Quando assumiu a Presidência da República em 2003, o Partido
dos Trabalhadores (PT) deu início a uma revolução no país. Não interessa aqui
detalhar, minuciosamente, quais os aspectos desse processo. Interessa apontar
qual sua “causa motora”, qual o seu anima, seu “princípio vital”, ou se
quiserem, seu espírito. Afirmo, pois, que aquilo que movia o PT em 2003 em nada
difere dos princípios da esquerda do século XX e aponto em primeiro lugar a
ideia de que “começar do zero”, de “passar o país a limpo”, fez com que o PT
considerasse velho, corrupto e ultrapassado tudo aquilo que o antecedeu na
história política da nação. Tomado o poder, tudo precisava ser derrubado e
reconstruído. Tudo havia que ser pensando novamente ou simplesmente inventado
para um novo Brasil, para um “novo mundo sem medo de ser feliz”. O resultado
disso, todos sabemos: não sobrou “pedra sobre pedra” (a não ser de crack) da
cultura e do pensamento brasileiros. Nossa razão adoeceu, nossa capacidade de
crítica sumiu e iniciou-se uma verdadeira época da escuridão, um período de mau
gosto estético e de relativismo moral que permitiram ao partido-religião acabar
para sempre com a ideia de oposição. O PT nunca teve ou terá oposição; tem
inimigos – o conceito é completamente diferente.
Ainda que dentro da sociedade brasileira nunca tenha
desaparecido por completo a percepção daquilo que o PT fez com a política, o
mesmo não se pode afirmar com tanta segurança a respeito daquilo que ele fez
com a cultura, daquilo que ele fez com a moral e com os mais simples conceitos
de disciplina, hierarquia e decoro.
O dia 12 de junho de 2014, data da abertura da Copa do Mundo
no Brasil, permanecerá – como diria Roosevelt – na história da infâmia, segundo
os petistas. “Nunca antes na história desse país” 63.000 pessoas, ao vivo e
numa transmissão para o mundo inteiro, disseram a um presidente da república
aquilo que Dilma Rousseff teve que ouvir no Estádio do Itaquerão em São Paulo.
Antes daquilo que ela escutou, ir ao estádio era “coisa do povo”, era uma
alegria de brasileiro pobre que, tomando sua cervejinha de domingo, poderia ir
ao Maracanã na realização do sonho socialista. Depois do que aconteceu, Lula
vem a público dizer que no Itaquerão só havia “burgueses” e que foi da
diferença de classes e do preconceito que partiram as ofensas à presidente.
Por uma questão de respeito ao leitor, não vou descrever o
que o público disse à Dilma naquela tarde. Não me interessa saber a que classe
pertenciam as pessoas que estavam no Estádio nem se havia ou não pobres entre
elas. Interessa afirmar que a primeira mandatária do país e representante de
uma organização criminosa que tentou comprar todo Congresso Nacional, que
destruiu toda universidade brasileira, que recebe traficantes com honras de
chefe de estado, que matou prefeitos e ameaçou juízes, que bateu em professores
e importou médicos cubanos merecia e continua merecendo escutar aquilo que
escutou.
O dia 12 de junho, presidente Dilma-Lula, há de entrar para
História do Brasil e deixa aos senhores a duríssima lição, a inquestionável
prova de que os senhores podem nos obrigar a votar, os senhores podem ter o
dinheiro dos nossos impostos, podem nos processar e até mesmo nos prender,
tirando a nossa liberdade, mas vocês jamais terão nosso respeito! Não podem ter
do povo brasileiro aquilo que vocês mesmo tiraram dele: a capacidade de
respeitar qualquer coisa, a simples noção de mérito e o princípio básico de
respeito a cargos e instituições. Calem-se, pois, e não venham à imprensa com
declarações que recordam as falsas virgens e que remetem aos pudores
desconhecidos daqueles que arrancam crucifixos das paredes e se masturbam em
público com a estátua de Nossa Senhora.
Mantenham-se, ordeno eu, todos os petistas, todos aqueles
que aparelharam, roubaram, fraudaram e corromperam a sociedade brasileira,
todos aqueles que atentaram contra a inocência da infância, que abusaram dos
ideais da juventude e que exploraram a doença da velhice, em seu mais absoluto
silêncio. Calem-se todos os que antes diziam que “a voz do povo é a voz de Deus”
e que agora o peito inflam para falar em decoro, respeito ao cargo e educação
ante as câmeras de tevê. Voltem todos vocês, seus malditos, ao lugar onde
habitam os espíritos inferiores, os espíritos da escuridão.
Porto Alegre, 14 de junho de 2014.
Milton Simon Pires é médico.