vitima e amedronta
milhares de famílias em todo o nosso território. Trata-se de uma guerra em que
todos, como nação, estamos sendo derrotados. Diariamente.
A crise na segurança pública também pode ser dimensionada
pela percepção de impunidade causada pela baixa eficácia do sistema de
investigação, julgamento e punição de infratores e criminosos. A deterioração
da credibilidade das instituições policiais e judiciárias que resulta do
agravamento da crise se reflete, inclusive, em dificuldades para a manutenção
da ordem pública e para que o cumprimento da lei seja assegurado. Somente com
uma ação integrada de prevenção, repressão e punição ao crime – planejada e
executada de maneira compartilhada e articulada pelos três níveis da federação
e pelos três poderes – seremos capazes de produzir resultados concretos. A
liderança desse processo deve ser do governo federal, a partir da transformação
do Ministério da Justiça em Ministério da Justiça e Segurança Pública,
ampliando substancialmente a responsabilidade da União nessa área. Segurança
pública deve ser alçada à posição de política de Estado, superando o patamar
das iniciativas isoladas e da precariedade flagrante dos governos subnacionais.
É hora de buscar soluções inovadoras e estruturais que a gravidade da situação
requer: o país clama pela instituição de uma política nacional de segurança
pública, inexistente até agora.
Nosso compromisso é fazer com que o governo federal lidere o
combate às drogas e à criminalidade. Promover iniciativas abrangentes,
planejadas e articuladas de combate ao crime, coordenando esforços dos governos
estaduais e municipais, muitas vezes impotentes diante da criminalidade.
Superar a situação de subfinanciamento e impedir o contingenciamento de
recursos orçamentários para a área. Liderar politicamente o debate sobre as
necessárias reformulações da nossa legislação penal: é imperativo tornar a
Justiça mais rápida, os processos mais céleres e o sistema prisional mais racional
e decente – de maneira a reduzir a impunidade – e mais humano na recuperação social
dos apenados. Investir no aperfeiçoamento e na modernização das polícias, mas, sobretudo,
em inteligência e tecnologia aplicadas no combate e na prevenção ao crime. O
enfrentamento da questão das drogas será feito a partir de uma política
nacional baseada em quatro pilares: prevenção, redução de danos, tratamento e
repressão. As forças armadas brasileiras precisam ser aparelhadas e dirigidas
de maneira compatível com os desafios da soberania e da defesa nacional, e, em
especial, com a complexidade do policiamento das fronteiras, da costa e do
espaço aéreo brasileiro, atuando de forma complementar com a defesa social num
esforço integrado de restauração do ambiente de segurança por que clamam todos
os brasileiros.
7. Mais saúde para os brasileiros: cuidado, investimento e
gestão
Saúde é hoje a área com maior desaprovação entre todas as
políticas públicas governamentais. Os problemas são percebidos pela população
sob a forma de acesso dificultado, oferta insuficiente de serviços e recursos e
má qualidade da atenção prestada. O déficit de médicos e a extinção de milhares
de leitos hospitalares da rede do Sistema Único de Saúde apenas nos últimos
anos exemplificam o abandono da saúde pública e a crônica desassistência aos
brasileiros. As Santas Casas estão sucateadas. A essa situação, o governo
federal contrapõe a redução de sua participação relativa nos investimentos
públicos no setor, ao mesmo tempo em que deixa de executar bilhões de reais
destinados pelo Orçamento da União a hospitais e serviços de saúde. Além disso,
atuou para impedir que, como fora definido para estados e municípios, a União
também tivesse fixado um patamar mínimo para investimentos no setor.
Estratégias vitoriosas, como o Saúde da Família, foram relegadas em favor de
ações de puro marketing.
O setor da saúde enfrenta graves problemas de gestão,
desperdícios e desvios dos recursos públicos. O subfinanciamento existente gera
baixa remuneração pela prestação dos serviços (seja das redes pública, filantrópica
ou privada complementar) e, principalmente, baixa participação do setor público
nas despesas, o que impossibilita o alcance de um sistema universal. Disso
resulta que brasileiros pobres destinam boa parte de seu pequeno orçamento
familiar a gastos com saúde e compra de medicamentos. Em âmbito público, no
mesmo momento em que se limita a propor a importação de mais médicos, o governo
federal não define políticas de apoio ao profissional brasileiro e se opõe à
destinação de mais recursos para a saúde, barrando seguidamente iniciativas
parlamentares. Medidas paliativas não são suficientes para reduzir as filas
para atendimento, o déficit de leitos, a desatenção aos pacientes, as mortes
que poderiam ter sido evitadas.
Nosso compromisso é reverter a declinante participação
federal no financiamento da despesa pública em saúde, além de retomar suas
prerrogativas e responsabilidades como principal instância de condução do SUS.
A estratégia ancora-se na ampliação dos serviços de atenção básica e na
coordenação das redes de atenção à saúde, com previsível diminuição de custos.
Fortalecer e ampliar substancialmente a cobertura do Programa Saúde da Família,
qualificando e incorporando mais profissionais e profissões, estruturando-o
como “porta de entrada” no SUS. Atender melhor a população significa, também,
melhor aplicar os recursos escassos, investindo na melhor organização, na eficiência
e na boa gestão do sistema. Também é necessário garantir, por meio de boa regulação
e fiscalização, que planos de saúde privados prestem serviços de qualidade. A
população quer e merece mais médicos, mas precisa, sobretudo, de mais saúde,
mais atenção, melhor tratamento. O sistema precisa de mais recursos e mais
gestão.
PROSPERIDADE
8. Nação solidária: mais autonomia para estados e
municípios, maior parceria da União
A federação brasileira está fracionada. Estados e municípios
vivem uma crise sem precedentes, resultante da concentração de recursos e poder
na órbita da União, do descaso do governo federal com os problemas locais e de
políticas equivocadas que levam entes subnacionais à beira da insolvência. Sem
o dinheiro de impostos que a União usou para desonerar a carga de setores
econômicos escolhidos, prefeituras fecham as portas, incapazes de honrar
compromissos, e estados – também engolfados em dívidas impagáveis com a União –
veem esvair sua capacidade de investimentos. É a política da bondade com chapéu
alheio. Há uma lógica perversa nessa estratégia: a subordinação de estados e
municípios à benemerência da União, uma política da subserviência em troca de
favores. Vigora hoje no país a distribuição eleitoreira de pequenos benefícios,
ressuscitando políticas clientelistas e práticas caras ao coronelismo, em
detrimento de uma relação mais respeitosa e generosa entre os três níveis de
governo. Esse desequilíbrio solapa a autonomia de estados e municípios e
prejudica, sobretudo, o cidadão.
Só a cooperação e a coordenação de ações pactuadas entre
União, estados e municípios será capaz de formular e executar políticas
públicas mais eficazes em favor dos brasileiros, sem corretagem de privilégios
e intermediação de favores. É preciso que o governo central volte a exercer sua
liderança legítima sobre os entes federativos, abandonando o centralismo
despótico, descentralizando corajosamente atribuições e poderes, valorizando
iniciativas e soluções regionais. Uma federação mais solidária também será mais
capacitada para superar os desequilíbrios que ainda subsistem no país e tratar,
com o cuidado e a atenção que merecem, as necessidades próprias de regiões como
o Nordeste e a Amazônia. Para essas, deve haver ações audaciosas que tenham
como objetivo apoiá-las no enfrentamento de seus desafios específicos. O desenvolvimento
dessas regiões é questão estratégica para o futuro do país.
Nosso compromisso é restaurar o equilíbrio que deve nortear
uma federação que se pretenda mais solidária, para devolver a estados e
municípios a autonomia que lhes vem sendo paulatinamente usurpada. Não será
mais permitido à União patrocinar desonerações tributárias unilaterais que
penalizem os entes subnacionais, sem que eles sejam compensados. Urge desatar
os nós do federalismo, reverter a relação de subserviência que enfraquece e
divide o Brasil, que apequena as lideranças regionais e monopoliza as forças, o
protagonismo e a ação do poder público no Executivo federal. Construir um novo
pacto federativo que fortaleça estados e municípios, para que possam gerir
melhor os bens públicos, aplicar melhor os recursos e, desta maneira, fazer
aquilo que de fato devem fazer: cuidar melhor das pessoas.
9. Meio Ambiente e Sustentabilidade, a urgente agenda do
agora
Temos assistido nos últimos anos à adoção de políticas que
seguem na contramão dos preceitos da sustentabilidade: incentivo a fontes não
renováveis de energia, com o acionamento perene de usinas térmicas; impulso
desmesurado ao transporte individual, em detrimento do transporte público;
aumento da utilização de fontes mais poluentes na nossa matriz energética. O
fracasso do programa nacional de etanol, prejudicado pelo congelamento do preço
da gasolina, precisa ser revertido. Os parques eólicos, construídos sem
planejamento, carecem de ligação com as redes transmissoras de energia. Temos
assistido à perda de eficiência e credibilidade do licenciamento ambiental como
instrumentos de gestão e indução à sustentabilidade; ao abandono sistemático das
unidades de conservação; à lentidão na implantação da política nacional das
águas e o desprestígio dos comitês de bacias hidrográficas; ao crescente
lançamento in natura dos esgotos sanitários urbanos, constituindo hoje a maior
fonte de poluição dos nossos rios, e, ainda, o lançamento dos resíduos sólidos
urbanos, na maioria das cidades, em lixões.
A realidade econômica e socioambiental brasileira exige que
o país pratique uma vigorosa política de meio ambiente, com foco na
sustentabilidade. A importância de nossos ativos ambientais e uma estrutura
econômica baseada predominantemente na exploração e transformação dos recursos
naturais recomendam que a questão ambiental seja abordada com centralidade na
definição das políticas governamentais, deixando de lado o tratamento
periférico que lhe é concedida. Isso pressupõe considerar a sustentabilidade
para além das fronteiras da política ambiental stricto sensu, incluindo a
dimensão ambiental no planejamento estratégico do país e, por conseguinte, na formulação
e implementação das políticas públicas setoriais, visando assegurar a proteção
do nosso extraordinário patrimônio natural e o desenvolvimento sustentável. Nesse
contexto, torna-se fundamental estabelecer uma nova agenda ambiental para o Brasil.
Nossa política ambiental, até pela época em que foi formulada, está, ainda
hoje, baseada nos exclusivismo dos mecanismos de comando e controle do Estado,
que, a despeito dos esforços realizados, são exercidos de forma intermitente e
desarticulada – e, portanto, ineficaz. Essa nova agenda, além de fortalecer os
mecanismos de comando e controle, precisa estatuir um novo ciclo da nossa
política ambiental, estabelecendo a sustentabilidade como um fundamento da
política econômica, o que significa considerá-la na concepção das políticas
tributária, fiscal e creditícia, levando em conta a competitividade do setor
produtivo e sua inserção na economia internacional.
Nosso compromisso de colocar o tema do meio ambiente e da
sustentabilidade na agenda política central do governo impõe a necessidade de
uma nova governança ambiental, de natureza sistêmica, transversal e
descentralizada, fazendo com que a dimensão ambiental seja considerada desde o
início da formulação das políticas, planos e programas de governo, tendo como
referência espacial as bacias hidrográficas e os biomas, e não somente, como é
hoje, no momento da execução dos projetos e ignorando a dimensão territorial.
Os municípios precisam ser apoiados para atuar, descentralizando e ampliando a
política ambiental, construindo soluções integradas de cidades sustentáveis,
incluindo mobilidade urbana, tratamento de esgotos e gestão de resíduos
sólidos. O mundo empresarial já mostra ser viável economicamente aliar a proteção
do meio ambiente com o crescimento da riqueza. As organizações do terceiro setor
comprovam seu potencial de gerar projetos, empreender iniciativas, assumir responsabilidades
e mobilizar recursos: é do encontro da solidariedade com a cidadania que surgem
e se multiplicam suas ações. Seu fortalecimento na definição e na gestão das
políticas públicas deve ser uma orientação estratégica de governo. O Brasil tem
a oportunidade de se tornar o primeiro país a se tornar desenvolvido com
economia de baixo carbono, com ampla participação de energias renováveis e
práticas industriais, comerciais e agrícolas sustentáveis. O apoio e o
incentivo às práticas sustentáveis será a nossa maior oportunidade de mudanças
sociais e econômicas. Os indicadores de sustentabilidade, apoiados nos pilares
econômicos, sociais, ambientais e institucionais, devem ser os norteadores de
nossas estratégias de planejamento e gestão de governo. O país com uma das
maiores reservas de água doce e de maior biodiversidade do planeta tem a
obrigação de assumir a liderança de uma economia sustentável. Um modelo de
planejamento e gestão sustentável que deverá servir de exemplo e referência a
um mundo que clama por mudança e responsabilidade.
10. A agenda da produtividade: infraestrutura, inovação e
competitividade
O Brasil se tornou um país muito caro, onde é difícil
produzir, investir e empreender. A produtividade de nossa economia encontra-se
estagnada. As empresas brasileiras padecem de perda de competitividade e veem o
mercado para seus produtos encolher cada vez mais, tanto aqui quanto no
exterior. Desde a Era JK, a participação da nossa indústria de transformação no
PIB não era tão baixa, evidenciando um indesejável processo de
desindustrialização precoce da economia brasileira. A alta carga tributária e o
total descaso com nossa infraestrutura – situação agravada pela resistência
ideológica do atual governo a investimentos privados – minam nossa capacidade
de investir e competir. Relatórios mundialmente reconhecidos apontam quedas continuadas
na competitividade da nossa economia. A ausência de medidas econômicas e
institucionais corretas tem feito com que o Brasil esteja sendo ultrapassado
por diversos países em rankings internacionais – e, no que diz respeito à
competitividade e à produtividade, países que não avançam ficam para trás. O
crescimento econômico não se sustenta se estiver apoiado apenas no consumo
interno e a realidade é que o nosso grau de abertura econômica continua ínfimo.
Hoje, além de não enfrentar esses desafios, o país vê-se discutindo uma agenda
de duas décadas atrás, sob o temor de perder conquistas como a estabilidade da
moeda, a responsabilidade com as contas públicas e a credibilidade arduamente
conquistada.
Precisamos escapar dessa armadilha, começando pelo aumento
dos investimentos em inovação e tecnologia e priorizando a busca do crescimento
da produtividade. Hoje, investimentos em pesquisa e desenvolvimento contam com
baixa eficácia nos resultados. Precisamos transformar o conhecimento gerado nas
universidades e nos centros de pesquisa do país em negócios inovadores capazes
de gerar valores agregados. O Brasil demanda planejamento de longo prazo, com
características integradoras de eixos econômicos e logísticos, que possam gerar
resultados efetivos para a economia do país e enfrentem nossas principais
fragilidades: a precariedade da infraestrutura de transportes, a baixa
qualidade do sistema educacional, o elevado custo de se produzir no país. Mas a
realidade é que a inapetência gerencial produz vergonhosos déficits, como a
logística de transporte, mobilidade urbana, saneamento, saúde e educação, que
hoje não estão entre as prioridades do governo. A experiência malsucedida do
PAC, que coleciona atrasos e superfaturamentos, precisa ser substituída por
intervenções que resultem, efetivamente, em benefícios para a sociedade. É
urgente uma nova política industrial com foco no atendimento das pequenas e
médias empresas. Cabe ao Estado auxiliá-las a se modernizar, melhorar a gestão
e se integrar de forma sustentável nas cadeias de produção. E, igualmente
importante, estimular o empreendedorismo e fomentar a inovação como fator
primordial para a competitividade das empresas.
Nosso compromisso é retomar a realização de reformas
estruturais, criando condições para que o produto brasileiro volte a ser
competitivo. É preciso desburocratizar procedimentos, simplificar a estrutura
tributária, abrindo espaço para a redução da carga e para a distribuição de
mais receitas para estados e municípios. É imperativo superar os gargalos da
infraestrutura, expandi-la e modernizá-la, e incentivar o investimento privado,
sempre que esse puder gerar melhores resultados para a população. É preciso
reduzir o custo de se produzir aqui, facilitar o escoamento da produção,
aprimorar a plataforma energética e de telecomunicações. Para sermos mais
produtivos e competitivos, é urgente melhorar a qualidade e a formação
profissional da nossa mão de obra, ampliando suas possibilidades de inserção no
mercado de trabalho com maiores salários. A agenda da produtividade deve
assegurar melhores condições aos trabalhadores, respeito a seus direitos e à
sua representação sindical, assim como uma política adequada para o salário mínimo
que proteja e garanta o poder de compra dos trabalhadores e dos aposentados.
Esta agenda contempla, também, a promoção de maior integração entre pesquisa e
produção, com intuito de construir redes de pesquisa entre academia, setor privado
e setor público nos moldes de bem-sucedidas experiências mundiais. Só assim,
com coragem e compromisso com o futuro, alcançaremos mais eficiência, aumento
da produtividade e recuperação da nossa competitividade perdida, essenciais
para o bem-estar dos brasileiros.
11. A agropecuária que alimenta o presente e o futuro do
país
O agronegócio é quem hoje dá equilíbrio e dinamismo à nossa
economia. Não fosse o trabalho dos homens do campo, nosso PIB estaria ainda
mais anêmico e nosso horizonte mais restrito. Mas é preciso reconhecer: o
sucesso da agricultura e da pecuária ocorre não por causa do governo, mas
apesar do governo. Sua alta produtividade resulta do esforço dos produtores,
dentro de suas fazendas. Da porteira para fora, o agricultor só encontra
dificuldades: são a logística precária, as rodovias esburacadas, as ferrovias inexistentes,
os portos cheios de burocracia, a ineficiência de estruturas de apoio, a pouca
capacidade de armazenagem – em suma, deficiências que só atravancam o caminho
até os mercados consumidores, daqui e do exterior. Um setor tão crucial para a
geração de empregos e riquezas no país não encontra no governo o respeito e a prioridade
necessários.
O produtor rural, no Brasil, é vítima de preconceitos.
Produz contra muitas adversidades, enfrenta sol e secas, sem que tenha, perante
a sociedade urbana, devidamente reconhecidas sua excelência e sua contribuição
ao desenvolvimento. O nosso agricultor é digno do respeito e do reconhecimento
de todos os brasileiros. Menos importa seu tamanho, se grande ou pequena
propriedade, porque vale, isso sim, sua capacidade produtiva, sua
responsabilidade social, econômica e ambiental. Não deve haver oposição entre o
agricultor familiar e a agricultura comercial. Todos os produtores rurais devem
ter garantido o acesso a novos conhecimentos agronômicos, receber efetivas políticas
de assistência técnica, assegurando aos mais desprotegidos, em especial os assentados
de reforma agrária, a extensão rural empreendedora. Cooperativismo e associativismo
são boas receitas para a prosperidade, pois os pequenos, juntos, ficam fortes.
Segurança jurídica no campo é o grande reclamo daqueles que garantem o alimento
e as matérias-primas que rendem tantas divisas ao país. É preciso pôr fim à
omissão do poder público federal na regularização fundiária, na demarcação das terras
indígenas, nas comunidades quilombolas. Há espaço para todos nesse imenso Brasil,
desde que o governo negocie os conflitos e arbitre as decisões, levando tranquilidade
e paz ao campo.
Nosso compromisso é com a valorização do produtor rural, com
a promoção de ações e políticas que lhe deem condições de continuar
desenvolvendo, ganhando competitividade, conservando as áreas naturais,
preservando e aprimorando nossa agricultura sustentável. Especial atenção
merece o escoamento equilibrado da produção agrícola, uma estrutura mais
adequada de armazenagem e de comercialização, atacando os gargalos logísticos e
priorizando as hidrovias e as novas ferrovias que interligarão o Oeste ao
Nordeste e abrirão caminhos de escoamento para o Norte e para o Pacífico. É
crucial restituir ao Ministério da Agricultura seu poder de decisão e
formulação de políticas agrícolas, retirá-lo da irrelevância em que se
encontra, livrá-lo do aparelhamento político-partidário e garantir que sirva ao
país, não a grupos de interesses. Pesquisas públicas e práticas de cultivo
inovadoras devem ser disseminadas a partir de órgãos de excelência, liderados
pela Embrapa, mas também com a participação das instituições estaduais de
pesquisa, que precisam ser fortalecidas. O interior do Brasil, e nele os
pequenos municípios, precisam de atenção para manter a população local com
qualidade de vida. A política do agronegócio será coordenada diretamente pelo
presidente da República e executada por um Ministério da Agricultura composto
por quadros profissionais representativos do setor.
12. Política externa: reintegrar o Brasil ao mundo
O viés ideológico imposto à nossa política externa nos
últimos anos está isolando o Brasil do mundo. Demos as costas para importantes
nações democráticas e abraçamos regimes de clara inclinação totalitária, em
flagrante contraste com as melhores tradições da nossa diplomacia. Em relação
ao comércio exterior, decisões políticas equivocadas fizeram com que, nos
últimos dez anos, o Brasil não negociasse acordos com as principais economias e
os principais blocos, de forma a dinamizar nossas relações de comércio. A
integração regional está se desfazendo e o Brasil continua a reboque dos
acontecimentos. Deixamos de abrir mercados para os produtos brasileiros e de
ampliar a modernização da estrutura produtiva interna, pela falta de acesso à
inovação e à tecnologia de ponta.
A partidarização da política externa tem consequências
severas na política de comércio exterior: acentua o isolamento, em vez de
ampliar a integração; produz atritos, em lugar de cooperação produtiva;
empobrece nossa pauta de comércio, em vez de dinamizar trocas e oportunidades.
Vivemos num dos países mais fechados ao comércio exterior no mundo: somos a
sétima maior economia do mundo, mas apenas o 25° maior exportador. Também por
isso, o Brasil precisa voltar a integrar-se num mundo em que, cada vez mais, as
relações são interdependentes. Nossas empresas produzem com qualidade, mas com
cada vez menos competitividade, dados os altos custos internos. É preciso criar
condições para ajudá-las a se integrar nas cadeias produtivas globais, por meio
de profunda melhoria, racionalização e simplificação do ambiente econômico
interno.
Com visão de futuro, nosso compromisso é conquistar um lugar
privilegiado para o Brasil no mundo. É necessário abandonar a política externa
de alinhamento ideológico adotada nos últimos anos, resgatando a tradição de
competência e a atuação independente da diplomacia brasileira. O Itamaraty deve
servir ao Brasil e defender o interesse nacional, acima de todo e qualquer
interesse partidário. Nossa diplomacia deve, também, recuperar no exterior os
compromissos que defendemos internamente, como o repúdio às tiranias, o direito
à paz, a solidariedade internacional em defesa da democracia, o respeito aos
direitos humanos e ao meio ambiente. Especificamente em relação ao Mercosul, o
bloco precisa voltar a ser o que era na sua concepção, no início dos anos 1990:
uma área voltada à liberalização do comércio e à abertura de mercados. O Brasil
deve assumir a efetiva liderança regional e propor as mudanças que se fazem necessárias
para o crescimento do nosso comércio internacional. A negociação de um acordo
abrangente e equilibrado entre Mercosul e União Europeia deve ser concluída, mesmo
que, para tanto, o Brasil avance mais rapidamente que outros membros do bloco
para deles não ficar refém.