O marinês é uma nova língua política que se caracteriza por
abstrações e fórmulas vagas com o intuito de capturar o apoio dos incautos.
Suas expressões aparentemente nada significam, porém procuram suscitar a
simpatia de pessoas que aderem ao politicamente correto. Mas só aparentemente
nada significam, pois carregam toda uma bagagem teórica que, se aplicada, faria
do Brasil um país não de sonháticos, mas de pesadeláticos.
Marina Silva ganhou imenso protagonismo nas últimas semanas
ao ingressar no PSB do governador Eduardo Campos, fazendo um movimento político
inusitado. Ao, aparentemente, aderir ao candidato socialista acabou roubando
para ela a cena política, como se fosse, de fato, a protagonista. De segunda
posição, a de vice, age como se encarnasse a primeira, de candidata a
presidente.
No afã de ganhar espaço midiático, não cessa de dar
entrevistas e declarações: num único dia conseguiu o prodígio de ser
entrevistada pelos maiores jornais do País, Estadão, O Globo e Folha de
S.Paulo, que fizeram manchetes dessas declarações. Nada disse, porém não parava
de falar. Vejamos algumas dessas expressões, sob a forma de um dicionário
explicativo.
Coligação ou aliança programática - eis uma fórmula das mais
utilizadas. Numa primeira abordagem, significaria uma aliança de novo tipo,
baseada em programas, e não mais em acordos meramente pragmáticos. Seu objetivo
é mostrar que as ideias são prioritárias, não os meros interesses partidários.
Acontece que um escrutínio mais atento dessas ideias mostra
uma concepção extremamente conservadora da relação homem-natureza, devendo ele
abandonar a “civilização” do “lucro” e do “consumo” e voltar à floresta. É como
se o homem atual fosse uma espécie de excrescência natural. A natureza é
endeusada sob a forma de um neopanteísmo, como se mexer numa árvore
constituísse uma agressão a algo sagrado.
Se há desmatamento é porque os seres humanos precisam
alimentar-se, e não por simples ímpeto destrutivo. O Brasil, lembremos, é o
país mais conservacionista do planeta: preservou 61% de sua cobertura natural
nativa, além de mais de 80% da Amazônia. A oposição de Marina à agricultura e à
pecuária, se viesse a ser governo, se traduziria por um imenso prejuízo para o
País, hoje celeiro do mundo. A candidata, quando ministra do Meio Ambiente,
mostrou-se claramente avessa ao progresso, procurando, por exemplo, de todas as
formas tornar inviável não só a comercialização dos transgênicos, mas a própria
pesquisa. Ou seja, ela se colocou contra o conhecimento científico. O “novo”
significa aqui opor-se ao progresso da ciência e ao desenvolvimento econômico.
O alegado “princípio da precaução” era nada mais do que o “princípio da
obstrução”.
Digna de nota também é sua concepção dos indígenas, como se
seus direitos se sobrepusessem a quaisquer outros. Ela tem uma aversão
intrínseca ao direito de propriedade, não se importando nem com os agricultores
familiares e os pequenos produtores. Justifica pura e simplesmente sua
expropriação, devendo eles ser abandonados. Ademais, seguindo suas ideias, os indígenas
deveriam ser consultados - na verdade, decidiriam - sobre quaisquer projetos em
áreas próximas às deles ou sobre as quais tenham pretensões de direito.
Convém lembrar que o País tem, segundo o IBGE, uma população
indígena, em zona rural, em torno de 530 mil pessoas (um bairro de São Paulo),
à qual se acrescentam outras 300 mil em zona urbana. Já ocupam 12,5% do
território nacional. Ora, se todas as pretensões de ONGs indigenistas fossem
contempladas, com o apoio militante da Funai, chegar-se-ia facilmente a 25% do
território. Nem haveria índios para ocupar toda essa vasta extensão de terra.
Acrescentem-se regras cada vez mais restritivas em relação
ao meio ambiente - algumas das quais, até o novo Código Florestal, que ela
procura reverter, tinham o efeito totalitário da retroatividade - e outras
aplicações em curso de quilombolas e populações ribeirinhas, os “povos da
floresta”, no marinês, para que tenhamos as seguintes consequências: 1) O País
não poderia mais construir hidrelétricas na Amazônia, impedindo a utilização
nacional dos recursos hídricos. A oposição à hidrelétrica de Belo Monte é um
exemplo disso. 2) Ficaria cada vez mais difícil a extração de minérios,
impossibilitando a exploração de jazidas, o que produziria um enorme retrocesso
econômico e social. 3) A construção de portos e rodovias se tornaria inviável
em boa parte do território nacional, quando se tem imensas carências nessas
áreas. 4) A construção civil seria outra de suas vítimas. 5) A agricultura e a
pecuária e de modo geral o agronegócio, os motores do desenvolvimento
econômico, seriam os novos bodes expiatórios.
Democratizar a democracia - eis outra expressão muito bonita
que encobre sua função essencial. Trata-se, na verdade, de instituir formas de
consulta que confeririam poder decisório aos ditos movimentos sociais, que
compartilham as “ideias” marinistas. Assim, para qualquer projeto seria
necessário fazer consultas às seguintes entidades (a lista não é exaustiva):
Comissão Indigenista Missionária e Comissão Pastoral da Terra, órgãos
esquerdizantes da Igreja Católica, que seguem a orientação da Teologia da
Libertação, avessa ao lucro, à economia de mercado e ao estado de direito; MST
e afins, como a Via Campesina e outros, que seguem a mesma orientação
esquerdizante, propugnando a implementação no Brasil dos modelos chavista e
cubano; ONGs nacionais e internacionais (algumas delas financiadas por Estados
e empresas estrangeiros), como o Greenpeace e o Instituto Socioambiental, que
passariam a decidir igualmente sobre os diferentes setores listados da economia
nacional.
Palavras muitas vezes encobrem significados inusitados,
sobretudo dos que se dizem puros, não contaminados pela política.