O Brasil está fazendo tudo certo para se tornar, em 2014, um
país pior. Segundo uma pesquisa Datafolha, 66% dos brasileiros querem mudanças
no governo. É um dado novo e expressivo. Parece mostrar que a população enfim
percebeu como é governada, descobriu o engodo administrativo que avacalha as
contas públicas brasileiras. E como o Brasil quer mudar esse estado de coisas?
Elegendo Dilma Rousseff no primeiro turno. É o que dizem o Datafolha e todos os
institutos de pesquisa. Ou seja: o eleitorado brasileiro concorre ao troféu
mulher de malandro 2014.
E esse eleitorado que quer mudanças no governo tem uma carta
na manga. É um não candidato, mas que, se entrar no páreo, torna-se o único
nome nacional capaz de derrotar Dilma: Lula. Como se vê, o Brasil quer mudar
mesmo.
Esse fenômeno tem uma explicação muito simples, que os
cientistas políticos negam desesperadamente, numa espécie de otimismo avestruz.
O fenômeno se chama chavismo. E ele, e só ele, que explica o paradoxo da
insatisfação com o governo versus apoio eleitoral ao governo. A colossal
propaganda populista do petismo conseguiu dissociar nome e pessoa, conseguiu
inventar o binômio do crioulo doido - administração desastrosa e governantes
bonzinhos. E a culpa não é dos parasitas do PT. Eles estão no papel deles.
Fazem o que sabem fazer: parasitar. A culpa é do povo. Resta apenas escolher
qual a parte pior do povo: a que não enxerga ou a que faz vista grossa.
Recentemente, Dilma declarou que o IBGE faria a revisão do
PIB de 2012, para cima. Antecipou que o índice de crescimento do ano passado
passaria de 0,9% para 1,5% - um aumento expressivo e surpreendente. A notícia
repercutiu forte, apesar do mal-estar com o fato de a presidente da República
ter vazado uma informação do IBGE, uma falta grave na política de sigilo dos
dados do instituto. Teoricamente, Dilma nem poderia saber daquele índice -
justamente para que não haja tráfico político de estatísticas. Mas o mal-estar
seria duplo.
Não bastasse o vazamento, o informante dela estava mal
informado. A revisão do PIB foi de 0,9% para 1%, quase nula. Os chavistas
venezuelanos e argentinos são mais eficazes na manipulação dos índices que seus
governos destroem.
Esses 66% de brasileiros que sentem a inflação morder seus
calcanhares não notam nada disso. Deveriam estar olhando para o outro lado
quando o governo bateu cabeça em público, para o mundo inteiro ver, discutindo
a melhor forma de abafar os preços dos combustíveis - para mascarar a inflação
febril dos preços livres, encostando em 10% ao ano. É um imenso contingente de
brasileiros divididos entre os que não veem e os que fingem que não veem a
demagogia tarifária arrebentando a Petrobras e as elétricas. Assim é o
chavismo: a realidade é o que o governo bonzinho diz.
Dizem que haverá nova série de manifestações durante a Copa
do Mundo. Entre as pautas dos protestos estará, provavelmente, o reajuste das
passagens de ônibus - porque a mentira bondosa da manutenção dos preços das
passagens não poderá durar mais muito tempo. E aí já se sabe, pelo nível de
esclarecimento dessa geração de manifestantes e seus amigos black blocs, que
teremos mais um capítulo da já famosa Primavera Burra brasileira: quebradeira
geral e risco zero para os amigos de José Dirceu que comandam o carnaval no
Planalto.
O Brasil não se importou de ver um Ministro da Educação
panfletário e negligente usando o cargo para virar prefeito de São Paulo. Não
se importa de ver um ministro da Saúde em comício permanente para ganhar o
governo do Estado de São Paulo - segundo Lula, seu mentor, para tirar "os
conservadores" do poder. Eles usarão para sempre a bandeira de
revolucionários oprimidos, mesmo já sendo os donos quase absolutos do aparelho
de Estado. Enquanto colar, está valendo - e o mensaleiro Delúbio poderá se
autodenominar preso político, sem que isso seja uma piada. O Brasil não se
importa que o ministro da Justiça, aquele que gritou contra o regime fechado
para os mensaleiros, remeta ao Ministério Público um relatório pirata
incriminando adversários políticos.
Quem acha que isso
não é chavismo que vote em Dilma pela mudança. Basta de conservadorismo.